Tt 2.11-14; 3.4-6
INTRODUÇÃO
Escrevendo para
o cooperador Tito em Tt 2.11-14, o apóstolo Paulo fala sobre a graça de Deus
manifesta através de Cristo para salvar o homem pecador. Nesta lição traremos a
definição desta palavra tanto no AT quanto no NT; destacaremos qual a
perspectiva paulina sobre este favor de Deus; trataremos da questão bíblico
teológica da graça de Deus e da responsabilidade humana; e, por fim,
pontuaremos quais os principais benefícios da graça.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA GRAÇA
“O conceito de
graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras. No AT, 'hen',
significa: 'favor' É o favor imerecido de um superior a um
subalterno. No caso de Deus e do homem, 'hen' é demonstrado por
meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais
e livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31,2; Êx
33.19). No NT, é charis, que indica 'graciosidade',
'atrativo', 'favor'. Foi com a vinda de Cristo que a graça assumiu
seu significado pleno. O seu auto sacrifício é a graça propriamente dita (2 Co
8,9). Esta graça é absolutamente gratuita (Rm 6.14; 5.15-18; Ef 1.7; 2.8,9).
Quando recebida pelo crente, ela governa sua vida espiritual compondo favor
sobre favor. Ela capacita, fortalece e controla todas as fases da vida (2 Co
8.6,7; Cl 4.6; 2 Ts 2.16; 2 Tm 2,1)” (WYCLIFFE, 2007, p. 876 – acréscimo
nosso).
II. A PERSPECTIVA PAULINA SOBRE
A GRAÇA
“O apóstolo
Paulo foi o principal instrumento humano para transmitir o pleno significado da
graça em Cristo. Por isso foi intitulado por alguns estudiosos da Bíblia como 'o
apóstolo da graça'. A graça em sua mais completa definição é o favor
imerecido de Deus ao nos dar seu Filho, que oferece a salvação a todos, e dá
aqueles que o recebem como Salvador pessoal, uma graça acrescentada para esta
vida e uma esperança para o futuro” (WYCLIFFE, 2007, p. 876 – acréscimo nosso).
À luz de Tito 2.11-13 destacaremos algumas verdades bíblicas sobre a graça:
2.1 A fonte da
graça (Tt 2.11a).
No referido texto, Paulo nos diz que a graça procede de Deus: “Porque a
graça de Deus[...]” (Tt 2.11a). “No original grego é usado o genitivo
possessivo, porque o favor lhe pertence; mas também 'vem' dEle, como sua fonte
originária. Tal como por toda a parte da Bíblia, aprendemos que Deus é o grande
benfeitor dos homens (1 Co 15.10; 1 Pe 5.10)” (CHAMPLIN, 2006, p. 432 –
acréscimo nosso).
2.2 O canal da
graça (Tt 2.11b).
Segundo a Bíblia Deus manifestou a sua graça em toda a sua plenitude na Pessoa
de Seu Filho, Jesus Cristo (2 Co 8.9; 13.13; Gl 1.6; 6.18; Ef 2.7; Fp 4.23; Ap
22.21). O mediador da dispensação da Lei foi Moisés, mas o
mediador da dispensação da graça foi Cristo Jesus (Jo 1.17). “A expressão
'manifestar' no original se relaciona ao substantivo 'epifania',
ou seja, 'aparecimento' ou 'manifestação' (por
exemplo, do sol ao amanhecer). A graça de Deus surgiu repentinamente sobre os
que estavam nas trevas e na sombra da morte (Ml 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt
3.4). Ela despontou quando Jesus nasceu, quando de seus lábios emanaram
palavras de vida e beleza, quando curava os enfermos, limpava os leprosos,
expulsava os demônios, ressuscitava os mortos, sofreu pelos pecados dos homens
e quando deu sua vida pelas ovelhas para a reassumir na manhã da ressurreição”
(HENDRIKSEN, 2001, p. 453).
2.3 O propósito
da graça (Tt 2.11c).
Paulo nos diz que a graça de Deus se manifestou através de Cristo com um propósito
sublime “[...]trazendo salvação[...]”. “É usado aqui o adjetivo 'soterios',
que indica uma graça que proporciona a salvação, e não meramente algum favor
divino secundário, conforme há tantas manifestações dessa ordem (Sl 104.10-30;
145.16; Mt 5.45; At 14.16-17; Rm 9.22). A salvação mencionada nesse texto, consiste
na transformação moral e espiritual segundo a imagem de Cristo para que sejamos
aquilo que Ele é e para que compartilhemos de sua natureza essencial, chegando
a ser possuidores daquilo que ele possui (Rm 8.17,29), para que recebamos 'toda
a plenitude de Deus' (Ef 3.19), em suas perfeições, atributos
comunicáveis e natureza, e para que participemos da própria natureza divina (2 Pe 1.4)” (CHAMPLIN, 2006, p. 432).
2.4 O alcance da
graça (Tt 2.11d).
Desde o início, a proposta divina sempre foi estender a bênção da salvação a
todos os homens indiscriminadamente (Gn 12.3; Gl 3.8). O sentimento
ultranacionalista dos judeus fechou seus olhos a esta realidade de que, Deus os
levantou a fim de serem uma nação evangelizadora para todos os povos (Is 42.6;
49.6; Rm 2.17-20). Todavia, a vinda do Messias mostrou claramente que Deus não
faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; 1 Pe 1.17). Sua graça
alcança os judeus e os gentios (Rm 3.29; 9.24,30; Gl 3.14; Ef 3.6).
