Gn 4.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos o capítulo 4 do Livro de Gênesis, que abordará o incidente
que houve com os irmãos Caim e Abel. Incidente este, que revela o primeiro homicídio da história da humanidade e suas implicações
práticas. Após ver que a sua oferta a Deus foi rejeitada e a de seu irmão aceita,
Caim, por inveja e ardendo em ira executou Abel. Este ato horrendo não ficou
impune, pois Deus o castigou severamente. Os escritores do NT fazem menção desta
história, a fim de alertar aos cristãos que não devemos entrar pelo caminho de
Caim, nem imitarmos as suas más obras (Hb 11.4; 1 Jo 3.12; Jd v.11).
I.
CAIM ERA OU NÃO O PRIMOGÊNITO DE ADÃO
Confesso que fiquei de sobremodo chocado pela afirmação feita pelo comentarista
do trimestre, Pr. Claudionor de Andrade, por considerá-lo um Pastor e Teólogo de
grande credibilidade e respeito. Porém, forçar o texto bíblico afirmar ou dizer
o que não se propõe a dizer é ir contra todas as regras da Hermenêutica Bíblica.
E o porquê do meu estado de choque? Simples. Aprendi na sala de EBD que o
capítulo 4 de Gênesis não se propõe em dizer quem foi ou quem era o primogênito
de Adão, mas, sim, de revelar o primeiro homicídio da história da humanidade. Afinal,
o livro em estudo trata das primeiras coisas. No entanto, o que me faz ficar
mais admirado (para não dizer perplexo), é o fato de que muitos estão seguindo o
raciocínio do comentarista, sem, contudo, analisar se tal proposição tem ou não
base bíblica. Então, a primeira indagação que nos vem é: “Qual a relevância de se saber quem foi o
primogênito do primeiro homem criado por Deus?”. Ora, as Escrituras
Sagradas já nos revelam o mais importante: Quem foi o primeiro homem! Além disso,
nenhuma referência bíblica há que ateste ou comprove que Caim fora, de fato, o primogênito
de Adão. Muito pelo contrario, elas nos dão evidencias que outros filhos, ou
melhor, filhas vieram antes da existência de Caim.
Assim sendo, comecemos pelo texto de Gn 5.4 que diz: “Foram os dias de Adão, depois que gerou
Sete, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas”. O texto deixa em
evidencia que Adão gerou “filhos e filhas”. Agora, observe a ordem imperativa
de Deus a Adão logo após criá-lo com Eva. Em Gn 1.28, Deus diz: “Deus os abençoou e disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a”. Logo, é possível afirmar
que Adão não gerou filhos, ou melhor, filhas só após a Queda, mas também antes
da mesma. Assim, as primeiras indagações são: “Quanto tempo viveu Adão no Éden?” ou “Quantos anos de vida tinha quando desobedeceu a Deus?” Na
verdade, é impossível responder as essas indagações; porém, sabe-se que Adão viveu
décadas ou séculos naquele Jardim. Então, surge a indagação mais relevante: “Adão desobedeceu a ordem divina de se
multiplicar e encher a terra enquanto vivia no Éden?” É evidente que
não! Pois a única e fatal desobediência dele ocorre no capítulo 3 de Gênesis. Mas,
talvez você me indague sobre minha ênfase sobre “filhas” e não sobre “filhos”.
Simples! Porque em Gn 4.1 Eva muito se alegra com o nascimento de um “varão”,
ou seja, de um “menino”. Ora, este fato pressupõe que ela, até então, só gerava
meninas. Razão essa de exaltar a Deus dizendo: “Alcancei do Senhor um varão” (ARC).
Não bastasse o entendimento acima, em Gn 3.16 vemos Deus pronunciar o
castigo da mulher, sendo que neste pronunciamento outra evidencia bíblica atesta
que Adão gerou filhos (termo generalizado) no Éden. Deus diz: “Multiplicarei grandemente a dor da tua gestação; em dor darás à
luz filhos”. Veja que só se pode multiplicar o que já acontecia ou
acontece, no caso em questão a dor da gestação. Assim, Eva foi mãe bem antes da
Queda e não apenas após a Queda! Observe que não foram Adão nem Eva que falaram
sobre dor da gestação, mas o próprio Deus!
