Rm
2.12-16
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, destacar-se-á que a consciência é descrita como o testemunho interno a
fim de provar que as exigências da Lei de Deus estão gravadas no coração das
pessoas, tanto nas que conhecem-na (judeus) quanto nas que não a conhecem
(gentios). Isso indica, portanto, que o julgamento de Deus será baseado na lei
aplicável a cada pessoa, isto é, sem acepção.
I. AS FUNÇÕES DA LEI E DA CONSCIÊNCIA
1.
A Lei de Deus como tribunal exterior e sua função.
Em
Romanos 2.12, o apóstolo Paulo declara: “E todos os que pecarem estando
sob a lei de Deus, de acordo com essa lei serão julgados”, assim, a
expressão “Lei de Deus” refere-se à Lei escrita (a Lei Mosaica) para os judeus;
e em Romanos 2.14: “Até mesmo os gentios, que não têm a lei escrita,
quando obedecem a ela instintivamente, mostram que conhecem a lei, mesmo não a
tendo”, a expressão “conhecem a lei” relaciona-se à lei moral inscrita
no coração e na consciência para os gentios. Logo, o argumento volta-se à
imparcialidade de Deus no julgamento: todos serão julgados pela lei à qual
foram expostos – os judeus pela Lei Mosaica e os gentios pela lei natural, ou
seja, consciência, que lhes dão um entendimento inato do que é certo.
2.
Os judeus e os gentios estão na mesma situação quanto a seu fracasso em fazer a
sua vontade.
Segundo
F. F. Bruce, embora os judeus tenham tido em sua lei uma revelação especial da
vontade de Deus, os gentios não foram totalmente privados do conhecimento da
vontade divina. Diz o apóstolo: “Quando, pois, os gentios que não têm
lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem
eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus
corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos
mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2.14). Quer dizer, os
gentios não tinham recebido a Torah completa, e nem mesmo os Dez Mandamentos,
mas tinham noção do certo e do errado; tinham como que embutida em si certa
consciência da verdadeira essência da lei de Deus. Assim, quando Paulo diz que
pela lei vem o nosso conhecimento do pecado (Rm 3.20), diz algo que é verdade
tanto a respeito dos judeus como dos gentios. E quando, no mesmo contexto, diz
que “ninguém será justificado diante dele (diante de Deus) por obras da lei”,
isso também é igualmente válido para judeus e gentios (Bruce, 2014, p. 48,
grifo nosso). Sendo assim, o ponto principal de Paulo é que o conhecimento da
lei moral não é exclusivo do povo judeu, uma vez que os atos dos gentios, que
seguem os princípios da lei, mostram que essa lei moral está presente em toda a
humanidade, portanto, um testemunho do julgamento justo de Deus.
3.
O conceito de consciência como tribunal interior e sua função.
A
palavra consciência do latim “conscientia” carrega alguns
sentidos: a) Atributo que permite a uma pessoa a percepção, com certo
grau de objetividade, do que se passa em torno de si (o mundo exterior) e
dentro de si próprio (o mundo interior ou subjetivo); b) O conhecimento,
a percepção desse atributo; c) Capacidade de julgar o que é correto e o
que não é, de acordo com valores morais e de conhecimento; d) Conhecimento,
noção, percepção (de situações, fatos, conceitos específicos); e, e) Aplicação
e zelo naquilo que se faz ou realiza (Aulete, 2011, p. 381). O termo grego para
consciência é “syneidesis” – composto de “syn” (com)
e “eidos” (conhecer), indicando um conhecimento que se tem de si
mesmo, ou seja, um autoconhecimento, portanto, uma faculdade da alma que
distingue o certo do errado que lhes permite acusá-los ou desculpá-los, agindo
como um juízo interno, pois conforme Romanos 2.15: “Demonstram que a lei
está gravada em seu coração, pois sua consciência e seus pensamentos os acusam
ou lhes dizem que estão agindo corretamente”. Dessa forma, a
consciência julga o erro, entretanto não resolve o problema do domínio do
pecado que mortifica a consciência: “O Espírito afirma claramente que nos
últimos tempos alguns se desviarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores
e a ensinamentos de demônios, que vêm de indivíduos hipócritas e mentirosos,
cuja consciência está morta” (1Tm 4.1-2).
II. AS REVELAÇÕES DA LEI DIANTE DA
SALVAÇÃO
1.
A Lei revela o pecado.
O
apóstolo Paulo escreveu: “Por acaso estou dizendo que a lei de Deus é
pecaminosa? Claro que não! Na verdade, foi a lei que me mostrou meu pecado.
Eu jamais saberia que cobiçar é errado se a lei não dissesse: ‘Não cobice’” (Rm
7.7).
2.
A Lei revela a morte.
As
Escrituras afirmam: “Houve um tempo em que eu vivia sem a lei. No
entanto, quando tomei conhecimento do mandamento, o pecado ganhou vida, e eu
morri. Assim, descobri que os mandamentos da lei, que deveriam trazer
vida, trouxeram, em vez disso, morte. O pecado se aproveitou desses
mandamentos e me enganou, e fez uso deles para me matar” (Rm
7.9-11).
3.
A lei revela a natureza humana dominada pelo pecado.
A
Bíblia afirma: “O problema não está na lei, pois ela é espiritual e boa. O
problema está em mim, pois sou humano, escravo do pecado. Não entendo a mim
mesmo, pois quero fazer o que é certo, mas não o faço. Em vez disso, faço
aquilo que odeio. Mas, se eu sei que o que faço é errado, isso mostra que
concordo que a lei é boa. Portanto, não sou eu quem faz o que é errado, mas o
pecado que habita em mim” (Rm 7.14-17).
