At
6.1-7
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos os primeiros versículos capítulo 6 de Atos dos Apóstolos,
onde Lucas registra a escolha dos sete diáconos para atender as necessidades da
igreja em Jerusalém. Veremos a definição dos termos “enfrentar” e “problemas”;
explicaremos o problema da desigualdade na assistência social, bem como a
escolha dos sete diáconos; descreveremos o ministério de diácono na Igreja
hoje; e, finalmente, elencaremos a decisão dos apóstolos de se dedicarem a
oração e a Palavra de Deus.
I. DEFINIÇÃO DOS TERMOS “ENFRENTAR” E
“PROBLEMAS”
1.
Definição do termo “enfrentar”.
Antônio
Houaiss (2011, p. 1146) define o verbo “enfrentar” como “colocar-se
diante de”, “defrontar-se com algo ou alguém”, como estar em frente, encarar
fisicamente. Encarar com coragem; como enfrentar uma situação com coragem ou
destemor. Fazer frente, lidar com uma dificuldade ou adversário como enfrentar
um desafio, problema ou obstáculo”. Em resumo, “enfrentar” envolve se
dirigir ou colocar-se diante de algo ou alguém (fisicamente ou simbolicamente).
Também carrega o sentido de encarar com coragem, de fazer frente a acidentes,
problemas ou opositores.
2.
Definição do termo “problema”.
Segundo
o dicionarista Antônio Houaiss (2011, p. 2301), “problema” pode ser definido
como “uma dificuldade ou obstáculo que coloca à prova a capacidade de
resolução de alguém. Um desafio cognitivo ou prático, uma questão complexa a
ser enfrentada ou solucionada”. A igreja de Jerusalém enfrentou
diversos tipos de problemas, tais como: a) perseguição religiosa (At
4.1-3; 5.17-18; 7.54-60; b) hipocrisia e mentira, por parte de Ananias e
Safira (At 5.1-11); c) conflito cultural entre judeus e gentios
convertidos (At 15.1-29); além de outros. Porém, em meio a todos esses
problemas, a igreja venceu por meio da oração, do ensino da Palavra e das
decisões guiadas pelo Espírito Santo e pela liderança apostólica.
II. O PROBLEMA DA DESIGUALDADE NA
ASSISTÊNCIA SOCIAL E A ESCOLHA DOS SETE DIÁCONOS
Como
resultado do crescimento da Igreja (At 6.1), logo surgiram os primeiros
problemas. Neste capítulo em especial, verificamos a murmuração dos crentes
helenistas, judeus do mundo grego-romano de cultura e língua gregas, porque
suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. A solução para o
problema foi “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa
reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos
sobre este importante negócio” (At 6.3). É a instituição dos diáconos
que estariam sendo separados para “servirem ás mesas” (At 6.2).
Embora não chamados aqui de diáconos, entretanto, os sete são realmente
chamados de diakonoi (Rm 16.1; Fl 1.1; 1Tm 3.8,12; 4.6). O termo diakonoi,
relaciona-se com diakonia [serviço], a palavra mais usada
no Novo Testamento para descrever o serviço cristão normal. Tendo amplo uso nas
Escrituras, descreve o ministério do povo de Deus em geral (Ef 4:12), bem como
o ministério dos apóstolos (At 1.17,25). Até mesmo o próprio Jesus o utiliza,
para descrever seu propósito primário (Mc 10.45). Em termos simples, os
diáconos são servos no sentido mais fiel da palavra. Este fato é acentuado por
Paulo ao alistar as qualificações para o diaconato (Tm 3.8-13).
1.
“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos [...]” (At
6.1,2).
A
igreja primitiva desenvolvia um trabalho de assistência aos irmãos carentes e
necessitados, mas com o crescimento da comunidade cristã, tornou-se cada vez
mais difícil distribuir os bens de modo eficaz, o que levou algumas viúvas a
serem esquecidas na distribuição diária de alimentos (At 6.1-b). Surgiram
queixas de que os helenistas (os judeus de fora de Israel), estavam sendo
negligenciados pelos hebreus (os judeus nascidos em Israel). Os apóstolos não
tinham como lidar sozinhos com o numeroso grupo e ainda assim garantir uma
distribuição justa (At 6.2). Para isto foi necessário a nomeação de diáconos
para este importante trabalho filantrópico enquanto os apóstolos se ocupariam
com a oração e a Palavra (At 6.2-4). Como podemos ver, Deus disponibiliza diversos
ministérios “serviços” para atender a igreja nas suas diversas necessidades
(1Co 12.5; Ef 4.11).
