Ap 3.1-6
INTRODUÇÃO
A quinta carta do Apocalipse foi endereçada a Igreja que estava localizada na cidade de Sardes. Vemos no conteúdo da sua carta, que o problema daquela Igreja não era heresia, pois lá não havia nicolaítas, como em Éfeso (Ap 2.6); nem os que seguiam a doutrina de Balaão, como em Pérgamo (Ap 2.14); tampouco as falsas profecias da profetiza por nome Jezabel, como em Tiatira (Ap 2.20). No entanto, apesar de ter nome de que vivia, a Igreja estava espiritualmente morta. Por isso, o Senhor Jesus envia-lhes esta carta com o intuito de exortar os cristãos ao arrependimento, conduzindo-os a um genuíno avivamento.
I - A CIDADE DE SARDES
1.1 Nome. A palavra “Sardes” deriva-se do grego e significa “príncipe de gozo”. Quando João escreveu esta carta, Sardes era uma cidade rica, mas totalmente degenerada. Sua glória estava no passado e seus habitantes entregavam-se aos encantos de uma vida de luxúria e prazer;
1.2 Geografia. Sardes foi a capital da Lídia no século VII a.C. e era uma das cidades mais magníficas do mundo nesse tempo. Localizada a cerca de 24 Km de Esmirna e situada no alto de uma colina, ela era fortificada por uma grande muralha, seus soldados e habitantes se sentiam imbatíveis e pensavam que jamais cairiam nas mãos dos inimigos. Mas, a cidade orgulhosa caiu nas mãos do rei Ciro da Pérsia em 529 a.C., quando este a cercou por 14 dias, e depois a invadiu com seu exército, quando os soldados de Sardes estavam dormindo. Um fato interessante é que, cerca de trezentos anos depois, por volta de 218 a.C., Antíoco Epifânio dominou a cidade da mesma forma. As duas invasões ocorreram por causa da autoconfiança e falta de vigilância dos seus habitantes;
1.3 Religião. Como as demais cidades da Ásia Menor, Sardes estava completamente comprometida com a idolatria, pois, tinha como padroeira a deusa Cibele, que era creditada com o poder especial de restaurar vida aos mortos. No entanto, para a Igreja que estava espiritualmente morta naquela cidade, somente o Senhor Jesus, o que tem os sete Espíritos de Deus, poderia restaurá-la (Ap 1.4).
II - A CARTA À IGREJA DE SARDES
A Igreja de Sardes tornou-se como a cidade: em vez de influenciar, foi influenciada. Era como sal sem sabor ou uma candeia escondida (Mt 5.13-16). Apenas tinha nome e fama, mas não tinha vida (Ap 3.1). Jesus enviou uma carta revelando a necessidade de um reavivamento urgente, pois, havia muitos crentes mortos, e outros, dormindo, precisando ser despertados (Ap 3.3,4).
