Tg
1.5; 3.13-18
INTRODUÇÃO
Muitas
pessoas julgam serem mais sábias só porque alcançaram maiores níveis de estudo
na vida secular. Outros se vangloriam de sua inteligência e se tornam soberbos,
presunçosos e orgulhosos. No entanto, Tiago ensina que aquele que é sábio
demonstra sua sabedoria quando realiza boas obras e sabe se relacionar com os
outros. Assim, aprenderemos nesta lição que a sabedoria terrena, dominada pela
natureza humana, só serve para as coisas deste mundo, porém a que vem de Deus,
não admite intentos maliciosos e não atende a objetivos orgulhosos. Porquanto, o
saber humano é limitado, falho, e mutável a cada ano que passa. Porém, a
sabedoria que vem da parte de Deus, é ilimitada, perfeita e imutável,
consubstanciada na Sua Palavra, que permanece para sempre. Desejo a todos uma
excelente aula!!
I. A DEFINIÇÃO DO TERMO ‘SABEDORIA’.
A palavra
“sabedoria”, também conhecida
como “sapiência”,
vem do termo grego Σοφία, "sofía". Desta
palavra derivam várias outras, como por exemplo, φιλοσοφία -"amor à sabedoria" (filos/sofia). No
Hebraico, a palavra sabedoria é “Hokma”; já no Latim, é “Sapere”
e significa “saber, sentir o gosto de”. Vejamos, porém, a definição desta
palavra em dois sentidos:
1. Secular. A sabedoria, segundo o
Dicionário Online, é:
a) A particularidade, estado
ou condição da pessoa que é sábia;
b) O
excesso de conhecimento, ou seja, erudição;
c) O
conhecimento adquirido a partir da experiência sobre algo ou alguém;
d) E,
para concluir, em que há ou demonstra sensatez; com reflexão.
2. Bíblico. A sabedoria, segundo Orlando Boyer, é a capacidade
de julgar corretamente e agir prudentemente. O Pastor Elinaldo Renovato em sua
definição do referido termo, sob o ponto de vista bíblico, diz que:
a) É guardar os mandamentos do Senhor (Dt 41-6);
b) É saber calar (Jó 13.5);
c) É temer a Deus (Pv 9.10; Jó 28.28);
II.
A NECESSIDADE DE SABEDORIA.
Se observarmos a contextualização dos
textos que servem de base para esta lição, veremos que em Tiago 1.5, o escrito
sacro aborda a sabedoria como uma virtude, não apenas necessária, mas
indispensável para vencermos todo e qualquer tipo de tentação ou provação. Ao
passo que, em Tiago 3.13, o escritor sacro trata da sabedoria, não como virtude
necessária para vencermos as adversidades da vida, mas como a essencial virtude
para domarmos um mal contido entre os nossos membros: a língua; sendo tal
sabedoria a principal característica dos verdadeiros mestres. Vejamos, pois, o
comentário do Dr. F. Davidson sobre os dois posicionamentos de Tiago a respeito
desta temática:
1. Nas
Adversidades da Vida (Tg 1.5)
“As
provações podem trazer muita perplexidade; precisamos de muita sabedoria, se
temos de enfrentá-las vitoriosamente, ou, como no caso de Paulo, se temos de
nos gloriar nas tribulações. Sabedoria significa, em geral, conhecer o melhor
fim e os melhores meios de atingi-lo. Tiago tem em mente, em primeiro lugar, a
compreensão eficaz dos modos de o crente agir. A sabedoria
de cima torna-se necessária para apontar esses modos e dirigir a ação. Tal
sabedoria se obtém por uma completa dependência de Deus, expressa na oração. Por conseguinte, se alguém é falho em
sabedoria, peça-a a Deus, que é infinitamente sábio, e de Sua sabedoria dá liberalmente e não lança em rosto (5). Ele não nos repreende
por nossa falta de sabedoria, porém do Seu tesouro ilimitado Se deleita em dar,
segundo nossa necessidade. Note-se que a promessa se acompanha de certeza: e lhe será dada. Liberalmente
(gr. haplos), isto é, simples, incondicional e generosamente, com
mão larga”.
Observe que, antes
de tratar da temática ‘sabedoria’, Tiago estava tratando de outra temática – a
das provações! Outro detalhe importante é que Tiago aconselha aqueles irmãos em
tom de conversação. Além de que, aqui em Tg 1.5, a sabedoria por ele abordada é
a sabedoria proveniente de Deus!
