At
2.37-47
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, veremos o significado do termo ‘modelo’; citaremos os fundamentos da
igreja Jerusalém; e, finalmente, explicaremos o que fez da igreja em Jerusalém,
um modelo para as demais.
I. O QUE É UM MODELO?
O
dicionarista Houaiss (2001, p.1941) informa que modelo é: “coisa ou
pessoa que serve de imagem, forma ou padrão a ser imitado, ou como fonte de
inspiração; exemplo dado por uma pessoa, uma coisa que possui determinadas
características em mais alto grau”. No Novo Testamento uma das palavras
que são traduzidas por modelo é o termo: “tupos” que pode
significar: (a) no sentido técnico: “modelo de acordo com o qual
algo deve ser feito”; e, (b) num sentido ético: “exemplo
dissuasivo, padrão de advertência; exemplo a ser imitado; de pessoas que
merecem imitação” (1Tm 4.12; 2Tm 1.13; Tt 2.7). No livro dos Atos dos
Apóstolos, o médico Lucas registra as características da igreja em Jerusalém:
uma igreja cheia do Espírito Santo, alicerçada na Doutrina, onde seus membros
viviam em comunhão, adorando a Deus, cumprindo as ordenanças de Cristo,
pregando e ensinando a Palavra de Deus, em constante crescimento, tornando-se
no modelo a ser seguido pelas demais que surgiram depois dela.
II. OS FUNDAMENTOS DA IGREJA EM
JERUSALÉM
Em
(At 2.42), Lucas diz: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na
comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (At 2.42). Este texto nos
mostra quatro caraterísticas da igreja em Jerusalém:
1.
Perseverança na doutrina dos apóstolos.
A
doutrina dos apóstolos é a mesma que foi ensinada pelo Senhor Jesus aos
apóstolos que Ele escolheu (Mt 4.23; 9.35; 13.10-17; Mc 4.10-20; Lc 8.9,10).
“Perseverar na doutrina dos apóstolos” é o mesmo que perseverar na doutrina de
Cristo ensinada pelos apóstolos. “Sem dúvidas, os apóstolos, como seguidores de
Cristo, que é o Mestre dos mestres, estavam capacitados para instruir a igreja
nos princípios que refletiam a verdadeira identidade e natureza de uma educação
genuinamente cristã. Os apóstolos que haviam sido educados e treinados aos pés
do Mestre dos mestres continuavam a missão de instruir a nova igreja [...] O
ensinamento dos apóstolos é a transmissão fiel do que Jesus ensinou.”
(GONÇALVES, 2025, p. 32,33). Isso pode ser comprovado se compararmos o ensino
de Jesus com o dos apóstolos (Mc 1.15 cf. At 2.38; 17.30; Jo 13.34,35 cf. Gl
5.14; 1 Jo 4.8; Mt 6.14 cf. Ef 4.32; 1Jo 2.10; Mt 5.8 cf. 1Pe 1.15; 1Ts 4.3).
2. Perseverança na comunhão.
O
Dicionário Teológico de Claudionor Correia de Andrade (2019, p. 103) descreve a
palavra “Comunhão” como “Vínculo de unidade fraterna, mantido pelo
Espírito Santo, que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Cristo Jesus”
(II Co 13.13; I Jo 1.3). No grego, o termo ‘koinonia’ envolve a ideia de
“participação, companheirismo e contribuição”. Este substantivo ocorre por
dezoito vezes nas Escrituras (At 2.42; Rm 15.26; 1Co 1.9; 10.16; II Co 6.14;
8.4; 9.13; 13.13; Gl 2.9 além de outros) e tem o sentido de “partilhar de
alguma coisa” (At 2.42; Rm 11.7; 2Co 8.23; Gl 2.9; Fp 1.7; 1Pe 5.1; 1Jo 1.3); e
“participar com algo” (II Co 9.13; Fp 1.5; Rm 15.26; At 2.44; 4.32). Isso nos
ensina que a Igreja não é um clube, empresa e nem uma associação, e sim, o
conjunto ou comunhão dos redimidos em Cristo, que compartilham da “unidade do
Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3). A Igreja é o corpo místico de Cristo,
e, cada crente em particular, é membro desse corpo glorioso (1 Co 12.12,13).
Por conseguinte, a comunhão no Espírito (Fp 2.1) é vital à unidade e à paz da
Igreja.
