At
2.1-14
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, abordaremos o nascimento da Igreja em Jerusalém, ocorrido por ocasião da
festa de Pentecoste. Nesse contexto solene, a igreja foi inaugurada com o poder
do alto, conforme a promessa de Cristo. Analisaremos as principais
características dessa igreja nascente e, por fim, refletiremos sobre a
relevância e aplicabilidade desta festa para a igreja de Cristo nos dias
atuais.
I. A FESTA DO PENTECOSTE NO ANTIGO
TESTAMENTO
1.
Festa de Pentecoste.
A
palavra grega “πεντηκοστη” [pentēkostḗ] significa “quinquagésimo”.
O vocábulo era usado para os 50 dias de regozijo que começava com a Páscoa. O
termo “Pentecoste” originalmente designava a quarta festa estabelecida por Deus
aos hebreus no Antigo Testamento (Êx 34.22; Lv 23.15-17; Nm 28.26; Dt 16.9-10).
Como o Império Grego passou a ter hegemonia em 331 a.C., é provável que o nome “Pentecoste”
tenha ganhado popularidade a partir desse período. Com o transcorrer do
tempo, o vocábulo passou a ser usado como nomenclatura para referenciar a experiência
do batismo no Espírito Santo e a indicar uma ala evangélica: os
pentecostais, a partir do século XX” (Barreto, 2024, p. 52). Esta festividade
possui alguns nomes diferentes:
- Festa das semanas que se refere a sete semanas após a oferta das primícias (Êx 34.22; Dt 16.10; 2Cr 8.13);
- Festa da colheita referindo-se à conclusão das colheitas de grãos (Êx 23.16);
- Festa de Pentecoste referindo-se ao período de cinquenta dias após a oferta das primícias que acontecia junto com a festa dos pães asmos (Lv 23.16-18).
2.
O nome na Bíblia.
Por
conseguinte, a festa permanece hoje para os judeus, com o nome de Festa de “hag
shavuot” ou “Festa das Semanas”. Segundo a concepção
agrícola, conclui a colheita dos “ázimos” (Êx 23.15; 34.18),
iniciada com o plantio da cevada e do trigo; e, segundo a concepção histórica,
conclui o significado da Páscoa. O nome propriamente dito “πεντηκοστη”
[pentēkostḗ - pentecoste] aparecerá em ambiente cristão, conforme indica o
livro dos Atos dos Apóstolos e 1Coríntios. Na primeira referência, os apóstolos
encontram-se reunidos no completar dos cinquenta dias depois da Páscoa (At
2.1); na segunda, Paulo desejava passar o “dia de Pentecoste” em Jerusalém (At
20.16) e, na terceira, Paulo expressa o desejo de permanecer em Éfeso até
“Pentecoste” por causa da missão nesta região (1Co 16.8). Estas são as únicas
referências ao nome em toda Bíblia” (Barreto, 2024, pp. 52,53).
3.
O objetivo da festa.
A
festa de pentecoste era uma festa basicamente agrícola que era celebrada no fim
da primavera, quando a nova colheita de trigo era colhida (Êx 23.14-16). Como
podemos ver, esta festa segue o mesmo princípio da Festa das Primícias que é o
de agradecer a Deus por tudo que Ele tem providenciado, reconhecendo a sua
bênção (Dt 16.10).
4.
A comemoração da festa.
A
Bíblia nos mostra que no dia da festa todas as atividades normais deviam ser
suspensas a fim de que o povo se reunisse para uma “santa convocação” (Lv
23.21). Além do caráter de agradecimento, a festa tinha um propósito caridoso,
pois as necessidades dos pobres e estrangeiros também deveriam ser lembradas
nessa ocasião (Lv 23.22). “Pentecoste é o festival judaico da colheita, a festa
de “hag shavuot”, que comemora a entrega dos Dez Mandamentos no
Monte Sinai cinquenta dias depois do Êxodo. Para os cristãos, o Pentecoste é a
descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e seguidores de Jesus, através do
dom de línguas, como descrito no Novo Testamento. O movimento pentecostal tem
seu nome derivado desse evento. Da festa das primícias “hag shavuot” passou
ao longo da história a celebrar a memória do ‘dom’ da Toráh, chegando ao
universo cristão celebrando o [dom] do Espírito Santo [...]. Por isso, a
palavra “pentecostal” é usada para descrever os eventos que ocorreram no Dia de
Pentecoste, conforme são registrados em Atos, capítulo dois” (Barreto, 2024, p.
53).
