Ec 9.1-6
INTRODUÇÃO
Nesta lição definiremos a palavra ilusão e termos equivalentes; veremos a perspectiva do Antigo e do Novo Testamento sobre prosperidade; destacaremos uma pequena biografia de Asafe, um levita compositor de salmos, que passou por um grande dilema que quase o desviou da fé em Deus, pois pensava estar servindo a Deus em vão; por fim, pontuaremos também as conclusões que teve o sábio Salomão a cerca da brevidade da vida e dos males que todos estamos sujeitos a enfrentar.
I – DEFINIÇÕES
No hebraico a palavra “engano” é “saw” que quer dizer: “engano, decepção, malícia, falsidade, vaidade, vacuidade” (VINE, 2002, p. 102). Já a palavra “vaidade” que é o termo chave do livro de Eclesiastes significa basicamente “alento” (Is 57.13) ou “vapor” (Pv 21.6), como o do hálito condensado que se respira em um dia frio. Aqui parece implicar em ambos: (1) aquilo que é transitório e (2) aquilo que é fútil. Enfatiza a rapidez com a qual as coisas desaparecem e o pouco que oferecem enquanto de posse delas (Tg 4.14) (MOODY, sd, p. 04).
II – A PERSPECTIVA DO AT E DO NT SOBRE PROSPERIDADE
Vivemos em um mundo capitalista e materialista, onde muitas pessoas estão correndo numa busca desenfreada pela aquisição de bens materiais. Isto por que, para muitas pessoas, ser próspero significa apenas obter sucesso profissional e possuir bens terrenos. Mas, o que a Bíblia ensina sobre a verdadeira prosperidade? Qual é o conceito de prosperidade no Antigo e no Novo Testamento?
2.1 No Antigo Testamento. Encontramos diversos termos traduzidos do hebraico por
“prosperidade” e seus derivados, tais como: “hadal”, que significa “ser
próspero”; “shalû”, que quer dizer “prosperidade”; “shalew”,
traduzido por “próspero”; “shalwâ”, que também significa “prosperidade”;
“sakal”, que significa “prosperar” e “shalom” que significa: “paz,
prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança”. Esta última definição
nos trás um sentido mais amplo de prosperidade, que ultrapassa o sentido de
riqueza. A teologia do Antigo Testamento nos mostra que “ser próspero” é
possuir a benção de Deus na vida e em tudo o que se possui, e esta por sua vez,
é resultante da obediência irrestrita a Palavra de Deus (Gn 39.5; Nm 14.41; Dt
11.27; 28.8; 29.9; Js 1.8; I Rs 2.3; II Cr 24.20; Sl 1.1-3; Pv 10.22). A Bíblia
nos mostra que Abraão já tinha propriedades quando Deus o chamou (Gn 12.5).
Logo, a benção que Deus lhe prometera, embora alcançou os seus bens (Gn 13.2-6;
Gn 24.1), não era exclusivamente material, mas principalmente espiritual (Gn
12.2,3; Gl 3.7-9;14-16).
2.2 No Novo Testamento. A palavra “prosperidade” no grego é “euporia”, que significa primariamente “facilidade” (formado de eu, “bem”, e poros, “passagem”), por conseguinte, plenitude, riqueza, ocorre em (At 19.25) (VINE, 2002, p. 909). Vejamos em que consiste a prosperidade segundo a teologia neotestamentária:
2.2.1 A prosperidade no Novo Testamento é escatológica (futura). Jesus sempre preveniu os seus seguidores quanto aos sofrimentos que viriam pelo fato deles abraçarem o evangelho (Mt 8.18-22; 10.16-22; Jo 16.33; 17.14,15). O Mestre nunca prometeu uma vida de grandes facilidades e comodidades. Certa ocasião, Pedro perguntou o seguinte ao Senhor: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que receberemos”? (Mt 19.27). No versículo posterior, Jesus deixou claro que os seus seguidores receberiam a recompensa na eternidade (Mt 19.28). O Mestre ainda disse que já neste tempo, eles receberiam cem vezes tanto e também herdariam a vida eterna (Mt 19.29). A expressão “cem vezes tanto” certamente se refere a uma vida espiritual abundante, pois o maior tesouro que um crente em Cristo pode ter é a vida eterna (I Jo 2.25).
O Novo Testamento fala muito mais dos perigos das riquezas do que de seus benefícios. Vejamos: (1) Em Mt 6.19-24, Jesus fala da inutilidade de se esforçar demasiadamente para ajuntar tesouros nesta vida, pois estas riquezas podem facilmente ser roubadas ou estragadas; (2) O texto de Lc 12.16-21 nos mostra uma parábola acerca de um homem rico, que por muito ter, acabou se tornando uma pessoa egoísta, soberba, materialista, carnal e irracional; (3) Em Mt 10.16-22, o evangelista relata o episódio de um jovem rico, que até era religioso, mas apenas superficialmente; e (4) O texto de I Tm 6.9,10 é um dos mais contundentes do Novo Testamento quanto ao perigo das riquezas. Nele, o apóstolo Paulo denuncia o risco que corre os que são movidos pelo desejo de serem ricos. Confira também (Mt 13.22; Mc 10.23; I Tm 6.17).
III – O DILEMA DO LEVITA ASAFE
3.1 Quem era Asafe. Seu nome no hebraico significa “coletor ou recolhedor”. Ele era um levita filho de Baraquias (I Cr 6.39; 15.17). Um músico nomeado por Davi para presidir o coral sagrado organizado pelo rei. Os filhos de Asafe posteriormente são mencionados como coristas do templo (I Cr 25.1; II Cr 20.14; 29.14; Ed 2.41; 3.10; Ne 6.44; 11.22). Asafe tornou-se célebre, em tempos posteriores, como profeta e poeta (I Cr 29.30; Ne 12.4). Os títulos de doze salmos trazem o seu nome (73 a 83 e 50).