3.
Perseverança no partir do pão.
O
“partir do pão” mencionado neste texto refere-se a participação da igreja na
santa ceia do Senhor. Diversos textos do NT nos mostram que os cristãos
primitivos participavam da celebração da ceia do Senhor (At 2.46; 20.7,11; 1Co
10.16,17; 11.23-26). A Santa Ceia expressa a nossa comunhão com Cristo e, de
nossa participação nos benefícios oriundos da sua morte sacrificial e ao mesmo
tempo expressa a nossa comunhão com os demais membros do Corpo de Cristo (1Co
10.16,17). A Ceia do Senhor lembra que devemos esperar a volta de Cristo.
Realizaremos essa ceia até que ele volte (1Co 11.26). O crente comprometido com
a Palavra, sabe que deve participar da Ceia do Senhor, pois, é uma ordenança
bíblica (Mt 26.26; Mc 14.22); trazendo a memória a morte do Senhor (Lc 22.19;
1Co 11.24,25); confessando que, pelo sangue de Jesus, temos o perdão (Mt
26.28); tendo comunhão com Cristo e com os nossos irmãos (1Co 10.16,17);
oferecendo gratidão e adoração (Ap 5.9,13,14) e para anunciar a volta do Senhor
(1Co 11.26).
4.
Perseverança nas orações.
Uma
das principais características da igreja em Jerusalém era a prática da oração,
tanto individual como coletiva. Os cristãos primitivos aguardaram o
revestimento de poder em oração (At 1.14); oraram buscando direção de Deus para
escolher o substituto de Judas (At 1.24,25); Pedro e João subiam ao templo à
hora da oração (At 3.1); após serem ameaçados, os discípulos oram por ousadia
(At 4.24-31); os apóstolos destacam a oração como prioridade essencial do seu
ministério (At 6.4); a consagração dos sete diáconos foi feita com oração (At
6.6); Pedro e João oram pelos samaritanos convertidos (At 8.15); a igreja fazia
contínua oração pela libertação de Pedro (At 12.5). Os cristãos primitivos
priorizavam a oração porque sabiam de sua importância para a vida cristã.
Semelhantemente, devemos viver em constante oração (1Ts 5.17).
III. JERUSALÉM, UMA IGREJA MODELO
O
texto de Atos 2.42-47 descreve diversas virtudes da igreja em Jerusalém, que a
torna uma igreja modelo. Vejamos algumas:
1.
Uma igreja onde havia temor: “em cada alma havia temor” (At 2.43a).
“Temor
a Deus” não é medo que faz fugir de Deus (1 Jo 4.18); é, antes, respeito (Hb
12.28), amor (Mt 22.37), obediência (Ec. 12.13; At 10.35; 2 Co 7.1) e adoração
a ele (Dt 6.13-15). Logo, temer a Deus significa honrar e respeitar a Sua
autoridade e senhorio. A palavra “temor” e suas variações, tais como “temer”,
“temente” e “temeis”, que também aparecem em Atos e transmitem a mesma ideia de
reverência e respeito profundo por Deus. Vejamos alguns exemplos do temor ao
Senhor na igreja em Jerusalém: Após a morte de Ananias e Safira, “Sobreveio
grande temor a todos os ouvintes” (At 5.5) “E houve grande temor
em toda a igreja e em todos os que ouviram a notícia destes acontecimentos.” (At
5.11). Á medida em que a igreja ia crescendo e se espalhando por outras
regiões, o temor ao Senhor era notório: “Assim, pois, as igrejas em toda
a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas; e se
multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo.” (At
9.31).
2.
Uma igreja onde havia milagres: “muitas maravilhas e sinais se faziam pelos
apóstolos” (At 2.43b).
Uma
das principais características do livro de Atos e, consequentemente, da igreja
em Jerusalém, são os milagres e maravilhas operados pelo Espírito Santo através
dos apóstolos. Esses milagres não apenas demonstram a continuidade do
ministério de Jesus através dos apóstolos, mas também servem para confirmar
a pregação do evangelho e manifestar o poder do Espírito Santo (At 3.9,10;
9.32-42). Vejamos alguns: Cura do coxo na Porta Formosa (At 3.1-10); Cura de
doentes pela sombra de Pedro (At 5.15,16); os apóstolos foram libertos da
prisão (At 5.19); libertação e curas em Samaria (At 8.1-8); “E muitos
sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At
5.12). “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias” (At
19.11). Os milagres em Atos confirmam que a obra de Cristo não terminou na
cruz, mas continuou por meio do poder do Espírito Santo na vida dos apóstolos e
da igreja. O mesmo Deus que operou maravilhas em Atos continua poderoso para
agir em sua igreja hoje, sempre com o propósito de glorificar o nome de Jesus
(At 4.4,10; 5.12-14; 9.34-42).