II. A IGREJA QUE NASCEU EM JERUSALÉM
FOI INAUGURADA NO PENTECOSTE
O
dia de Pentecostes, inaugurou a igreja de Cristo. Isso aconteceu com a descida
do Espírito Santo; era o comprimento da profecia registrada no livro do profeta
Joel. A noiva do cordeiro estava vivenciando essa profecia e ao mesmo tempo
sendo estabelecida pelo próprio Deus. Notemos:
1.
No dia de Pentecoste marcou a descida do Espírito Santo.
Dois
sinais sobrenaturais antecederam imediatamente o advento do Espírito Santo, ou
seja, o seu derramamento. São eles: o “som, como de um vento veemente e
impetuoso” (At 2.2) e as “línguas repartidas, como que de fogo, as quais
pousaram sobre cada um deles” (At 2.3). Esses sinais anunciavam a chegada de
alguém muito importante, o Espírito Santo, a terceira pessoa
da Trindade, para inaugurar a Igreja, iniciando, assim, sua jornada histórica.
Eram sinais particulares que não se repetiram posteriormente nos batismos no
Espírito Santo subsequentes, pois se tratava de um evento solene e único, que
marcou o início de uma nova dispensação (Soares, 2017, p. 167). “O Pentecoste,
a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, marca o cumprimento das
profecias do Antigo Testamento e o início da era messiânica (Jl 2.28,29; At
2.1-11). Esse evento crucial na história da Igreja demonstra a plenitude da
ação do Espírito Santo, derramando seus dons sobre toda a carne” (Barreto,
2024, p. 41).
2.
No dia de Pentecoste marcou o comprimento da promessa.
Foi
o cumprimento da promessa do derramamento do Espírito profetizado por Joel
(2:28,32a); Isaías (44:3); João Batista (Mt 3:11) e Jesus (At. 1:4,5). Também
chamado de batismo no Espírito Santo, conforme João Batista. É um revestimento
e derramamento do poder do Alto, com a evidência física inicial de línguas
estranhas, conforme o Espírito Santo concede pela instrumentalidade do Senhor
Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e
eficiente serviço para Deus (Lc 24.49; At. 1:8; 10.46; 1Co 14. 15,26)
(Gilberto, 2006, pág. 57).
3.
No dia de Pentecoste a igreja foi estabelecida.
Somente
quando o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos e eles foram
batizados com poder (cf. A t 1.5), é que a Igreja foi estabelecida em
autoridade e na forma como Deus havia determinado. O mistério de Deus, guardado
desde o princípio dos séculos, estava revelado: a Igreja, órgão de Deus na
dispensação do Novo Testamento, havia aparecido em cena (Bergstén, 2016, p.
211).
IV. AS CARACTERÍSTICAS DA IGREJA QUE
NASCEU EM JERUSALÉM
1.
A igreja que nasceu em Jerusalém era centrada na Palavra de Deus.
Uma
das marcas fundamentais da igreja é o amor pela Palavra de Deus. As pregações
proferidas nos arredores de Jerusalém eram fundamentadas em várias passagens do
Antigo Testamento, como as pregações de Pedro (At 2.16-17) e de Estevão (At
8.32-40), bem como nas palavras de Cristo Jesus. O texto de Atos diz: “E
perseveravam na doutrina dos apóstolos [...]” (At 2.42). Filipe explicou o
texto do profeta Isaías ao eunuco de Candace. Essa centralidade na Palavra é
necessária, pois ela é lâmpada para os nossos caminhos (Sl 119) e nosso manual
de ensino (Rm 15.4; 1Co 10.11; 2Tm 3.16); além disso, é alimento para as nossas
almas.
2.
A igreja que nasceu em Jerusalém perseverava em oração.
Antes
da descida do Espírito Santo, a igreja estava em constante oração: “Todos estes
perseveravam unanimemente em oração e súplicas [...]” (At 1.14). Após as
primeiras conversões, Lucas atesta que a igreja continuava vivendo em oração
(At 2.42; 3.1; 6.4; 12.5). Isso foi essencial e continua sendo um recurso
indispensável para os cristãos enfrentarem as aflições (Jo 16.33), resistirem
às tentações e manterem a comunhão com Deus. A oração é um mandamento bíblico
(1Cr 16.11; Is 55.6; Am 5.4,6; Mt 26.41; Lc 18.1; Jo 16.24) e é o meio pelo
qual recebemos as bênçãos de Deus (Lc 11.5-13; At 1.14). Além disso, é na
oração que Deus se faz presente (Dt 4.7).
3.
A igreja que nasceu em Jerusalém recebeu o batismo no Espírito Santo.
