Mt 7.13,14; 3.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
aprenderemos sobre o significado da palavra “escolha” e sua relevância na
compreensão da metáfora das portas e dos caminhos, considerando que a mesma no
contexto pressupõe o livre arbítrio do homem. Traremos o conceito teológico do
livre arbítrio nas Escrituras, e pontuaremos que o homem, mediante a graça de
Deus, é capacitado para responder e decidir sobre o seu destino eterno. A
mensagem das duas portas e caminhos, não só atende aos não conversos à fé, bem
como, a todo cristão, como um instrumento de incentivo e ânimo na perseverança
em nosso destino: o céu.
I.
DEFINIÇÃO DA PALAVRA ESCOLHA
1. Definição.
De acordo com
Houaiss (2001, p.1206), “ato ou efeito de escolher”, “preferência que se dá
a alguma coisa que se encontra entre outras”, “predileção”, “opção entre duas
coisas ou mais”; “ato de eleger, eleição”; “capacidade de escolher bem, de
escolher com discernimento”.
2. Contextualizando
o tema da lição
Como já acima
definido, o termo “Escolha” pressupõe o livre-arbítrio humano em exercício na
decisão de que porta e caminho o homem seguirá. É importante destacar que essa
lição tanto se aplica aos não conversos, quanto àqueles que já professam a fé
em Cristo, considerando que a perseverança no caminho estreito é o segredo da
vitória e a meta de todo cristão ( Ap 2.7, 11, 17, 26; 3.5,12,21; Fl 3.13).
Assim sendo, não há espaço para a predestinação fatalista, que atribui a Deus,
a escolha de quem há de se salvar ou se perder.
II.
DEFINIÇÃO DE LIVRE-ARBÍTRIO
1. Definição
etimológica do termo.
O dicionário Vine
(2010, pp. 608,756) diz que livre-arbítrio vem do termo grego “eklego”,
“escolher, selecionar, eleger” e “eleutheros”,
“liberdade de ir onde quer”. O dicionário Houaiss define como: “possibilidade
de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer
condicionamento, motivo ou causa determinante”. A palavra livre vem do
latim “liber”, que significa “livre” e o termo arbítrio “arbiter”,
que é “uma pessoa escolhida para decidir sobre uma questão” (2001, p. 1774).
2. Definição
teológica do termo.
“Entende-se por
livre-arbítrio a liberdade que o ser humano tem de fazer escolhas, tornando-se,
consequentemente, responsável por elas e por seus respectivos resultados […]. O
poder humano de fazer escolhas é o primeiro assunto de que trata a Bíblia
Sagrada […]. O livre-arbítrio é inerente ao homem, o qual não poderia ser
julgado, jamais, se as suas decisões fossem involuntárias, e ele fizesse o que
não desejasse pelo fato de ser movido por uma força estranha, alheia à sua
consciência e vontade” (BRUNELLI, 2016, pp. 293,295). A Declaração de Fé
das AD diz: CREMOS, professamos e ensinamos que o homem é uma
criação de Deus […], dotado por Deus de livre-arbítrio, ou seja, com liberdade
de escolher entre o bem e o mal […] essa escolha continua mesmo depois da queda
no Éden (Jo 7.17). Deus dotou Adão do livre-arbítrio com o qual ele era capaz
tanto de obedecer quanto de desobedecer ao Criador (SOARES, 2017, pp.
77,99).
III. O LIVRE-ARBÍTRIO NA BÍBLIA
1. O
livre-arbítrio nas Escrituras.
Tanto no AT quanto
no NT a doutrina do livre-arbítrio é claramente defendida, e apesar da expressão
“livre-arbítrio” não estar na Bíblia de maneira explícita em
diversas passagens do AT podemos ver que Deus dá o poder de escolha ao ser
humano (Gn 2.16,17; 4.7; Dt 28.1; 30.15,19; Js 24.15; 2Sm 24.12; Jz 5.2; 1Cr
28.9; 2Cr 15.2; Ed 7.13; Ne 11.2; Sl 119.30; Is 1.19,20; Jr 4.1). Também
podemos encontrar várias referências que nos demonstra o livre-arbítrio no NT
(Mt 3.2; 4.17; 16.24; 23.37; Mc 8.35; Lc 7.30; Jo 1.11; 5.40; 6.37; 7.17; 15.7;
At 3.19; 17.30; Rm 10.13; 1Tm 1.19; 1Co 10.12; 2Co 8.3,4; 1Jo 3.23; Ap 3.20;
22.17).