4.
A salvação não é pelas obras da Lei.
Precisamos
nos voltar brevemente para uma consideração daquele método de justificação.
Observamos negativamente que a justificação não se dá através das obras da lei.
É verdade que Jesus se referiu à lei quando o jovem rico perguntou como poderia
obter a vida eterna (Mc 10.17-22); mas é claro que Ele fez isto apenas para
demonstrar ao jovem que a salvação é impossível nessa base. Aquele que for ser
justificado pelas obras, deve continuar em todas as coisas que estão escritas
na lei (Gl 3.10; Tg 2.10). Ninguém conseguiu nem pode fazer isso. Paulo declara
que pelas obras da lei ninguém é justificado diante Dele (Rm 3.20; Gl 2.16). A
lei só serve para revelar o pecado (Rm 3.20; 7.7) e para impelir a alma
condenada a fugir para Cristo (Gl 3.24). Jesus em outra ocasião, ensinou que ‘a
obra de Deus’ é a de que ‘creiais naquele que por ele foi enviado’ (Jo 6.29).
Os homens não são salvos por ‘fazerem o melhor que podem’, como normalmente se
entende essa declaração, mas são salvos por fazerem o melhor que podem’, se quiserem
com isso dizer que creem no Senhor Jesus Cristo (Mt 7.12) (Thiessen, 2014, p.
349).
III. IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO DE
ROMANOS 2.12
1.
Imparcialidade de Deus.
Paulo
enfatiza que Deus não tem favoritos e julgará todas as pessoas com
imparcialidade, de acordo com o que é conhecido pela lei de cada um.
2.
Responsabilidade da consciência.
Os
gentios, sem a Lei escrita, não estão isentos de culpa, pois a lei da
consciência, inscrita em seu interior, responsabiliza-os por suas ações.
3.
Prática sobre a audição.
O
apóstolo alerta que não é a audição da Lei (no caso dos judeus), nem o simples
fato de não tê-la (no caso dos gentios), mas, sim, a prática da Lei (Rm
2.13,28-29), tanto a escrita quanto a natural, que leva à justiça. Assim,
conforme Henry Thiessen acerca da justificação pela Graça é pela Graça de Deus.
“Dois versículos podem ser citados: Romanos 3.24: ‘Sendo justificados
gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus’; Tito
3.7: ‘a fim de que, justificados por graça, nos tornaremos seus herdeiros,
segundo a esperança da vida eterna’. Isto demonstra a fonte de nossa
justificação. Não é ela as obras de justiça que temos praticado, mas é ‘segundo
a sua misericórdia’ que Ele nos salvou (Tt 3.5). Assim, a justificação se
origina no coração de Deus. Tendo consciência não apenas de nossa falta de
justiça mas também de nossa incapacidade de consegui-la, Ele, em Sua bondade,
decidiu nos fornecer a justiça. Foi Sua graça que o levou a fornecê-la; Ele não
tinha a menor obrigação de fazer isso. Em sua graça, Ele não considerou nossa
culpa, e em sua misericórdia, nossa miséria (Thiessen, 2014, 349).
4.
A salvação é pela “circuncisão espiritual”, ou seja, pelo Espírito Santo
atuando no interior.
A
prática judaica da circuncisão só tem valor se você obedece à lei de Deus. Mas
se você, que é circuncidado, não obedece à lei de Deus, não é diferente de um
gentio incircuncidado. E, se os incircuncidados obedecerem à lei de Deus, acaso
não serão também considerados circuncidados? De fato, os gentios
incircuncidados que cumprem a lei de Deus condenarão você, judeu, que é
circuncidado e tem a lei de Deus, mas não obedece a ela. Pois ser judeu
exteriormente ou ser circuncidado não torna ninguém judeu de fato. Judeu
verdadeiro é quem o é no íntimo, e circuncisão verdadeira é a do coração,
feita pelo Espírito, e não pela letra da lei, recebendo assim a
aprovação de Deus, e não das pessoas (Rm 2.25-29).
CONCLUSÃO
Portanto,
a consciência funciona ora acusando, ora defendendo, refletindo a capacidade
humana de distinguir entre o certo e o errado, e será usada no dia do juízo
final para julgar os segredos das pessoas. Em Romanos 2.15, a função da
consciência é dar testemunho, confirmando que as exigências da lei moral estão
gravadas no coração humano, agindo como um juízo interno, mesmo na ausência da
Lei escrita. Essa consciência é a prova de que todos os seres humanos possuem
uma cânon moral, estruturado por Deus, onde serão julgados – “Pois todos
pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos
declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos
pecados” (Rm 3.23-24). Assim, a consciência revela o pecado da
humanidade para que, por meio da Graça, seja justificada e resgatada em Cristo
Jesus.
REFERÊNCIAS
Ø AULETE, Caldas. Novíssimo
Aulete dicionário contemporâneo da língua portuguesa. [Org.] por Paulo
Geiger. Lexicon, 2011.
Ø BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão
Transformadora. Mundo Cristão, 2016.
Ø BRUCE, F. F. Romanos:
introdução e comentário. Tradução de Odayr Olivetti. Vida Nova, 2014.
Ø QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito.
CPAD, 2025.
Ø THIESSEN, Henry Clarence. Palestras
em Teologia Sistemática. Editora Batista Regular, 2014.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

Nenhum comentário:
Postar um comentário