2.1. “Ao anjo da Igreja” (Ap 3.1 a). Não podemos afirmar, ao certo, quem era o anjo (pastor) da Igreja de Sardes. No entanto, podemos deduzir que ele conhecia muito bem os problemas daquela Igreja. Todas as cartas foram enviadas ao anjo da Igreja (Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14,22) porque ele era a pessoa mais indicada, não apenas para transmitir o conteúdo da carta aos cristãos daquela localidade, como também corrigir os erros doutrinários e conduzir a Igreja a um genuíno avivamento;
2.2. “Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas” (Ap 3.1 b). A expressão “sete Espíritos” significa: a multiforme operação do Espírito Santo, como podemos ver em (Is 11.1,2): “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. Quanto as “sete estrelas” Jesus referiu-se aos anjos (pastores) das Igreja, conforme (Ap 1.20);
2.3. “Eu sei as tuas obras” (Ap 3.1 c). Já vimos em lições anteriores que, em todas as cartas, Jesus diz: “Eu sei as tuas obras” ou “Eu conheço as tuas obras” (Ap 2.2,9,13,19; 3.1,8,15) o que significa dizer que Ele não está alheio ao serviço que prestamos em prol do Reino de Deus aqui na terra. No entanto, o Senhor Jesus não fez menção, nem elogiou as boas obras de Sardes, como em outras cartas, tais como: o trabalho e a paciência de Éfeso (Ap 2.2); a perseverança na fé da Igreja de Pérgamo (2.13); o amor, o serviço, a fé e a paciência dos crentes de Tiatira (Ap 2.19); pelo contrário, o Senhor Jesus diz: “Não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus” (Ap 3.2);
2.4. “Tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3.1 d). A Igreja de Sardes vivia apenas de aparência, pois, aos olhos dos habitantes da cidade, ela existia e estava presente: “tens nome de que vives”; mas, aos olhos daquEle que são como chamas de fogo, era uma Igreja morta, sem vida e sem vigor espiritual “mas, estás morta”. Escrevendo aos romanos, o apóstolo Paulo disse que o cristão deve considerar-se morto para o pecado e vivo para Deus (Rm 6.11,13); mas, em Sardes, estava havendo o inverso: muitos crentes estavam vivos para o pecado e mortos para Deus;
2.5. “Sê vigilante” (Ap 3.2 a). O termo “vigiar” significa “estar atento”, “estar vigilante”. Esta foi a primeira recomendação do Senhor Jesus àquela Igreja. A vigilância é uma atitude exigida a todo cristão (Mt 24.42; Mc 13.37; Lc 21.36; At 20.31), mas, principalmente, para os crentes sinceros e fiéis que estavam vivendo entre os mortos. Em outras palavras, o Senhor Jesus estava dizendo: se não vigiares, poderás morrer também! Assim como a cidade fora invadida duas vezes por falta de vigilância, o mesmo poderia ocorrer com o remanescente fiel, caso eles não vigiassem;
2.6. “Confirma os restante que estava para morrer” (Ap 3.2 b). Cristo ordena livrar “os que estão destinados à morte”. A expressão “confirma” não significa confirma sua morte, e sim, confirma sua fé (At 14.22; 15.32; 16.5; 18.23; I Pe 5.10; II Ts 3.9).
Isto nos ensina que a Igreja não estava morta por completo, pois sempre houve, e sempre haverá um remanescente fiel (Ap 2.6,13,24; 3.4). É por esta razão que o Senhor Jesus diz: “Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso” (Ap 3.4);
2.7. “Não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus” (Ap 3.2 c). Esta exortação do Mestre nos ensina que não basta ter obras, serviços prestados e trabalhar para o Senhor. É preciso que as obras sejam perfeitas. Mas, o que é uma obra perfeita?
É uma obra feita de todo coração (Cl 3.23), com alegria (Sl 100.2) e para a glória de Deus (I Co 10.32). Na primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo enumera seis tipos de “obras”, a saber: madeira, feno, palha, prata, ouro e pedras preciosas (I Co 3.12). Somente as obras que permanecerem é que serão recompensadas (I Co 3.13-15);
2.8. “Lembra-se, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o” (Ap 3.3 a). A Igreja de Sardes não poderia queixar-se por não conhecer a doutrina. As palavras do Senhor Jesus são enfáticas: “Lembra-se, pois, do que tens recebido e ouvido” o que significa dizer que os cristãos já haviam recebido o genuíno Evangelho. A Bíblia nos exorta a lembrar das palavras que foram ditas pelos profetas (Jd 1.17) e das palavras do Senhor (Lc 24.6,8; Jo 15.20); inclusive, uma das atribuições do Espírito Santo é lembrar as palavras do Senhor (Jo 14.26). Este lembrar implica que os cristãos deveriam também, guardar, ou seja, cumprir, obedecer;
