At
6.8-15; 7.54-60
INTRODUÇÃO
Esta
lição apresenta a figura de Estêvão, diácono da Igreja primitiva e o primeiro
mártir cristão. Analisaremos suas virtudes espirituais, como fé, sabedoria e
plenitude do Espírito Santo, e refletiremos sobre sua postura diante da
perseguição. Ao final, destacaremos as atitudes que devem caracterizar um
crente avivado frente às adversidades por causa do evangelho.
I. DEFINIÇÃO DO TERMO MÁRTIR
1.
Definição de mártir.
O
dicionário Houaiss (2011, p. 1860) define “mártir” como: “pessoa
submetida á pena de morte pela recusa de renunciar à fé cristã ou qualquer de
seus princípios”. No grego do Novo Testamento, a palavra “mártir”
(mártys) significa, em sua forma original, “testemunha”,
alguém que dá testemunho de fatos vistos, ouvidos ou vivenciados. Com o
desenvolvimento da fé cristã, o termo passou a designar aqueles que testemunham
a Cristo com fidelidade, mesmo sob perseguição e até a morte. O termo possui
origem no contexto jurídico, referindo-se a quem presta depoimento público ou
judicial. No Novo Testamento, essa ideia é ampliada, passando a identificar os
que permanecem firmes na fé, mesmo diante da oposição, sofrimento e, por fim,
do martírio. Portanto, ser mártir não se resume ao ato de morrer por uma causa,
mas abrange uma vida integral de testemunho fiel a Cristo, ainda que isso
implique a própria morte.
2.
Jesus, o mártir supremo.
Jesus
é chamado de “a testemunha fiel”, indicando que Ele também é o
modelo supremo de fidelidade, inclusive até a morte (Fp 2.8), sendo, portanto, “o
maior mártir”: “Isto diz o Amém, a testemunha [mártir]
fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (Ap 3.14).
3.
Estevão, o primeiro mártir da Igreja de Jerusalém.
Um
mártir é uma testemunha fiel da verdade: “Recebereis a virtude do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (At
1.8). Aqui, “mártys” refere-se à missão dos discípulos: dar testemunho público
de Cristo, o que inclui sofrimento e, para muitos, o martírio. Estêvão, foi o
primeiro mártir depois da fundação da Igreja em Jerusalém: “E quando se
derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, também eu estava presente [...]”
(At 22.20). Neste versículo, Paulo chama Estêvão de “tua
testemunha” (isto é, de Deus), reconhecendo que ele morreu por sua fé,
caracterizando-o como mártir.
4.
Tiago, o segundo mártir da Igreja de Jerusalém.
Tiago,
filho de Zebedeu e irmão de João, foi um dos doze apóstolos escolhidos por
Jesus (Mt 4.21; Mc 3.17). Em Atos 12.1-2, ele é apresentado como a primeira
testemunha apostólica a sofrer o martírio: “Por aquele tempo, o
rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja para os maltratar, e matou
à espada Tiago, irmão de João” (At 12.1-2). Herodes Agripa I, desejando
agradar os judeus, iniciou uma perseguição contra os cristãos. Tiago foi
executado por decapitação, tornando-se o primeiro dos apóstolos a morrer por
sua fé em Cristo. Seu martírio evidencia o cumprimento da profecia de Jesus de
que ele beberia o cálice do sofrimento (Mc 10.39). Tiago é, portanto, um
exemplo de fidelidade até a morte, confirmando que a missão apostólica envolvia
não apenas pregar, mas também sofrer e, quando necessário, entregar a vida pelo
evangelho.
5.
Antipas, mártir da igreja em Pérgamo.
Antipas
é explicitamente identificado como “mártir”, morto por causa da fé em Cristo,
sendo um exemplo de fidelidade até o fim: “[...] nos dias de Antipas,
minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós [...]” (Ap 2.13). Ser
mártir não se resume ao ato final de morrer por Cristo, mas começa no
compromisso diário de viver para Ele, testemunhando a verdade com integridade e
ousadia, mesmo que isso custe a própria vida (Mt 10.32-33; Ap 12.11).
II. QUEM FOI ESTEVÃO
O
nome Estêvão em grego é “Stéphanos”, nome de origem grega que
significa “coroa” ou “recompensa” que se refere a
uma coroa usada como símbolo de vitória, honra ou reconhecimento, especialmente
em competições ou celebrações cívicas e religiosas. É uma das figuras mais
notáveis do Novo Testamento e o nome Estêvão é especialmente significativo,
pois ele foi o primeiro mártir cristão, recebendo a “coroa da vida”
(Ap 2.10) por sua fidelidade até a morte. O nome, portanto, carrega uma forte
dimensão profética e espiritual. Seu discurso em Atos 7.2–53 é o mais extenso
do livro. Sua atuação é registrada principalmente nos capítulos 6 e 7 de Atos,
sendo seu martírio mencionado também em At 11.19 e 22.20. Notemos suas
principais características:
1.
Um diácono escolhido com discernimento.
O
crescimento da Igreja provocou tensões entre os crentes de origem judaica e
grega, especialmente no cuidado das viúvas (At 6.1). Para solucionar o
conflito, os apóstolos propuseram a escolha de sete homens com boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria (At 6.3-4). Estêvão foi um dos
selecionados para esse serviço, demonstrando liderança e espiritualidade.
2.
Um homem cuja fé moldava suas ações.
