Jo 3.1-8
INTRODUÇÃO
Nesta lição
falaremos sobre o novo nascimento; definiremos a regeneração; a necessidade que
todos os homens têm de nascer de novo; as características deste ato; quais os
instrumentos que Deus usa para operar o novo nascimento no pecador; e, por fim,
pontuaremos a guerra que existe no interior do crente entre a velha e a nova
natureza e o que devemos fazer para subjugarmos a inclinação da natureza
pecaminosa.
I. DEFININDO
REGENERAÇÃO
Teologicamente o
“novo nascimento” ou “regeneração” é: “o milagre que se dá na vida de quem
aceita a Cristo, tornando-o participante da vida e da natureza divina. Através
da regeneração o homem passa a desfrutar de uma nova realidade espiritual”
(ANDRADE, 2006, p. 317 – acréscimo nosso). A palavra regeneração no grego é “palinginésia” formada da expressão “pálin”,
'novamente', e “génesis”, 'nascimento', significa, portanto: “novo nascimento”.
O Pastor Eurico Bergstén (2016, p. 174) diz que: “a regeneração ou novo
nascimento significa o ato sobrenatural em que o homem é gerado por Deus (1Jo
5.18) para ser seu filho (Jo 1.12) e participante da natureza divina” (2Pe
1.4). A doutrina da regeneração é bíblica e foi ensinada por Jesus e pelos seus
santos apóstolos (Jo 3.3,7; 2Co 5.17; Gl 6.15; Jo 1.12.13; Ef 2.1,5; Cl 2.13;
Tt 3.5; Tg 1.18; 1Pe 1.23).
II. A NECESSIDADE DO
NOVO NASCIMENTO
Deus criou os
seres humanos em um estado de perfeição: “Deus fez ao homem reto” (Ec 7.29a).
Uma das características que Deus concedeu ao homem foi o poder do livre
arbítrio (Gn 2.16). O primeiro casal fez uso da liberdade e quis desobedecer a
Deus (Gn 3.1-6). O que se seguiu a este mau uso da liberdade humana foi um
estado de pecaminosidade, do qual não podemos escapar e reverter sem o auxílio
divino. Dentre as consequências que o pecado trouxe ao homem, a principal
delas, foi a morte espiritual (Gn 2.16,17; 3.2,3; Rm 6.23). A morte espiritual
é a separação espiritual de Deus (Is 59.2). Como toda a humanidade estava
representada em Adão, quando ele caiu em transgressão, também toda a humanidade
caiu com ele. O apóstolo Paulo deixa isso bem claro quando assevera: “por
um homem entrou o pecado [...] por isso que todos
pecaram” (Rm 5.12). Confira também: (Rm 2.10-12; 3.23; 5.13-16). Geisler
(2010, p. 104) acrescenta dizendo: “todo descendente de Adão — toda pessoa
nascida de pais naturais desde o tempo da Queda — também está espiritualmente
morto”. Diante de tal situação espiritual de morte, faz-se necessário o homem
nascer espiritualmente de novo. Portanto, a regeneração é uma necessidade a
todos os homens (Jo 3.3,5). Vejamos:
1. Sem o novo nascimento o homem permanece morto
espiritualmente.
Paulo diz que o
homem não regenerado “está morto em delitos e pecados” (Ef
2.1,5). Vale salientar que essa “morte”
não é a incapacidade de corresponder ao chamado de Deus, mas a separação
espiritual da presença dEle (Is 59.2; Rm 3.23). Paulo disse que o homem nessa
condição não compreende as coisas de Deus (1Co 2.14). O pecador é iluminado,
quando exposto a pregação da Palavra que esclarece seu entendimento (Ef 1.18;
6.4; 2Co 6.4), até então obscurecido pelo pecado (Ef 4.18) e pelo diabo (2Co
4.4), e, ao crer no evangelho este é então vivificado (Ef 1.13; 2.1,5). No
entanto, mesmo sendo iluminado, a pessoa pode optar por aceitar ou rejeitar o
plano da salvação (Mt 16.24; Jo 7.37; Ap 22.17).
2. Sem o novo nascimento, o homem não tem acesso ao
Reino de Deus.
