Ef 2.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta
lição pontuaremos que a salvação é mediante a graça de Deus; traremos a
definição da palavra “graça” tanto no AT quanto no NT; destacaremos que Deus
sempre se relacionou com o homem por Sua graça; destacaremos algumas
características deste favor divino; e, por fim, pontuaremos que somente pelo
favor imerecido de Deus o homem poderá ser salvo.
I. A SALVAÇÃO É PELA GRAÇA DE DEUS
A
palavra “graça” aparece 217 vezes em toda a Bíblia. No AT: 73; no
NT: 144 (Joshua, sd, p. 697). O conceito de graça é multiforme e sujeito a
desdobramentos nas Escrituras. No AT, “hen”, significa: “favor”.
É o favor imerecido de um superior a um subalterno. No caso de Deus e do homem,
'hen' é demonstrado por meio de bençãos temporais,
embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e
livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31,2; Êx 33.19).
No NT, é “charis”, que indica “graciosidade”, “atrativo”,
“favor” (Wycliffe, 2007, p. 876 – acréscimo nosso). Em resumo
esta palavra significa um: “favor imerecido concedido por Deus à raça
humana” (Andrade, 2006, p. 203). A graça salvadora de Deus é vista ao
longo de todas as dispensações na história, como veremos a seguir:
1.
A salvação pela graça antes da Lei.
Já
no Éden, vemos a manifestação da graça divina, pois mesmo quando Adão pecou
sendo merecedor do juízo, Deus lhe fez a promessa da vinda do Redentor (Gn
3.15); lhe cobriu a nudez (Gn 3.21); e, vedou o acesso a árvore da vida a fim
de que o homem não tivesse a sua situação irremediável (Gn 3.22-24). No período
antediluviano, Deus decretou que daria um tempo aquela geração de 120 anos até
que viesse o dilúvio e consumisse a todos (Gn 6.3). Noé achou graça aos olhos
de Deus (Gn 6.8), e o Senhor o livrou junto com a sua família daquela
catástrofe (Gn 6.9). Quanto a Abraão foi imputada justiça mediante a fé,
evidencia-se um claro sinal da graça (Gn 15.6; Rm 4.3-5). Até o pacto que Deus
fez com Ele, não foi baseado em méritos, pois na ocasião, somente Deus passou
por entre as metades dos animais (Gn 15.8-17).
2.
A salvação pela graça durante a Lei.
Deus
deu a Lei ao povo de Israel, mas sabia da incapacidade deles de observá-la em
Sua plenitude, por causa de sua natureza pecaminosa (Sl 14.3; 143.2; Ec 7.20;
Rm 7.14-23). Por isso, instituiu o sistema cerimonial de sacrifícios, a fim de
proporcionar-lhes perdão por Sua graça (Êx 30.10; Lv 1.4; 4.2,14,21,24).
Portanto, a provisão da graça para com o indigno transgressor da Lei existia
desde o Antigo Testamento (Êx 33.13; Jr 3.12; 31.2). A passagem de Atos
15.10,11 confirma isso também. “Há apenas uma forma de salvação na Bíblia,
através do arrependimento e da regeneração, e uma única operação da graça de
Deus. A atuação do Espírito Santo é consistente nos dois Testamentos, e a
santificação sempre foi pela graça. Não existem dois Pactos de graça diferentes,
mas um único Pacto sob diferentes dispensações no Antigo e Novo Testamento”
(Barreto, 2024, p. 74).
3.
A salvação pela graça depois da Lei.
Apesar
de Deus ter sido gracioso em todas as eras anteriores, sempre oferecendo novas
oportunidades para a obediência sob Suas novas condições, a Sua benevolência
ilimitada foi totalmente derramada por meio de Jesus, nos primórdios deste novo
tempo chamado de “dispensação da graça” (Ef 3.2). João diz que “[...]
a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17b). Paulo ensinou
que Deus manifestou a Sua graça em toda a sua plenitude na Pessoa de Seu Filho,
Jesus Cristo (2Co 8.9; 13.13; Gl 1.6; 6.18; Ef 2.7; Fp 4.23). O apóstolo Pedro
também falou da “graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo” (1Pe
1.13).
II. CARACTERÍSTICAS DA SALVAÇÃO
DIVINA
Paulo
foi o principal instrumento humano para transmitir o pleno significado da graça
em Cristo. Não é de admirar que mais tarde ele viesse a ser conhecido como “o
apóstolo da graça” (Swindoll, 2009, p. 19). Com maestria, ele nos falou
sobre a graça de Deus de forma abundante. Quase dois terços das ocorrências
neotestamentárias de “charis”, normalmente traduzida por “graça”,
se encontram em suas cartas. O termo se encontra em todas as treze cartas
paulinas tradicionais e é bastante repetido em Romanos. Ele confessou que para
isto foi chamado “para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At
20.24). Abaixo destacaremos algumas verdades sobre este maravilhoso favor
divino:
1.
A salvação por meio da graça é um ato soberano (Rm 1.7; 5.15; Tt 2.11).
Nos
referidos textos, Paulo nos diz que a graça procede soberanamente de Deus. Isto
porque o favor lhe pertence e vem dEle, como sua fonte originária (1 Co 15.10;
Tt 2.11; 1 Pe 5.10). A graça de Deus brilhou sobre os que estavam nas trevas e
na sombra da morte (Mt 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt 3.4). “A graça divina é,
então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e
soberana decisão” (Almeida, 1996, p. 28).
2.
A salvação por meio da graça é imerecida (Rm 3.24; Ef 2.5.7-8).