O
falar em línguas foi o sinal físico distintivo no dia de Pentecostes, e
continua sendo a evidência de que o cristão recebeu o batismo no Espírito
Santo. Este batismo é a externalização de uma experiência reconhecível, audível
e visível. Não é uma prática destituída de doutrina; está fundamentada em um
sólido e inamovível alicerce bíblico-teológico. Não é modismo; pelo contrário,
é uma promessa feita pelo Pai (Is 44.3), confirmada pelo Filho (At 1.5) e
manifestada pelo Espírito Santo (At 2.4).
4.
A igreja que nasceu em Jerusalém recebeu a ordem para evangelizar.
No
início do livro de Atos dos Apóstolos, a igreja deveria permanecer em Jerusalém
para receber a virtude do Espírito Santo (At 1.8). Depois de revestidos de
poder, os discípulos deveriam levar o evangelho até os confins da terra. Após a
descida do Espírito Santo, o evangelho se espalhou rapidamente. No dia de
Pentecostes, quase três mil pessoas se converteram (At 2.37-41). Após a cura do
coxo à porta do templo, o número de convertidos chegou a quase cinco mil (At
4.4). Em Atos 5.14, Lucas declara que “a multidão dos que criam no Senhor,
tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais”. A primeira etapa foi
cumprida (At 5.28). No entanto, do capítulo 2 ao capítulo 7, o evangelho
permaneceu restrito à cidade de Jerusalém.
IV. APLICABILIDADE DA FESTA DE
PENTECOSTE PARA A IGREJA DE CRISTO
Jesus
foi sacrificado durante a “Festa da Páscoa” (Mt 26.2; Mt 27.15),
foi sepultado durante a “Festa dos Pães Asmos” (Mt 26.17; Mc
14.1,12; Lc 22.1), ressuscitou na “Festa das Primícias” (Mc
5.16), e cinquenta dias depois, no dia da “Festa de Pentecoste”,
veio o derramar do Espírito Santo sobre os discípulos (At 2.1-4 ver Jl
2.28,29). Vejamos:
1.
O alcance da festa.
Pentecostes
fala de uma promessa: a) segura “derramarei o meu Espírito” (Lc 24.49; At 1.4;
2.17); b) abundante “sobre toda a carne” (At 2.4,39; 10.44); c) abrangente pois
ela quebra toda acepção racial: “toda a carne”, sexual: “filhos e filhas”,
etária: “jovens e velhos”, e social: “servos e servas” (Jl 2.28,29); e, d)
atual “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os
que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). Um dos
propósitos desta festa era também a aproximação de todos que estavam distantes:
“Todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1); “Todos foram cheios do Espírito
Santo” (At 2.4); “Todos os que estão longe; tantos quanto…” (At 2.39); e “Todos
os que criam estavam juntos” (At 2.44).
2.
A abrangência da festa.
Na
Festa das Primícias era movido perante o Senhor um molho (feixe) de espigas de
trigo (Lv 23.9-11), já na Festa de Pentecostes eram movidos perante o Senhor
dois pães de trigo (Lv 23.15-17). Isso falava da Igreja, que seria formada de
judeus e gentios, formando, assim, um só corpo (Ef 2.14; Jo 11.52). O feixe de
espigas fala da união, mas os pães vão além, pois eles falam de unidade (Ef
4.3). Em um feixe de espigas, os grãos estão simplesmente presos às espigas,
porém isolados uns dos outros, mas, em um pão é diferente: o trigo é o mesmo,
mas os grãos passaram por um multiforme processo e formam agora um todo, um
corpo único. O derramamento pentecostal fez isso na formação da Igreja em Atos
2.
3.
A colheita da festa.
Após
sua ressurreição Jesus ficou na terra por 40 dias quando foi ascendido ao céu e
dez dias depois na Festa de Pentecostes, no 50º dia depois da Páscoa,
cumpriu-se a promessa do “derramamento do Espírito Santo” (Jl 2.28,29; At
1.4,5; 2.1), e durante a festa de Pentecostes os discípulos ficaram cheios do
Espírito Santo (do hebraico “Ruah Kadosh” e do grego “Hagios
Pneumathos” e logo após, os apóstolos colheram os primeiros frutos de
(At 2.37-41).
CONCLUSÃO
A
igreja que nasceu em Jerusalém foi inaugurada com poder do alto, sendo
agraciada com o batismo no Espírito Santo e outras bênçãos celestiais. Tudo o
que a igreja recebeu naquele início ainda é vivenciado pelo corpo de Cristo em
nossos dias.
REFERÊNCIAS
Ø BARRETO, Alessandro. Protopentecoste:
Ações do Espírito Santo no Antigo Testamento. Editora Bereia,
Ø BERGSTÉN, Eurico. Teologia
Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD.
Ø PEARLMAN, Meyer. Conhecendo as
doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida.
Ø STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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