Rm 5.12-19
INTRODUÇÃO
A queda do homem
resultou na sua separação com Deus (Is 59.2); na destituição da glória de Deus
(Rm 3.23), e consequentemente trouxe morte ao invés de vida (Rm 6.23). Na
narrativa mais trágica e infeliz da raça humana é necessário ainda dizer que
esta Queda não foi só local, pessoal e destinada aquele tempo, mas, que o
pecado cometido por Adão teve abrangência total e universal (Rm 5.12).
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA PECADO
Pecado é a falta
de conformidade com a Lei moral de Deus, quer seja em ato, disposição ou
estado; é a rebelião contra a vontade de Deus (1 Jo 3.4). O termo “hamartiologia”
deriva de dois vocábulos da língua grega: “hamartia” e “logos”,
os quais significam “estudo acerca do
pecado”. O termo “hamartia” sugere a ideia de “fracassar”, “errar o alvo” ou “desviar-se
do rumo”. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo
propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente. Em
síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu
livre-arbítrio, sua livre escolha (Gn 3.1-6; Lv 16.21; Sl 1.1; 51.4;
103.10; Is 1.18; Is 48.8; Dn 9.16; Os 12.8; Rm 1.18-32; Rm 3.10) (CABRAL,
2008, p. 302).
II.
DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO
A Bíblia
apresenta o homem como transgressor por natureza. Mas, como adquiriu o homem
essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia nos diz acerca disso? Podemos
afirmar categoricamente que Deus não é o autor do pecado. Evidentemente
Deus, na sua presciência e onisciência, já vira a entrada do pecado no mundo,
bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter o cuidado para que ao se
utilizar esta interpretação, não venha fazer de Deus a causa ou o autor do pecado
(Jó 34.10; confira ainda Dt 32.4; Sl 92.16; Tg 1.13). Deus odeia o pecado (Dt
25.16; Sl 5.4, 11.5; Zc 8.17; Lc 16.15). Assim sendo, as Escrituras rechaçam
todas aquelas ideias deterministas, segundo as quais, Deus é autor e
responsável pela entrada do pecado no mundo. O pecado é o resultado de uma
escolha livre, porém má, do homem (Ec 7.29; Lm 3.39).
III. HOMEM, A QUEDA E A IMAGEM DE
DEUS
A Bíblia é a
única fonte segura concernente a criação do homem e seu estado original. De
forma simples e objetiva o Gênesis declara que depois de tudo feito,
especialmente, o homem, “viu Deus que era muito bom” (Gn 1.31).
Contudo, a Bíblia não só revela o primeiro estado do homem, como relata a
história da perda do seu primeiro estado de santidade, pela Queda, e também a possibilidade
de sua restauração (Cl 3.10; Ef 4.24). O primeiro homem possuía um corpo, uma alma
e um espírito perfeitamente adequado um ao outro. Não havia conflito entre os
impulsos pessoais e os espirituais no homem, pois isso era um tipo de perfeição
física e espiritual (Gn 3.22). Vejamos as consequências da Queda:
3.1 Criado à
imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27).
Em que consiste
esta imagem de Deus? Ao longo da história, os teólogos vêm discutindo sobre as
diferenças entre “imagem e semelhança”. Porém, a distinção entre as duas
características quase se confunde com a diferença entre personalidade (ou
pessoalidade) e espiritualidade. No hebraico, as palavras imagem “tselem”
e semelhança “demut” exprimem a ideia de algo similar,
mas não idêntico à coisa que representa ou de que é uma “imagem”. A imagem de
Deus no homem com a presença do pecado está deturpada, afetada, mas, não
totalmente como afirmam alguns que terminam com isso atribuindo a falta de
livre escolha no homem por essa total depravação.
3.2 Há uma
distância infinita entre Deus o homem.