Por melhor que
seja uma pessoa, ela não pode produzir sua salvação (Is 64.6; Tt 3.5). Jesus
declarou ao religioso Nicodemos três vezes que “é necessário nascer de novo”
(Jo 3.3,5,7). Moody (sd, p. 18) diz que esta “não é simplesmente uma exigência pessoal, mas universal”. Segundo o
Mestre Jesus, o novo nascimento é necessário porque: a) sem ele o homem não pode ver o Reino de Deus (Jo 3.3); e, b) tampouco entrar nele (Jo 3.5). O
homem do jeito que está não pode ter acesso ao Reino de Deus, pois é “filho da ira por natureza” (Ef 2.3); e,
andando na carne não pode agradar a Deus (Rm 8.8). Somente quando nasce de
novo, este homem é criado em verdadeira justiça e santidade requeridas por Deus
para que tenha acesso ao Reino (Ef 4.24).
III. CARACTERÍSTICAS
DO NOVO NASCIMENTO
1. O novo nascimento é um ato espiritual.
A desobediência
humana recebeu como sentença a morte, tanto física quanto espiritual (Gn
2.16,17; Ez 18.4; Rm 6.23; Ef 2.1,5). Essa morte espiritual implica na
separação da presença de Deus (Rm 3.23). Portanto, “morto espiritualmente” o
homem necessita “nascer de novo” espiritualmente para ter comunhão com Deus.
Por isso, no discurso de Jesus com Nicodemos o Mestre lhe diz: “Na
verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus” (Jo 3.3). Segundo Beacon (2006, p. 49 – acréscimo nosso)
a palavra traduzida como “de novo” é “anothen”, que tem vários
significados e um deles é: “de cima”. Acerca disso Wilmington (2015,
pp. 362,363) diz que: “o Messias estaria, então, dizendo que o único requisito
para viver nesta terra é ter um nascimento físico; igualmente, o único
requisito para viver um dia nos céus é ter um nascimento espiritual”. Esse “nascer do Espírito” em nada tem a ver
com a reencarnação, que é um ensinamento que não encontra apoio nas Escrituras
(2Sm 12.21-23; Hb 9.27). Aliás, Nicodemos perguntou se a regeneração era vir de
novo a vida fisicamente, voltando ao ventre materno (Jo 3.4). Jesus respondeu
dizendo “o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito
é espírito” (Jo 3.6).
2. O novo
nascimento é um ato interior.
Os profetas
predisseram este ato sobrenatural (Dt 30.6; Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27).
Embora o Antigo Testamento tenha em vista a nação de Israel, a Bíblia emprega
várias figuras de linguagem para descrever o que acontece no novo nascimento.
Nestas passagens bíblicas o novo nascimento é comparado a uma “cirurgia
interior”. Deixando claro que a regeneração é um ato divino operado
pelo Espírito Santo no espírito do homem. Macgrath (2010, p. 525), diz: “a
regeneração altera a natureza interior do pecador” (Gl 5.16,17; Cl 3.5;
1Pe 2.11; 2Pe 1.4; 1Jo 3.9; 5.18).
3. O novo
nascimento é um ato instantâneo e distinto.
Diferente da
santificação que é um processo, a regeneração é um ato instantâneo. A palavra “instantâneo”
segundo o Aurélio significa: “que se dá num instante; rápido;
súbito” (2004, p.1113). O apóstolo Paulo nos diz: “assim que, se
alguém está em Cristo, nova criatura é […]” (2Co 5.17). É bom destacar também
que a regeneração é uma etapa da salvação distinta da justificação, da
santificação e da glorificação. A ordem segue-se assim: primeiro “o
pecador é declarado justo” (justificação); em seguida “ele é
feito justo” (regeneração); depois “ele vai se tornando justo” (santificação);
e, por fim, ele “será perfeitamente justo” (glorificação).
IV. COMO SE
DESENVOLVE O NOVO NASCIMENTO
O novo nascimento
não é produzido pelo próprio homem, nem pela religião, centros de
ressocialização ou qualquer outro meio terreno. Abaixo destacaremos os meios
pelos quais o homem pode ser regenerado:
1. Pela Palavra de
Deus (O instrumento da Regeneração).
