Gn
1.27,28; 2.15-17; Mt 10.28
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre a natureza da alma humana; veremos algumas teorias que
surgiram acerca da sua origem e transmissibilidade; analisaremos que ela é
imaterial, por não ser composta de elementos físico-químicos, imortal, por não
sofrer aniquilação na sua condenação (Mt 10.28; Ap 6.9); e, por fim,
destacaremos a sua complexidade a partir da diversidade de atributos e
interações que mantém com Deus, com o corpo em que habita e com a realidade à
sua volta.
I. A ORIGEM DA ALMA
A
Bíblia diz que a alma foi transmitida a Adão por meio do sopro divino (Gn 2.7;
Jó 33.4). No entanto, há um silêncio quanto a como se originou na concepção,
isto é, a como foi transmitida aos seus descendentes. Isto resultou no
surgimento de algumas teorias que procuram compreender esta verdade.
1.
A teoria da preexistência.
Nunca
alcançou relevância entre os pensadores cristãos por se alinhar com o conceito
espírita de reencarnação. “Segundo esta teoria, uma alma criada por Deus em
tempos passados entra no corpo humano em algum momento do desenvolvimento
inicial do feto. Mais especificamente, a alma de cada pessoa tinha existência
consciente e pessoal num estado prévio. Essas almas pecam, em vários graus,
nesse estado preexistente, e por isso são condenadas a “nascer neste mundo num
estado de pecado e em conexão com um corpo material” (Horton, 1996, p. 135). Não
encontramos respaldo bíblico para esse pensamento e, por isso, rejeitamos tal
argumentação por ser contrária às Escrituras.
2.
A teoria do criacionismo.
Essa
teoria ensina que “Deus cria direta e imediatamente uma alma e um espírito para
cada corpo no tempo da concepção, e que somente o corpo é gerado pela
fecundação do óvulo através do espermatozoide” (Chafer, 2003, p. 581). Essa
teoria encontra apoio em alguns pais da igreja e reformadores. Se apoia em
textos que atribuem a Deus a criação direta da alma e do espírito (Nm 16.22; Ec
12.7; Is 57.16; Zc 12.1; Hb 12.9). Se Deus cria uma alma e espírito novos em
cada concepção, é um mistério. A Bíblia afirma categoricamente que Deus é o
criador de todos os homens (Dt 32.6; Jó 12.10; Sl 100.3; Ml 2.10; Ef 2.10;
4.6).
3. A teoria do traducianismo.
Encontra
apoio em alguns pais da igreja e reformadores luteranos. O termo “traducianismo”
vem do latim “traducere” que significa: “transportar,
transferir”. Ela “sustenta que ‘a raça humana foi criada imediatamente
[e plenamente] em Adão, no que diz respeito à alma [bem como o espírito] como
também ao corpo, e que ambos são propagados da parte dele para a geração
natural’. Em outras palavras, Deus outorgou a Adão e Eva os meios pelos quais
eles (e todos os seres humanos) teriam descendentes à sua própria imagem,
perfazendo, assim, a totalidade da pessoa material-imaterial” (Horton, 1996, p.
136, grifo nosso). Textos como (Gn 5.1,3; 46.26; Sl 51.5; At 17.26; Rm 5.12-32;
1Co 15.21,22; Hb 7.9,10) parecem indicar que Adão transmitiu aos seus
descendentes a natureza completa (corpo, alma e espírito), confirmando, assim,
a doutrina de que “a corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua
composição – corpo, alma e espírito” (Silva, 2017, p. 101, grifo nosso). Essa
é a posição defendida pelas Assembleias de Deus, registrada em sua Declaração
de Fé.
II. A NATUREZA DA ALMA
1.
O materialismo.
Em
sua forma mais básica, o materialismo é a crença de que toda existência é
matéria ou derivada de matéria ou processos materiais [...] Evitando todas as
entidades imateriais – espíritos, anjos, divindades – para um monismo físico
completo” (Copan et al., 2018, p. 473). O materialismo propõe que “o
homem é apenas uma máquina” e que “o homem não passa de um
animal”. Ele “nega qualquer distinção entre mente e matéria; afirma que
todas as manifestações da vida e mente e todas as forças são simplesmente
propriedades da matéria. ‘O pensamento é a secreção do cérebro, como a bílis é
a secreção do fígado’” (Pearlman, 2011, p. 63). Os saduceus eram uma forma de
materialismo prático dentro do judaísmo, pois não criam em ressureição, anjos
nem em espíritos [ou seja, não acreditavam em realidades metafísicas].