Como dissemos acima, o texto de Gn 4.1 pressupõe que Eva ainda não tinha
gerado “filhos”. Contudo, com o devido respeito ao texto sagrado e não querendo
especular o mesmo, citaremos Gn 4.1outra vez, mas em outra versão que colabora (nos
dá melhor entendimento) com a sentença divina: “Adquiri um varão com o auxilio do Senhor” (ARA). Veja que,
diante de tal sentença e levando em consideração as condições da época, só com o
auxilio do Senhor para não ocorrer complicações no parto. Porém, as dores foram
multiplicadas!
Além das evidências já apresentadas, existem ainda outras evidências,
sendo que estas ocorrem por ocasião do Crime praticado por Caim. Em Gn 4.14, ao
responder Caim sobre a sentença recebida, diz: “Hoje me lanças da face da terra, e da tua presença me esconderei; serei
fugitivo e errante pela terra, e qualquer que comigo se encontrar me matará”.
Ora, se só existiam Caim e Abel, então, quem é que vai perseguir de morte a Caim?
Observa-se, então que, já existia uma civilização bem antes da existência de
Caim. Em Gn 4.15, O Senhor ratifica esta verdade ao dizer: “Portanto qualquer que matar a Caim será
vingado sete vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse
quem quer que o encontrasse”. Adão acatou a voz imperativa de Deus de
“encher a terra”, que como vimos iniciou-se no Éden!
É exatamente neste momento que, após fugir e ir habitar na terra de Node
(nome da civilização ao oriente do Éden),
que surge uma mulher a qual Caim toma por esposa (Gn 4.16,17). Aí, então,
muitos perguntam: “Com quem casou
Caim?” ou “Quem era a mulher
de Caim?” ou ainda “De onde
ela surgiu?”. Ora, ela era moradora da região que Caim escolheu para
viver escondido, ou seja, da terra de Node. O que prova mais uma vez, que Caim
não era primogênito coisa nenhuma, pois se assim fosse, de onde surgiu de uma hora
para outra toda uma civilização? Sem falar que, é a única revelada pelas
Escrituras para contextualizar o primeiro homicídio, homicídio este consumado
por Caim. Isto pressupõe, sem querer especular, que possivelmente não era a única.
Contudo, fiquemos com a de Node!
Para encerra a reflexão deste assunto (que alguns verão como polêmica da
aula), quero ratificar que me admiro de que um homem tão preparado como
acredito ser o nosso comentarista não tenha observado estes detalhes da
narrativa bíblica. Contudo, ressalto que ele não é o único, pois muitos outros insistem
afirmar o mesmo. Mas, apendi que entre a Teologia e a Bíblia, a Bíblia sempre
estará acima da Teologia e dos Teólogos. Portanto, diante desta analise eu pergunto:
“Caim era ou não o primogênito de
Adão?”. Reflita antes de responder!
II. A
OFERTA DA CAIM E A OFERTA DE ABEL
Segundo
Gênesis capítulo 4, os dois irmãos, Caim e Abel, aparentemente agindo de forma
espontânea, trazem uma oferta ao Senhor. Caim oferece parte de sua produção
agrícola (Gn 4.3). Abel apresenta um dos primogênitos do rebanho (Gn 4.4). Deus
aceita a oferta de Abel, mas rejeita a de Caim (Gn 4.4,5). O texto bíblico não explica
diretamente o porquê da rejeição. O autor da epístola aos Hebreus dá-nos uma
explicação inspirada da diferença entre as duas ofertas: “Pela fé Abel
ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim [...] dando Deus testemunho dos
seus dons” (Hb 11.4). Esta explicação centraliza-se sobre a diferença
do espírito manifestado pelos dois homens. Sendo Abel um homem de fé, veio com
o espírito correto e adorou de maneira agradável a Deus. Pelas aparências, ambas
as ofertas expressavam ação de graças e devoção a Deus. Mas, o homem que tinha
falta de fé genuína no seu coração não podia agradar a Deus, embora sua oferta
material fosse imaculada. Deus não se agradou de Caim porque já olhara para ele
e vira o que havia no seu coração. Abel veio a Deus com a atitude certa de um
coração disposto a adorar e pela única maneira em que os homens pecadores podem
se aproximar de um Deus santo. Caim não. Logo: “o sacrifício de Caim foi inferior
porque a motivação deste não era boa, e a de Abel sim”. O que podemos
aprender com este fato:
1. É
possível fazer coisas boas com motivações ruins (Gn 4.3,4).