Só Cristo é a
imagem expressa da Pessoa de Deus, como o Filho de Deus, que possui a mesma
natureza. Na verdade, a imagem divina no homem é como a “sombra no
espelho”. O homem, como imagem de Deus, foi dotado de atributo moral,
isto é, de justiça original. Porém, essa justiça não era imutável; havia a possibilidade
de pecado, pois ele foi dotado de livre-arbítrio (Dt 30.15-19). O homem foi
criado com uma natureza santa, voltada naturalmente para Deus e sua vontade.
Essa imagem divina no homem revela seu caráter e sua natureza religiosa, haja vista
ter sido dotado de “espírito”, para manter comunhão com o seu Criador.
IV. O PECADO DISTORCEU A IMAGEM
DE DEUS NO HOMEM
Na teologia
cristã, a doutrina do pecado ocupa grande espaço porque o cristianismo é a
religião da redenção da raça humana. De todas as doutrinas bíblicas, três delas
são de vasta amplitude porque tratam de Deus, do pecado e da redenção. Existe
uma inter-relação entre essas três doutrinas. É impossível tratar do pecado sem
mencionar a redenção do pecador e, naturalmente, a sua relação com a sua fonte:
Deus (CABRAL, 2008, p. 302). A Bíblia nos revela que no Jardim do Éden o homem
manifestou algumas atitudes que contribuíram para a sua Queda. Por isso,
analisemos:
4.1 A Queda
distorceu e avariou a imagem divina no homem.
O destaque maior
no relato da criação está na palavra “imagem”: “E criou Deus o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou” (Gn 1.27). Existem alguns
ensinamentos de que o ser humano na Queda perdeu totalmente a imagem de Deus
inclusive o livre-arbítrio, estando assim totalmente depravado.
Essa teoria é incoerente e antibíblica, pois a imagem e a
semelhança, de fato, se referem aos aspectos moral e espiritual de Deus que foi
colocado no homem, os quais ainda persistem mesmo depois do pecado no ser
humano, apesar de desfigurados e transtornados pela Queda e os efeitos
subsequentes. Quanto à imagem moral, o homem é constituído de intelecto,
vontade e sentimento. Quanto à imagem espiritual, ele possui espírito e alma.
V.
AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA DO HOMEM
Indiscutivelmente,
o pecado trouxe graves consequências ao Universo, especialmente à vida na
Terra. A Bíblia faz várias declarações a respeito da universalidade do pecado (1
Rs 8.46; Rm 1.18; Rm 3.10-12,23; 6.23). Portanto, vejamos algumas consequências
que o pecado trouxe ao homem depois da Queda.
CONSEQUÊNCIAS
DO PECADO NA CRIAÇÃO
|
REFERÊNCIAS
|
O
pecado fez com que a terra fosse amaldiçoada
|
(Gn
3.17.18)
|
O
pecado trouxe ao homem a punição da morte física e espiritual
|
(Gn
3.19; Rm 5.12; 6.23; Tg 2.26)
|
O
pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem
|
(Gn
3.16; Rm 8.20-23)
|
O
pecado deu origem a lei da morte atuante sobre a totalidade da raça humana
|
(1Co
15.21,22; Ef 2.1,2)
|
O
pecado trouxe inquietação e aflige o pecador
|
(Jr
2.19)
|
O
pecado escravizou o homem e interrompeu a comunhão com Deus
|
(Jo
8.34; Rm 3.23)
|
O
pecado exclui o homem do céu
|
(Ap
22.15)
|
VI.
O PECADO FEZ O HOMEM REBELAR-SE CONTRA DEUS
As Escrituras
afirmam que o pecado trouxe rebelião e separação do homem em relação a Deus.
Vejamos:
6.1 A Queda
trouxe rebelião contra Deus.
