sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LIÇÃO 05 – A ALMA: A PARTE IMATERIAL DO SER HUMANO






Gn 1.27,28; 2.15-17; Mt 10.28
 

 
 
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos sobre a natureza da alma humana; veremos algumas teorias que surgiram acerca da sua origem e transmissibilidade; analisaremos que ela é imaterial, por não ser composta de elementos físico-químicos, imortal, por não sofrer aniquilação na sua condenação (Mt 10.28; Ap 6.9); e, por fim, destacaremos a sua complexidade a partir da diversidade de atributos e interações que mantém com Deus, com o corpo em que habita e com a realidade à sua volta. 


I. A ORIGEM DA ALMA
A Bíblia diz que a alma foi transmitida a Adão por meio do sopro divino (Gn 2.7; Jó 33.4). No entanto, há um silêncio quanto a como se originou na concepção, isto é, a como foi transmitida aos seus descendentes. Isto resultou no surgimento de algumas teorias que procuram compreender esta verdade.
 
1. A teoria da preexistência.
Nunca alcançou relevância entre os pensadores cristãos por se alinhar com o conceito espírita de reencarnação. “Segundo esta teoria, uma alma criada por Deus em tempos passados entra no corpo humano em algum momento do desenvolvimento inicial do feto. Mais especificamente, a alma de cada pessoa tinha existência consciente e pessoal num estado prévio. Essas almas pecam, em vários graus, nesse estado preexistente, e por isso são condenadas a “nascer neste mundo num estado de pecado e em conexão com um corpo material” (Horton, 1996, p. 135). Não encontramos respaldo bíblico para esse pensamento e, por isso, rejeitamos tal argumentação por ser contrária às Escrituras.
 
2. A teoria do criacionismo.
Essa teoria ensina que “Deus cria direta e imediatamente uma alma e um espírito para cada corpo no tempo da concepção, e que somente o corpo é gerado pela fecundação do óvulo através do espermatozoide” (Chafer, 2003, p. 581). Essa teoria encontra apoio em alguns pais da igreja e reformadores. Se apoia em textos que atribuem a Deus a criação direta da alma e do espírito (Nm 16.22; Ec 12.7; Is 57.16; Zc 12.1; Hb 12.9). Se Deus cria uma alma e espírito novos em cada concepção, é um mistério. A Bíblia afirma categoricamente que Deus é o criador de todos os homens (Dt 32.6; Jó 12.10; Sl 100.3; Ml 2.10; Ef 2.10; 4.6).

3. A teoria do traducianismo.
Encontra apoio em alguns pais da igreja e reformadores luteranos. O termo “traducianismo” vem do latim “traducere” que significa: “transportar, transferir”. Ela “sustenta que ‘a raça humana foi criada imediatamente [e plenamente] em Adão, no que diz respeito à alma [bem como o espírito] como também ao corpo, e que ambos são propagados da parte dele para a geração natural’. Em outras palavras, Deus outorgou a Adão e Eva os meios pelos quais eles (e todos os seres humanos) teriam descendentes à sua própria imagem, perfazendo, assim, a totalidade da pessoa material-imaterial” (Horton, 1996, p. 136, grifo nosso). Textos como (Gn 5.1,3; 46.26; Sl 51.5; At 17.26; Rm 5.12-32; 1Co 15.21,22; Hb 7.9,10) parecem indicar que Adão transmitiu aos seus descendentes a natureza completa (corpo, alma e espírito), confirmando, assim, a doutrina de que “a corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição – corpo, alma e espírito” (Silva, 2017, p. 101, grifo nosso). Essa é a posição defendida pelas Assembleias de Deus, registrada em sua Declaração de Fé.
 

