1 Co
10.1-13
INTRODUÇÃO
Neste segundo trimestre de 2018,
estudaremos o tema: “Valores cristãos – enfrentando as questões
morais de nosso tempo”. Introduziremos o assunto trazendo a definição
de ética secular e da ética cristã e pontuaremos quais as diferenças entre
elas; destacaremos quais os fundamentos da ética cristã; e, por fim, quais os
desafios que a ética cristã enfrenta na pós-modernidade e qual o posicionamento
bíblico sobre eles.
I. DEFINIÇÕES
1.
O que é ética.
A palavra “ética” no grego “ethos”
significa: “conjunto de costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento
e da cultura, característicos de uma determinada coletividade, época ou região”
(HOUAISS, 2001, p. 1271). Segundo Ulrich (2009, p. 16) “a ética secular ou
filosófica é a ciência dos costumes ou hábitos. É uma ética que busca a verdade
e o bem pela razão, conforme os conceitos predominantes da época”.
2.
O que é ética cristã.
Segundo Andrade (2006, p. 173 –
acréscimo nosso) “é o conjunto de princípios baseados nas Sagradas Escrituras,
principalmente nos ensinos de Cristo e de seus apóstolos, cujo objetivo é
orientar a conduta do cristão enquanto membro de uma sociedade politicamente
organizada”. A ética cristã não exclui a razão humana, mas a leva
cativa à obediência de Cristo (2 Co 10.5), pois entende que a razão humana foi
afetada pelo pecado e necessita estar subordinada a Cristo, a fim de fazer
julgamentos corretos, acerca do certo e errado. Segundo Ulrich (2009, p. 20),
“em termos metodológicos a nossa ética cristã é teológica, cristã e
evangélica”.
Em seu livro: “A Ética dos Dez Mandamentos”,
Hans Ulrich (2009, p. 16) pontua as distinções entre a ética secular e a ética
cristã. Vejamos:
ÉTICA SECULAR
|
ÉTICA CRISTÃ
|
Ciência
de costumes ou hábitos humanos
|
Revelação
da vontade divina (Êx 20.1-17)
|
Descritiva: apenas descreve o que fazer
|
Normativa: que apresenta o que fazer (Êx 24.3; Nm 15.40)
|
Relativa: aquilo que muda e não tem caráter único
|
Absoluta: que tem um caráter único (Sl 119.96; Rm 7.12)
|
Imanente: aquilo que tem o homem como base
|
Transcendente: que tem Deus como base (Sl 1.2; 19.7; 119.1)
|
Situacionista: aquilo que depende da situação
|
Direcionista: que direciona (Js 1.7,8; Sl 119.105)
|
Subjetiva: não há certo ou errado nem verdade universal
|
Objetiva: que não contém o ponto de vista pessoal (Mt
22.37-39)
|
Mutável: suscetível a alterações e mudanças
|
Imutável: que não altera e não muda (Êx 24.12; Mt 5.18)
|
III. FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ
1.
Deus.
O fundamento da ética cristã é o
próprio Deus. Na Escritura Ele é descrito como a verdade (Dt 32.4; Sl 31.5), a
justiça (Ed 9.15); e, como um Deus santo (Is 6.3). O adjetivo “santo”
no hebraico “qadosh” significa: “separado do mal”; já no grego “hagios”
quer dizer: “eticamente correto” (CHAMPLIN, 2004, p. 88). O Senhor é
descrito como “o Santo de Israel”. Esse título aparece cerca de vinte e quatro
vezes só no livro do profeta Isaías (Is 10.20; 12.6; 17.7; 29.19; 30.11,12,15;
31.1; etc), aparecendo também em outras partes das Escrituras (2Rs 19.22; Jó
6.10; Sl 71.22; 78.41; 89.18; Pv 9.10; 30.3; Jr 50.29; 51.5; Ez 39.7; Hc 1.12;
3.3). Santidade é expressamente atribuída nas Escrituras, a cada pessoa da
Trindade, ao Pai (Mt 6.9; Jo 17.11), ao Filho (Lc 1.35; At 4.30), e ao Espírito
Santo (Sl 51.11; Is 63.10; Jo 14.26). Daí por que alguns negam a existência de
Deus, porque “se Deus não existe, então, simplesmente não temos um alicerce
adequado para uma ética objetiva” (COPAN, 2006, p. 130). Portanto, somente com
a existência de Deus, princípios éticos e morais têm sentido e podem ser
compreendidos e explicados.