2.
“Escolhei, pois, irmãos, dentre vós [...]” (At 6.3a).
Os
apóstolos pediram, portanto, que se escolhessem sete assistentes para garantir
que todos fossem atendidos (At 6.3). Embora tenha sido a igreja que reconheceu
as pessoas aptas para este ministério, os tais só seriam constituídos por meio
do governo da igreja (At 6.3-a). Em Atos 6.3-b, Lucas registra quais foram os
critérios para esta nomeação: a) qualificações morais: “boa
reputação”; b) qualificações espirituais: “cheios do
Espírito Santo”; e c) qualificações intelectuais: “e de
sabedoria”.
3.
“E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as
mãos” (At 6.6).
Após
a indicação dos nomes, os apóstolos confirmaram a escolha, apresentando-os
diante da igreja e lhes conferindo autoridade com a imposição de mãos a fim de
exercerem o serviço para o qual foram chamados (At 6.6). Os resultados da
nomeação, e separação destes diáconos foram os seguintes: a) oportunidade
para os apóstolos continuarem seu ministério (At 6.3,4); b) satisfação
da igreja (At 6.5); e, c) crescimento para a obra do Senhor (At 6.7).
III. O MINISTÉRIO DE DIÁCONO NA
IGREJA HOJE
A
palavra diácono no grego: “diákonos” denota primariamente:
“criado, servo”, quer aquele que faz trabalhos servis, ou o ajudante que presta
serviços voluntários, sem referência particular ao seu caráter. A palavra está
provavelmente relacionada com o verbo: “diõko” que significa “apressar-se
após, perseguir” (talvez dito originalmente acerca de um corredor).
Ocorre no Novo Testamento em alusão: a) aos criados domésticos (Jo
2.5,9); b) ao governante civil (Rm 13.4; Gl 2.17); c) a Cristo
(Rm 15.8; Gl 2.17); d) aos seguidores de Jesus em sua relação com o
Senhor (Jo 12.26; Ef 6.21; Cl 1.7; 4.7); e) aos seguidores de Jesus em
relação uns com os outros (Mt 20.26; 23.11; Mc 9.35; 10.43); f) aos
servos de Cristo no trabalho de orar e ensinar (1Co 3.5; 2Co 3.6; 6.4; 11.23;
Ef 3.7; Cl 1.23,25; 1Ts 3.2; 1Tm 4.6); g) àqueles que servem nas igrejas
(Rm 16.1 [usado acerca de uma mulher só aqui no NT]; Fp 1.1; 1Tm
3.8,12); e, h) aos falsos apóstolos, servos de Satanás (2Co 11.15)
(VINE, 2002, p. 563, grifo nosso).
1.
Quem são os diáconos.
“É
um encargo sob a direção do ministro da igreja (At 6.3), relacionado com os
serviços de ordem material e social. A Bíblia faz referência a alguns desses
encargos da esfera dos diáconos, como o repartir, o exercer misericórdia (Rm
12.8) e o socorrer (1Co 12.28). Conforme o modelo do Novo Testamento, os
diáconos não tomavam parte na administração e direção da igreja, mas, além de
fazer serviços materiais e sociais, alguns cooperavam na pregação da Palavra,
como Estevão (At 6.8,10) e Filipe (At 6.5; 8.4)” (Bergstén, 2007, p. 117).
2.
A ampliação desse ministério.