II. A NATUREZA DA ALMA
1. O materialismo.
Em sua forma mais básica, o materialismo é a crença de que toda existência é matéria ou derivada de matéria ou processos materiais [...] Evitando todas as entidades imateriais – espíritos, anjos, divindades – para um monismo físico completo” (Copan et al., 2018, p. 473). O materialismo propõe que “o homem é apenas uma máquina” e que “o homem não passa de um animal”. Ele “nega qualquer distinção entre mente e matéria; afirma que todas as manifestações da vida e mente e todas as forças são simplesmente propriedades da matéria. ‘O pensamento é a secreção do cérebro, como a bílis é a secreção do fígado’” (Pearlman, 2011, p. 63). Os saduceus eram uma forma de materialismo prático dentro do judaísmo, pois não criam em ressureição, anjos nem em espíritos [ou seja, não acreditavam em realidades metafísicas]. Jesus e os apóstolos disputaram contra eles (Mc 12.18-27; At 4.1,2; 5.17,18; 23.8). Conforme Jesus, negar as realidades espirituais é “errar por não conhecer as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
 
2. A realidade da alma desmonta a tese do materialismo.
A existência da mente desmonta o pensamento materialista: “O materialismo tem sido assombrado pelo problema da mente e da agência imaterial” (Copan et al., 2018, p. 473). Conforme a declaração de Fé das AD, “mente” na Bíblia é outro termo para alma: “pois a Bíblia apresenta vários termos para indicar a parte espiritual do ser humano, além de alma e espírito, tais como mente, vontade, e o uso metafórico de coração e rins” (Silva, 2017, p. 79, grifo nosso). A “mente” é uma das faculdades da alma (Lm 3.20; Mc 12.30) e é uma fábrica de processos imateriais, como os pensamentos [e/ou emoções, desejos] (1Rs 8.17; Sl 14.1; Mt 9.4; 1Co 7.37). No materialismo, tudo se resume ao que é físico, palpável, tangível. Então, a vida humana se encerraria com a morte do corpo, como acontece com os animais. Esse era o pensamento dos saduceus materialistas refutados por Jesus. Mas, diferente da alma animal, a alma humana: recebeu o sopro de Deus na criação (Gn 2.7), tem um destino eterno (Ec 3.21; Mt 10.28; Ap 6.9), tem maior valor (Mt 10.31) e valor inestimável (Mt 16.26). A declaração de Fé das Assembleias de Deus (2017, p. 79, grifo nosso) diz: “A alma e o espírito são substâncias espirituais, incorpóreas e invisíveis”. É importante ressaltar que “a dimensão espiritual gerou a material, e não o inverso; logo, é imperioso à matéria curvar-se ante o imaterial proveniente de Deus e submeter-se a ele” (Brunelli, vol 2, p. 172).
 
3. A alma é imaterial.
O homem é constituído de uma natureza material “corpo” (Gn 3.19; 1Co 15.47) e outra imaterial, integradas pela “alma” (Gn 35.18; 1Rs 17.21,22; Mt 10.28; Ap 6.9) e pelo “espírito” (Ec 12.7; Zc 12.1; Lc 23.46; At 7.59). Corpo e alma são provenientes de Deus, mas têm naturezas distintas. Deus utilizou o pó da terra na composição do corpo, enquanto a alma parece reter a composição do sopro divino (Gn 2.7; Jó 33.4). Isto revela que a natureza da alma, diferente da do corpo, é essencialmente espiritual e imaterial pois tem sua origem e composição no Ser que é puramente espiritual (Jo 4.24). A alma não tem composição a partir de elementos físicos ou químicos, exigência básica para ser considerada matéria, pelo contrário ela “é uma substância incorpórea e invisível” (Silva [Org.], 2017, p. 80). Antes de soprar o “fôlego de vida” havia um ser formado do barro, “um boneco” sem vida (Gn 2.7). Após o sopro ele se tornou vivo, operante, pensante, falante. Na morte o homem volta a ser um boneco inanimado, pois a alma que é o verdadeiro “eu”, “o próprio indivíduo [...] a pessoa e a vida. [...] a sede do apetite físico, das emoções, dos desejos tanto bons como ruins, das paixões e do intelecto. O centro afetivo, volitivo e moral da vida humana” (Silva [Org.], 2017, p. 80, grifo nosso) sai do corpo (Gn 35.18; 1Rs 17.21,22). Por isso, é dito que a alma é “aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, que usa os sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior” (Pearlman, 2011, p. 109).
 
