1Co
3.16,17; 6.15-20
INTRODUÇÃO
Nesta
lição iremos analisar o contexto e os aspectos da admoestação paulina a igreja
em Corinto; pontuaremos sobre o corpo do crente como habitação do Espírito
Santo; e por fim, ainda ressaltaremos a importância da santificação e o
contraste com a visão mundana em relação ao corpo.
I. O CONTEXTO E OS ASPECTOS DA
ADMOESTAÇÃO PAULINA AOS CORINTOS
O
apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, apresenta duas declarações
fundamentais acerca da Igreja e do cristão enquanto indivíduo: ambos são templo
do Espírito Santo. Vejamos em qual contexto foram feitas essas admoestações e o
que elas significam:
1.
O contexto cultural e religioso.
A
cidade de Corinto era uma próspera metrópole comercial, conhecida por seus
templos e os diversos cultos religiosos. Segundo Champlin (1995, p. 89),
Estrabão calculava que em Corinto havia nada menos de mil prostitutas
religiosas profissionais, as quais faziam parte ativa da suposta adoração aos
deuses, em meio a ritos caracterizados pela sensualidade. Esse cenário
multicultural trouxe desafios para a comunidade cristã. De acordo com Beacon
(2006, p. 236), “muitas igrejas espirituais, compostas de santos devotos e
dedicados, atingiram um alto grau de espiritualidade em ambientes pecaminosos e
desfavoráveis. Infelizmente, a igreja em Corinto não era uma igreja assim”.
2.
Crentes carnais.
Ao
escrever aos irmãos em Corinto, o apóstolo Paulo expressa uma grande verdade à
respeito de como os homens podem ser classificados: naturais ou espirituais
(1Co 2.14,15). Quando se refere aos crentes de Corinto, o apóstolo lhes diz que
“não lhes pode falar como a espirituais, mas como a carnais, como a
meninos em Cristo” (1Co 3.1). Para Henry (2008, p. 436), o apóstolo
Paulo: censura os coríntios por sua carnalidade e divisões (v.1-4); os instrui
sobre como o que estava errado entre eles e como isso podia ser reparado (v.
5-10); e atesta que eles construíam sobre um e o mesmo fundamento (v. 11-15).
3.
A Igreja como templo de Deus.
Ao
afirmar: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o
Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16), o apóstolo Paulo usa o
termo grego “naos” quando se refere ao templo, apontando para o
santuário interno do templo, o altar do templo. A intenção do apóstolo Paulo é
fazer um contraste com a ideia de um mero edifício. Para Stamps (2010, p.
1741), “a ênfase aqui, recai na congregação inteira, os crentes como o templo
de Deus e como a habitação do Espírito Santo (1Co 3.9; 2Co 6.16; Ef 2.21). Como
o templo de Deus em meio a uma sociedade perversa, o povo de Deus em Corinto
não devia participar dos pecados prevalecentes naquela sociedade. O templo de Deus
deve ser santo (v. 17), porque Deus é santo (1 Pe 1.14-16)”. Assim como no
Antigo Testamento a glória enchia o templo (1Rs 8.11), agora o Espírito habita
na Igreja.
4.
O crente como templo de Deus.
Quando
o apóstolo pergunta: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do
Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de
vós mesmos?” (1Co 6.19), ele utiliza a expressão grega “soma” para
corpo, que segundo Andrade (2000, p. 98) é a estrutura física do ser humano.
Tal expressão aparece 145 vezes no NT (Mt 10.28; Jo 2.21; 1Co 6.15; 1Co 6.20;
Gl 6.17; 1Ts 5.23). Para Stamps (2010, p. 1745), “se somos cristãos, nosso
corpo é a morada pessoal do Espírito Santo (Rm 8.9,11). Porque Ele habita em
nós e pertencemos a Deus, nosso corpo nunca deve ser profanado por qualquer
impureza ou mal, proveniente da imoralidade, nos pensamentos, desejos, atos,
etc. Pelo contrário, devemos viver de tal maneira que glorifiquemos e agrademos
a Deus em nosso corpo (v. 20)”.
II.O CORPO DO CRENTE COMO HABITAÇÃO
DO ESPÍRITO SANTO
1.
O Espírito Santo como residente permanente.
Quando
observamos o AT podemos notar que o Espírito Santo não habitava permanentemente
nos servos de Deus (Nm 27.18; Jz 11.29; 1Sm 10.10; 1Sm 16.13), passando a
acontecer após a ressurreição de Cristo, tendo como marco temporal o que está
registrado em Jo 20.22, cumprindo-se assim o que disse o Senhor Jesus: “E
eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco
para sempre, o Espírito da verdade, que [...] habita convosco e estará ern vós”
(Jo 14.16,17).
2.
A consciência da presença divina.