2. Nos
Relacionamentos Interpessoais (Tg 3.13)
“Depois
de apresentar esses argumentos impressivos, Tiago passa a uma pergunta - Quem
entre vós é sábio e entendido (gr. epistemon)? (13)
"De acordo com Mayor, epistemon usa-se no grego clássico para indicar
pessoa perita ou cientista, em oposição ao que não tem conhecimentos especiais
ou adestramento" (Cent. Bibio). A pergunta
faz-nos retroceder ao vers. 1. Tiago ainda está tratando daqueles que desejavam
ser mestres na Igreja. Para os tais, a sabedoria deve sempre ser uma
qualificação indispensável. Há uma distinção entre conhecimento e sabedoria. O
sábio é aquele que tem fé, é submisso a Deus e ensinado por Ele. É possível
alguém conhecer muita coisa e ter pouca sabedoria. É necessário que um mestre
possua as duas coisas. Se somos ou não capazes de perceber notável diferença
entre sábio e dotado de conhecimentos, isto é
de pouca importância. O ponto prático que Tiago quer sublinhar é que todo
aquele que se arroga uma superioridade que lhe dá direito de ensinar os outros,
esse deve provar do modo prático e modestamente tal superioridade, por meio de
seu bom procedimento entre seus
companheiros cristãos. "A sabedoria
tanto nos ensina fazer como falar" (Sêneca). A expressão condigno
proceder (13) significa uma vida que manifesta verdadeira bondade”.
Bem
diferente de Tiago 1.5, aqui em 3.13, o escritor sacro inicia a temática
‘sabedoria’ com uma pergunta incisiva e tom exortativo. Além desse detalhe, o
pleonasmo retórico utilizado por Tiago mostra a diferença entre ser sábio (gr. sophos/astuto)
e ter conhecimento (gr. episteme/ versado). Assim, para
Tiago, a sabedoria não consiste apenas no conhecimento, na astúcia e na
habilidade, mas antes, em uma profunda compreensão sobre o que é e deve ser a
vida piedosa.
Percebe-se, então, que em ambos os
casos Tiago faz menção da “praticidade da sabedoria”. Também conhecida como “sabedoria
prática”
que em grego é “Phronesis”, que nada mais é senão “a habilidade para
agir de maneira acertada”. Vejamos, pois, alguns exemplos desta sabedoria nas
Escrituras:
ü Abigail – sua
sabedoria fez o rei Davi poupar a sua vida e de sua família (1 Sm 25.1-35);
ü Uma mulher anônima – sua
sábia ação fez com que Joabe poupasse a cidade dela (2 Sm 20.15-22);
ü Um sábio anônimo – que
com sua sabedoria livrou aquela cidade de uma grande destruição (Ec 9.14,15);
ü O Profeta Daniel – este
era o homem mais sábio do Império Babilônico, porém, atribuía a Deus sua
sabedoria (Dn 1.17-20; 2.23-30);
ü Jesus, o Senhor - sua
sabedoria era motivo de admiração em todos que o ouviam (Mt 13.54; Mc 6.2);
ü O apóstolo Paulo – este
pregou e ensinou segundo a sabedoria de Deus (1 Co 2.6,7);
III. OS TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE SABEDORIA.
Há vários tipos de sabedorias das quais podemos classificá-las
em três tipos: A Sabedoria Prática (Phronesis),
A Sabedoria Humana (Antroposofia) e A
Sabedoria Divina (Teosofia). Como já
abordamos a sabedoria prática no tópico anterior, trataremos agora de trabalhar
as outras duas, mas, é claro, segundo a perspectiva de Tiago:
1. Sabedoria carnal ou “Antroposofia” (vv. 14-16).
Segundo Tiago, este tipo de sabedoria tem como motivações de suas ações a
inveja e todo tipo de sentimento faccioso (v.14). Logo, se constata que tal
sabedoria não é proveniente do alto (v.15), e, portanto, só pode causar prejuízos
para o cristão e para a obra de Deus (v.16). O Dr. F.
Davidson comentando o referido texto, diz: “Há, entretanto, uma sabedoria falsa
ou espúria, simulada, que produz inveja e rivalidades. Onde tais sentimentos
existem, não há lugar para ninguém se gloriar sobre outrem, baseado em
privilégios superiores (14). Vê-se a falsidade de tal pretensão nos motejos
amargos que tais pessoas proferem contra os que diferem das opiniões deles. Tal
espécie de sabedoria não é dom divino, recebido nos termos de Tg 1.5-8. É terrena (cf. "a
sabedoria do mundo", 1 Co 1.20),
inteiramente falha de iluminação espiritual. É
natural ou animal. O grego é psychikos, termo que descrevo o homem em Adão (isto é,
"natural"), em contraste com pneumatikos, "espiritual". Daí limitar-se tal sabedoria à
vida meramente física ou animal, sem relação com o divino. É demoníaca, isto é, de
origem satânica, procedendo dos demônios, ou com eles se assemelhando. Sua
fonte é a mesma que põe em chamas a carreira da existência humana (ver v.6).
"Onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão" (16); gr. akatastasia, isto é, desordem, distúrbio, tumulto; daí vem, como aqui,
revolução ou anarquia”.
2. Sabedoria do alto ou “Teosofia” (vv. 17,18).
Enquanto a sabedoria humana tem como fonte de suas motivações à inveja e
todo tipo de sentimento faccioso (v.14). Tiago mostra, em contrapartida, que a sabedoria
divina tem como sua base a justiça e a paz (v.18). O Pastor Claudionor
de Andrade, assim define teologicamente, a sabedoria divina: “Atributo relativo de Deus, através do qual
Ele não somente criou todas as coisas, como também as sustenta, fazendo com que
tudo contribua para a consecução de seus planos, decretos e desígnios”.
Em sua análise, o Dr. F.
Davidson comentando o texto, diz: “Em vivo contraste com essa
falsa sabedoria está a verdadeira. Quanto à sua origem, é lá do
alto (cf. v.15). Sua natureza não é terrena, sensual, demoníaca; antes é
sobrenatural tanto na origem como em sua natureza e suas consequências. Sua
excelência é sétupla: pura pacífica, meiga, conciliadora, misericordiosa, de
bons frutos, simples e sincera (cf. Gl 5.22 ss.; 2 Pe 1.5-9). Tiago
dirige a atenção para as características íntimas da pessoa sábia, visto como
que é íntimo é de primeira importância Pura quer dizer livre de mancha ou contaminação seja qual for.
Quem no seu íntimo não é moralmente puro não começou ainda a ser sábio. Pacífica, isto é, não
dada a conflitos ou dissensões. Não pode haver paz real sem pureza ou retidão.
Meiga, tratável, "docemente razoável", gentil. Gentileza aí não
é tanto ternura ou meiguice, como é imparcialidade, contrastando com
imoderação, exorbitância. "A mansidão de Cristo" é o padrão do
crente, que o leva a submeter interesses pessoais a finalidades mais elevadas. Indulgente, isto é,
fácil de se persuadir; conciliatória, pronta a ser dirigida (gr. eupeithes, pronta a obedecer; donde complacente). Plena de misericórdia e de bons frutos, isto é, sempre disposta a tomar a iniciativa de mostrar
compaixão e oferecer perdão; produzindo bons frutos (obras); porque uma língua
governada pela graça divina pode tornar-se forte influência para o bem. Sem parcialidade, isto
é, não dada a contendas ou disputas acerca de honrarias. Sem hipocrisia, isto é,
sincera, sem pretender ser o que não é, dizendo só aquilo em que se possa
confiar (Moff. "retilíneo, sem rodeios"). Ora, é em paz que se
semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz (18).
Quem possui sabedoria semeia a boa semente que produz justiça, retidão. Semeia
em paz, porque é pacificador. "A messe da justiça é semeada em paz por
aqueles que fazem a paz”.
CONCLUSÃO
Ainda
que elevemos a nossa cultura, a língua e tantos outros conhecimentos, nós não
temos o direito de nos mostrarmos altivos, os donos da verdade, pois de fato
não o somos. Teoricamente, muitos são sábios; porém, relacionalmente imaturos.
Por isso, a sabedoria que vem do alto é a que mais falta neste mundo. Ela é
indispensável para o êxito na vida pessoal, interpessoal, no serviço cristão e
no relacionamento com Deus. Somente a sabedoria divina pode dá solução para os
cruciais problemas que afligem a humanidade. Que Deus em Cristo Abençoe a todos!
Amém!!
REFERÊNCIAS
Ø DAVIDSON, Francis. O Novo Comentário da Bíblia.
VIDA NOVA.
Ø CHAMPLIN,
Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø
ANDRADE, Claudionor Corrêa
de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. CPAD.
Ø SILVA, Eliezer de Lira e. Lições Bíblicas. (3º
Trimestre de 2014). CPAD.
Ø LIMA, Elinaldo Renovato de. Lições Bíblicas.
(1º Trimestre de 1999). CPAD.
Ø
Site: http://www.dicio.com.br/sabedoria/
http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/sabedoria/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sabedoria
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