4. A alma é imortal.
A alma sobrevive à morte do corpo (Gn 35.28; 1Rs 17.21,22; Mt 10.28; Mt 22.32,43; Ap 6.9; 20.5), já sofre ou é acalentada ainda no período intermediário (Sl 16.10,11; Lc 16.19-31; Lc 23.43; Fp 1.23), e será unida ao corpo novamente para alegria ou vergonha eterna (Dn 12.2; Mt 25.46; Mc 9.42-48; Jo 5.28,29; Ap 14.10,11; 20.10). O homem que peca contra Deus, que é eterno, será julgado e condenado por Ele em sua dimensão eterna. Não há menção de que a besta, o falso profeta, o diabo e todos que os seguiram serão aniquilados, mesmo após o milênio, quando serão lançados no “lago de fogo” (Ap 19.20; Ap 20.9,10; Mt 25.41), mas sim que continuarão existindo e “de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10). O termo “eterno” do grego “aiõnios” também é usado acerca do pecado ‘que nunca obterá perdão (Mc 3.29) e do julgamento de Deus, do qual não há apelo (Hb 6.2), e do fogo, que é um dos seus instrumentos (Mt 18.8; 25.41; Jd 7), e dito em outro lugar ‘que nunca se apaga’ (Mc 9.43). O uso de aiõnios aqui mostra que o castigo referido em 2Ts 1.9, não é temporário, mas final e, concordantemente, a fraseologia mostra que seu propósito não é corretivo, mas punitivo” (Vine, 2002, p. 628, grifo nosso).


III. A COMPLEXIDADE DA ALMA
As Escrituras Sagradas revelam a complexidade da “alma humana”, superior à “animal” (Ec 3.21; Ap 6.9), única e pessoal (1Sm 18.1; Ez 18.4). Embora os anjos sejam descritos como “espíritos” (Hb 1.14), também manifestam emoções e vontade: alegram-se com a salvação dos pecadores (Lc 15.10), regozijam-se diante da criação (Jó 38.7), expressam indignação (Ap 12.7-9) e exercem escolhas (Mt 25.41). Assim, distinguimos: a alma humana, singular e moral; a alma animal, restrita à vitalidade [ou seja, à vida física]; e a alma angelical, espiritual, mas dotada de sentimentos e vontade, ainda que distinta da humana.
 
1. A alma e o corpo.
Só há vida no corpo enquanto a alma está nele (Gn 35.18; 1Rs 17.21,22). É por isso que, em muitos casos, a palavra “alma” é traduzida por “vida” (Gn 9.5; 1Rs 19.3; 2.23; Pv 7.23; Ex 21.23,30; 30.12; At 15.26). A Escritura atribui sentimentos aos órgãos físicos porque a alma os permeia, habita e capacita de sensibilidade (Sl 16.7; 73.21; Jó 16.13; 38.36; Jr. 4.19; Pv 23.16; Ct 5;4) (Pearlman, 2011, p. 113).
 
2. A alma e o pecado.
A alma consciente e voluntariamente usa o corpo para pecar contra Deus (Ez 18.4). A combinação da alma que deseja e o corpo que executa é chamada de “corpo do pecado” (Rm 6.6), ou “carne” (Gl 5.24). Um corpo sem alma não pode pecar, porque está morto, mas animado pela alma pode desejar e consumar o pecado (Tg 1.14,15). Por isso, a alma pode se perder (Mt 16.26; Lc 12.19,20), é carente de arrepender-se (Sl 51.17; Hb 10.39; 1Pe1.9).
 
3. A alma e o coração.
Diz-se do coração tudo que se diz da alma, pois ambos são o centro da vida, do desejo, da vontade, do juízo, do amor, ódio, determinação e alegria (Hb 10.22; 1Jo 3.19-21; Is 65.14; At 2.46; 1Rs 3.9; Pv 23.17; At 7.54; Sl 105.3; Sl 73.26).


CONCLUSÃO
A alma tem sua origem e transmissibilidade envoltas em mistérios. Mas a Palavra de Deus afirma que ela é imaterial, imortal e potencialmente dinâmica. É o verdadeiro “eu” do homem, habilitando-o a ter expressão e interação por meio do corpo. É carente de arrependimento e da graça de Deus.
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
Ø  BRUNELLI, Walter. Teologia Para Pentecostais. CENTRAL GOSPEL.
Ø  CHAFER, Lewis. Teologia Sistemática. HAGNOS.
Ø  COPAN, P.; LONGMAN, T.; REESE, C.; STRAUSS, M.; Dicionário de Cristianismo e Ciência. THOMAS NELSON BRASIL.
Ø  HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø  PEARLMAN, M. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø  SILVA, E. S. da. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø  VINE, William; UNGER, Merril; WHITE, William. Dicionário Vine. CPAD.    
 