A
presença do Espírito não é apenas simbólica, mas real, transformando o corpo em
lugar de manifestação divina. Quando o apóstolo Paulo questiona à respeito de “Ou
não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em
vós...”, mostra-nos que, sendo o corpo o templo, devemos viver de modo
digno da presença do Espírito Santo. Essa consciência nos leva a fugir das
coisas impuras (1Co 6.10) e a apresentar o corpo como sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus (Rm 12.1).
3.
O corpo do cristão pertence a Cristo.
O
apóstolo Paulo afirma que “Não sois de vós mesmos” (1Co 6.19).
Isso deixa claro que aquele que serve ao Senhor Jesus não possui mais o domínio
sobre si. A habitação do Espírito significa pertencimento a Ele. O crente vive
sob novo senhorio, refletindo a entrega total a Cristo (Gl 2.20). Paulo
declara: “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?” (1Co
6.19). De acordo com Beacon (2006, p. 290, 291), “cada crente faz parte do
corpo do qual Cristo é a Cabeça (1Co 12.12-27; Rm 12.4-5; Ef 4.15-16; 5.30). O
relacionamento do crente com Cristo inclui o fato de seu corpo ser um
instrumento por meio do qual o Senhor age. O cristão entrou em uma transação,
assinou um documento e transferiu a posse para Deus”.
2.4
Habitação comprada por bom preço.
Ao
declarar: “Porque fostes comprados por bom preço” (1Co 6.20), o
apóstolo Paulo traz a reflexão de que “Cristo pagou o preço para nos resgatar
dos grilhões de Satanás, apesar desse preco ter sido pago a Deus, e nao ao
Diabo. Sem a expiação, ainda estaríamos acorrentados a Satanás e,
consequentemente, ao pecado (Mc 10.45; 1Co 6.20). Um dos termos gregos usados
para redenção é “antilytron”, que significa “preço de
readoção”. Em 1Timóteo 2.6, Paulo se refere a Cristo como “o qual
se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a
seu tempo” (Geisler, 2010, p. 190, 198). Fomos feitos habitação por
causa da redenção de Cristo.
III.A SANTIFICAÇÃO E O CONTRASTES COM
A VISÃO MUNDANA DO CORPO
1.
A santidade como exigência do templo.
O
apóstolo Paulo disse “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso
espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co 1.20). A santidade não é
apenas interna, mas deve se refletir no comportamento externo do crente. Escrevendo
ao crentes de Tessalônica, ele disse: “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts
5.23). O corpo, sendo templo, deve manifestar boas obras, separação do pecado e
dedicação ao serviço cristão (Mt 5.16). O corpo do crente torna-se, portanto,
testemunho visível da graça invisível.
2.
O corpo deve evitar a imoralidade.
Como no Antigo Testamento o templo exigia pureza (Lv 19.2), também o corpo deve
ser consagrado ao Senhor. Paulo disse que “o corpo não é para a
prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1Co 6.13).
A orientação é clara: “Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem
comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo”
(1Co 6.18). De acordo com Henry (2008, p.452), “os habitantes pagãos de
Corinto eram famosos, e sobre o qual os convertidos ao cristianismo conservavam
uma opinião favorável demais. O corpo foi formado para esse propósito: para o
serviço e a honra de Deus. Ele deve ser um instrumento de justiça para a
santificação (Rm 6.19), e assim nunca deve ser feito instrumento da impureza”.
3.
A disciplina do corpo na vida cristã.
Para
o cristão, o corpo é instrumento de justiça (Rm 6.13) e lugar de adoração (Jo
5.23; Rm 12.1). Assim, a fé não é apenas espiritual (a leitura da Palavra,
uma vida de oração e consagração ao Senhor), mas envolve a integralidade da
vida humana diante de Deus. O corpo disciplinado reflete domínio pelo Espírito,
mas também cuidado com a saúde e a mantenução pura da mente (Fp 4.8).
4.
Contra o antinomismo.
Os antinomistas
consideram a observância de leis morais desnecessária. A visão libertina que
imperava entre os coríntios alegava que tudo era lícito. De acordo com Wiersber
(2008, p. 471), a liberdade cristã não é licenciosidade. A liberdade cristã não
quer dizer que estou livre para fazer o que quero e foi por isso que Paulo
disse: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1Co
6.12). O cristão está livre (2Co 3.17; Gl 5.1) para fazer o que agrada a
Cristo, andando como filhos da luz (Ef 5.8-11).
CONCLUSÃO
O
ensino de Paulo em 1Co 6.19 revela que o corpo não é apenas biológico, mas
espiritual, pois se tornou templo do Espírito Santo. Isso nos chama a viver em
santidade, reconhecendo que fomos comprados por preço e que nossa vida deve
glorificar a Deus em todas as áreas.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. IV - Coríntios a
Efésios. Editora Candeia.
Ø EARLE, Ralph et. al. Comentário
Bíblico Beacon – Vol. 8. CPAD.
Ø GEISLER, Norman. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Matthew Henry – Vol. 6. CPAD.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø WIERSBE, Warren W. Comentário
Bíblico Novo Testamento. Geográfica Editora.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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