2.
A Palavra de Deus.
O modo de pensar e de agir, na ética
cristã, tem respaldo na Bíblia Sagrada. A Bíblia é o código de ética divino (Sl
119.105). Nela encontramos o mais elevado código de ética para a vida humana -
o Decálogo (Dez Mandamentos), que foi dado pelo próprio Deus de forma
verbal (Êx 20.1-17); e escrita (Êx 24.12). Sobre o Decálogo Champlin (2004, p.
25) afirmou que é “uma das mais duradouras legislações de todos os tempos”. Quanto
a Lei, Jesus afirmou que não veio ab-rogar, mas cumprir (Mt 5.17). Ele deu a
Lei uma nova dimensão, de caráter espiritual, valorizando o interior mais do
que o exterior. No sermão do Monte, o Senhor Jesus reafirmou os artigos do
Decálogo (Mt 5-7). Quando interrogado sobre qual o maior Mandamento da Lei, o
Mestre respondeu: “o amor a Deus e ao próximo”, fazendo uma clara alusão ao
Decálogo, visto que os quatro primeiros mandamentos tratam da relação do homem
com Deus e os seis posteriores da relação com o próximo (Mt 22.36-40). Os Dez
Mandamentos são repetidos pelos apóstolos para serem praticados pelos cristãos
na Nova Aliança, com exceção do sábado (At 14.15; 1 Jo 5.21; Tg 5.12; Ef 6.1; 1
Jo 3.15; 1 Co 6.9-10; Ef 4.28; Cl 3.9-10; Ef 5.3). É importante ressaltar que, embora
a Lei não salve o homem, pois este não é o seu papel, os princípios morais nela
contidos devem nortear o comportamento ético e moral do salvo em Cristo,
pois a graça não promove a anomia (uma vida sem lei), nem antinomia (uma vida
contra a lei) (Rm 6.1,2; Tt 2.11). “A ética dos Dez Mandamentos dá suporte a
ética cristã, de modo marcante e aperfeiçoado por Cristo” (RENOVATO, 2002, p.
32).
3.
A consciência.
Certo teólogo definiu a “consciência”
como: “faculdade humana que torna o homem instintivamente cônscio das regras
universais e obrigatórias de conduta” (CHAMPLIN apud JERÔNIMO, 2004, p.
870). A Bíblia ensina que em todos os homens existe uma consciência fundamental
do bem e do mal, que lhes foi concedida no ato da criação, quando Deus os fez a
Sua imagem e semelhança (Gn 1.26; Rm 2.14,15). A natureza moral do homem foi
corrompida pelo pecado (Rm 1.18-32; 3.23), e o homem que era santo e perfeito,
tornou-se pecador e imperfeito (Gn 6.3,5; Rm 3.9-23; Gl 5.19-22), essa “imagem de
Deus foi obscurecida, mas não completamente erradicada pela Queda;
ela foi corrompida (afetada), mas não eliminada (aniquilada)” (GEISLER, 2010,
p. 109). Embora a Bíblia afirme que a consciência possa se tornar “cauterizada”
(1 Tm 4.2); “contaminada” (Tt 1.5); e, “má” (Hb 10.22), ela não pode ser
neutralizada (Jo 8.9; Rm 2.14,15; Hb 10.2). Mas, por meio do novo nascimento,
que é uma mudança interior (Tt 3.5) este mesmo homem tem a sua consciência
libertada (1 Co 4.4) e sensibilizada pelo Espírito Santo (Rm 9.1), a fim de que
haja segundo a mente de Cristo (1 Co 2.15), não violando a própria consciência
nem a alheia (At 24.16; Rm 13.5; 1 Co 8.12; 10.29; 1 Tm 1.19; 1 Pe 3.21).