3.
Uma igreja onde havia ações sociais: “e repartiam com todos, segundo cada um
tinha necessidade” (At 2.45b). Como
resultado do crescimento da Igreja, logo surgiram os primeiros problemas (At
6.1). Houve uma murmuração por parte dos judeus de língua grega, porque suas
viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. A solução para o
problema foi escolher sete homens de boa reputação e cheios do Espírito Santo
para lhes colocar sobre este importante negócio, ou seja cuidar da ação social
(At 6.3). Para os cristãos do primeiro século, a ação social também era um
importante negócio! Além disso, a igreja fez diversas vezes coletas entre os
irmãos com o objetivo de socorrer aos santos que estavam padecendo necessidades
(Rm 15.25-27; I Co 16.1-4; II Co 8; 9; Fp 4.18,19). Na Epístola aos Romanos,
por exemplo, Paulo descreve diversos dons, inclusive o de repartir (Rm 12.6-8).
4.
Uma igreja onde havia louvor a Deus: “louvando a Deus” (At 2.47a).
O
louvor a Deus era uma prática comum na igreja em Jerusalém. Louvar a Deus
significa adorá-Lo em espírito e em verdade (Jo 4.23,24). A palavra “louvor”
deriva-se do latim “laudare” e significa “Serviço de adoração prestado
voluntariamente a Deus”. Em sua essência, louvar significa “voluntariedade de
espírito em adorar e servir ao Supremo Deus. Louvar a Deus significa servi-lo
em espírito e em verdade.” De acordo com a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia, de R.N. Champlin, Louvar, significa “adorar”, “glorificar”,
“magnificar”, “oferecer ações de graças”. “O louvor brota do coração que sente
gratidão, ação de graças ou admiração. A música esteve presente na Igreja
primitiva (At 16.25; 1Co 14.26; Ef. 5.19; Cl 3.16; 1 Tm 3.16; Tg 5.13).
5.
Uma igreja onde havia crescimento: “e todos os dias acrescentava o Senhor À
igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47b).
O
crescimento da igreja em Jerusalém foi uma obra marcante do Espírito Santo.
Tudo começa com o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes (Atos 2:1-4).
Após a pregação de Pedro, quase três mil pessoas foram batizadas naquele mesmo
dia (Atos 2:41). Os apóstolos cheios do Espírito Santo, “anunciavam com
ousadia a palavra de Deus” (Atos 4:31), e “crescia o número dos
discípulos” (Atos 6:1). Apesar das perseguições, “crescia mais e
mais a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres.” (Atos
5:14). “Crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o
número dos discípulos” (Atos 6:7). O crescimento da igreja não foi
apenas numérico, mas, principalmente, espiritual. Foi uma obra conduzida por
Deus, centrada em Cristo, fortalecida pela oração, alimentada pela comunhão dos
crentes. Em resumo, a fidelidade à Palavra, o poder do Espírito Santo, o fervor
missionário e a comunhão entre os irmãos promoveu um crescimento numérico e
espiritual.
CONCLUSÃO
A
igreja de Jerusalém era caracterizada pela perseverança na doutrina dos
apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Além disso, era uma
igreja onde havia temor ao Senhor, operações sobrenaturais de milagres e
maravilhas pelo Espírito Santo, através dos apóstolos; e também, ações sociais,
louvores a Deus, resultando no crescimento numérico e espiritual, tornando-se,
assim, o modelo para todas as demais igrejas locais que foram surgindo no
decorrer dos séculos.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE, Claudionor Correa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø GONÇALVES, José. A Igreja em
Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø MARSHALL, I. Howard. Atos:
Introdução e Comentário. VIDA NOVA.
Ø PEARLMAN, Myer. Atos: A Igreja
Primitiva na força e na unção do Espírito Santo. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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