Ap 3.7-13
INTRODUÇÃO
Dentre as sete igrejas, endereçadas nos capítulos segundo e terceiro do Apocalipse, somente as de Esmirna e Filadélfia não recebem nenhuma palavra de repreensão, mas de advertência. Apesar de que a questão da “pouca força” parece ser uma reprimenda suave, contanto que compreendamos isto como força espiritual, e não como a inutilidade da igreja diante do mundo. A despeito dessa advertência gentil, o caráter desta igreja está muito acima do da maioria das outras igrejas, pois o que é dito muito provavelmente se aplica a um remanescente dentro da igreja de Filadélfia, e não aquela igreja inteira. Esta igreja podia ter pouca força, mas era muito fiel (CHAMPLIN, 2002, p. 421 grifo nosso).
I – IMPORTANTES INFORMAÇÕES SOBRE A CIDADE
1.1 Nome. A cidade de Filadélfia gozava de uma localização estratégica de acesso entre os países antigos de Frígia, Lídia e Mísia. Foi fundada pelo rei de Pérgamo Átalo II, que no segundo século a.C. Diz a história que ele amava tanto a seu irmão Eumenes que apelidou-o de "philadelphos" (o que ama a seu irmão). Ele foi conhecido por sua lealdade, dando assim origem ao nome da cidade (Filadélfia que significa “amor fraternal” ou “amor de irmão”). Nos tempos do NT Filadélfia era a segunda cidade mais importante de Lídia. Filadélfia estava perto do limiar de um trecho fértil da região do planalto, o que lhe dava grande parte de sua prosperidade. (CHAMPLIN, 2004, pp. 727-728 – grifo nosso).
1.2 Localização Geográfica. Filadélfia era uma cidade da província romana da Ásia Menor. A cidade era chamada “a porta do Oriente”. A cidade servia como base para a divulgação do helenismo (cultura grega) às regiões de Lídia e Frígia. Localizava-se num vale no caminho entre Pérgamo e Laodiceia. Filadélfia foi destruída por um terremoto em 17 d.C. e reconstruída pelo imperador Tibério, e depois de ser reconstruída, foi chamada de Neocesaréia (a nova cidade de César). Durante o reinado de Vespasiano, foi também chamada de Flávia (nome da mulher dele, e a forma feminina de um dos nomes dele). Atualmente, a cidade de Alasehir (na atual Turquia) fica no mesmo lugar, construída sobre as ruínas da antiga Filadélfia (CHAMPLIN, 2004, pp. 727-728 grifo nosso).
1.3 Religião. “A região produzia uvas, e o povo especialmente honrava a Dionísio, o deus grego do vinho. Também era chamada de pequena Atenas, por ter muitos templos dedicados aos deuses” (LOPES, 2006, p. 6). Como quase todas as cidades do império, Filadélfia cultuava o imperador e praticava o paganismo romano. Além disso, possuía grandes templos e muitas festas religiosas, seguindo os rituais pagãos.
II – CARACTERÍSTICAS DA IGREJA DE FILADÉLFIA
O Senhor Jesus introduz a carta falando de seus atributos como santidade e verdade (Ap 3.7-a) e ainda acrescenta ser o possuidor da chave de Davi, “que abre e ninguém fecha e fecha e ninguém abre” (Ap 3.7-b). Esta expressão está em linha com (Is 22.22-25), que nos mostra o senhorio absoluto de Cristo sobre a terra e, especialmente, sobre a Igreja. (Mt 28:18). Após identificar-se, o Senhor relata algumas características dos crentes de Filadélfia. Vejamos quais são:
2.1 Ap. 3.8-a “Conheço as tuas obras...”. Percebe-se que não somente a cidade, mas a própria igreja destacava-se por seu amor – a primeira virtude desta igreja. Que se expressa em primeiro lugar, em obediência implícita aos Seus Mandamentos (Jo 14:15,21,23; 15:10; I Jo 2:5) e o amor fraternal (entre irmãos), que representa mais intimamente “afeto terno” (I Co16.22; Jo 21.15-17);
2.2 Ap. 3.8-b “... guardaste a minha palavra...”. Destaca-se aqui a segunda virtude desta igreja: fidelidade. Aurélio diz que fiel é a pessoa que é leal, honrado, íntegro. Depois do amor é a principal característica de um verdadeiro servo de Deus. Afinal de contas, ele preza pela fidelidade dos seus servos (Nm 12.7; I Sm 12.24; I Co 4.2);
2.3 Ap. 3.8-b “...e não negaste o meu nome...”. Isto indica que os cristãos mesmo debaixo das mais ferozes perseguições confessavam com firmeza sua fé e testemunho de que serviam a Cristo. E procedendo assim, esses fiéis seriam recompensados “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.” (Mt 10.32).
III – AS DIFICULDADES DA IGREJA DE FILADÉLFIA
3.1 Ap. 3.8-c “... tendo pouca força”. A pouca força deve referir-se à pequenez da congregação ou à sua falta de recursos. A sua fortaleza é afirmada no fato de que eles guardavam ou observavam a Palavra.
3.2 Ap. 3.9-a“...Sinagoga de Satanás”. A presente expressão, ocorre aqui e em Ap. 2.9 nas igrejas de Esmirna e Filadélfia respectivamente. Nas igrejas de Esmirna e Filadélfia, os gnósticos tinham fundado duas sinagogas, no dizer dos tais gnósticos estas sinagogas eram o “lugar” do auge, de todo o saber (deles). Os que “se dizem judeus” fala de certos opositores que estavam naquela igreja, mas eram enganadores que ensinavam o povo a praticarem abominações contra o Senhor. Diante dos olhos divinos, elas foram e são classificadas: “de sinagogas de Satanás” (Ap. 2.9; Ap. 3.9). “Os chefes gnósticos, segundo se diz, degradavam a pessoa de Cristo e sua missão; negavam também a possibilidade da encarnação do Verbo, Jesus, o filho eterno (Jo 1.14); e negavam a expiação pelo sangue de Cristo.