IV. A ÉTICA CRISTÃ ANTE OS DESAFIOS
DA PÓS-MODERNIDADE
Os padrões da ética humana mudam
conforme as tendências dos valores morais da sociedade. Com o passar do tempo
têm havido uma verdadeira “involução” no que diz respeito a
ética, a moral e os bons costumes. Segundo Grenz (2016, p. 12) “há um consenso
entre muitos observadores sociais de que o mundo ocidental está em meio às
transforma - ções. Na verdade tudo indica que estamos fazendo a travessia da
era moderna para a pós moderna”. Paulo previu isso quando falou sobre o fim dos
tempos, asseverando que as coisas se tornarão piores à medida que o fim se
aproximasse: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”
(2 Tm 3.1). “Da expressão 'tempos trabalhosos', no grego,
temos o adjetivo 'chapelos', que significa 'difícil', 'árduo', dando a entender
um período de 'tensão', de 'maldade'; serão tempos difíceis de
suportar, perigosos e problemáticos para a igreja em geral” (CHAMPLIN, 2014, p
502 – acréscimo nosso). Vejamos algumas características da pós-modernidade e o
posicionamento bíblico quanto a elas:
1.
A negação dos absolutos.
Segundo Grenz (2016, p. 28), “os
pós-modernos questionam o conceito de verdade universal. Eles olham para além
da razão e dão guarida a meios não racionais de conhecimento, dando às emoções
[...] uma posição privilegiada”. Nancy (2000, p. 44) acrescenta que
“pós-modernistas, são céticos, senão ressentidos, com relação a valores morais
absolutos”. Eis por que a Bíblia Sagrada faz-se tão necessária à raça humana,
pois é um livro que trata com valores absolutos, pois absoluto Ele é (Dt 32.4;
Sl 31.5; Jo 14.6; 17.17; Jo 16.13).
2.
A relativização dos valores.
Há quem defenda que valores éticos e
morais sejam relativos ao tempo, lugar, cultura ou há um grupo. Ensinam que
nada é certo e nada poder ser considerado errado. Tudo depende da subjetividade
do momento. Andrade (2006, p. 318) diz que o relativismo “é uma concepção
filosófica segundo a qual nada é definitivamente certo nem absoluto”. No
relativismo não há uma fonte transcendente de verdade moral, e podemos
construir nossa própria ética e moralidade. Todo princípio é reduzido a uma
preferência pessoal. Em contraste, os cristãos acreditam em um Deus que tem
falado, que revelou um padrão absoluto e imutável de certo e errado, na Sua
Palavra (Êx 20.1-17), baseado, em última instância, em Seu próprio caráter
santo (Lv 11.45; 20.26; 1 Pe 1.16).
3.
A inversão de valores.
Entende-se por inversão de valores, a
negação ou substituição dos valores absolutos conforme descritos na Palavra de
Deus, por valores temporais, relativistas e circunstanciais, que são facilmente
ajustáveis às épocas em que estão inseridos. O profeta Isaías reprovou
severamente a inversão de valores (Is 5.20). Paulo disse que os homens pagãos
“[…] mudaram
a verdade de Deus em mentira […]” (Rm 1.25). Enquanto o mundo tem os
seus valores deturpados pelos formadores de opinião que utilizam a escrita,
televisiva e a internet para disseminarem suas ideias, nós cristãos, no
entanto, fomos chamados para fazer a diferença, como sal da terra e luz do
mundo (Mt 5.13,14). Nosso formador de opinião é o Espírito da Verdade que nos
guia em toda a verdade, que é a Sua Palavra (Jo 16.13; 17.15).
CONCLUSÃO
Nunca foi fácil ser um cristão
autêntico, e, nestes últimos dias serão dias ainda mais difíceis. Diante dos
desafios hodiernos precisamos, com base na Palavra de Deus defender os valores
éticos, morais e os bons costumes nela contidos.
REFERÊNCIAS
· ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.
CPAD.
· CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia.
HAGNOS.
· GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. CPAD.
· HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.
· MORELAND, J.P et al. Ensaios Apologéticos.
HAGNOS.
· REIFLER, Hans Ulrich. A ética dos Dez Mandamentos.
VIDA NOVA.
· LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã. CPAD.
· GRENZ, Stanley, J. Pós-Modernismo: uma guia para
entender filosofia do nosso tempo. VIDA NOVA.
· STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.