1Tm
4.6-8,13-16
INTRODUÇÃO
Nesta lição iremos
analisar o contexto religioso e a essência do ensinamento paulino ao jovem
cooperador Timóteo à respeito da piedade; pontuaremos sobre a disciplina
espiritual relacionada a Palavra de Deus e, por fim, ainda destacaremos algumas
práticas das disciplinas cristãs.
I. O ESPÍRITO HUMANO, REGENERAÇÃO E A PRÁTICA DA PIEDADE
1. O
contexto religioso.
Queiroz (2025, p. 125)
afirma que na fase final do seu ministério, o apóstolo Paulo constituiu novos
pastores para a continuidade da missão de proclamação do evangelho e
implantação de igrejas. Timóteo, um jovem e fiel companheiro do velho apóstolo,
recebeu dele uma difícil missão: pastorear a igreja de Éfeso, ameaçada por
heresias internas e externas, como Paulo havia avisado (At 20.28-30). Só
espiritualmente fortalecido Timóteo poderia enfrentar e vencer esse desafio.
Paulo, então, dá um conselho ao jovem: “exercita-te a ti mesmo em piedade”
(1Tm 4.7).
2. A
essência do ensinamento paulino.
Paulo instrui o jovem
cooperador Timóteo sobre a importância da piedade e do exercício espiritual. O
texto sagrado mostra a preocupação apostólica com o equilíbrio entre a sã
doutrina, a maturidade espiritual e o comportamento do cristão. Em 1Tm 4.6–16, Paulo
destaca que o ministério (a vida cristã) eficaz depende de uma vida interior
fortalecida e de disciplinas espirituais constantes. Dessa forma, a temática
abordada pelo apóstolo Paulo une espiritualidade e prática cristã, mostrando
que o desenvolvimento do espírito humano é resultado de uma vida disciplinada
diante de Deus.
3. O
espírito humano e a regeneração.
De acordo com Wycliffe
(2007, p. 681), através do novo nascimento [regeneração], o espírito do homem
torna-se vivo para Deus e sensível a voz interior do Espírito Santo (Rm 8.16).
Como o espírito é constantemente renovado, ele é capaz de governar as atitudes
da mente (Ef 4.23). O espírito capacita uma pessoa a pensar em termos
espirituais, porque por sua vez é controlado [sem perder o livre-arbítrio] pelo
Espírito de Cristo que compartilha a mente e a atitude de Cristo com o crente
(1Co 2.16). Assim, o espírito humano regenerado, quando humildemente submisso a
Cristo, é capaz de ter mansidão e bondade em relação as outras pessoas (1Co
4.21; G1 6.1).
4. O
espírito humano e a prática da piedade.
Ao escrever a Timóteo,
o apóstolo Paulo orienta: “Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas e
exercita-te a ti mesmo em piedade. Porque o exercício corporal para pouco
aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida
presente e da que há de vir” (1Tm 4.7,8). De acordo com Wiersbe (2008,
p. 673), as fábulas (ou mitos) insensatas e tolas dos falsos mestres criam
doença espiritual da mesma forma que a “doutrina boa” promove saúde espiritual.
Para Henry (2008, p. 694, 695), o apóstolo queria que Timóteo instilasse na
mente dos cristãos sentimentos tais que pudessem impedi-los de serem seduzidos
pelos mestres judaizantes, uma vez que, as tradições judaicas não exercitavam a
piedade. Por isso o apóstolo diz “exercita-te a ti mesmo em piedade”,
isto é, dedique-se a religião prática. Aprendemos que a devoção interior deve
guiar toda a conduta exterior (prática).
II. A DISCIPLINA ESPIRITUAL DA PALAVRA DE DEUS
Ao escrever para o
jovem obreiro Timóteo, Paulo disse: “Persiste em ler, exortar e ensinar,
até que eu vá” (1Tm 4.13). Aqui podemos extrair alguns ensinamentos
sobre a prática da disciplina da Palavra de Deus. Vejamos:
1. Ler
a palavra diariamente.
Quando observamos o AT
podemos notar que a leitura da Palavra de Deus era uma prática comum (Dt 4.10;
Ed 4.18; Ne 8.8; Ne 9.3; 2Rs 23.2; Sl 119.97) e recomendada pelo próprio Deus
(Js 1.8; Pv 4.20-22). No NT (At 8.30; At 17.2; At 28.23) não foi diferente,
tendo o próprio Jesus o hábito de ler as Sagradas Escrituras (Mt 24.27). Quando
o apóstolo Paulo escreve a Timóteo dizendo “Persiste em ler” (1Tm
4.13), para Wiersbe (2008, p. 674) refere-se à leitura coletiva da Palavra na
congregação. Paulo estava encorajando Timóteo a manter a leitura pública das
Sagradas Escrituras de forma regular, enfatizando a importância da exposição
contínua à Palavra de Deus.
2.
Exortar pela Palavra.
Paulo,
além de recomendar o jovem cooperador Timóteo a persistir em ler as Sagradas
Escrituras, também o “exorta” do grego “paráklesis” no versículo
13 a respeito da necessidade de não apenas ler, mas também de encorajar os
irmãos a viverem em conformidade com as verdades da fé, refletindo o papel
vital da edificação mútua na comunidade cristã. A Palavra do Senhor nos
traz inúmeras exortações: a) a sermos cumpridores da Palavra e não
apenas ouvinte (Tg 1.22); b) os crentes a precaverem-se dos falsos
profetas (Mt 7.15); c) a provarem os espíritos (1Jo 4.1); d) a
estarem atentos as doutrinas de demônios (1Tm 4.1); e, e) a buscarem a
perfeição (Mt 5.48).