2. O
livre-arbítrio antes da Queda.
O poder da
livre-escolha faz parte do desígnio de Deus para a humanidade, como sendo a sua
imagem e semelhança (Gn 1.27). Adão e Eva receberam o mandamento para
multiplicarem a espécie humana (Gn 1.28) e se absterem de comer do fruto
proibido (Gn 2.16-17). Estas duas responsabilidades implicam na capacidade de
respostas. O fato deles deverem fazer estas
coisas, implicava que eles poderiam fazê-las (Gn 3.6). A
condenação de Deus para a atitude deles deixa claro que ambos eram moralmente
livres para tomar a sua decisão (Gn 3.11,13) (GEISLER, 2010, p. 108).
3. O
livre-arbítrio depois da Queda.
Mesmo depois de
haver pecado e se tornado espiritualmente “morto” (Gn 2.17; cf. Ef 2.1) e,
portanto, um pecador, em função da sua natureza pecaminosa (Ef 2.3), Adão não
se tornou tão completamente depravado a ponto de não mais ouvir a voz de Deus e
poder responder de maneira livre (Gn 3.9-10). A imagem de Deus foi obscurecida,
mas não completa-mente erradicada pela Queda; ela foi corrompida
(afetada), mas não eliminada (aniquilada). Na verdade, a
imagem de Deus (que inclui o livre-arbítrio) ainda permanece nos
seres humanos (Gn 9.6; Tg 3.9). Até mesmo a nossa cegueira espiritual é
resultado da nossa decisão de não acreditar (Rm 6.16) (GEISLER, 2010,
p. 109).
IV.
A METÁFORA DOS DOIS CAMINHOS (Mt 7.13,14)
Segundo Carson
(2018, p. 137), o sentido da metáfora é bem claro. Temos de imaginar dois caminhos,
duas estradas. O primeiro é espaçoso e sua porta é larga. Ele acomoda muitas
pessoas, e todas se sentem confortáveis e felizes com sua amplidão. Contudo,
apesar de ser tão bom de percorrer, ele acaba em destruição. O outro caminho é
apertado, e a porta que lhe dá acesso é estreita. Ele é restrito, e
relativamente poucos viajantes se encontram nele. Mas, ele conduz à “Vida”. A
passagem de Mateus 7.12,13, nos fala de duas portas e dois caminhos; dois
tipos de transeuntes; e dois destinos. Senão vejamos:
1. Duas portas e
dois caminhos
Hendriksen (2010,
pp. 456-457) nos diz que a ordem “porta” seguida por “caminho”
se constitui em uma sequência natural, onde o significado aponta para:
uma escolha inicial correta (conversão) seguida pela santificação; ou uma
escolha Inicial incorreta seguida por um endurecimento gradual. No Novo
Testamento a palavra estreita com referência à uma porta, só aparece em
Mt 7.13,14. Em Lc 13.24 o mesmo adjetivo é usado com referência a uma “porta”
escatológica (Mt 25.10). Para que possa entrar pela porta estreita, a
pessoa precisa se desfazer de muitas coisas, por exemplo, o desejo ardente de
possuir bens terrenos, o espírito que não consegue perdoar, o egoísmo e,
especialmente a justiça própria. A porta estreita é,pois, a porta da
autonegação e da obediência. Por outro lado, a “porta larga” permite
entrar com a bolsa e toda a bagagem. A velha natureza pecaminosa – tudo o que
ela contém e todos os seus acessórios – pode passar facilmente por ela. É a
porta da autoindulgência. Essa porta é tão ampla que uma multidão enorme e
clamorosa pode entrar toda de uma vez, e ainda restará muito espaço para
outros. A “porta”, pois, aponta para a escolha que uma pessoa faz nesta
presente vida, seja ela boa ou má.
O “caminho” ao
qual a porta estreita dá acesso é “apertado”. A vereda pela qual o crente está
viajando se assemelha a uma passagem difícil por entre dois penhascos. Ela se
acha cercada de ambos os lados. Assim também, mesmo no caso da pessoa que já
entrou espiritualmente pela porta estreita, o que permanece da velha natureza,
se rebela contra a ideia de deixar de lado as más propensões e os maus hábitos
de outrora. Essa velha natureza não é completamente destruída até o momento de
sua morte. Mesmo estando no caminho apertado, a antiga natureza trava uma
batalha diária com a nova natureza (Rm 7.15-25; Gl 5.17; 1 Pe 2.11).