O Mestre Jesus
ensinou que o novo nascimento é operado através da Palavra de Deus (Jo 3.5). A
água de que fala o Senhor é meramente um símbolo de purificação, como ensinava o
AT. Logo, esta água aqui é símbolo da Palavra (Jo 15.3; Ef 5.26) e não as águas
do batismo. O batismo em si não pode lavar pecados nem regenerar o pecador. Na
verdade, a Palavra de Deus é a divina semente (1Pe 1.23) e o agente purificador
(Jo 15.3; 17.17). Quando ela é aplicada em nosso coração pelo Espírito Santo,
acontece o milagre do novo nascimento. É o que Tiago nos diz: “[…] ele
nos gerou pela palavra da verdade […]” (Tg 1.18). A expressão “palavra
da verdade” refere-se ao Evangelho (2Co 6.7; Cl 1.5; 2Tm 2.15).
2. Pelo Espírito
Santo (O agente da Regeneração).
A regeneração é
mencionada nas Escrituras como uma ação do Espírito. No AT os profetas falaram
dessa atividade do Espírito Santo (Is 32.15; Ez 36.27; 37.14; 39.29; Zc 12.10).
Jesus disse a Nicodemos que o homem precisa “nascer da água e do
Espírito” (Jo 3.5). O apóstolo Paulo também ensinou isto (Ef 4.24; Tt
3.5). O Espírito Santo esteve presente na criação do homem (Gn
2.7; Jó 33.4); de igual modo está presente na recriação deste homem (Jo
3.5; 20.22). A menção ao vento, aludindo a atividade do Espírito mostra que se
trata de algo sobrenatural (Jo 3.8). Veja também (Ez 37.9; At 2.2).
V. A VELHA E A NOVA NATUREZA
1. A velha
natureza.
Também chamada de
carne, no grego “sarx”. Nas Sagradas Escrituras, o termo é usado
tanto para descrever a natureza humana, como para qualificar o princípio que
está sempre disposto a se opor ao Espírito. Tal propensão para as práticas
pecaminosas herdamos de Adão, que quando transgrediu afetou toda a raça humana
(Gn 4.7; 8.21; Sl 51.5; Rm 7.18). Acerca dessa “natureza” a Bíblia nos orienta
a não andarmos segundo seus impulsos (Rm 8.1a); mas, nos despojarmos dela (Ef
4.22); e, fazer morrer seus desejos (Cl 3.5).
2. A nova
natureza.
Esta nova natureza
é fruto da regeneração ou novo nascimento, ato que se dá na vida de quem aceita
a Cristo, tornando-o participante da vida e da natureza divinas. Esta nova vida
nos é transmitida pelo Espírito (Jo 3.8; Tt 3.5). Tal ato é concedido ao crente
quando pelo Espírito, ele desliga o pecador de Adão e o conecta com Cristo (1Co
12.13). Paulo ilustra tal mudança de condição quando diz que éramos zambujeiro,
mas fomos enxertados na boa oliveira que é Cristo, e por meio da sua seiva, o
Espírito Santo, podemos produzir bons frutos (Rm 11.17-24; Gl 5.22).
3. A guerra
interior.
Fomos salvos da
condenação e do poder do pecado, mas não ainda da presença do
pecado (Rm 7.18,23). No campo do nosso interior ainda se trava uma guerra, um
conflito permanente entre a carne e o Espírito. Eles são opostos entre si.
Paulo tratou da guerra interior que existe em cada cristão com as suas duas
naturezas (Rm 7.22.23; Gl 5.17). Nessa batalha “carne versus espírito”,
vencerá aquele que dermos a maior preferência (Gl 5.16).
CONCLUSÃO
O pecado atingiu o
homem e o destituiu da glória de Deus. Todavia, Deus tomou a iniciativa de
restaurar a comunhão outrora perdida com o homem, através do evangelho, que
iluminando o entendimento humano, pode vivificá-lo, transformar o seu interior
e levá-lo a ser participante da natureza divina.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico.
CPAD.
Ø GEISLER,
Norman. Teologia Sistemática.
CPAD.
Ø MCGRATH,
Alister E. Teologia sistemática,
Histórica e Filosófica. SHEDD.
Ø MOODY,
D. L. Comentário Bíblico de João.
PDF.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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