Satanás, que já
havia se rebelado contra Deus e caído, veio tentar o homem para que este também
desobedecesse e se rebelasse contra Deus. Então, por intermédio de uma
serpente, ele esperou uma oportunidade em que a mulher estivesse a sós, lançou
em dúvidas a bondade e a fidelidade de Deus e enganou a mulher para que ela
comesse do fruto que Deus havia dito que não comessem (Gn 2.16,17; 3.1-5). A
mulher, então, comeu do fruto e deu também a seu marido (Gn 3.6). Dessa
maneira, então, o pecado entrou no mundo (Rm 5.12) e o homem rebelou-se contra
o criador.
6.2 A Queda
trouxe separação contra Deus.
Desde a queda do
homem que Satanás tem promovido meios de separar ainda mais o homem de Deus.
Seu maior desejo é que toda criatura venha se rebelar contra o criador. Por
isso, ele tem se utilizado da educação, da filosofia, dos meios de comunicação,
de movimentos filosóficos, humanistas e ateístas, com o intuito de separar o
homem de Deus e conduzi-lo ao ateísmo (2 Co 4.4).
VII.
A HEREDITARIEDADE E UNIVERSALIDADE DO PECADO
Todos os atos
pecaminosos das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa (Rm 5.12;19). A
morte, como punição do pecado, tem um caráter universal. Por causa do pecado de
Adão, todos os seus descendentes tomaram-se pecadores e culpados (Rm 5.8).
Portanto, o pecado é hereditário e a sua universalidade deve-se à corrupção da
natureza humana. A tendência má que se revela numa criança, por exemplo, se
percebe na semente dessa tendência má. A criança até certa idade é despida de
consciência moral, mas congenitamente possui a natureza
pecaminosa herdada. Nesse sentido, toda criança até alcançar a idade da
consciência do bem e do mal é pecadora por natureza, conquanto não tenha a
culpa pessoal (Sl 51.5). No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o
teste da conduta pessoal, enquanto estas crianças, nesta faixa etária, mesmo tendo
uma natureza para o mal, são incapazes de transgressão pessoal; por isso,
cremos que elas estarão entre os salvos (Mt 19.14; 21.16; 25.45,46; Lc 10.21).
VIII.
A SALVAÇÃO EM RELAÇÃO AO PECADO
A palavra
salvação significa, em primeiro lugar, “ser tirado de um perigo,
livrar-se, escapar” (At 26.18; Cl 1.13). A tradução da palavra grega “soterion”,
tem o sentido de “tornar ao estado perfeito”, ou “restaurar o que a queda
causou”. Vejamos as bênçãos que acompanham a salvação:
ü O homem é salvo
dos seus pecados (Mt 1.21; Lc 7.50), que lhe são perdoados (Lc 7.48; Tg 5.20).
A salvação também o livra da culpa (Ef 1.7; Cl 1.14) e do poder do pecado (Rm
7.17, 20, 23, 25). O homem é salvo do juízo (1 Tm 5.24; Rm 8.1), da ira de Deus
(Rm 5.9) e da morte eterna (Tg 5.20; Ap 20.6);
ü O homem entra em
comunhão com Deus (Ef 2.13,18; Lc 1.74,75), recebe entrada na sua graça (Rm
5.2) e torna-se cidadão do céu (Ef 2.19). O homem é salvo desta geração
perversa (At 2.40), isto é, recebeu uma nova posição em relação ao mundo (Fp
2.15); ele é salvo do poder de Satanás (At 26.18; Cl 1.13-15; Hb 2.14);
ü O homem torna-se
templo e morada do Espírito Santo (Jo 14.17; 1 Co 6.19), que passa a agir em
sua vida (Ef 1.13; 2.16-18). A salvação lhe dá viva esperança (1 Pe 1.3) e
direito à glória eterna (2 Tm 2.10; 4.18), e assim, é salvo da ira de Deus (1
Ts 1.10; 5.9; 2 Pe 2.9).
CONCLUSÃO
O pecado causou
a separação entre Deus e o homem (Rm 5.12; 6.23), mas, Cristo trouxe de volta a
possibilidade da comunhão com Deus.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø KELLY,
J.N.D. Introdução e Comentário. MUNDO CRISTÃO.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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