2. Dois tipos de
transeuntes
Aqueles que
escolhem uma porta larga e o caminho espaçoso são chamados de “muitos”; aqueles
que entram pela porta estreita e viajam pelo caminho apertado são chamados de
“poucos”. Isso está em sintonia com Mt 22.14 “Muitos são chamados, poucos
escolhidos”, e com as passagens que mencionam o “remanescente”, como Rm
9.27; 11.5, etc. Não obstante, toda companhia dos eleitos em Cristo é descrita
como uma multidão que não se pode contar (Ap. 7.9).
É importante
lembrar que os transeuntes da “porta larga”, ainda que aparentem “liberdade”
e “felicidade”, todavia, tudo é de natureza puramente superficial, pois
os que vivem na prática do pecado, são escravos do mesmo (Jo 8.34). Eles estão
presos na vaidade de seus próprios pensamentos, tendo o seu entendimento
obscurecido e separados da vida de Deus (Ef. 4.17-19). Por outro lado, “Grande
paz têm os que amam a tua lei” (Sl 119.165; Is 26.3;43.2). Ainda
que, entrar pela porta estreita e caminhar pelo caminho apertado da
autonegação, dificuldade e luta, dores e asperezas, isto é especialmente
verdadeiro em virtude da natureza pecaminosa que não foi completamente vencida.
Para o “novo homem” (a natureza regenerada) há alegria indizível e cheia de
glória (1 Pe 1.8; Rm 7.22; Fl 2.17; 3.1; 4.4). Os “poucos” que
entram pela porta estreita são “afligidos, mas não esmagados; perplexos,
porém não desesperados” (2 Co 4.8,9); “entristecidos, mas sempre
alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo todas as
coisas” (2 Co 6.10), pois além dos tesouros que já possuem desde agora,
eles sabem que riquezas maiores esperam por eles (2 Co 4.17).
3. Dois destinos
Para Hendriksen
(2010, p.459), os que entraram pela porta larga e agora trilham o caminho
espaçoso estão indo rumo à destruição, ou seja, estão destinados não a
aniquilação, e, sim, à perdição eterna (Dn 12.2; Mt 3.12; 18.8; 25.41,46; Mc
9.43; Lc 3.17; 2 Ts 1.9; Jd 6,7; ap.14.9-11; 19.3; 20.10). Ao contrário, “O
caminho da cruz leva ao lar”. É o caminho da autorrenúncia que “conduz à vida”
em seu sentido pleno e escatológico: comunhão com Deus em Cristo, no céu,
subsequente, no novo céu e na nova terra; mais todas as bênçãos resultantes
dessa comunhão (Sl 16.11; 17.15; 23.6;73.23-36; Jo 14.2,3; 17.3,24; 2Co
3.17,18; 4.6; Fp 4.7,9; 1Pe 1.4,8,9; Ap. 7.15-17; 15.2-4; 20.4,6; 21.1-7).
CONCLUSÃO
Concluímos que
passar pela porta estreita, significa o início de nossa jornada, nossa
conversão ao evangelho de Cristo. Entretanto, o caminho até a eternidade é
caracterizado por sua estreiteza, ou seja, para nos mantermos firmes no alvo,
precisamos renunciar a nós mesmos, tomar nossa cruz e seguir a Jesus, Isso
implica em viver uma vida de completa entrega ao Senhor. Que ele nos ajude a
nos mantermos fiéis até a morte.
REFERÊNCIAS
Ø CARSON,
D. A. O Sermão do Monte: Exposição de
Mateus 5-7. Vida Nova.
Ø GEISLER,
Norman. Teologia Sistemática.
CPAD.
Ø HENDRIKSEN,
Willian. Comentário do Novo Testamento
– Mateus vol. 1. Cultura Cristã.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. OBJETIVA.
Ø LLOYD-JONES,
Davi Martyn, 1899-1981. Estudos no
sermão do monte, Fiel Editora.
Ø SOARES,
Esequias. Declaração de fé das Assembleias
de Deus. CPAD.
Ø VINE,
W. E. et al. Dicionário Vine: O
significado exegético e expositivo das palavras do AT e do NT. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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