Caim
e Abel trouxeram ofertas ao Senhor, todavia, enquanto a motivação de Abel era
boa, a motivação de Caim não era, como nos revela o próprio Deus (Gn 4.7). A
palavra motivação alude a intenção, propósito ou objetivo com que fazemos as
coisas. Jesus exortou seus seguidores a não fazerem as coisas certas com
motivações erradas (Mt 6.2,5,16).
2.
Antes de atentar para a oferta, Deus atenta para o ofertante (Gn 4.3-5).
Sob
a análise divina a oferta tem valor secundário, enquanto que o ofertante tem
valor primário. Por diversas vezes, principalmente na literatura profética, verificamos
que Deus rejeita um sacrifício ou uma oferta quando a obediência e a vida em
santidade são substituídas por rituais religiosos (Is 1.11-17; Mq 6.6-8; Ml
1.6-14). Semelhante princípio foi ensinado por Jesus (Lc 21.1-4; 18.10-14).
III. A INVEJA DE CAIM E OS
MALES QUE A ACOMPANHARAM
Caim
sentiu inveja de seu irmão Abel, porque este alcançara o favor de Deus e ele
não (Gn 4.5). A inveja é um misto de ódio, desgosto e pesar pelo bem e
felicidade de outrem. A inveja é perniciosa para qualquer pessoa, pois, ela
está ligada diretamente com a carnalidade e é uma das maiores demonstrações de
mesquinharia humana, causada pelo pecado (Gl 5.19-20). Podemos
dizer que a inveja sempre envolve um sentimento maléfico de ressentimento pelo
sucesso do outro e ninguém é beneficiado por ela. Abaixo destacaremos algumas outras
obras da carne decorrentes da inveja:
1.
Ira (Gn 4.5,6).
Após
ter a sua oferta reprovada por Deus, Caim se irou fortemente (Gn 4.5-b). “Diz
o original hebraico, literalmente, “Caim incendiou-se muito”. Por
muitas vezes, a ira do homem é o começo da cadeia que termina em algum ato
precipitado. Com frequência, os homens se iram por causa de seus fracassos, mas
não mostram nenhum interesse em se corrigirem quanto a seus erros” (CHAMPLIN,
2001, p. 43). Quando o homem não domina o seu sentimento de ira por alguém,
poderá cometer as piores crueldades com os seus semelhantes (Gn 4.7). Paulo
ensinou que não devemos deixar o sol se pôr sobre a nossa ira, do contrário, o
diabo encontrará espaço no coração (Ef 4.26,27).
2.
Homicídio premeditado (Gn 4.8).
Caim
resolveu dar fim a vida do seu próprio irmão Abel. Isto se deu, quando ele convidou
seu irmão para ir ao campo, criando o ambiente propício para cometer o crime.
“Caim já tinha o homicídio em seu coração, e convidou propositadamente a Abel
para que fosse com ele a um lugar onde lhe convinha executar seu maligno
propósito. Nesse caso, o primeiro homicídio foi premeditado (CHAMPLIN, 2001, p.
45). É estarrecedor ver que o primeiro homicídio ocorrido na Terra, foi de um
irmão contra o outro. Caim não se deu por satisfeito, ao ver que seu sacrifício
não fora recebido e o de seu irmão sim, projetou em seu coração executar Abel e
do jeito que pensou fez. A Bíblia condena o homicídio e também o ódio que poderá
levar alguém a assinar outrem (Êx 20.13; Dt 5.17; Mt 5.21; 1 Jo 3.15).
