At
3.11-19
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos, com base em Atos, capítulo três, sobre uma Igreja que não
busca a sua própria glória. Refletiremos sobre a verdadeira característica da
pregação da Igreja e, por fim, abordaremos o perfil de uma Igreja que sabe
aproveitar as oportunidades para evangelizar.
I. UMA IGREJA QUE NÃO BUSCA GLÓRIA
PRÓPRIA
A
Igreja primitiva enfrentou desafios, perseguições e oposição, mas permaneceu
fiel à sua missão principal: pregar o Evangelho. A Igreja nasceu em poder no
dia de Pentecoste, mas sua missão principal sempre foi anunciar o Evangelho. A
cura do coxo na porta do templo (At 3.1-10) chamou atenção do povo, mas Pedro e
João aproveitaram o momento para pregar Cristo. A fidelidade à pregação do
Evangelho é o que caracteriza uma igreja verdadeiramente cheia do Espírito.
Neste texto de Atos 3.11-19, aprendemos com Pedro como a Igreja primitiva
lidava com as oportunidades para evangelizar e manter o foco em Jesus. Conforme
o pastor José Gonçalves: “A igreja recém-nascida não possuía muitos bens
materiais nem tampouco relevância e influência política; era, contudo, uma
igreja cheia do poder de Deus” (Gonçalves, 2025, p. 41).
1.
A pregação do Evangelho é uma das evidências mais claras de que uma igreja está
comprometida com a fidelidade às Sagradas Escrituras.
Ao
longo da história da fé cristã, essa verdade tem se mostrado inegociável. Desde
os primórdios da comunidade cristã em Jerusalém, podemos observar que os
apóstolos não apenas anunciavam a mensagem de Cristo, mas o faziam com coragem,
clareza e, sobretudo, cheios do poder do Espírito Santo (At 2.4). Um exemplo
notável desse compromisso se encontra na segunda pregação do apóstolo Pedro,
conforme registrada no capítulo 3 do livro de Atos dos Apóstolos. Ali, Pedro
reafirma com firmeza a centralidade de Jesus como o Messias prometido (At
3.13-15), chama o povo ao arrependimento sincero e anuncia a esperança de
tempos de refrigério vindos da parte do Senhor (At 3.19). Essa pregação não era
fruto de discurso humano persuasivo, mas uma manifestação viva da atuação do
Espírito que conduzia a Igreja nascente na verdade e na missão.
2.
A missão essencial da pregação da igreja é exaltar a Cristo.
O
milagre da cura do coxo na porta Formosa (At 3.1-10) serve como ponto de
partida para um poderoso sermão evangelístico de Pedro. O que poderia ser um
momento de exaltação pessoal, se transforma em uma oportunidade
para glorificar a Jesus. A igreja fiel não se gloria em suas
realizações, dons ou carismas. Ela aponta para Cristo em tudo que faz: “Para
que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co
1.29-31). Uma igreja fiel à pregação não prega prosperidade ou autoajuda. Ela
anuncia Jesus crucificado e ressurreto: “Porque nada me propus saber
entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).
II. A VERDADEIRA CARACTERÍSTICA DA
PREGAÇÃO DA IGREJA
Pedro
reconhece a ignorância do povo (At 3.17), mas não omite a verdade: eles
precisavam se arrepender: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para
que sejam apagados os vossos pecados” (At 3.19). O Evangelho fiel
confronta o pecado, chama à conversão e promete perdão. Uma igreja fiel não tem
medo de pregar contra o pecado. Ela chama os pecadores ao arrependimento com
amor, mas com firmeza como Jesus ensinou: “E em seu nome se pregasse
arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações [...]” (Lc
24.47). Em Atos 3.11-19, vemos um modelo claro de uma pregação sem vaidade,
centrada em Cristo e que clama por arrependimento. O apóstolo Paulo exortou: “Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Vejamos algumas características da
verdadeira Igreja que pregação do Evangelho:
1.
Uma igreja que rejeita a glória humana.
