Tg
2.14-26
INTRODUÇÃO
Neste
Domingo iniciaremos o 3º trimestre de Lições Bíblicas, e teremos como tema do
trimestre: “Fé e Obras – Ensinos
de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica”. Tal tema será comentado pelo Pr.
Eliezer de Lira e Silva, que utilizará como livro-texto do referido
tema a Epístola de Tiago. Esta Epístola pertence à classificação de literatura
na Bíblia denominada "literatura de
sabedoria". Seu propósito é caracterizado por instruções para o viver
diário e por uma compreensão das perplexidades da vida. Exemplos deste tipo de
literatura no Velho Testamento são os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes. Assim, a Epístola de Tiago
é considerada como o “Livro de Provérbios” do Novo
Testamento. Nesta Epístola encontramos paralelismos com os ensinos do Sermão do
Monte. Em seus 108 versículos, há nada menos que 54 mandamentos. O livro
enquadra-se na categoria das Epístolas Gerais, sendo dirigida aos
crentes em geral. Desejo a todos uma excelente aula!!
I. A BIOGRAFIA DE TIAGO
1. Seu Nome. O nome Tiago tem sua origem
de uma tradução através do latim “Iacobus” que provém da palavra grega “Yakobos”, que por sua vez é uma transliteração do nome hebreu “Ya'akov” (יעקב) ou Jacó. Assim, o
significado do nome Tiago é “o que suplantou”, e
era um nome comum entre os judeus.
2. Seu Caráter. Ele era um homem íntegro, de vida santa,
arraigado à moralidade prática da lei. Não obstante ter sido um homem de
caráter íntegro, era estimado pelos seus compatriotas, tendo sido chamado de
Tiago, “o Justo”. Certamente era casado (cf. 1 Co 9.5).
3. Sua Vida Devocional. Segundo a História, era também homem de
oração. Dele, se diz que tinha os joelhos calejados, parecidos com os de um
camelo, pelo fato de passar horas e mais horas ininterruptas em oração pelos
seus irmãos de raça.
4. Seu Ministério e Atuação. Tiago foi um dos líderes da Igreja Primitiva,
em Jerusalém, tendo presidido o primeiro concílio, conforme At 15.13-29. Paulo
considera-o “coluna” da Igreja, juntamente com Pedro e João (Gl 2.9), tendo-o
como conselheiro (At 21.18). Tiago tinha grande influência ministerial. Pedro,
ao ser solto da prisão, mandou avisá-lo (At 12.17).
5. Sua Morte. De acordo com Josefo, historiador,
corroborado por Hegesipo, “judeu cristão”, Tiago morreu apedrejado por ordem do
sumo sacerdote Anano. Este, reunindo o Sinédrio, colocou o apóstolo diante do
templo e ordenou que ele negasse que Jesus era “o filho de Deus e juiz do
mundo” (Halley). Foi jogado ao chão, apedrejado e espancado. Agonizante, ele
orou como seu irmão, Jesus: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Seu martírio ocorreu por volta do ano 62 d.C..
6. Seu Exemplo. Esse corajoso servo de Deus, irmão de Jesus,
deixou-nos um exemplo extraordinário de fé e humildade. Sendo irmão do
Salvador, nunca se aproveitou disso para ter privilégios. Pelo contrário, foi
humilde e fiel até a morte.
II. A EPÍSTOLA DE TIAGO
De todos os livros do Novo
Testamento, Tiago é o menos doutrinário, porém o mais prático. Por esta razão,
ele foi grandemente negligenciado e considerado num nível inferior aos dos
outros escritos neotestamentários. Contudo, as palavras deste livro prático têm
o encanto maravilhoso de alguém que foi mui achegado ao Senhor Jesus durante
seu ministério terreno, de alguém que o compreendeu erroneamente no começo,
mas veio a reconhecê-lo como o Senhor da Glória. As admoestações desta carta
tornam seu estudo oportuno hoje, pois elas falam acerca dos problemas da vida
cotidiana. Este livro é especialmente relevante, para o leitor moderno, pela
ênfase, que dá aos aspectos e problemas sociais e às tarefas da religião dentro
do contexto social.