2.9. “E arrepende-te (Ap 3.3 b)”. Arrepender-se significa sentir tristeza por haver violado as leis divinas e ter o desejo de voltar-se a Deus, implorando o perdão e o favor divino. Deus exige arrependimento não apenas dos pecadores (Mt 3.11; 4.17; Mc 1.15; 2.17; Lc 3.3,8; At 3.19; 17.30), mas também daqueles cristãos que não andam em sinceridade (Ap 2.5; 2.16; 21,22; 3.3,19). O Senhor Jesus esperava que ao receberem aquela carta, os cristãos se arrependessem dos seus pecados para receberem a vida (At 11.18);
2.10. “E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei (Ap 3.3 c)”. A cidade de Sardes fora invadida e dominada duas vezes porque se sentia muito segura, e não vigiou. Jesus alerta a Igreja que, se ela não vigiar e não acordar, ele virá a ela como o ladrão de noite, inesperadamente. Em seu sermão profético, o Senhor Jesus ensinou sobre a vigilância, comparando a Sua vinda como a ação de um ladrão, ou seja, em momento inesperado (Mt 24.43,44). Os apóstolos também falaram acerca de Sua vinda “como um ladrão” (I Ts 5.2,4; II Pe 3.10). Porém, quando Jesus disse a Igreja de Sardes que “viria como um ladrão” não estava se referindo a Sua Segunda Vinda, e sim, a um juízo iminente, ou seja, que poderia ocorrer a qualquer momento;
2.11. “O que vencer será vestido de vestes brancas” (Ap 3.5 a). Nas páginas da Bíblia Sagrada, vestes brancas falam de pureza e santidade. Elas aparecem diversas vezes no livro do Apocalipse (Ap 3.5,18; 4.4; 6.11; 7.9,13; 19.14). Mas, quando Jesus se refere a uma promessa aos vencedores, esse “andar” é escatológico, ou seja, futuro, e significa que os vencedores poderão estar na companhia de Cristo por toda eternidade;
2.12. “De maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida” (Ap 3.5 b). Nenhum outro livro recebe tanta importância nas Sagradas Escrituras do que o livro da vida. Ele é mencionado em (Êx 32.33; Sl 69.28; Dn 12.1; Lc 10.20; Fl 4.3). Quando Jesus diz que jamais riscará o nome dos vencedores do livro da vida não está se referindo a uma predestinação fatalista, em que alguns cristãos afirmam “uma vez salvo, salvo para sempre”; mas, pelo contrário, uma predestinação condicional, uma promessa para aqueles que vencerem; e vencer, significa: perseverar até o fim (Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13);
2.13. “E confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Ap 3.5 c). Esta promessa nos faz lembrar o que disse Jesus a seus discípulos: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32). A expressão “confessar”, neste texto significa: “testificar que pertence a Mim”, ou seja, aqueles que confessam a Cristo, e não se envergonham do Seu nome, além de terem os seus nomes confirmados no livro da vida, serão, no futuro, confessados por Cristo diante do Pai e dos seus anjos.
CONCLUSÃO
Como pudemos ver, a Igreja de Sardes tinha o nome de quem estava viva, mas estava morta; em vez de influenciar a cidade, foi influenciada. Por esta razão, o Senhor Jesus apresenta-se como Aquele que tem os sete Espíritos de Deus, ou seja, o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Mas, para que a mesma viesse a ser restaurada era preciso ser vigilante, lembrar-se do que tinha recebido e ouvido e arrepender-se dos seus pecados. No entanto, nem todos estavam corrompidos. Havia ali também cristãos sinceros que não contaminaram suas vestes. Por isso, o Senhor Jesus lhes diz que estes andariam com Ele; e, aos vencedores, Ele prometeu que estes seriam vestidos de vestes brancas, não teriam seus nomes riscados do livro da vida; e que Ele o confessaria o seu nome diante de Seu Pai e diante dos Seus anjos.
REFERÊNCIAS
- BÍBLIA de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD.
- STAMPS, Donald C. BÍBLIA de Estudo Pentecostal. CPAD.
- ANDRADE, Claudionor de. Os Sete castiçais de ouro. CPAD.
- __________, Dicionário Teológico. CPAD.
- LOPES, Hernandes Dias. Estudos no livro de Apocalipse. Hagnos.
- SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse, versículo por versículo. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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