Gn
11.1-9
INTRODUÇÃO
Após o dilúvio,
os descendentes dos filhos de Noé, liderados por um homem chamado Ninrode, se
uniram para a construção de uma grande e imponente torre, num lugar chamado
Babel, posteriormente chamado Babilônia. Suas motivações com este projeto eram
extremamente corrompidas, o que levou Deus a intervir na situação confundindo
as línguas para que os homens não se entendessem e assim deixassem de levar
adiante este projeto corrupto.
I. A ORIGEM DA
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E CULTURAL
1.1 Diversidade
linguística (Gn 11.9).
Quando Deus fez
o homem, já o fez apto para falar (Gn 2.19-23). A Bíblia acrescenta que até o
evento da Torre de Babel, todos os homens falavam a mesma língua (Gn 11.1).
Todavia, para embargar aquele projeto orgulhoso, Deus confundiu as línguas,
dando origem a outros idiomas. A partir disso “é impossível dizer quantas
línguas os homens já falaram, desde que o fenômeno veio à existência. Muitos
milhares de idiomas têm sido usados, têm evoluído e têm desaparecido. Até mesmo
quanto à atualidade, é difícil dizer-se exatamente quantas línguas são faladas
no mundo” (CHAMPLIN, 2004, p. 828).
1.2 Diversidade
cultural (Gn 10.5,32).
A palavra
“cultura” significa: “ o conjunto de comportamentos e ideias característicos de
um povo, que se transmite de uma geração a outra e que resulta da socialização
e aculturação verificadas no decorrer de sua história (BURNS, 1995, p. 15). Foi
a partir da linguagem diferente e por conseguinte da dispersão que os povos
começaram a criar seu próprio modo de vida distinto. Logo, a cultura até certo
ponto não é nociva, desde que não venha a ferir os princípios da Palavra de
Deus.
II. OS DESCENDENTES
DOS FILHOS DE NOÉ
É importante
destacar que nem todas as nações conhecidas do AT estão arroladas em Gênesis
10, mas constam do rol em número suficiente para firmar o ponto de que a
humanidade é uma só, com toda a sua diversidade, sob o único Criador (At
17.26). Abaixo destacaremos informações sobre os descendentes de Sem, Cam e
Jafé, filhos de Noé, segundo o Comentário Bíblico Africano (2010, p. 27):
2.1 Os
descendentes de Sem (semitas) (Gn 10.2-5).
Os descendentes
de Sem são relacionados até a sexta geração (seus pentanetos). Aqui, a
declaração geral é de que “são estes
entre os filhos de Sem, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em
suas terras, em suas nações” (Gn 10.31; I Cr 1.17-27). O número maior de
gerações abrangidas reflete o interesse do autor. No início da genealogia,
diz-se que Sem “foi pai de todos os
filhos de Héber” (Gn 10.21). É possível que tenha sido destacado pelo fato
de algumas pessoas costumarem explicar a designação “hebreu” como sendo
proveniente de “Héber”. A linhagem de Sem culmina com Abraão (Gn 11.17-27), em
quem se origina a semente que será o canal de benção universal que é Cristo
Jesus (Gn 12.3; Gl 3.18). Em Atos, vemos Lucas registrar a salvação de um
descendente de Cam: o Eunuco (At 8.1); de Sem: Saulo (At 9); e de Jafé: Cornélio
(At 10). O apóstolo João vislumbra no céu, homens que foram comprados pelo
sangue de Jesus, de todas as tribos, línguas e nações (Ap 5.9-10).
2.2 Os
descendentes de Cam (canitas) (Gn 10.6-20).
A linhagem de
Cam é relacionada até a quarta geração (seus bisnetos). De acordo com a
declaração geral desta passagem, são “estes
os filhos de Cam, segundo suas famílias, segundo as suas línguas, em suas
terras, e em suas nações” (Gn 10.20; I Cr 1.8-16). Costuma-se associar os
filhos de Cam — Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã — aos etíopes, egípcios, líbios e
cananeus, respectivamente. Três descendentes de Cam recebem atenção especial:
Ninrode “poderoso caçador” (Gn 10.8); Mizraim “de onde vieram os filisteus” (Gn
10.13-14); e, Canaã que tornou-se o antepassado das tribos relacionadas em (Gn
10.15-18). O território ocupado por elas é a mesma terra prometida
posteriormente a Abraão e seus descendentes (Gn 10.19; Êx 3.8,17; 13.5; Dt
7.1).