Jesus e os apóstolos disputaram contra eles (Mc 12.18-27; At 4.1,2; 5.17,18;
23.8). Conforme Jesus, negar as realidades espirituais é “errar por não
conhecer as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
2.
A realidade da alma desmonta a tese do materialismo.
A
existência da mente desmonta o pensamento materialista: “O materialismo
tem sido assombrado pelo problema da mente e da agência imaterial” (Copan
et al., 2018, p. 473). Conforme a declaração de Fé das AD, “mente” na
Bíblia é outro termo para alma: “pois a Bíblia apresenta vários termos para
indicar a parte espiritual do ser humano, além de alma e espírito,
tais como mente, vontade, e o uso metafórico de coração e
rins” (Silva, 2017, p. 79, grifo nosso). A “mente” é
uma das faculdades da alma (Lm 3.20; Mc 12.30) e é uma fábrica de processos
imateriais, como os pensamentos [e/ou emoções, desejos] (1Rs
8.17; Sl 14.1; Mt 9.4; 1Co 7.37). No materialismo, tudo se resume ao que é
físico, palpável, tangível. Então, a vida humana se encerraria com a morte do
corpo, como acontece com os animais. Esse era o pensamento dos saduceus materialistas
refutados por Jesus. Mas, diferente da alma animal, a alma humana: recebeu o
sopro de Deus na criação (Gn 2.7), tem um destino eterno (Ec 3.21; Mt 10.28; Ap
6.9), tem maior valor (Mt 10.31) e valor inestimável (Mt 16.26). A declaração
de Fé das Assembleias de Deus (2017, p. 79, grifo nosso) diz: “A alma e o
espírito são substâncias espirituais, incorpóreas e invisíveis”. É importante
ressaltar que “a dimensão espiritual gerou a material, e não o inverso;
logo, é imperioso à matéria curvar-se ante o imaterial proveniente de Deus e
submeter-se a ele” (Brunelli, vol 2, p. 172).
3.
A alma é imaterial.
O
homem é constituído de uma natureza material “corpo” (Gn 3.19;
1Co 15.47) e outra imaterial, integradas pela “alma” (Gn 35.18;
1Rs 17.21,22; Mt 10.28; Ap 6.9) e pelo “espírito” (Ec 12.7; Zc
12.1; Lc 23.46; At 7.59). Corpo e alma são provenientes de Deus, mas têm
naturezas distintas. Deus utilizou o pó da terra na composição do corpo,
enquanto a alma parece reter a composição do sopro divino (Gn 2.7; Jó 33.4). Isto
revela que a natureza da alma, diferente da do corpo, é essencialmente
espiritual e imaterial pois tem sua origem e composição no Ser que é puramente
espiritual (Jo 4.24). A alma não tem composição a partir de elementos
físicos ou químicos, exigência básica para ser considerada matéria, pelo
contrário ela “é uma substância incorpórea e invisível” (Silva
[Org.], 2017, p. 80). Antes de soprar o “fôlego de vida” havia um ser formado
do barro, “um boneco” sem vida (Gn 2.7). Após o sopro ele se tornou
vivo, operante, pensante, falante. Na morte o homem volta a ser um boneco
inanimado, pois a alma que é o verdadeiro “eu”, “o próprio indivíduo
[...] a pessoa e a vida. [...] a sede do apetite físico, das emoções, dos
desejos tanto bons como ruins, das paixões e do intelecto. O centro afetivo,
volitivo e moral da vida humana” (Silva [Org.], 2017, p. 80, grifo
nosso) sai do corpo (Gn 35.18; 1Rs 17.21,22). Por isso, é dito que a alma é
“aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, que usa
os sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os
órgãos do corpo para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior”
(Pearlman, 2011, p. 109).
4.
A alma é imortal.