Por Rede Brasil de Comunicação.





LIÇÃO 05 - O INÍCIO DO CERCO DE JERUSALÉM


Vídeo Aula - Pastor Elias
 




terça-feira, 28 de outubro de 2025

QUESTIONÁRIOS DO 4° TRIMESTRE DE 2025






EXORTAÇÃO,
ARREPENDIMENTO E ESPERANÇA –
O Ministério Profético de Jeremias. 









Lição 04
Hora da Revisão

A respeito de “O Vaso do Oleiro: A Descrição Espiritual da Nação”, responda: 


1. Segundo a lição, o que é uma parábola? 
O vocábulo "parábola" é de origem grega, cujo significado é "colocar ao lado de".

2. Qual o propósito da parábola nas Escrituras Sagradas? 
Nas Escrituras Sagradas, o seu uso visa transmitir uma mensagem e valores espirituais por meio de linguagem fácil, já conhecida, favorecendo assim a sua compreensão.

3. Qual a parábola encontramos no capítulo 18 de Jeremias? 
No capítulo 18 do livro de Jeremias encontramos a "Parábola da Casa do Oleiro".

4. O que representa o vaso de barro na parábola do capítulo 18 de Jeremias? 
O vaso de barro representa o povo de Judá.

5. Qual era a condição de Judá revelada a Jeremias na casa do oleiro? 
O conteúdo central da mensagem que Jeremias recebeu de Deus na casa do oleiro mostra a seguinte condição de Judá: não faltava culto, o que faltava era adoração genuína e Judá praticava a idolatria.




QUESTIONÁRIOS DO 4° TRIMESTRE DE 2025






CORPO, ALMA E ESPÍRITO -
A Restauração Integral do Ser Humano para
chegar à Estatura Completa de Cristo.









Lição 04
Revisando o Conteúdo

A respeito de “O Corpo como Templo do Espírito” responda:          
 
 
1. Qual a diferença da condição espiritual dos discípulos antes e depois da Regeneração? 
Antes da morte e ressurreição de Jesus os discípulos tinham a presença do Espírito com eles. Depois passaram a tê-lo dentro deles, pela experiência da regeneração (Jo 20.22).
 
2. Qual a consequência da incompreensão espiritual dos coríntios acerca do corpo como templo do Espírito? 
Os coríntios eram imaturos e carnais, por isso havia tantos pecados entre eles (1 Co 5.1,2,9-11).
 
3. O que e como a analogia entre corpo e tabernáculo reforça? 
A analogia do tabernáculo reforça também o aspecto tricotômico do ser humano — a composição em três partes, assim como a edificação feita no deserto.
 
4. Qual o papel do corpo nas disciplinas espirituais? 
Por meio do corpo que praticamos as mais importantes disciplinas de nossa vida espiritual, como o jejum, a oração e o estudo da Palavra de Deus.
 
5. Quais são as principais disciplinas corporais e qual a importância espiritual delas? 
Além do aspecto alimentar, descanso (especialmente o sono, Sl 127.2) e exercícios físicos também são importantes cuidados para o corpo e a mente.

 


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

LIÇÃO 04 – O CORPO COMO TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO






1Co 3.16,17; 6.15-20
 
 
 
INTRODUÇÃO
Nesta lição iremos analisar o contexto e os aspectos da admoestação paulina a igreja em Corinto; pontuaremos sobre o corpo do crente como habitação do Espírito Santo; e por fim, ainda ressaltaremos a importância da santificação e o contraste com a visão mundana em relação ao corpo. 