Para
falar sobre este favor imerecido ao pecador, Paulo usa a seguinte argumentação:
“Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo
a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que
justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rm 4.4,5). O
apóstolo deixou claro que a salvação é concedida ao homem sem ele merecer. Não
há nada que o homem faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça
aniquila qualquer obra que visa receber a salvação por mérito (Ef 2.9). A
salvação não é uma recompensa por bom comportamento e o homem não tem condições
de cumprir a Lei, por causa de seu estado de pecado (Is 64.6; Rm 7.14-21).
3.
A salvação por meio da graça é suficiente (Rm 3.24; Ef 2.8).
Paulo
nos mostra que a Lei não é suficiente para salvar o homem. Até porque seu
propósito é revelar o pecado e não o extirpar (Rm 7.7). Todavia, a graça de
Cristo fez por nós aquilo que a Lei nunca poderia (Rm 8.3). Embora a fé seja o
caminho dado por Deus para a salvação, não é ela quem nos salva, mas a graça “Porque
pela graça sois salvos” (Ef 2.8a). Portanto, é pela graça, o favor
imerecido de Deus, que ele nos concede a bênção da salvação (At 15.11; Rm
11.6).
4.
A salvação por meio da graça é imparcial (Rm 1.16; 3.29; 9.24).
Desde
o início, a proposta divina sempre foi estender a bênção da salvação a todos os
homens indiscriminadamente (Gn 12.3; Gl 3.8). É errôneo pensar embora “todos
pecaram” (Rm 3.23), somente os eleitos serão salvos. Em Tito 2.11 Paulo
diz: “[...] a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos
os homens”. A vinda do Messias mostra claramente que, Deus
não faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; 1Pe 1.17).
Portanto, a graça de Deus que nos é oferecida mediante o evangelho, é derramada
sobre todos em pé de igualdade, ou seja, ela contempla tanto judeus como
gentios (Gl 3.14; Ef 3.6).
5.
A salvação por meio da graça é resistível (At 7.51; 18.5,6).
A
ideia de que a graça é irresistível está ligada a Agostinho. “De acordo com
ele, a graça de Deus atua incondicional e irresistivelmente nos eleitos,
garantindo a salvação deles, produzindo a reação favorável dos homens para com
o evangelho e garantindo que essa reação seja absolutamente completa e eficaz”
(CHAMPLIN, 2004, p. 957). Nenhum apóstolo ou pai da igreja jamais ensinou
tal heresia, pelo contrário, a Bíblia, nos mostra que o homem pode pôr seu
livre arbítrio aceitar ou rejeitar o plano divino para a sua salvação (At
4.4; 9.42; 13.46; 17.4). O povo de Israel é a maior prova de que a graça não é
irresistível, pois o apóstolo João diz: “Veio para o que era seu, e os
seus não o receberam” (Jo 1.11). Jesus quando estava em frente ao Monte
das Oliveiras declarou: “Jerusalém, Jerusalém, [...] quantas vezes QUIS
EU ajuntar os teus filhos, [...] e TU NÃO QUISESTE!” (Mt 23.37). O
escritor aos Hebreus por mais de uma vez disse: “[...] se ouvirdes a sua
voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação [...]” (Hb
3.15). Confira também (Hb 3.7,8; 4.7).
III. A GRAÇA COMO A BASE DA SALVAÇÃO
Há
quem defenda erroneamente que os crentes do AT eram salvos pela obediência a
Lei, enquanto os santos do NT são salvos pela graça, este é um grande erro.
Nenhum homem poderá ser salvo por suas obras, mas somente e unicamente pela
graça de Deus (At 15.11; Ef 2.8; Tt 3.7). Paulo enfatizou esta verdade citando
dois exemplos do AT, a saber: Abraão e Davi (Rm 4.1-8). Jesus ensinou que: “aos
homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26). Paulo
de igual forma asseverou: “Porquanto o que era impossível à lei, [...]
Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado na carne” (Rm 8.3). O escritor aos Hebreus também
atestou: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os
pecados” (Hb 10.4). Segundo Geisler (2010, p. 158), “apesar da fonte da
salvação ser a decisão divina de nos salvar, a natureza da salvação é a graça
de Deus. O dom magnífico da vida eterna somente chega até nós por intermédio da
graça, e somente por ela”. É bom lembrar que todos os passos para a redenção do
pecador são atribuídos à graça de Deus; a saber: a eleição (Rm
11.5,6; Ef 1.4); a regeneração (Gl 1.15,16); a justificação
(Rm 3.24; 5,16,18; Tt 3.7); a santificação (1Pe 5.10); e
por fim, a glorificação (1Pe 5.10).
CONCLUSÃO
A
graça imensurável de Deus, sempre foi manifestada em todo decorrer da história
humana. No entanto, por meio de Cristo Jesus, este ato soberano de Deus em
relação ao homem caído em pecado, foi mais expressamente demonstrado, a fim de
mudar a sua sorte e restaurar o que a Queda causou.
REFERÊNCIAS
Ø ALMEIDA, Abraão de. O Sábado, a
Lei e a Graça. CPAD.
Ø ANDRADE, Claudionor de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN, R. N. Dicionário de
Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø BARRETO, Alessandro. Protopentecoste:
Ações do Espírito Santo no AT. Editora Bereia.
Ø FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Novo Dicionário da Língua Portuguesa. POSITIVO.
Ø GEISLER, Norman. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø GILBERTO, Antonio, et al. Teologia
Sistemática Pentecostal. CPAD.
Ø HENDRIKSEN, William. Comentário do
Novo Testamento. CULTURA CRISTÃ.
ØOLIVEIRA, Oséias Gomes. Concordância
Bíblica Exaustiva Joshua. Vol. 03. CENTRAL GOSPEL.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário
Bíblico Wyclliffe. CPAD.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
Ø SWINDOLL, Charles R. Paulo. Paulo:
um homem de coragem e graça. MUNDO CRISTÃO.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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