Dn
10.1-6; 9,10,14
INTRODUÇÃO
Veremos que os três últimos
capítulos de Daniel constituem “uma unidade profética”, pois, não
anunciam novos oráculos. Estes últimos capítulos (Dn 10 a 12), preenche os
detalhes do futuro de Israel, concentrando-se no período do Anticristo e na
questão relacionada com "as últimas coisas" a saber: a
Grande Tribulação, a ressurreição dos mortos, as recompensas e os castigos
finais. Estudaremos também a visão do homem vestido de linho, que é uma
aparição de Cristo no Antigo Testamento.
I
– INFORMAÇÕES SOBRE A VISÃO DE DANIEL CAPÍTULO 10
Os capítulos 10, 11 e 12 de
Daniel faz parte da “última visão” do profeta Daniel. Como
vimos em lições passadas, Daniel viveu tempo suficiente para ver a profecia de
Jeremias se cumprir e o primeiro grupo de judeus exilados voltar para a terra e
começar a reconstruir o templo. Se o profeta, como já estudamos em lições
passadas, estava entre 14 a 17 anos quando foi levado para a Babilônia. Então
na época desta visão, ele estava entre seus 80 e 87 anos, alguns sugerem 90.
A visão foi dada no ano terceiro de Ciro (Dn 10.1), “dois anos
após o retorno dos judeus à Palestina”. Ora, Ciro decretou o regresso
dos judeus do Exílio no “primeiro ano do seu reinado” (Ed 1.1-5).
Então o “terceiro ano de Ciro”, rei da Pérsia era (c. 536 a.C.).
A restauração e a reconstrução do templo já começara (Ed caps. 1 ao 3), mas foi
interrompido por pressão dos inimigos (Ed 4.4-5). Tais notícias devem ter
ferido o coração de Daniel estimulando-o a buscar a face de Deus uma vez mais. “Naqueles
dias eu, Daniel, estive triste por três semanas...” (Dn 10.2,3) (ADEYEMO
et al, 2012, p. 1034).
II
– ANALISANDO A REVELAÇÃO DE DANIEL
O fato de Daniel estar junto ao
rio Hidéquel (rio Tigre) oferece-nos a razão dele não ter voltado a Jerusalém
com os demais peregrinos. Aparentemente, esse retorno era impossível para
Daniel, primeiro devido à sua idade, segundo por causa de suas ocupações como
um dos administradores do império (Dn 6.1-3). É possível que sua presença no
rio Tigre se devesse a negócios do governo, e aí o profeta vê em visão o
próprio Filho de Deus na sua preencarnação (GILBERTO, 1984, p. 53), através de
uma teofania, do grego “theos” Deus e “phania” manifestação
em forma humana (cap. 10) (ANDRADE, 2006, p. 339). Daniel registrou o momento
em que recebeu esta visão: “No dia vinte e quatro do primeiro mês,
estando eu à borda do grande rio Tigre” (Dn 10.4). Analisemos esta
visão:
2.1 A preocupação do profeta
Daniel (Dn 10.1-3).
Daniel havia
jejuado, orado e não se ungiu com óleo durante três semanas enquanto buscava o
Senhor. Um dos motivos para isso era, provavelmente, sua preocupação com os
quase cinquenta mil judeus que haviam saído da Babilônia e viajado para sua
terra natal a fim reconstruir o templo. Uma vez que Daniel tinha acesso a
relatórios oficiais, sem dúvida ficou sabendo que o remanescente havia chegado
em segurança em Jerusalém e que todos os tesouros do templo estavam intactos.
Também deve ter ouvido que os homens haviam lançado os alicerces do templo, mas
que o trabalho havia sofrido oposição e, por fim, parado (Ed 4). Sabia que seu
povo estava sofrendo privações na cidade arruinada de Jerusalém e perguntou-se
se Deus iria deixar de cumprir as promessas que havia feito a Jeremias (Jr
25.11, 12; 29.10-14) (WIERSBE, 2010, p. 368).
2.2 O duplo sentido dos 70 anos. É possível que Daniel não tivesse
compreendido que a profecia dos setenta anos tinha uma aplicação dupla,
primeiro para o povo e depois para o templo. Os primeiros judeus foram
deportados para a Babilônia em 605 a.C., e os primeiros cativos voltaram em 535
a.C., exatamente setenta anos depois. O templo foi destruído pelo
exército babilônio em 586 a.C., e o segundo templo foi completado e consagrado
em 516 a.C., outro período de exatamente setenta anos. Daniel
estava aflito para que a Casa do Senhor fosse reconstruída o quanto antes, mas
não percebeu que Deus estava realizando seus planos com perfeição. As obras
foram interrompidas em 536 a.C., continuaram em 520 a.C. e foram completadas em
516 a.C. Esse adiamento de dezesseis anos manteve tudo dentro do cronograma.
(WIERSBE, 2010, p. 368).
III
- UMA VISÃO EXTRAORDINÁRIA
3.1 O MOTIVO DO JEJUM DE DANIEL.
“Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas completas” (Dn 10.2). A razão do seu lamento
e tristeza acompanhada de jejum é certamente explicada pela data mencionada no
versículo 1: "No terceiro ano de Ciro". É que
por volta do terceiro ano de Ciro, a obra iniciada da reconstrução do templo,
fora embargada (Ed 1-3; 4.4,5). Daniel, como patriota e membro da nação eleita,
preocupava-se com o futuro de sua nação; como já vimos este exemplo na sua
oração do capítulo 9. Contudo, havia ainda outro motivo para Daniel jejuar e
orar: desejava entender melhor as visões e profecias que já havia recebido e
ansiava por mais revelações do Senhor sobre o futuro de israel.