1. Autoria.
O autor se identifica como "Tiago,
servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo" (1.1). Este
"Tiago" deve ter ocupado um lugar importante na igreja ou movimento
cristão primitivo, que o distinguia de todos os outros com esse nome. Ele
presumia que seus leitores iriam conhecê-lo por este título e pela atitude
autoritária da carta. No entanto, sabe-se que há quatro homens chamados Tiago
no Novo Testamento:
a)
Tiago, o filho de Zebedeu e irmão de
João, tendo sido um dos primeiros seguidores de Jesus (Mc. 1.19) e um dos doze (Mc.
3.17). Segundo Atos 12.1,2, ele foi o primeiro dos doze a ser morto. Ele foi
decapitado por Herodes Agripa I, por volta de 44 d.C.
b)
Tiago, o filho de Alfeu (Mc 3.18),
era o filho de outra Maria (Mc. 15.40). Uma vez que Mateus (Levi) é também
chamado o filho de Alfeu (Mc 2.14), alguns pensam, contudo, erroneamente, que
este Tiago e Mateus eram irmãos. Em Marcos 15.40, este Tiago é também chamado
"o menor". Depois da lista
dos apóstolos contida em Atos 1.13, este Tiago não é mencionado outra vez por nome
no Novo Testamento.
c)
Tiago, o pai do apóstolo Judas, é
mencionado em Lucas 6.16 e Atos 1.13. Nas listas de Mateus 10.3 e Marcos 3.17,
este Judas é chamado Tadeu, em
alguns manuscritos antigos, e Labeu, em manuscritos menos antigos. Este Tiago é
desconhecido, a não ser como o pai de Judas (não o Iscariotes).
d)
Finalmente, há Tiago, o irmão de nosso
Senhor Jesus Cristo (este termo é usado por Paulo em Gl 1.19). Ele está
relacionado entre os irmãos de Jesus em Marcos 6.3 e Mateus 13.55. Aparentemente,
ele teve alguma influência na igreja primitiva, e, após a morte de Tiago, o
filho de Zebedeu, em 44 d.C, ele se tornou o porta-voz para a igreja em
Jerusalém, uma posição que manteve até sua morte, em 62 d.C.
Destes
quatro homens, Tiago, o pai de Judas (Mc 3.17) não pode ser e não é seriamente
considerado como o autor, porque ele em nenhuma outra parte é conhecido. Tiago,
o filho de Alfeu (Mc 3.18; 15.40), foi um dos doze e possivelmente poderia ter
escrito a carta. Todavia, não há absolutamente nenhuma evidência na história da
igreja para ligar seu nome com a carta. Tiago, o filho de Zebedeu, era um dos
doze e um dos três discípulos íntimos do Senhor. Ele aparentemente era tido em
alta consideração pela igreja primitiva em Jerusalém. Contudo, esta carta teve
problemas em ser aceita no cânon, talvez porque as igrejas apostólicas e
subapostólicas reconhecessem que ela não fora escrita por um dos doze. Além
disso, Tiago, filho de Zebedeu, foi martirizado por Herodes Agripa I em 44 d.C.
É de maneira geral considerado, pelos estudiosos, que esta data prematura
apenas obstaria uma autoria pelo filho de Zebedeu. A absoluta falta de apoio
patrístico e de manuscrito antes do quinto século confirmaria esta conclusão. Sendo
assim, deve ser de alguma significação o fato de que o autor não se identifica
como um apóstolo, como o fazem Paulo e Pedro, em suas cartas. A ausência deste
termo em 1:1 apoia a conclusão de que nenhum dos dois apóstolos chamados Tiago
escreveu esta carta. Diante disto, resta apenas Tiago, o irmão de nosso Senhor,
como possível autor. Assim, segundo a tradição, a autoria da Epístola é dada a
Tiago, o irmão do Senhor.