Pedro
percebe a admiração do povo e rejeita prontamente qualquer forma de idolatria: “Por
que olhais tanto para nós?” (At 3.12). A verdadeira igreja sabe que os
dons e milagres são meios, não fins. Herodes aceitou a glória dos homens e foi
ferido por um anjo (At 12.21-23). A glória pertence exclusivamente a Deus: “Eu
sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei
[...]” (Is 42.8). João o batista disse: “É necessário que ele
cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). A igreja fiel não busca
reconhecimento humano, mas vive para glorificar a Deus em tudo: “Outro fato
importante a ser observado nessa narrativa é que essa cura não reflete nenhum
tipo de antropocentrismo. Deus, e não o homem, é o seu centro. Não
há mérito humano nela [...] Pois bem, assim como aconteceu na primeira
pregação de Pedro (At 2.14-40), esta segunda pregação também parte de uma
experiência dada por Deus (At 3.1-26). Naquela, o ponto de partida foi a
experiência do Espírito que veio por conta do derramamento do batismo no
Espírito Santo (At 2.4); dessa vez, a pregação seguiu-se à cura do paralítico
(At 3.6). Tanto em um caso como no outro, o Espírito Santo é o agente por
trás desses eventos miraculosos. É o Espírito Santo quem glorifica a
Jesus no meio do seu povo” (Gonçalves, 2025, pp. 41,42).
2.
Uma igreja que exalta Cristo em todas as coisas.
Pedro
apresenta um resumo poderoso da cristologia apostólica: Jesus como o Servo de
Deus (At 3.13; cf. Is 52.13-53.12); como o Santo e Justo (At 3.14; cf. Is
53.11; Lc 1.35); como o O Autor da Vida (At 3.15; cf. Jo 1.4; Cl 1.16) e como
Ressurreto dos mortos (At 3.15; cf. Rm 6.9). A fé no nome de Jesus operou a
cura (At 3.16), confirmando que Ele é a única fonte de salvação e poder. O foco
da pregação não está no milagre, mas na Pessoa e na obra de Cristo: “Para
que em tudo [Jesus] tenha a preeminência” (Cl 1.18). Uma
igreja centrada em Cristo não substitui o Evangelho por modismos, psicologia
positiva ou entretenimento.
3.
Uma igreja que confronta o pecado com verdade.
Pedro
não esconde a culpa do povo: “Vós entregastes e negastes [...]” (At
3.13-14); “Matastes o Autor da vida” (At 3.15). Mas também reconhece sua
ignorância (At 3.17), como Jesus declarou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem
o que fazem” (Lc 23.34). A pregação fiel não suaviza o pecado, mas revela sua
gravidade à luz da cruz: “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das
trevas, mas antes condenai-as” (Ef 5.11). A igreja que deseja ser fiel ao
Evangelho deve resistir à tentação de adaptar sua mensagem ao gosto do mundo.
4.
Uma igreja que anuncia a mensagem do arrependimento.
Pedro
convoca: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos [...]” (At 3.19).
O arrependimento é mais que remorso, é mudança de mente, coração e direção. A
conversão através da ação do Espírito Santo e a pregação do Evangelho é
necessária para que os pecados sejam apagados e tempos de refrigério venham. A
mensagem do arrependimento foi o centro do ministério de João Batista (Mt 3.2);
de Jesus (Mc 1.15) e dos apóstolos (At 2.38; 17.30) por meio do Espírito Santo:
“Somente através da atuação do Espírito Santo é que o coração humano pode ser
regenerado, despertado para a vida espiritual e capacitado a responder ao
chamado de Deus” (Barreto, 2024, p. 110). Paulo disse que: “A tristeza
segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se
arrepende” (2Co 7.10). A igreja fiel prega o Evangelho completo: cruz,
arrependimento, conversão e perdão.
5.
Uma igreja que espera e anuncia o tempo do refrigério.
O
apóstolo afirmou: “Para que venham os tempos de refrigério pela presença do
Senhor”. Esse refrigério aponta tanto para a presença do Espírito no presente,
quanto para a esperança escatológica do retorno de Cristo. Uma igreja fiel
prega o Evangelho com os olhos no futuro glorioso: “Aguardando a
bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso
Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13). Uma igreja fiel vive entre o “já” da
salvação e o “ainda não” da glorificação, anunciando a bendita esperança da
vinda de Cristo. O episódio em Atos 3 mostra que o milagre abriu portas, mas a
prioridade era pregar Jesus.