2.3 Os
descendentes de Jafé (jafetitas) (Gn 10.21-31).
A linhagem de
Jafé é relacionada até a terceira geração (seus netos). O autor faz, então, uma
declaração geral de que “estes repartiram
entre si as ilhas das nações nas suas terras, cada qual segundo a sua língua”
(Gn 10.5; I Cr 1.3-7). Estudos que procuram relacionar os nomes dos filhos e
netos de Jafé com dados históricos posteriores sugerem que talvez ele seja o
antepassado dos povos indo-europeus.
III. NINRODE: O
MENTOR DA REBELIÃO CONTRA DEUS
3.1 A família de
Ninrode (Gn 10.8).
De acordo com o
texto bíblico, Ninrode é filho de Cuxe, filho de Cam. “Embora seu nome não apareça
na lista dos filhos de Cuxe em Gênesis 10.7. Ao que parece, neste caso o verbo
“gerar” não define Cuxe como seu pai, mas sim como seu antepassado” (ADEYEMO, 2010,
p. 27 – acréscimo nosso).
3.2 O caráter de
Ninrode (Gn 10.8,9).
“A Bíblia
fornece-nos algum relato relativo à Ninrode. Mas, o significado do seu nome,
“rebelde” parece fazer dele uma espécie de anti-herói indesejável. Ele era o
tipo de rei que Deus jamais aprovaria. Em Gênesis 10.8,9, Ninrode é chamado
“gibbor”, que significa “guerreiro” (CHAMPLIN, 2005, p. 508). Ninrode
destaca-se na antiguidade como o primeiro “dos grandes homens que há na terra”,
rememorado por duas coisas que o mundo admira: bravura pessoal e poder político”.
3.3 O reino de
Ninrode (Gn 10.10).
“A conexão entre
Ninrode e a torre de Babel é evidente pela prioridade cronológica de Gênesis 11
a Gênesis 10 e pelo fato de que um dos centros do reino de Ninrode era a
Babilônia (ou seja, Babel). Muito provavelmente o próprio Ninrode era um dos
construtores da torre” (ZUCK, 2009, p. 38). Flávio Josefo, judeu, historiador
do primeiro século, relatou a participação direta dos homens liderados por
Ninrode na construção da Torre em Babel: “Ninrode, neto de Cam, um dos filhos
de Noé, foi quem levou os homens a desprezar a Deus. Ao mesmo tempo valente e
corajoso, persuadiu-os de que deviam unicamente ao seu próprio valor, e não a
Deus, toda a sua boa fortuna. E, como aspirava ao governo e queria que o
escolhessem como chefe, abandonando a Deus, ofereceu-se para protegê-los contra
Ele, construindo uma torre para esse fim, tão alta que não somente as águas não
poderiam chegar-lhe ao cimo como ainda ele vingaria a morte de seus
antepassados” (JOSEFO, 2004, p. 28 – acréscimo nosso).
IV. O PROJETO DA
TORRE DE BABEL
4.1 A construção
da torre (Gn 11.3,4).
Os homens
estavam unidos entre si, mas essa unidade conferiu-lhes a coragem e a ambição
de fazer coisas proibidas. Utilizando-se de tijolos e do betume como argamassa,
eles deram início a construção de uma imponente torre. “A 'torre' que
construíram em Babel era uma estrutura conhecida como 'zigurate'. Arqueólogos
já escavaram várias dessas estruturas enormes construídas principalmente para
fins religiosos. Um zigurate era como uma pirâmide, exceto pelo fato de que
cada nível acima era menor, criando uma sucessão de “degraus” que permitiam
subir até o topo” (WIERSBE, 2010, p. 77).
4.2 Os
propósitos da construção (Gn 11.4).