2. Data.
Nem a evidência
interna nem a externa ajuda muito em determinar com precisão a data desta
epístola. O conteúdo da mesma certamente parece indicar uma forma primitiva de
organização cristã na Igreja. Alguns estudiosos como Mayor e outros apresentam
argumentos na defesa de uma data muito afastada (cerca de 45 A. D.), baseados
no fato de a epístola omitir qualquer referência ao Concílio de Jerusalém e à
resolução que lá fora tomada. Por outro lado, outros estudiosos como
Wordsworth, Farrar e Ewald defendem uma data mais avançada (cerca de 62 A. D.),
fundamentados no fato de a epístola ter sido escrita por Tiago pouco antes de
seu martírio, a fim de corrigir certas interpretações errôneas da doutrina de
Paulo quanto à justificação pela fé. Todavia, segundo o Pastor Elinaldo Renovato, que comentou a Epístola de Tiago no
1º trimestre de 1999, a carta foi escrita por volta do ano 60 d.C., já o Pastor
Antonio Gilberto, em seu livro “A Bíblia
Através dos Séculos”, datou a Epístola em 62 d.C. Mas, a Bíblia de Estudo
Pentecostal situa entre os anos de 45 a
49 d.C. a data da elaboração da Epístola.
Lawrence Richards, em seu livro “Guia
do Leitor da Bíblia”, afirma que a Epístola foi escrita por volta da década
de 40 d.C. Portanto, diante de tais informações e usando o bom senso a data mais
primitiva, de um modo geral, parece ser preferível.
3. Local.
Determinar o local da elaboração desta
Epístola é outro enigma. A maioria dos estudiosos é categórica em apontar a
Palestina, e mais precisamente Jerusalém, como o local de onde Tiago,
possivelmente, tivesse escrito a carta. No entanto, que informação temos para
aceitar Jerusalém, como de fato, sendo o local exato da elaboração da Epístola?
Alguns destes estudiosos, como Hale, cita o texto de Atos 12.17; 15.13-29 e
Gálatas 1.19; 2.9 para apoiar Jerusalém como sendo tal local. Porém, tais textos em nada ajudam
visto que o Concílio de Jerusalém ocorreu por volta de 48 d.C. e, como
argumentam alguns estudiosos, a Epístola de Tiago omite qualquer referência
ao Concílio de Jerusalém e à resolução que lá fora tomada. Já a Epístola de
Paulo aos Gálatas foi escrita, aproximadamente, um ano depois deste concílio
por volta de 49 d.C. Além disto, como já dito, nem a evidência
interna nem a externa ajuda muito em determinar com precisão a data desta
epístola, e muito menos, o local exato de sua elaboração. Por essa razão, com
prudência e bom senso, melhor é acatamos os informes da Bíblia de Estudo
Thompson e do Pastor Eliezer de Lira que, assevera que tal local da elaboração
da Epístola é DESCONHECIDA.
4.
Destinatário.
Tiago
endereçou sua carta "às doze tribos
que são da Dispersão" (1.1). A palavra "Dispersão" era um
termo técnico para os judeus que estavam espalhados pelo mundo gentio. A
expressão, "às doze tribos", era usada pelos judeus como um sinônimo
para expressar a unidade do povo escolhido de Deus (Mt 19.28; At 26.7). O termo
"Dispersão" ocorre em somente duas outras passagens no Novo
Testamento (Jo 7.35; 1 Pe 1.1). A referência em João tem o significado comum
dos judeus fora da Palestina. A referência em 1 Pedro provavelmente tem uma
significação espiritual de cristãos de qualquer origem nacional. O acréscimo
em Tiago 1.1 de "às doze tribos" parece excluir gentios. A ausência
de "às doze tribos" em 1 Pedro implicaria um significado espiritual;
a presença do termo em Tiago inferiria o oposto. Portanto, o que se pode dizer
acerca dos destinatários é que eles eram judeus cristãos que viviam fora da
Palestina.
5. Tema e Versículo-Chave
Comentando a Epístola de Tiago, o Pr.
Elinaldo Renovato diz sobre o tema: “Embora
haja comentaristas que vêem “às doze tribos dispersas”, como tema principal da epístola,
parece-nos razoável aceitar que o tema principal de Tiago é “a religião pura”, no seu aspecto
prático encontrada em Tg 1.27”. É com base nesse tema, que Tiago faz uma
comparação entre a verdadeira e a falsa espiritualidade, a primeira chamada por
ele de ‘religião pura’ (Tg 1.27). Ela deve proceder do coração, ser
compreensiva e manifestar-se em atos positivos. A verdadeira espiritualidade é
a fé em ação. Ser ouvintes da Palavra, e não praticantes, significa enganar a
nós mesmos (Tg 1.22). Devemos combinar a nossa profissão de fé com uma evidência
clara da nossa transformação. Tiago passou bastante tempo (cáp. 2) tratando
desse problema (ou tema). De forma a nos conduzir ao versículo-chave da
epístola: A fé que nos justifica é acompanhada de obras – “A fé sem obras é morta” (Tg
2.26).