III. UMA IGREJA QUE APROVEITA AS
OPORTUNIDADES PARA EVANGELIZAR
A
reação do povo diante do milagre operado por Pedro e João (At 3.9-11) revela
como Deus pode usar eventos extraordinários para atrair a atenção das pessoas e
abrir portas para a pregação do Evangelho. No entanto, a igreja não deve se
distrair com os aplausos nem se desviar da missão principal. Pedro não
desperdiçou a ocasião: diante de uma multidão admirada, ele apontou
imediatamente para Cristo. Uma igreja cheia do Espírito reconhece os momentos
preparados por Deus para evangelizar e age com sabedoria, ousadia e
discernimento.
1.
Uma igreja sensível às oportunidades concedidas por Deus.
Pedro
e João estavam indo ao templo para orar, mas Deus já havia preparado um momento
de impacto evangelístico (At 3.1-10). Após o milagre, ao ver o povo se
ajuntando, Pedro aproveitou a ocasião para pregar (At 3.11-12). Uma igreja
cheia do Espírito discerne o tempo de Deus e responde com prontidão: “Portai-vos
com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo” (Cl 4.5).
A sensibilidade ao mover de Deus é uma marca de uma igreja viva e missionária.
2.
Uma igreja que transforma milagres em proclamação.
Pedro
não transformou o milagre em espetáculo, mas em mensagem. Em vez de buscar
fama, ele apontou para Jesus como o verdadeiro autor da cura (At 3.13-16).
Sinais e prodígios são sinais indicadores, não o destino final. A função deles
é confirmar a Palavra (Mc 16.20; Hb 2.3-4). A igreja não manipula os milagres,
mas os usa como pontes para anunciar o Evangelho: “Assim como Pedro, o
apóstolo Paulo demonstrou que a sua pregação era por ‘palavras’ e por ‘obras’
(1Co 2.4). Vemos que a verdadeira pregação precisa ser da Palavra e do
Espírito” (Gonçalves, 2025, p. 43).
3.
Uma igreja que prega com ousadia e clareza.
Diante
de um povo curioso, Pedro não se esquivou da verdade: confrontou, chamou ao
arrependimento e apresentou a esperança (At 3.13-19). Ele não falou para
agradar, mas para transformar. A ousadia da igreja vem do Espírito Santo (At
4.31) e da convicção na Palavra. A clareza da mensagem é fruto de uma vida
alicerçada nas Escrituras. A igreja que evangeliza precisa falar com verdade,
compaixão e poder: “Porque não podemos deixar de falar do que temos visto
e ouvido” (At 4.20; cf. 3.9; 8.6; 14.10,11). “A pregação não era
algo meramente abstrato; ela demonstrava pelo poder do Espírito que Jesus havia
ressuscitado e que, portanto, continuava vivo!” (Gonçalves, 2025, p.
43).
4.
Uma igreja que vê cada oportunidade como uma porta missionária.
O
episódio em Atos 3 mostra que qualquer contexto pode se tornar um campo
missionário: uma cura, uma crise, uma reunião ou uma simples conversa. Jesus
fazia isso em poços, casas e ruas (Jo 4; Lc 19). A igreja deve estar atenta às
portas que o Senhor abre: “Porque uma porta grande e eficaz se me abriu
[...]” (1Co 16.9). Ser igreja é viver em missão todos os dias, em todos
os lugares.
CONCLUSÃO
A
Igreja primitiva serve como modelo de fidelidade ao Evangelho, centrada em
Cristo, guiada pelo Espírito Santo e comprometida com a missão. Em Atos 3, os
milagres não desviam os apóstolos de seu propósito: exaltar Jesus e conclamar
ao arrependimento. Uma igreja cheia do Espírito vive para glorificar a Deus,
prega com ousadia, denuncia o pecado com amor e anuncia a esperança em Cristo.
Reconhece cada situação como uma oportunidade missionária. A igreja atual é
desafiada a retomar esse compromisso: ser profética, bíblica, sensível ao
Espírito e dedicada à salvação das almas, impactando o presente e preparando o
caminho para os tempos de refrigério do Senhor.
REFERÊNCIAS
Ø
BARRETO,
Alessandro. Protopentecoste: Ações do Espírito Santo no Antigo Testamento.
Editora Bereia.
Ø
BERGSTÉN, Eurico. Teologia
Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD.
Ø
GONÇALVES, José.
A Igreja em Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø
PEARLMAN, Meyer. Conhecendo
as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida.
Ø
STAMPS, Donald. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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