A
alma sobrevive à morte do corpo (Gn 35.28; 1Rs 17.21,22; Mt 10.28; Mt 22.32,43;
Ap 6.9; 20.5), já sofre ou é acalentada ainda no período intermediário (Sl
16.10,11; Lc 16.19-31; Lc 23.43; Fp 1.23), e será unida ao corpo novamente para
alegria ou vergonha eterna (Dn 12.2; Mt 25.46; Mc 9.42-48; Jo 5.28,29; Ap
14.10,11; 20.10). O homem que peca contra Deus, que é eterno, será
julgado e condenado por Ele em sua dimensão eterna. Não há menção de
que a besta, o falso profeta, o diabo e todos que os seguiram serão
aniquilados, mesmo após o milênio, quando serão lançados no “lago de fogo” (Ap
19.20; Ap 20.9,10; Mt 25.41), mas sim que continuarão existindo e “de dia
e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10). O termo
“eterno” do grego “aiõnios” também é usado acerca do pecado ‘que
nunca obterá perdão (Mc 3.29) e do julgamento de Deus, do qual não há apelo (Hb
6.2), e do fogo, que é um dos seus instrumentos (Mt 18.8; 25.41; Jd 7), e dito
em outro lugar ‘que nunca se apaga’ (Mc 9.43). O uso de aiõnios aqui
mostra que o castigo referido em 2Ts 1.9, não é temporário, mas final e,
concordantemente, a fraseologia mostra que seu propósito não é corretivo, mas
punitivo” (Vine, 2002, p. 628, grifo nosso).
III.
A COMPLEXIDADE DA ALMA
As
Escrituras Sagradas revelam a complexidade da “alma humana”,
superior à “animal” (Ec 3.21; Ap 6.9), única e pessoal (1Sm 18.1;
Ez 18.4). Embora os anjos sejam descritos como “espíritos” (Hb 1.14), também
manifestam emoções e vontade: alegram-se com a salvação dos pecadores (Lc
15.10), regozijam-se diante da criação (Jó 38.7), expressam indignação (Ap
12.7-9) e exercem escolhas (Mt 25.41). Assim, distinguimos: a alma humana,
singular e moral; a alma animal, restrita à vitalidade [ou seja,
à vida física]; e a alma angelical, espiritual, mas dotada de
sentimentos e vontade, ainda que distinta da humana.
1.
A alma e o corpo.
Só
há vida no corpo enquanto a alma está nele (Gn 35.18; 1Rs 17.21,22). É por isso
que, em muitos casos, a palavra “alma” é traduzida por “vida” (Gn 9.5; 1Rs
19.3; 2.23; Pv 7.23; Ex 21.23,30; 30.12; At 15.26). A Escritura atribui
sentimentos aos órgãos físicos porque a alma os permeia, habita e capacita de
sensibilidade (Sl 16.7; 73.21; Jó 16.13; 38.36; Jr. 4.19; Pv 23.16; Ct 5;4)
(Pearlman, 2011, p. 113).
2.
A alma e o pecado.
A
alma consciente e voluntariamente usa o corpo para pecar contra Deus (Ez 18.4).
A combinação da alma que deseja e o corpo que executa é chamada de “corpo do
pecado” (Rm 6.6), ou “carne” (Gl 5.24). Um corpo sem alma não pode pecar,
porque está morto, mas animado pela alma pode desejar e consumar o pecado (Tg
1.14,15). Por isso, a alma pode se perder (Mt 16.26; Lc 12.19,20), é carente de
arrepender-se (Sl 51.17; Hb 10.39; 1Pe1.9).
3.
A alma e o coração.
Diz-se
do coração tudo que se diz da alma, pois ambos são o centro da vida, do desejo,
da vontade, do juízo, do amor, ódio, determinação e alegria (Hb 10.22; 1Jo
3.19-21; Is 65.14; At 2.46; 1Rs 3.9; Pv 23.17; At 7.54; Sl 105.3; Sl 73.26).
CONCLUSÃO
A alma tem sua origem e
transmissibilidade envoltas em mistérios. Mas a Palavra de Deus afirma que ela
é imaterial, imortal e potencialmente dinâmica. É o verdadeiro “eu” do homem,
habilitando-o a ter expressão e interação por meio do corpo. É carente de
arrependimento e da graça de Deus.
REFERÊNCIAS
Ø BRUNELLI,
Walter. Teologia Para Pentecostais. CENTRAL GOSPEL.
Ø CHAFER,
Lewis. Teologia Sistemática. HAGNOS.
Ø COPAN,
P.; LONGMAN, T.; REESE, C.; STRAUSS, M.; Dicionário de Cristianismo e
Ciência. THOMAS NELSON BRASIL.
Ø HORTON,
Stanley. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø PEARLMAN,
M. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø SILVA,
E. S. da. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø VINE,
William; UNGER, Merril; WHITE, William. Dicionário Vine. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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