6. Conteúdo.
Tiago escreve a judeus convertidos para
dar-lhes conselhos práticos acerca de como viver como verdadeiros cristãos. A
carta contém muitas expressões curtas parecidas aos provérbios que Jesus usou
no Sermão do Monte (Mt 5-7). Os problemas a que o autor se refere em sua carta
mostram as dificuldades que têm aqueles crentes: orgulho, discriminação, amor
ao dinheiro, impulsos incontrolados, hipocrisia e calúnia.
Tiago procura ajudar a superar estas
situações, pelo qual diz que a fé que não é demonstrada por meio de boas obras
é morta (Tg 2.26). Não é suficiente confessar a fé, mas esta deve dar origem a
uma maneira diferente de viver.
7. Resumo.
É necessário um estilo e modo de viver
cristão para mostrar a validade de nossa fé. Deve-se demonstrar que a fé pode
transformar as pessoas porque transformou a nós. Quando a fé é verdadeira, as
boas obras são um resultado automático e demonstra a sua validade por si mesma.
8. Propósitos:
A
Epístola de Tiago é o livro mais prático do Novo Testamento. Assim, o autor
escreveu para dar conselho prático e
encorajar aqueles que estavam sendo
oprimidos. A carta foi escrita para corrigir
certas tendências conhecidas na conduta, para confrontar os cristãos com as responsabilidades da vida cristã. Além
disso, o Pr. Elinaldo
Renovato destaca ainda como propósitos da epístola:
a.
Encorajar os crentes em suas provações.
Os primeiros cristãos experimentaram provações e
tentações as mais diversas. O Diabo os fustigava com as ameaças do Império
Romano; o judaísmo os acusava de traidores e blasfemos. Tiago escreveu-lhes,
exortando-os a terem “grande gozo” nas tentações, sabendo que “a prova” da fé
haveria de produzir paciência (Tg 1.12). Esse ensino está de acordo com o que
Paulo exorta em Rm 5.3-5.
b.
Corrigir doutrinas erradas quanto à salvação.
Havia, entra os destinatários da epístola,
dificuldade em entender a justificação, como aspecto fundamental da salvação. Uns
criam que a justificação era somente pela fé, independente das obras,
interpretando os ensinos paulinos (Gl 6.16); outros, no entanto, talvez
supervalorizavam o sentido das obras. Tiago, então, escreve-lhes para
esclarecer o assunto.
c.
Mostrar o resultado prático da fé.
Tiago mostra que a fé precisa ser vivida,
demonstrada, através de obras que dela resultam, de maneira que os crentes são
exortados “a demonstrarem uma fé ativa, e não uma profissão de fé vazia” (Tg
2.14-16). Conforme afirmado, deve-se observar que nos seus 108
versículos há 54 imperativos, tornando o estilo da carta paranésis (instrução
ética e exortação). Foi escrita como literatura de sabedoria derivada de
experiência pessoal, não apenas de teoria. Esta carta é um quadro da vida
cristã primitiva em meio às mais difíceis condições sociais e num ambiente que
não era simpático, se não completamente hostil.
9. Esboço:
Esboço teológico
1. A Prática da Fé, 1-2.
2. Os Problemas para a Fé, 3-4.
3. As Perspectivas da Fé, 5.
Esboço geral
Introdução (1.1).
1. A Prática da Fé (1.2-2.26).
1.1 Diante das
provações (1.2-18).
a) Os propósitos das provações (1.2-4).
b) A sabedoria para enfrentá-las (1.5-8).
c) A postura diante das circunstâncias (1.9-11).
d) A distinção entre provações e tentações (1.12-18).
1.2 No viver uma vida
justa (1.19-27).
1.3 Por rejeitar a
distinção (2.1-13).
a) A insensatez da distinção (2.1-7).
b) A obediência à lei do amor (2.8-13).
1.4 O princípio da fé
deve ser expresso em obras (2.14-26).
2. Os Problemas para
a Fé (3.1-4.17).
2.1 Os Pecados da
língua (3.1-12).
2.2 Domínio próprio (3.13-17).
2.3 Submetendo-se a
Deus (4.1-10).