Segundo Matthew
Henry (2010, p. 71), foram três os motivos da construção da Torre de Babel: a) Ela parece destinar-se a uma afronta
ao próprio Deus (Gn 11.4a). Pois eles desejavam construir uma torre cujo cume
tocasse nos céus, o que evidencia um desafio a Deus, ou pelo menos, uma
rivalidade com Ele. Eles desejavam ser como o Altíssimo, ou pelo menos,
aproximar-se dele o mais que pudessem, não em santidade, mas em altura; b) Eles esperavam, com isto, fazer um
nome para si (Gn 11.4b). Eles desejavam fazer alguma coisa para que se falasse
deles agora e para dar a conhecer à posteridade que havia existido homens assim
no mundo. Em lugar de morrer sem deixar algo que os recordasse, eles desejavam
deixar este monumento do seu orgulho, e ambição, e tolice; e, c) Eles fizeram isto para impedir a sua
dispersão (Gn 11.4c). Para que pudessem estar unidos em um império glorioso,
eles decidem construir esta cidade e esta torre, para que fossem a metrópole do
seu reino, e o centro da sua unidade.
V. A ATITUDE DIVINA
ANTE A CONSTRUÇÃO DA TORRE
5.1 Deus desceu
(Gn 11.5,7a).
“O Deus do céu jamais fica perplexo nem
paralisado com aquilo que as pessoas fazem aqui na Terra. A arrogante
exclamação de Babel 'Subamos!' foi respondida com tranquilidade pelo céu:
'Desçamos!'. É claro que Deus não precisa realizar uma investigação para saber
o que está acontecendo em seu Universo; a linguagem usada serve apenas para
dramatizar a intervenção divina” (WIERSBE, 2010, p. 78 – negrito nosso).
5.2 Deus
confundiu (Gn 11.7b).
A Bíblia diz que
Deus desceu para embargar o projeto da construção dessa Torre, confundindo-lhes
a língua ao ponto de não se entenderem para não levar adiante aquele projeto.
“A palavra Babel (Babilônia) dava-se a si própria o nome de “Bab-ili”, “portal
de Deus”. Mas, mediante um jogo de palavras, a Escritura sobrepõe o rótulo mais
verdadeiro, “bãlal” que significa “ele confundiu”. Na Bíblia, esta cidade veio
a simbolizar crescentemente a sociedade ateísta, com suas pretensões (Gn 11),
perseguições (Dn 3), prazeres, pecados e superstições (Is 47.8-13), suas
riquezas e sua eventual ruína (Ap 17,18)” (KIDNER, 2001, p. 103). Aprendemos
com isso que, todo e qualquer projeto a ser realizado alienado de Deus, mais
cedo ou mais tarde sucumbirá (Sl 127.1-3; Mt 7.24-27).
5.3 Deus
espalhou (Gn 11.8).
Aquilo que o
povo havia temido lhes sobreveio devido a seus atos quando Deus “os dispersou
dali pela superfície da terra” (Gn 11.8). Impossibilitados de se comunicar de
forma apropriada, os trabalhadores tiveram de interromper a construção da
torre. “Não sabemos o que Deus fez com a Torre, uma tradição judaica diz que o
fogo desceu do céu a consumiu até os alicerces. Outra tradição afirma que ela
foi derrubada pela força do vento” (PFEIFFER, 2007, p. 249).
CONCLUSÃO
Sempre que o
homem age por arrogância desconsiderando o senhorio de Deus sobre todas as
coisas, ele experimenta a punição e o juízo do Senhor. Esta é a principal lição
que podemos extrair do episódio da torre de Babel.
REFERÊNCIAS
Ø ADEYEMO,
Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. MUNDO CRISTÃO.
Ø BURNS,
Bárbara. Costumes e Culturas: uma introdução à Antropologia Missionária. VIDA
NOVA.
Ø CHAMPLIN,
R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
Ø JOSEFO,
Flavio. História dos Hebreus. CPAD.
Ø KIDNER,
Derek. Gênesis: introdução e comentário. CULTURA BÍBLICA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário
Bíblico Wyclliffe. CPAD.
Ø ZUCK,
Roy B. Teologia do Novo Testamento. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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