A fé
de Estêvão era concreta e operante (At 6.5). Essa virtude era essencial para
lidar com as pressões do ministério e para pregar com ousadia em meio à
oposição (Mt 16.25; Hb 11.1). Sua vida ecoava o testemunho dos heróis da fé (Hb
11.37), evidenciando que viver e morrer por Cristo era, para ele, um
privilégio.
3.
Um homem cheio do Espírito e instrumento de milagres.
A
plenitude do Espírito Santo era uma marca evidente em Estêvão (At 6.5). Por
meio dele, o Espírito realizava “sinais e prodígios entre o povo” (At
6.8). Essa capacitação espiritual o fortalecia diante das hostilidades e
confirma a promessa de que só pelo poder do Espírito Santo é possível resistir
ao maligno (Tg 4.7).
4.
Um homem cheio de sabedoria que vinha do alto.
Além
de cheio do Espírito Santo, Estêvão possuía sabedoria para lidar com questões
complexas, tanto administrativas quanto doutrinárias (At 6.10). Enfrentando
opositores da sinagoga dos Libertos, sua argumentação era tão poderosa que não
podiam refutá-lo. Conforme observa Stronstad (2004, p. 659), sua sabedoria
teológica e autoridade espiritual manifestavam o dom divino de sabedoria, sendo
sua fala inspirada pelo Espírito Santo (Lc 21.15).
III. O MARTÍRIO DE ESTÊVÃO E SEUS
FRUTOS ESPIRITUAIS
A
morte de Estêvão representou não apenas uma tragédia, mas um marco espiritual
de grande importância. Seu testemunho e firmeza contribuíram para o avanço da
missão da Igreja. Vejamos:
1.
Falsas acusações e oportunidade para o testemunho.
Incapazes
de resistir ao seu ensino, os líderes religiosos lançaram mão de acusações
fraudulentas (At 6.11,13). Estêvão, entretanto, aproveitou a ocasião para
expor, em seu discurso, uma síntese da história da salvação, demonstrando que
Cristo era o cumprimento das promessas veterotestamentárias. Como não podiam
rebater sua exposição das Escrituras, os líderes optaram pela violência (At
7.55-60).
2.
A visão gloriosa de Cristo no momento da morte.
Em
meio à perseguição, Estêvão teve uma visão gloriosa: “viu os céus abertos
e Cristo de pé à direita de Deus” (At 7.56). Essa postura de Cristo,
geralmente descrito como assentado (Mc 14.62; Cl 3.1), simboliza acolhimento e
honra ao primeiro mártir. Como destaca Stamps (2010, p. 1646), Jesus se
apresenta como intercessor e advogado, honrando seu servo fiel (Mc 8.38; Rm
8.34; 1Jo 2.1).
3.
Frutos resultantes do martírio.
O
sacrifício de Estêvão produziu frutos duradouros: a) A perseguição
provocou a dispersão dos crentes, ampliando o alcance da missão (At 8.1); b)
O evangelho ultrapassou os limites de Jerusalém, alcançando a Judeia e
Samaria (At 8.5); c) Saulo, testemunha do martírio de Estêvão,
posteriormente se converteu e tornou-se o apóstolo Paulo (At 9.1-6); e, d) O
ministério apostólico se expandiu além de Jerusalém (At 9.32-42; At 10.1).
IV. AS MARCAS DE UM CRENTE AVIVADO
O
testemunho de Estêvão oferece um modelo prático do que significa viver cheio do
Espírito Santo e comprometido com a missão de Deus. Notemos:
1.
Comprometido com a proclamação do evangelho.
Estêvão
estava pronto a proclamar a mensagem de Cristo, mesmo diante de oposição.
Pregar o evangelho requer ousadia e uma vida avivada pelo Espírito (At 4.17,29;
13.8-12). Assim como os apóstolos, ele enfrentou resistência com fé, coragem e
sabedoria.
2.
Disposto a sofrer por amor a Cristo.
Diante
das falsas acusações e do apedrejamento, Estêvão respondeu com perdão (At
7.60). Seguiu o exemplo de Cristo, suportando a dor sem murmurar. O próprio
Jesus advertiu que os seus seguidores enfrentariam aflições (Jo 16.33), e Pedro
reforça que há bem-aventurança em sofrer por Cristo (1Pd 4.14).
3.
Preparado para entregar a vida pela fé.
Estêvão
não hesitou em morrer por amor a Cristo. Sua entrega ecoa a declaração de
Paulo: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp
1.21). Um crente avivado compreende que o compromisso com Cristo pode envolver
até a renúncia da própria vida (Mt 16.25; 2Co 4.11).
CONCLUSÃO
Estêvão
representa o modelo de um crente profundamente comprometido com Deus, cheio do
Espírito Santo e pronto para viver e morrer por Cristo. Seu exemplo inspira a
Igreja a manter-se firme, mesmo em meio à oposição, confiando que a fidelidade
a Deus gera frutos duradouros (At 20.24).
REFERÊNCIAS
Ø GONÇALVES, José. A Igreja em
Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø HOUAISS, Antônio. Dicionário
Houaiss da Línguas Portuguesa. Editora Objetiva.
Ø RENOVATO, Elinaldo. Avia a Tua
Obra. CPAD.
Ø SILVA, Amós Coêlho da. Dicionário
Latino-Português. Editora Vozes.
Ø SOARES, Esequias. O Ministério
profético na Bíblia. CPAD.
Ø SOARES, Esequias. Visão
Panorâmica do Antigo Testamento. CPAD
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L.
Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento.
CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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