2.4 Julgamento (4.11-12).
2.5 Discernindo a
realidade (4.13-17).
3. As Perspectivas da
Fé (5.1-20).
3.1 Repensando o
futuro (5.1-6).
3.2 Os recursos
presentes (5.7-20).
a) Paciência (5.7-12).
b) Oração (5.13-18).
c) Compadecimento (5.19-20).
III.
TIAGO VS PAULO: UM CONFRONTO DE ENSINO?
Alguns olharam com suspeita para a
epístola de Tiago por causa de uma evidente falta de instrução teológica
cristã. Muitos, seguindo Martinho Lutero, que denominou esta epístola uma
"epístola bem desviada",
criticaram esta carta, porque acham que ela contradiz a doutrina paulina da
justificação pela fé. Todavia, Tiago estava exortando seus leitores a
transcenderem o judaísmo formalístico na prática, como já o haviam
transcendido em sua fé no Senhor Jesus Cristo. Vejamos, então, a argumentação
de cada Apóstolo e a conclusão desta aparente contradição.
1. A argumentação de Paulo.
a) A justificação de Abraão.
Paulo não aceita o valor das obras
da lei para a justificação do homem. Em Rm 4.1-5, ele diz que mesmo Abraão foi
justificado pela fé, sendo-lhe isso imputado como justiça (Gl 3.7,8).
b) O desvalor das obras da lei.
O apóstolo, considerando que todos
estão debaixo do pecado (Rm 3.9), ressalta que “não há quem faça o bem, não há nenhum
só” (Rm 3.12b). “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas
obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
c) A maldição da lei.
Paulo
afirma claramente que, quanto à salvação pela fé em Cristo, “aqueles, pois, que
são das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gl 3.10a), visto que a lei
considera maldito todos os que não permanecem “em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las”. “Porque a letra (as exigências da lei) mata, e o Espírito vivifica” (2 Co 3.6).
d) A lei serviu de aio.
O Apóstolo diz que a lei serviu para
“nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gl 3.24), e
conclui: “Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.25).
e) A justificação é somente pela fé.
A
Palavra afirma ainda como doutrina que “o homem não é justificado pelas obras
da lei, mas pela fé em Jesus Cristo”, “para sermos justificados pela fé em
Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne
será justificada” (Gl 2.16). Ver Gl 5.3,4 e Rm 5.1.
2. A argumentação de Tiago.
a) A fé sem as obras pode salvar?
Tiago faz
uma pergunta incisiva: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé
e não tiver obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?” (2.14).
b) A fé sem as obras é morta (2.17).
Após
exemplificar o caso de um irmão ou irmã necessitados, e despedidos por um
crente, que os mandar ir em paz, sem, contudo, dar-lhes as coisas necessárias,
Tiago afirma categoricamente que “a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma”.
c) A fé demonstrada pelas obras (2.18).
Tiago
desafia alguém a mostrar a fé sem as obras e garante que pode mostrar a fé
pelas obras. Ele, como Paulo, toma o exemplo de Abraão, destacando o aspecto
visível da fé do patriarca, quando ofereceu o seu filho para ser imolado (2.21),
acentuando que a fé cooperou com as obras e estas aperfeiçoaram a fé,
concluindo que “o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé” (2.24).
d) O exemplo de Raabe.
Tiago diz
que Raabe, a meretriz, que acolheu os espias enviados por Josué, creu em Deus e
foi justificada pelas obras. Ou seja: pelo seu ato consciente de que estava
acolhendo servos do Deus Altíssimo (2.25).
3. A aparente discordância
explanada.
Não
há contradição, e muito menos confronto, nos ensinos de Paulo e de Tiago sobre
a justificação pela fé e também pelas obras. Porquanto, tanto em Romanos como
em Gálatas, Paulo trata da justificação do pecador, do ponto de vista de Deus,
e como um ato perante Ele; ao passo que Tiago trata do mesmo assunto, e como um
processo contínuo na vida cristã, aqui no mundo. Paulo no cáp. 4 de Romanos (e
noutras partes desse livro) trata da doutrina fundamental da justificação pela
fé; justificação esta perante Deus, cuja lei o pecador, agora arrependido e
penitente, violara continuamente. Na salvação do pecador a evocação de obras
humanas é um ultraje a Deus. Tiago, porém, no cáp. 2 do seu livro, trata da
mesma doutrina, mas de outro ângulo: o pecador perante o mundo, isto é, o lado
visível da justificação; aquilo que o próximo pode ver no crente. O mundo não
pode ver a fé, mas vê as obras, isto é, a nova vida do crente em Cristo.