“O
ofício e a função dos diáconos tiveram começo no tempo dos apóstolos, conforme
a descrição do sexto capítulo do livro de Atos; mas a passagem do tempo tal
como sucede a tudo mais, ampliou o escopo e a natureza do ofício, até que o
mesmo se tornou uma posição eclesiástica (1Tm 3.8-13). A própria palavra
diácono é usada de várias maneiras, nas páginas do NT, subentendendo serviço de
qualquer espécie, espiritual ou material” (Champlin, 2005, p. 312). “Os
diáconos poderão realizar diversas tarefas, na Casa do Senhor, com dignidade,
cuidado e zelo, 'de todo coração, como ao Senhor, e não aos homens' (Cl 3.23).
A função principal dos diáconos, atualmente, é auxiliar o pastor ou ao
dirigente da congregação, nas atividades espirituais, ligadas ao culto ou não, bem
como nas atividades sociais e materiais da igreja, para as quais for designado”
(Renovato, 2014, p. 144).
3.
A especialidade desse ministério.
“Os
dons listados por Paulo em Romanos 12 (dons de serviço) são tão necessários e
importantes a Igreja como os dons de 1Coríntios 12 (dons espirituais). O dom de
socorro, por exemplo, no grego “antilempseis”, indica que toda
sorte de ações úteis pode ser inspirada pelo Espírito Santo. O verbo
correspondente é usado para referir-se a auxiliar os enfermos (At 20.35) e a
servir melhor os mestres (1Tm 6.2)” (Horton, 2006, p. 122). A partir da
definição da palavra diácono (servo) e da função do mesmo que é servir,
percebe-se claramente que o “dom de socorro” ou “exercer
misericórdia” é a especialidade do diaconato (Rm 12.8; 1Co 12.28).
IV. O MINISTÉRIO DA ORAÇÃO E DA
PALAVRA DE DEUS
Diante
de uma crise na distribuição de mantimentos às viúvas, os apóstolos
reconheceram que, embora a necessidade fosse legítima, sua principal
responsabilidade era manter o foco na oração e no ensino da Palavra de Deus. Ao
delegarem tarefas administrativas a homens espiritualmente capacitados, os
apóstolos demonstraram que uma liderança eficaz sabe discernir seu chamado e
organizar o corpo de Cristo com sabedoria (At 6.4). Vejamos alguns exemplos do
ministério da oração e da Palavra de Deus por parte dos apóstolos no livro de
Atos.
1.
O ministério da oração.
Os
apóstolos oraram buscando direção de Deus para escolher o substituto de Judas
(At 1.24,25); Pedro e João subiam ao templo à hora da oração (At 3.1); Depois
de serem ameaçados, os apóstolos oram por ousadia (At 4.24-31); A escolha dos
sete diáconos foi feita com oração (At 6.6); Pedro e João oram pelos
samaritanos convertidos (At 8.15).
2.
O ministério da Palavra.
Os
apóstolos eram responsáveis por ensinar a doutrina de Cristo com fidelidade (At
2.42). O crescimento numérico e espiritual da igreja estava ligado à pregação
da Palavra (At 6.7). Os apóstolos que haviam sido educados e treinados aos pés
do Mestre dos mestres continuavam a missão de instruir a nova igreja [...] O
ensinamento dos apóstolos é a transmissão fiel do que Jesus ensinou”
(Gonçalves, 2025, pp. 32,33).
CONCLUSÃO
A
igreja em Jerusalém estava crescendo rapidamente. Surgiu um problema na
distribuição diária de mantimentos, especialmente com as viúvas helenistas. Os
apóstolos decidiram que não era apropriado negligenciar o ministério da Palavra
para cuidar da distribuição. Por isso, estabeleceram sete homens cheios do
Espírito e sabedoria para esse serviço (diaconia), enquanto os apóstolos se
dedicariam a oração e a Palavra de Deus. O resultado dessa decisão foi o
crescimento saudável da igreja e a expansão do evangelho: “E crescia a
palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos;
e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.” (At 6.7).
REFERÊNCIAS
Ø BERGSTÉN, Eurico. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo
Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø GONÇALVES, José. A Igreja em
Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø PEARLMAN, Myer. Atos: A Igreja
Primitiva na força e na unção do Espírito Santo. CPAD.
Ø RENOVATO, Elinaldo. Dons
espirituais e ministeriais. CPAD.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.

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