(SILVA, 1996, p. 32 grifo nosso).
IV - IMPORTANTES INFORMAÇÕES SOBRE CARTA
4.1 Ap. 3.8-a “...uma porta aberta”. A porta aberta pode ser a oportunidade missionária peculiar a Filadélfia, na fronteira da Frígia. Literalmente falando, “a porta aberta diante” da igreja de Filadélfia, aponta para sua posição geográfica na rota que ligava Jerusalém a capital do império, Roma. Profeticamente, porém, refere-se à era missionária da Igreja, que começou nos fins do século XVIII e que chega até nossos próprios dias. “Todos os viajantes vindos de Roma e todos os de Esmirna que se dirigiam ao coração da Ásia Menor passavam em Filadélfia. A passagem quase obrigatória desses viajantes por Filadélfia representava, para a igreja, uma “porta aberta diante de ti”, para evangelização e testemunho. Por ela, podiam ser alcançados até viajantes de longínquas regiões e cidades...” (SILVA, 1996, p. 32).
4.2 Ap. 3.10-b “te guardarei da hora da tentação”. O termo “guardar” deriva-se do grego: “psilaké”. Os discípulos em Filadélfia seriam guardados dum período de provação que afligiria o mundo. Isto pode ser uma menção à perseguição que começou no reinado de Domiciano e que causou terrível sofrimento e a morte de centenas de milhares de pessoas. Esta expressão é geralmente tomada como uma promessa que a igreja fiel não passará pela Tribulação, sendo antes arrebatada. A referência neste versículo sobre a “hora da tentação”, é um termo técnico para descrever o período futuro e sombrio da Grande Tribulação, e na sua fase final. “eu te guardarei da hora DA tentação” indicam que a Igreja não passará pela Grande Tribulação que perdurará sete anos (1Ts 4.13-17). A palavra “DA” significa “para fora de” e em si traz a ideia de ser guardado da tribulação (não meramente conservado através dela, como alguns asseveram).
V – EXORTAÇÕES E PROMESSAS FINAIS
Percebemos que apesar de não constar nenhuma repreensão na carta endereçada a fiel igreja de Filadélfia, temos uma frase de exortação, que tem por objetivo avisar aquela igreja de pelo menos três coisas:
5.1 Ap 3.10-a “Eis que venho sem demora...”. A palavra “demora” no grego “okneõ” significa “ser vagaroso, tardar”. Logo a presente expressão é uma exortação a todos os cristãos para aguardar a volta do Senhor, sem esmorecer, pois seu retorno é iminente (está prestes a acontecer). Quando não sabemos, mas temos certeza que ocorrerá (1Ts 4.13-18).
5.2 Ap 3.10-b “...guarda o que tens...”. A verbo “guardar” no grego “phulassõ” significa: vigiar, conservar, manter. Jesus queria deixar claro que apesar de os cristãos desta igreja estarem bem espiritualmente, deveriam permanecer assim até o seu retorno. Logo fica descartada a ideia de que “uma vez salvo, salvo para sempre”, pois aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt 24.13). Na verdade, aqueles cristãos deveriam manter o amor, e a fidelidade a Deus virtudes estas destacadas pelo Senhor na carta (Ap 3.8).
5.3 Ap. 3.10-c “...para que ninguém tome a tua coroa”. Segundo a história grega, na Grécia antiga, em Olímpia, de quatro em quatro anos, se realizavam os jogos olímpicos desde o ano 776 a.C. Aos vencedores se outorgava uma coroa – a coroa da vitória – formada de folhas de Oliveira entrelaçadas. Paulo se serve frequentemente de figuras dessas competições, por conhecer a Grécia (At 17.15; 18.5), por certo, devia estar familiarizado com elas. Em (2Tm 2.5, 4.7-8), lemos: “...se alguém milita, não é coroado se não militar legitimamente”.
5.4 Ap. 3.12 “...coluna no Templo do meu Deus”. A Igreja do Senhor, já na presente dispensação é a “Coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15b), e o que ela representa na atualidade, será, sem dúvida alguma na eternidade. Claro está, que “coluna no templo” é também uma figura de linguagem, significa que os crentes de Filadélfia (e a Igreja Universal) haveriam de estar sempre na presença de Deus, pois Ele mesmo é o Templo da Jerusalém Celeste (Ap 21.22). O terremoto do ano 17. d.C., que destruiu Sardes, também atingiu Filadélfia e as colunas de Filadélfia racharam e caíram, mas as colunas no verdadeiro templo de Deus jamais seriam destruídas "Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...".
CONCLUSÃO
A igreja de Filadélfia não transigiu nem cedeu às pressões. Ela preferiu ser “pequena” e fiel a ser “grande” e mundana. Como identificar uma igreja fiel? Certamente Jesus julga por critério diferente do nosso. Ele pode ver uma igreja “pobre” ou “fraca” como uma congregação fiel, dedicada e perseverante. Ao invés de tentar impressionar os homens, devemos nos dedicar ao desenvolvimento do caráter que agrada a Deus como fez a igreja de Filadélfia.
REFERÊNCIAS
• VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
• CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado versículo por Versículo. HAGNOS.
• BÍBLIA de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação
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