I. O CONTEXTO E OS ASPECTOS DA ADMOESTAÇÃO PAULINA AOS CORINTOS
O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, apresenta duas declarações fundamentais acerca da Igreja e do cristão enquanto indivíduo: ambos são templo do Espírito Santo. Vejamos em qual contexto foram feitas essas admoestações e o que elas significam: 

1. O contexto cultural e religioso.
A cidade de Corinto era uma próspera metrópole comercial, conhecida por seus templos e os diversos cultos religiosos. Segundo Champlin (1995, p. 89), Estrabão calculava que em Corinto havia nada menos de mil prostitutas religiosas profissionais, as quais faziam parte ativa da suposta adoração aos deuses, em meio a ritos caracterizados pela sensualidade. Esse cenário multicultural trouxe desafios para a comunidade cristã. De acordo com Beacon (2006, p. 236), “muitas igrejas espirituais, compostas de santos devotos e dedicados, atingiram um alto grau de espiritualidade em ambientes pecaminosos e desfavoráveis. Infelizmente, a igreja em Corinto não era uma igreja assim”.
 
2. Crentes carnais.
Ao escrever aos irmãos em Corinto, o apóstolo Paulo expressa uma grande verdade à respeito de como os homens podem ser classificados: naturais ou espirituais (1Co 2.14,15). Quando se refere aos crentes de Corinto, o apóstolo lhes diz que “não lhes pode falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (1Co 3.1). Para Henry (2008, p. 436), o apóstolo Paulo: censura os coríntios por sua carnalidade e divisões (v.1-4); os instrui sobre como o que estava errado entre eles e como isso podia ser reparado (v. 5-10); e atesta que eles construíam sobre um e o mesmo fundamento (v. 11-15).
 
3. A Igreja como templo de Deus.
Ao afirmar: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16), o apóstolo Paulo usa o termo grego “naos” quando se refere ao templo, apontando para o santuário interno do templo, o altar do templo. A intenção do apóstolo Paulo é fazer um contraste com a ideia de um mero edifício. Para Stamps (2010, p. 1741), “a ênfase aqui, recai na congregação inteira, os crentes como o templo de Deus e como a habitação do Espírito Santo (1Co 3.9; 2Co 6.16; Ef 2.21). Como o templo de Deus em meio a uma sociedade perversa, o povo de Deus em Corinto não devia participar dos pecados prevalecentes naquela sociedade. O templo de Deus deve ser santo (v. 17), porque Deus é santo (1 Pe 1.14-16)”. Assim como no Antigo Testamento a glória enchia o templo (1Rs 8.11), agora o Espírito habita na Igreja.
 
4. O crente como templo de Deus.
Quando o apóstolo pergunta: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?(1Co 6.19), ele utiliza a expressão grega “soma” para corpo, que segundo Andrade (2000, p. 98) é a estrutura física do ser humano. Tal expressão aparece 145 vezes no NT (Mt 10.28; Jo 2.21; 1Co 6.15; 1Co 6.20; Gl 6.17; 1Ts 5.23). Para Stamps (2010, p. 1745), “se somos cristãos, nosso corpo é a morada pessoal do Espírito Santo (Rm 8.9,11). Porque Ele habita em nós e pertencemos a Deus, nosso corpo nunca deve ser profanado por qualquer impureza ou mal, proveniente da imoralidade, nos pensamentos, desejos, atos, etc. Pelo contrário, devemos viver de tal maneira que glorifiquemos e agrademos a Deus em nosso corpo (v. 20)”.


II.O CORPO DO CRENTE COMO HABITAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
1. O Espírito Santo como residente permanente.
Quando observamos o AT podemos notar que o Espírito Santo não habitava permanentemente nos servos de Deus (Nm 27.18; Jz 11.29; 1Sm 10.10; 1Sm 16.13), passando a acontecer após a ressurreição de Cristo, tendo como marco temporal o que está registrado em Jo 20.22, cumprindo-se assim o que disse o Senhor Jesus: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que [...] habita convosco e estará ern vós” (Jo 14.16,17).

2. A consciência da presença divina.
A presença do Espírito não é apenas simbólica, mas real, transformando o corpo em lugar de manifestação divina. Quando o apóstolo Paulo questiona à respeito de “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós...”, mostra-nos que, sendo o corpo o templo, devemos viver de modo digno da presença do Espírito Santo. Essa consciência nos leva a fugir das coisas impuras (1Co 6.10) e a apresentar o corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1).
 
3. O corpo do cristão pertence a Cristo.
O apóstolo Paulo afirma que “Não sois de vós mesmos” (1Co 6.19). Isso deixa claro que aquele que serve ao Senhor Jesus não possui mais o domínio sobre si. A habitação do Espírito significa pertencimento a Ele. O crente vive sob novo senhorio, refletindo a entrega total a Cristo (Gl 2.20). Paulo declara: “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?” (1Co 6.19). De acordo com Beacon (2006, p. 290, 291), “cada crente faz parte do corpo do qual Cristo é a Cabeça (1Co 12.12-27; Rm 12.4-5; Ef 4.15-16; 5.30). O relacionamento do crente com Cristo inclui o fato de seu corpo ser um instrumento por meio do qual o Senhor age. O cristão entrou em uma transação, assinou um documento e transferiu a posse para Deus”.
 
2.4 Habitação comprada por bom preço.
Ao declarar: “Porque fostes comprados por bom preço(1Co 6.20), o apóstolo Paulo traz a reflexão de que “Cristo pagou o preço para nos resgatar dos grilhões de Satanás, apesar desse preco ter sido pago a Deus, e nao ao Diabo. Sem a expiação, ainda estaríamos acorrentados a Satanás e, consequentemente, ao pecado (Mc 10.45; 1Co 6.20). Um dos termos gregos usados para redenção é antilytron”, que significa “preço de readoção”. Em 1Timóteo 2.6, Paulo se refere a Cristo como “o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo” (Geisler, 2010, p. 190, 198). Fomos feitos habitação por causa da redenção de Cristo.

 
III.A SANTIFICAÇÃO E O CONTRASTES COM A VISÃO MUNDANA DO CORPO
1. A santidade como exigência do templo.
O apóstolo Paulo disse “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co 1.20). A santidade não é apenas interna, mas deve se refletir no comportamento externo do crente. Escrevendo ao crentes de Tessalônica, ele disse: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23). O corpo, sendo templo, deve manifestar boas obras, separação do pecado e dedicação ao serviço cristão (Mt 5.16). O corpo do crente torna-se, portanto, testemunho visível da graça invisível.
 
2. O corpo deve evitar a imoralidade. 
Como no Antigo Testamento o templo exigia pureza (Lv 19.2), também o corpo deve ser consagrado ao Senhor. Paulo disse que “o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1Co 6.13). A orientação é clara: “Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo” (1Co 6.18). De acordo com Henry (2008, p.452), “os habitantes pagãos de Corinto eram famosos, e sobre o qual os convertidos ao cristianismo conservavam uma opinião favorável demais. O corpo foi formado para esse propósito: para o serviço e a honra de Deus. Ele deve ser um instrumento de justiça para a santificação (Rm 6.19), e assim nunca deve ser feito instrumento da impureza”.
 
3. A disciplina do corpo na vida cristã. 
Para o cristão, o corpo é instrumento de justiça (Rm 6.13) e lugar de adoração (Jo 5.23; Rm 12.1). Assim, a fé não é apenas espiritual (a leitura da Palavra, uma vida de oração e consagração ao Senhor), mas envolve a integralidade da vida humana diante de Deus. O corpo disciplinado reflete domínio pelo Espírito, mas também cuidado com a saúde e a mantenução pura da mente (Fp 4.8).
 
4. Contra o antinomismo. 
Os antinomistas consideram a observância de leis morais desnecessária. A visão libertina que imperava entre os coríntios alegava que tudo era lícito. De acordo com Wiersber (2008, p. 471), a liberdade cristã não é licenciosidade. A liberdade cristã não quer dizer que estou livre para fazer o que quero e foi por isso que Paulo disse: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1Co 6.12). O cristão está livre (2Co 3.17; Gl 5.1) para fazer o que agrada a Cristo, andando como filhos da luz (Ef 5.8-11).


CONCLUSÃO
O ensino de Paulo em 1Co 6.19 revela que o corpo não é apenas biológico, mas espiritual, pois se tornou templo do Espírito Santo. Isso nos chama a viver em santidade, reconhecendo que fomos comprados por preço e que nossa vida deve glorificar a Deus em todas as áreas.
 


  
REFERÊNCIAS
Ø  ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø  CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. IV - Coríntios a Efésios. Editora Candeia.
Ø  EARLE, Ralph et. al. Comentário Bíblico BeaconVol. 8. CPAD.
Ø  GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø  HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew HenryVol. 6. CPAD.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø  WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Novo Testamento. Geográfica Editora.  
 
Por Rede Brasil de Comunicação.