Portanto, o pecador é justificado pela fé somente, em Cristo, na presença de
Deus; Mas perante os homens o pecador é justificado pelas obras da luz vista,
nele.
a)
Paulo vê a justificação inicial.
Esta
é ato meritório de Deus e não da justiça obtida pelas obras da lei ou das obras
humanas, quando o homem aceita, pela fé, Jesus Cristo como Salvador.
b)
Tiago vê a justificação progressiva.
É a justificação sob o ponto de
vista das evidências através das obras fé, ou seja, as consequências da fé. O
que, em última análise, irmana-se à santificação, que é o aspecto da salvação
em processo. Isso porque uma fé sem evidências é uma fé morta. Não é a fé salvífica,
pois esta não pode ser estéril.
c)
As causas da justificação.
Não
é a fé inconsequente nem as obras da lei que justificam o homem. Este é
justificado, da parte de Deus: 1) Pela graça: “Porque todos pecaram e destituídos
estão da glória de Deus, sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm
3.23,24); 2) Pelo sangue de Cristo (Rm 5.9) e 3) Pela ressurreição de Cristo (Rm
4.25).
d) O meio da justificação.
Aqui, sim, entra o papel da fé. Ela não
é causa nem é fim. É meio entre a graça e a justificação. E a Bíblia nos dá luz
sobre isso, quando diz: “Pela graça sois salvos, por meio da fé...” (Ef 2.8).
e) O resultado precípuo da fé.
Em
Rm 5.1, lemos: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo”. É o mesmo que dizer: justificados por meio da fé. A
justificação faz parte da salvação. Esta vem da graça, mediante a fé,
resultando na “paz com Deus” por intermédio de Jesus Cristo.
f) As evidências da justificação.
Nesse
ponto, a Bíblia declara no cáp. 2 de Tiago que “a fé se não tiver as obras é
morta em si mesma” (v.17). Isto não é uma contradição entre os sacros escritos
de Paulo e Tiago, pois ambos foram inspirados pelo mesmo Espírito. É que Tiago
aborda a justificação sob ângulo dos efeitos, das evidências, na vida do crente
fiel, enquanto Paulo vê o assunto sob o ângulo das causas da justificação como
ato perante Deus.
g) Paulo também salienta as obras do salvo.
Sim! Após dizer que a salvação não vem das
obras (como causa), ele assevera que Deus nos fez, “criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.10). As obras dos salvos são tão importantes, que Paulo diz que Deus “recompensará
cada um segundo as suas obras”. Ele dará “vida eterna, aos que, com
perseverança em fazer o bem, procuram glória, honra e incorrupção” (Rm 2.6,7), mas
“indignação e ira” aos desobedientes, e “tribulação e angústia sobre toda alma
do homem que faz o mal” (Rm 2.8,9).
CONCLUSÃO
A
epístola de Tiago tem ensinamentos práticos para os dias de hoje e um
relacionamento muito estreito com os ensinos de Jesus. Assim, orientações,
recomendações e mandamentos inspirados pelo Espírito Santo, constantes do
livro, são de muita valia para todos os crentes. Desejo a
todos um excelente trimestre!!
REFERÊNCIAS
Ø HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo
do Novo Testamento. JUERP.
Ø RICHARDS, Lawrence. Guia
do Leitor da Bíblia. CPAD
Ø BOYER, Orlando. Pequena
Enciclopédia Bíblica. CPAD.
Ø GILBERTO, Antonio. A Bíblia através dos
Séculos. CPAD.
Ø BRASIL, Alfalit. A
Descoberta Diária (Novo Testamento). EDITORA VIDA.
Ø LIMA, Elinaldo
Renovato de. Lições Bíblicas. (1º Trimestre de 1999). CPAD.
Ø SOARES, Esequias. Lições
Bíblicas. (2º Trimestre de 1999). CPAD.
Ø SOARES, Esequias. Lições
Bíblicas. (3º Trimestre de 1996). CPAD.
Ø Site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tiago_(nome)
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