3.2 Asafe, um levita em crise. Em conflito, o salmista Asafe disse que os seus pés quase que se desviaram ao ver a “prosperidade dos ímpios” (Sl 73.3), pois apesar de pecadores, eles “prosperam no mundo; aumentam em riquezas” (Sl 73.12). Asafe pensava estar obedecendo a Deus em vão (Sl 73.13). A prática de servir a Deus em troca de algum benefício pode ser chamada de Teologia da Barganha. Segundo o Aurélio, a palavra barganha significa: “trocar, negociar, vender com fraude”. Ou seja, é a consagrada expressão brasileira do “toma lá, dá cá”. No contexto religioso, barganhar é “usar a fé para obter vantagens pessoais”. As bênçãos devem ser consequência, e não causa da nossa devoção a Deus (Dt 11.13; 28.1-14). Na verdade, esse comportamento se constitui numa relação mercantil, e não numa relação que o Pai deseja ter com seus filhos. A Bíblia aponta algumas motivações com as quais devemos obedecer ao nosso Deus. Destacaremos pelo menos três: (1) amor (Dt 6.5; Jo 14.21); (2) gratidão (Sl 100.4; 103.2); e (3) Alegria (Sl 100.2; At 2.46).
3.3 A resposta divina para o dilema de Asafe. O Salmo 73 mostra que apesar dos ímpios serem ricos (Sl 73.12), suas atitudes revelam que eles não eram prósperos, pois eram soberbos (Sl 73.3,6); ímpios (Sl 73.3,6,12); violentos (Sl 73.6); não trabalhavam como os demais homens (Sl 73.5); eram corruptos, maliciosos, opressores e arrogantes (Sl 73.8); eram blasfemos (Sl 73.9); andavam conforme a imaginação de seus corações (Sl 73.7); desconheciam a Deus, e duvidavam de sua onisciência (Sl 73.11). Mas, quando o salmista entrou no altar, entendeu o fim deles: estão em lugares escorregadios, à beira da destruição (Sl 73.17); estão em desolação, consumidos de terrores (Sl 73.18); e serão desprezados pelo Senhor (Sl 73.20). Asafe, apesar de não possuir riquezas materiais, estava cercado de bens. Ele contava com a presença de Deus e estava seguro por Ele (Sl 73.23); era guiado pelo Seu conselho, e tinha convicção que seria recebido em glória (Sl 73.24).
IV – A PERSPECTIVA SALOMÔNICA QUANTO AO SOFRIMENTO E A BREVIDADE DA VIDA
Todo o mundo está sob a vontade de Deus, e os homens só fazem o que Deus permite “e também o homem não conhece nem o amor nem o ódio; tudo passa perante ele” (Ec 9.1-b). O amor e o ódio referidos aqui podem ser ações humanas, mas os justos ou retos têm a segurança da aprovação de Deus (Pv 13.21; Mt 13.43). O pensamento pode ser completado com a última frase “Tudo lhe está oculto no futuro” (ARA – Almeida Revista e Atualizada). Isto quer dizer que o dia de amanhã é coisa desconhecida, pertence unicamente a Deus (Tg 4.13,14).
4.2 “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio...” (Ec 9.2-a). Salomão nos fala a respeito dos dissabores e da brevidade da vida a despeito da condição social, moral e espiritual do homem “Tudo sucede igualmente a todos” (Ec 9.2-a). O sábio rei quer dizer que nem sempre o justo ou o ímpio são recompensados imediatamente pelo seu proceder (Ec 9.2-b). Apesar disso, é interessante observar que embora o justo e o impio; o puro e o impuro; o que sacrifica como aquele que negligencia o sacrifício estejam sujeitos inevitavelmente a morte física (Ec 9.2-b; Gn 3.19), o destino eterno destes será em lugares diferentes (Ec 3.17; Dn 12.2). E, embora a morte tenha conotação negativa para o homem debaixo do sol (Ec 9.3), não se pode dizer o mesmo do homem que tem a esperança da ressurreição e do arrebatamento (II Co 5.21; Fp 1.20-23; 3.21; I Ts 4.14).
4.3 “Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo” (Ec 9.3-a). Normalmente o ímpio vendo que o final da vida é igual para todos, despreza a Palavra de Deus e se entrega ao pecado (Sl 10.4; 14.1; 53.1). Mas, a Bíblia diz que quem continua no pecado vai prestar contas de seus atos na “casa eterna” (Ec 11.9; 12.5,7). No entanto, para aquele que está vivo existe oportunidade de arrependimento e conversão “Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança...” (Ec 9.4-a). Embora todos saibam que irão morrer (Ec 9.5-a), muitos agem como se não soubessem, do contrário não se portariam de forma desonesta, mas justa (Ec 9.8), lembrando do Criador (Ec 12.1).
CONCLUSÃO
É importante entendermos que a riqueza do ímpio não é sinal da aprovação de Deus sobre a sua conduta, tampouco a pobreza do justo a sua reprovação. Como salvos em Cristo, enquanto estivermos “debaixo do sol” estamos sujeitos as mesmas coisas que todos e por mais que Deus nos abençoe aqui na terra, a nossa riqueza perene está no porvir.
REFERÊNCIAS
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø MELO, Joel Leitão de. Eclesiastes versículo por versículo. CPAD.
Ø CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Por Rede Brasil de Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário