Gn 3.1,6,7; Rm 5.12-14
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos que Deus não é o autor do pecado; pontuaremos a origem do pecado
à luz da Bíblia no mundo espiritual e físico; falaremos sobre o pecado herdado,
onde será pontuado que ele afetou todo o ser do homem, mas não destruiu
completamente a imagem de Deus, e nem anulou a capacidade de escolha humana;
estudaremos que a salvação é uma iniciativa divina, mas, exige a
responsabilidade do homem, e que ela está acessível a todos sem distinção. E
por fim, relataremos algumas bençãos provenientes da restauração a Deus com
sendo a paz com Ele, o acesso ao pai e a filiação divina.
I. DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO
A
palavra hebraica “hatah” e a grega “hamartia” originalmente
significam: “errar o alvo, falhar no dever” (Rm 3.23). Existem
outras várias designações bíblicas para o pecado, muito mais do que há para o
bem. Cada palavra apresenta a sua contribuição para formar a descrição completa
desta ação horrenda contra um Deus santo. Em um sentido básico pecado é: “a
falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou
estado” (Chaves, 2015, p. 128). Podemos afirmar ainda que: “O
pecado é a transgressão da Lei de Deus” (1Jo 3.4). Quanto a origem do
pecado, vejamos:
1.
Deus não é o autor do pecado.
Precisamos
destacar que de modo algum Deus pode ser responsabilizado pela entrada do
pecado no universo. Atribuir a culpa a Deus, torna-se uma blasfêmia contra o
seu caráter moral, que é absolutamente perfeito (Dt 32.4; 2Sm 22.31; Jó 34.10;
Sl 18.30), sendo um erro gravíssimo afirmar como fazem alguns, que o
Senhor decretou o pecado. Pois afirma Tiago: “[…] Deus não
pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg
1.13-ARA).
II. A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO
ESPIRITUAL E FÍSICO
1.
O pecado no mundo espiritual.
De
acordo com a Bíblia um número incontável de anjos foram criados por Deus (Hb
12.22), e estes eram bons por natureza, assim como tudo o que Senhor criou (Gn
1.31). Mas ocorreu uma Queda no mundo angélico, no qual, vários anjos se
apartaram de Deus (Jd 6). Pouco se diz sobre o que ocasionou essa Queda, mas
pelo que encontramos em alguns textos, podemos concluir que foi o orgulho e a
cobiça de desejar ser semelhante a Deus, fez com que Lúcifer (nome
tradicional dado a este arcanjo tirado de Is 14.12, da expressão ‘estrela da
manhã’, na tradução latina da Bíblia – Vulgata Latina) fosse banido e
destinado ao inferno (1Tm 3.6; Is 14.11-23; Ez 28.11-19; Lc 10.18; Ap 12.9).
Como alguém acertadamente ressalta: “Deus criou Lúcifer, mas, Lúcifer
fez-se Satanás” (Chaves, 2015, p. 133).
2.
O pecado no mundo físico.
No
que diz respeito à origem do pecado na história da humanidade, a Bíblia nos
informa que se deu pelo ato deliberado, perfeitamente voluntário de Adão e Eva
(Gn 3; Rm 5.12,19). Sobre a causa que levou ao pecado, diz Geisler: “[…] Deus
não fez com que Adão pecasse, pois, como já analisamos, Deus não pode
pecar, nem tentar ninguém nessa direção. Tampouco Satanás fez com que Adão
pecasse, pois o tentador fez somente aquilo que o seu nome sugere, ele
não o forçou, nem fez nada no seu lugar […] Deus criou criaturas livres, e
se é bom que sejamos livres, então a origem do mal é o mal-uso da liberdade” (2010,
p. 70,75). A resposta real é que Adão pecou porque escolheu pecar. No entanto,
não se pode afirmar que Satanás não teve nenhuma participação na Queda do
homem, tanto é que, ele também foi alvo da punição divina porque teve sua
participação (Gn 3.14,15).
III. O PECADO NO HOMEM
Tudo
o que Deus criou, o fez perfeitamente (Gn 1.31; Ec 7.29). Contudo, por causa do
mal uso do livre-arbítrio, o pecado teve o seu lugar na humanidade, manchando
(não destruindo) a imagem de Deus (imago Dei) no
homem. Sobre alguns efeitos ou consequências do pecado no homem, podemos
destacar:
1.
O pecado herdado.
Uma
controvérsia gerada no século V, foi a que a raça humana não teria sido afetada
pela transgressão de Adão, ou seja, que o homem não herda o pecado original de
seu primeiro pai. No entanto, o que a Bíblia afirma é que, pelo fato de Adão
ser o cabeça e o representante de toda a raça humana, seu pecado
afetou a todos (Rm 3.23; 5.12-19), por isso que todos possuímos a “natureza
pecaminosa”, herança que recebemos de nossos pais Adão e Eva (Rm
6.6,12, 19; 7.5,18; 2 Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18), dessa forma todos
somos por natureza, culpados diante de Deus (Ef 2.1-3). Até um bebê
recém-nascido (Sl
51.5), antes mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3; Pv
22.15); no entanto, as crianças apesar de nascerem com natureza
pecaminosa ainda não conhecem experimentalmente o pecado. Elas não são
responsabilizadas por seus atos antes de terem condições morais e intelectuais
para discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado (Is 7.15; Jn
4.11; Rm 9.11). O sacrifício de Jesus proveu salvação a todas as pessoas, até
mesmo às crianças que falecerem na fase da inocência (Soares, 2017, p. 92 – grifo
nosso).
2.
O pecado afetou todo o ser do homem.
O
pecado no homem não é meramente um hábito adquirido, ele é uma herança natural
do ser humano, ninguém precisa ser ensinado a pecar, mas, o faz naturalmente
(Rm 3.10; Gl 5.19-21; Ef 2.3). A relação com Deus e com o próximo foram
afetadas pelo pecado (Gn 3.7-10), além de trazer a morte física, espiritual e
eterna (Gn 2.16,17; Rm 6.23; Ef 2.1-3; Ap 20.14,15). A Declaração de Fé das AD
(2017, p. 101) nos diz: “A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a
sua composição: corpo (Rm 8.10), alma (Rm 2.9) e espírito
(2Co 7.1). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto
(Is 1.3), emoção (Jr 17.9), vontade (Ef
4.18), consciência (1Co 8.7), razão (Tt 1.15) e liberdade
(Tt 3.3)”.
3.
O pecado não destruiu a imagem de Deus.
Embora
o homem tenha sido afetado extensivamente pelo pecado, isto não significa dizer
que a imagem de Deus no homem tenha sido destruída completamente (Rm
2.12-14). Encontramos um mandamento para não amaldiçoar outras pessoas, pois
elas também foram criadas a imagem de Deus, e isto seria o mesmo que amaldiçoar
a representação do próprio Deus (Tg 3.9,10) (Geisler, 2010, p. 125). Veja
também: (Gn 9.6).
4.
O pecado não anulou a capacidade de escolha.
Embora
tenha pecado e se tornado espiritualmente morto (Gn 2.17; Ef 2.1), passando a
ter a natureza pecaminosa (Ef 2.3), Adão não perdeu totalmente a capacidade de
ouvir a voz de Deus e também de responder (Gn 3.9-10); a imagem de Deus, que
inclui o livre arbítrio permanece, ainda que desfigurada nos
seres humanos. As Escrituras afirmam claramente que mesmo o homem tendo sua
volição (vontade) afetada pelo pecado, não foi anulada (Dt
30.19; Js 24.15; Rm 1.18-20; 2.14,15) (Declaração de Fé das Assembleias de
Deus, 2017, p. 101 – acréscimo nosso).
IV. A RESTAURAÇÃO DO HOMEM A DEUS
Devido
à pecaminosidade do homem, este estava destinado a condenação eterna (Jo 3.18;
Rm 3.23; Ef 2.3). Mas, apesar dessa condição, Deus por sua graça e misericórdia
(Ef 2.4,5) estabeleceu um projeto salvífico para restaurar o homem (Jo 3.16).
Segundo Houaiss, restauração é: “ato ou efeito de restaurar; conserto de
coisa desgastada pelo uso; recomposição de algo” (2001, p. 2442).
Vejamos algumas verdades sobre a restauração do homem a Deus:
1.
Uma iniciativa divina.
O
projeto de restauração do homem, tem como fonte a pessoa de Deus (Is 45.22; Jn
2.9; Tt 2.11). Na condição de pecador, o homem jamais por si só produziria a
sua salvação (Rm 3.10,11; Tt 3.5), por essa razão vemos partindo sempre de Deus
a iniciativa de restauração humana (Gn 3.9;15,21). A Bíblia diz que “Deus
amou”; “Deus deu”; “Deus enviou” (Jo 3.16,17). Paulo diz ainda que “[...]
a graça de Deus se manifestou [...] (Tt 2.11); e que: “tudo isto
provém de Deus” (2Co 5.18a); e ainda: “Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo […]” (2Co 5.19).
2.
Exige a responsabilidade humana.
No
plano da salvação, Deus em sua soberania incluiu a responsabilidade do homem em
crer no seu Filho (Mc 16.15,16; Jo 3.16-18; Rm 10.11-14). De acordo com Hunt: “há
uma confusão que surge por meio da falha em reconhecer a distinção óbvia entre
a incapacidade do homem de fazer qualquer coisa para sua salvação (o que é
bíblico) e uma suposta incapacidade de crer no evangelho (o que não é bíblico)”
(2015, p. 218). Fé e arrependimento são necessários para a salvação, precedendo
a regeneração, ou seja, cremos para ser regenerados e não o inverso (Mc
1.15; Jo 20.31; At 2.38; 10.43; Rm 1.16; 10.9; 1Co 1.21; Ef 1.13,14). A fonte
da salvação humana é a graça de Deus e o meio de recebê-la é a fé nele, como
afirma o apóstolo Paulo: “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; isto não vem de vós (salvação), é dom de Deus” (Ef 2.8
– acréscimo nosso).
3.
Possível a todos os homens.
Assim
como a extensão do pecado (Rm 5.12), a Bíblia também trata sobre o alcance da
graça divina “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também por um só ato de
justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm
5.18). A graça salvífica não é apresentada de forma limitada nas Escrituras,
mas sim, que se revela a todos os homens “[...] para exercer misericórdia
para com todos” (Rm 11.32; ver Is 45.22; Mt 11.28; Tt 2.11; Jo 1.7,9;
1Jo 2.2), até mesmo àqueles que a rejeitam “Veio para o que era seu, mas
os seus não o receberam” (Jo 1.11). A Bíblia nos mostra que o homem
pode por seu livre arbítrio aceitar ou rejeitar o plano divino para a sua
salvação (At 4.4; 9.42; 17.4; Hb 3.15; 4.7). Jesus declarou: “Jerusalém,
Jerusalém, [...] quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos […] e tu não
quiseste!” (Mt 23.37 ver ainda At 7.51; 18.6).
V. ALGUMAS BENÇÃOS PROVENIENTES DA
RESTAURAÇÃO A DEUS
1.
Paz com Deus.
Em
pecado o homem encontra-se na condição de inimigo de Deus: “Porquanto a
inclinação da carne é inimizade contra Deus [...]” (Rm 8.7); mas
através da fé na morte de Cristo, temos paz com Deus, como resultado da
justificação: “[...] justificados pela fé, temos paz com Deus, por
nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1; ver Ef 2.14-17).
2.
Acesso ao Pai.
O
homem caído em pecado encontra-se distante de Deus (Ef 2.13a), devido a parede
de separação que é resultado da transgressão humana: “Mas as vossas
iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados
encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59.2). Mas
Cristo, ao se oferecer como sacrífico expiatório, nos garante acesso a presença
de Deus (Jo 14.6; Ef 2.18; Hb 10.19-22).
3.
Filiação divina.
Após
a queda, todos por natureza são filhos da ira (Ef 2.3), sob a influência do
mundo e escravos dos desejos da carne (Ef 2.2), tendo como pai o diabo (Jo
8.40,41,44). No entanto, quando cremos no Evangelho e confessamos a Cristo como
Senhor das nossas vidas, fomos selados com o Espírito Santo (Ef 1.13,14), e
esse nos introduziu à família de Deus (Ef 2.19), testificando com nosso
espírito que somos filhos de Deus e co herdeiro com Cristo (Rm 8.14-17).
CONCLUSÃO
Apesar
da queda da raça humana, Deus, por sua maravilhosa graça decidiu soberanamente
salvar o homem caído em pecado, por meio de Jesus Cristo. Esta graça alcança a
todos os homens indistintamente, e que apesar de nos salvar independente das
obras, nos impele a uma vida de santificação que é a evidência visível da
salvação. Tendo sido justificados pela graça, mediante a fé, experimentamos
grandes benefícios de agora em diante: “temos paz com Deus” (Rm
5.1) e temos a certeza da “glorificação final” (Rm 8.30) e a
libertação presente e futura da “condenação” (Rm 8.1,33,34).
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN, R. N. Dicionário de
Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø CHAVES, Gilmar, Vieira. Temas
Centrais da Fé Cristã. CENTRAL GOSPEL.
Ø GEISLER, Norman. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø GILBERTO, Antônio, et al. Teologia
Sistemática Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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