2.5 O poder da
graça (Tt 2.12).
A graça tem poder transformador na vida daquele que a recebe por fé. O apóstolo
Paulo diz que ela ensina a renunciar o antigo estilo de vida “[...]à
impiedade e às concupiscências mundanas[...]” e a adotar um novo padrão
de vida segundo a Palavra de Deus “[...]vivamos neste presente século
sóbria, e justa, e piamente[...]”. “A expressão “ensinar “no grego é o
verbo “paideuo”, “treinar crianças”, embora também
tivesse o sentido geral de “criar”, de “educar”, de
“disciplinar” (CHAMPLIN, 2006, p. 432). “O verbo usado no
original é do mesmo teor que o substantivo pedagogo que é alguém
que conduz as crianças passo a passo. A graça educa ensinando (At 7.22; 22.3), disciplinando
(1 Tm 1.20; 2 Tm 2.25), aconselhando, confortando, incentivando, admoestando,
guiando, convencendo” (HENDRIKSEN, 2001, pp. 454,455 – acréscimo nosso). As
três virtudes que Paulo cita em Tt 2.12-b definem, sucessivamente, o
relacionamento do cristão consigo mesmo, com o próximo, e com Deus, como
veremos a seguir:
AS
TRÊS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA GRAÇA
|
VIRTUDES
DA GRAÇA (Tt 2.12)
|
No
relacionamento consigo mesmo
|
Sobriedade
(equilíbrio; autocontrole; moderação)
|
No
relacionamento com o próximo
|
Justiça
(aquilo que é direito; imparcial; correto)
|
No
relacionamento com Deus
|
Piedade
(bom temor)
|
2.6 A esperança
da graça (Tt 2.13).
O Aurélio define esperança como “o ato ou efeito de esperar o que se
deseja”, “expectativa”, “fé em conseguir o que se
deseja”. Esperança é a certeza de receber as promessas feitas por Deus
através de Cristo Jesus (Rm 15.13; Hb 11.1) e uma sólida confiança em Deus (Sl
33.21,22). O termo deriva-se do grego “elpis” e significa “expectativa
favorável e confiante” (Rm 8.24,25). Após alcançado pela graça, salvo e
transformado, o pecador redimido passa a ter a expectativa da segunda vinda de
Cristo para buscar a sua igreja (Fp 3.20; Cl 1.5; 2 Ts 2.16).
III. A GRAÇA DE DEUS E A
PARTICIPAÇÃO HUMANA
COSMOVISÕES
ACERCA DA GRAÇA DIVINA
|
DEFINIÇÃO
|
O
QUE A BÍBLIA DIZ
|
Monergismo
Do
grego monós, “único” + ergon, “trabalho”.
|
Doutrina
que atribui a conversão do ser humano, única e exclusivamente, a ação do
Espírito Santo.
|
A
salvação é um dom divino dado por graça ao homem (Ef 2.8); não pelas obras
para que ninguém se glorie (Ef 2.9).
|
Sinergismo
Do
grego syn, “com” + ergon “trabalho”.
|
Doutrina
que diz que a vontade do homem é uma realidade, podendo responder, positivamente,
à graça divina, devendo fazer parte daquilo que a graça divina realiza.
|
A
Escritura também nos mostra que apesar da salvação ser uma providência
divina, cabe ao homem responder positivamente a ela (Jo 3.16-18; At 3.19;
17.30; Rm 10.9).
|
IV. OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA
GRAÇA SEGUNDO A TEOLOGIA PAULINA
4.1 Adoção.
No NT, o
vocábulo descreve o ato pelo qual Deus recebe, como filho, alguém que, legal e espiritualmente,
não goza do direito de tê-lo como Pai. A partir deste momento, passa esse
alguém a desfrutar de todos os privilégios que Deus preparou àqueles que
aceitam a Cristo como único e suficiente Salvador (Rm 8.15,23; 9.4; Gl 4.5; Ef
1.5).
4.2 Justificação.
Processo
judicial que se dá junto ao Tribunal de Deus, através do qual o pecador que
aceita a Cristo é declarado justo (At 13.39; Rm 3.24; 5.1; 1 Co 6.11; Gl 3.24).
4.3 Regeneração.
Milagre
que se dá na vida de quem aceita a Cristo, tornando-o participante da vida e da
natureza divina. Através da qual o homem passa a desfrutar de uma nova
realidade espiritual (2 Co 5.17; Tt 3.5; 1 Pe 1.23).
4.4
Santificação.
É
a forma pela qual o nascido de novo é aperfeiçoado à semelhança do Pai Celeste,
por meio do sangue de Cristo, da Palavra e do Espírito Santo (Jo 15.3; 17.17; 1 Co 6.11; 1 Jo 1.7; Rm 8.1).
4.5
Glorificação.
No
plano da salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que
recebe a Cristo como Salvador e Senhor de sua alma. A glória de Cristo será
partilhada plenamente com seus santos no arrebatamento da igreja (Fp 3.20,21; 1 Co 15.51-54).
CONCLUSÃO
Deus fez brilhar
sobre os homens o seu favor através de seu bendito Filho, Jesus Cristo. Compete
ao homem pela fé aceitar esta graça, reconhecendo que somente por ela, ele,
poderá ser redimido da condenação do pecado.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HENDRIKSEN,
William. Comentário do Novo Testamento. CULTURA CRISTÃ.
Ø PFEIFFER,
Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wyclliffe. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de
Comunicação.
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