3.
Mentira (Gn 4.9).
Quando
interpelado por Deus acerca de onde estava seu irmão, Caim respondeu com
aspereza “Não sei; sou eu guardador do meu irmão?”. “O assassino
mostrou que também era um mentiroso, tal como Jesus disse acerca de Satanás (Jo
8.44,45). A perversão humana é como as raízes espinhentas que espalham os seus
tentáculos por toda parte e sobre tudo, estragando assim a personalidade
inteira. A mente criminosa quase sempre ofende em várias áreas” (CHAMPLIN,
2001, pp. 45,66). O verdadeiro servo de Deus tem compromisso com a verdade (Lv
19.11; Cl 3.9).
IV. A PUNIÇÃO DIVINA PELO
CRIME DE CAIM
Após
consumado o ato de violência contra o próprio irmão, Caim foi confrontado por
Deus. O Senhor o questionou onde estava Abel e o que havia feito com ele. O
transgressor, prontamente e rispidamente negou saber (Gn 4.9,10). Pensou talvez
que por perguntar, Deus não estava sabendo, mas ninguém pode esconder suas
intenções e atitudes daquele que é Onisciente (Gn 4.11; Sl 139.1-6; Pv 21.2; Hb
4.13; Ap 2.23). A Bíblia nos revela que Deus puniu-o pelo seu crime hediondo,
da seguinte forma: a) Amaldiçoando-o (Gn 4.11). Como sempre a maldição
está vinculada a desobediência aos mandamentos divinos, assim como a benção
ligada a obediência (Dt 11.26-28); e b) Dificultando a fertilidade da terra
(Gn 4.12). Caim era agricultor, ou seja, tirava seu sustento daquilo que
plantava (Gn 4.2). Todavia, após o seu pecado foi punido por Deus também nesta
área. “O solo, empapado com o sangue de Abel, perpetraria vingança contra Caim.
Recusar-se-ia a produzir com abundância. Caim haveria de trabalhar e suar, mas
a terra mostrar-se-ia relutante. Essa maldição repete aquela que fora lançada
contra Adão (Gn 3.18,19). Seu destino agora seria caminhar errante pelo
deserto, visto que não demonstrou arrependimento pelos erros que cometeu (Gn
4.12,14,16). É assim que se encontram todos aqueles que se distanciam de Deus
(Jz 21.25; Pv 4.19; Is 53.6).
V. ADVERTÊNCIA PARA QUE NÃO
SEJAMOS COMO CAIM
1. O
caminho de Caim (Jd 1.11).
Judas,
o irmão do Senhor, escreveu em sua epístola, exortações aos cristãos genuínos que
se mantivessem longe dos falsos cristãos, cujos ensinos eram pervertidos e podiam
afastá-los do caminho certo. Judas assevera de forma contundente que estes
hereges entraram pelo caminho de Caim, ou seja, como Caim matou Abel, estes podiam
trazer morte espiritual aos servos de Senhor.
2.
As obras de Caim (I Jo 3.12b).
Destacando
o amor ao próximo como evidência de uma verdadeira espiritualidade e comunhão
com Deus, o apóstolo João, exorta aos cristãos a não imitarem as obras de Caim,
visto que, pela inveja e egoísmo praticou coisas más, trazendo malefícios para
seu próprio irmão, sua família e para si mesmo. Para João, quem não ama seu
irmão pertence ao Maligno e é imitador das obras de Caim.
CONCLUSÃO
Quando
o pecado foi introduzido no mundo afetou diretamente a natureza humana, levando
os homens a cometerem atrocidades inimagináveis, contra Deus, contra si mesmos
e contra o próximo. Somos advertidos pelo mau exemplo de Caim, a não trilharmos
o seu caminho de inveja, nem imitarmos as suas obras injustas.
REFERÊNCIAS
Ø
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo. Vol 1. HAGNOS.
Ø
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
Adaptado pelo Amigo da EBD.
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