3.
Ensinar através da Palavra.
O apóstolo Paulo ainda
orienta que Timóteo deve “ensinar” a Palavra de Deus. O ensino
das Sagradas Escrituras era uma prática desde o AT, onde Deus havia dado essa
orientação ao povo de Israel (Dt 6.6-8), o que, por exemplo, Esdras buscou
fazer com diligência: “Porque Esdras tinha preparado o seu coração para
buscar a Lei do Senhor, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus
estatutos e os seus direitos” (Ed 7.10). Timóteo tinha o dever de ler e
expor, ler e imprimir nos crentes de Éfeso o que leu: “Manda estas coisas
e ensina-as. 12Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na
palavra [...]” (1Tm 4.11,12a). Ele deveria expor o texto tanto por meio
da exortação quanto por meio da doutrina; ele deveria ensiná-los naquilo que
deveriam fazer e naquilo que deveriam crer. É importante destacar que aqueles
que são chamados para o ensino da Palavra (Rm 12.7,8), devem dedicar-se ao
estudo das Sagradas Escrituras, para que possam crescer na graça e no
conhecimento (2Pe 3.18).
III. PRÁTICAS DAS DISCIPLINAS CRISTÃS
1.
Oração e o jejum.
A oração e o jejum são
práticas que devem fazer parte da vida do cristão. O profeta Daniel jejuou por
3 semanas para que sua oração fosse ouvida e respondida por Deus (Dn 9.1,2).
Jesus foi impelido pelo Espírito Santo, a fim de jejuar quarenta dias e quarenta
noites no deserto, de forma a suportar as tentações do diabo (Lc 4.1-13).
Oração e jejum também estão relacionados a busca por autoridade para expulsão
de demônios (Mt 17.18-21; Mc 9.25-29). Além disso, a oração e o jejum, de modo
constante, são partes integrantes dos avivamentos (2Cr 7.14; At 2.42).
2. A
santificação.
O apóstolo Paulo disse “glorificai,
pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”
(1Co 1.20). A santidade não é apenas interna, mas deve se refletir no
comportamento externo do crente. Escrevendo aos crentes de Tessalônica, ele
disse: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso
espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23). O cristão deve buscar a
separação do pecado em todas as áreas da sua vida (1Pe 1.15,16). Nossa vida
deve ser um instrumento de justiça para a santificação (Rm 6.19), e assim nunca
instrumento da impureza (1Co 6.18).
3. A
vigilância espiritual.
Quando o apóstolo Paulo
diz ao jovem cooperador Timóteo “medita estas coisas, ocupa-te nelas”
(1Tm 4.15) e “persevera nestas coisas” (1Tm 4.16), está
exortando-o a vigiar espiritualmente, a observar os ensinamentos repassados e à
disciplina espiritual, enfatizando o autocuidado espiritual. O Senhor Jesus
disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o
espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Isso fala da
predisposição e inclinação da natureza adâmica que existe em cada um de nós,
ocasionando uma luta constante entre o Espírito e a carne (Gl 5.16,17).
4. A
disciplina do corpo na vida cristã.
Paulo disse: “Porque
o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é
proveitosa” (1Tm 4.8). De acordo com Queiroz (2025, p. 126), “o corpo
deve ser templo de Deus e, portanto, deve ser usado para a sua glória e também
como um instrumento para o serviço divino. O teólogo J. Glenn Gould (2020, p.
482) afirma não haver justificativa para presumir que Paulo esteja desaprovando
a ideia do bem-estar físico. Contudo, enfatiza que tornar o cultivo de um
físico sarado o alvo principal do homem era totalmente estranho à escala de
valores de Paulo”. O corpo disciplinado reflete domínio pelo Espírito, mas
também cuidado com a saúde e a manutenção da mente (Fp 4.8).
5. A
prática da comunhão cristã e do serviço.
A comunhão cristã (koinonia)
é uma disciplina espiritual fundamental para o fortalecimento da fé e da
maturidade do crente. A Palavra de Deus mostra que a Igreja primitiva
perseverava “na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e
nas orações” (At 2.42). A comunhão não é apenas convivência, mas
participação mútua na fé, apoio espiritual e edificação recíproca (Hb
10.24,25). A prática do serviço cristão é parte essencial dessa comunhão. Paulo
ensina que fomos chamados para servir uns aos outros em amor (Gl 5.13), e Pedro
afirma que cada cristão recebeu um dom para colocá-lo a serviço da Igreja (1Pe
4.10). Assim, a comunhão e o serviço não são apenas atividades externas, mas
disciplinas que moldam o caráter do crente, promovem unidade espiritual, combatem
o individualismo e fortalecem o testemunho da Igreja no mundo (Jo 13.34,35).
Aprendemos que uma vida piedosa inclui não somente oração, santificação e
vigilância, mas também compromisso com o corpo de Cristo e disposição para
servir aos irmãos.
CONCLUSÃO
Em 1 Timóteo 4 o
apóstolo Paulo mostra que a piedade não é acidental, mas resultado de dedicação
e prática constante. As disciplinas cristãs são os meios divinamente ordenados
para o fortalecimento do espírito humano. O Espírito Santo age em cooperação com
o esforço humano para formar o caráter de Cristo em nós. Portanto, que cada
crente cultive diariamente as disciplinas espirituais, fortalecendo seu
espírito para viver uma fé madura, equilibrada e frutífera diante de Deus.
REFERÊNCIAS
Ø HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry – Vol.
6. CPAD.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wyclliffe.
CPAD.
Ø QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito. CPAD.
Ø WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Novo Testamento.
Geográfica Editora.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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