3.2 A DURAÇÃO DO JEJUM DE DANIEL.
“Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca...
até que se cumpriram as três semanas” (Dn 10.3). O presente versículo
apresenta um jejum intensivo feito por Daniel por 21 dias. A perseverança do
profeta na oração e no jejum por três semanas pela situação do povo em Jerusalém
ocasionou a resposta divina (Dn 10.12). O israelita jejua quando está de luto
(1Sm 31.13; 2Sm 1.12; 3.35), ou quando está em graves dificuldades e espera de
Deus o auxílio de que necessita (2Sm 12.16; 1Rs 21.27; Sl 35.13). Também se
jejua em preparação para receber a revelação de Deus, como bem pode ser
depreendido do texto de Êx 34.28 e do presente texto, ou antes de um
empreendimento difícil (Ed 8.21-23; Et 4.16) (SILVA, 1986, p. 187).
3.3 O TEMPO DO JEJUM DE DANIEL. “E
no dia vinte e quatro do primeiro mês...” (Dn 10.4). Alguns pesquisadores
defendem que três dias depois do fim de seu jejum de três semanas, Daniel teve
uma visão assustadora quando estava à beira do rio. Já outros dizem que a
expressão “no dia vinte e quatro do primeiro mês” quer dizer que Daniel
iniciou esta abstinência no terceiro dia do mês e concluiu no 24º dia. O rio
Hidéquel traz este nome que em assírio e grego corresponde ao rio Tigre. Era um
dos rios que assinalavam a localização do jardim do Éden (Gn 4.2,14) (SILVA, 1986,
p. 187).
3.4 A RESPOSTA DO JEJUM. "[…]
o príncipe do reino da Pérsia". (Dn 10.13). Esse “príncipe” não era de origem terrena,
tratava-se de um anjo diabólico tão forte, que a vitória só foi decidida quando
Miguel, o poderoso arcanjo, entrou em ação e assim a resposta da oração chegou
a Daniel (Dn 10.13). Assim como Deus tem anjos que protegem nações, Satanás
também tem os dele, que operam, mas a seu modo. Ao que parece, há anjos
perversos específicos incumbidos nas diversas nações; que alguns estudiosos de
angelologia chamam esses seres de "espíritos territoriais". Esse
anjo mau da Pérsia controlava os destinos desse país, mas foi desbancado pelos
anjos de Deus. “E eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (v.
13) (GILBERTO, 1984, p. 55).
3.5 GABRIEL E MIGUEL: DOIS
MENSAGEIROS DO SENHOR. "[…] e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes,
veio para ajudar-me..." (v.13).
A expressão "primeiros" é literalmente "principais". Isto
mostra que os anjos dividem-se em categorias, já a palavra
"príncipe", no hebraico "sor", corresponde a
“chefe; aquele que domina”. O arcanjo Miguel é anjo guardião de Israel (Dn
10.21; 12.1). A palavra “arcanjo” do grego “archangelos” significa
“anjo principal”. O prefixo “arch” sugere tratar-se de um anjo chefe,
principal ou poderoso. Na Bíblia Sagrada, mais precisamente em Judas v.9 e I
Tessalonicenses 4.16, aparece a menção de apenas um arcanjo: Miguel. Seu nome
em hebraico significa: “Quem é como Deus”. Nas Escrituras, Miguel
é descrito como: o arcanjo (Jd v.9); o líder das hostes angélicas no conflito
com Satanás e os seus anjos maus (Ap 12.7); um dos primeiros príncipes (Dn
10.13); “vosso Príncipe” (Dn 10.21); e o grande príncipe, “defensor dos filhos
do teu povo” (Dn I2.I). Gabriel, cujo nome quer dizer “homem de Deus” ou
“herói de Deus”. Significa, também, “o poderoso”, evidenciando o que o nome
sugere (GILBERTO et al, 2008, p. 454,455).
IV
- A DESCRIÇÃO DO HOMEM VESTIDO DE LINHO
Se considerarmos como dizem
alguns teólogos que esse “homem vestido de linho” dos versículos
5 ao 9 é o mesmo ser que tocou e falou com Daniel nos versículos 10 a 15,
então, teríamos de optar por Gabriel ou algum outro anjo, pois é impossível que
Jesus precisasse da ajuda de Miguel para derrotar um anjo perverso como está
escrito no versículo 13. Contudo, o ser que tocou Daniel e que falou com ele
nos versos 10 a 15, não foi o mesmo “homem vestido de linho” que
lhe apareceu na visão anterior. A descrição do “homem vestido de linho” assemelha-se
a descrição do Cristo glorificado que encontramos em (Ap 1.12-16), e a reação
de João frente a este homem “E, eu, quando vi, caí a seus pés como
morto...” (Ap. 1.17) foi a mesma de Daniel “... e não ficou força
em mim; e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força
alguma” (Dn 10.5). Esse homem em ambas referências era o Cristo pré-encarmado,
pois a linguagem é semelhante nestes dois livros e as características também
são as mesmas (Dn 10.5-9; comparar com (Ap 1.12-20). O ponto de vista da
maioria dos estudiosos da escatologia bíblica, é que de fato, é a pessoa de
Jesus no livro de Daniel. A vestimenta de linho fino, a veste celeste, os
lombos cingidos de ouro puro, o seu corpo luzente como berilo, o rosto como um
relâmpago, os olhos como tochas de fogo, os braços e os pés luzentes e como se fossem
de bronze polido, e a voz como a voz de muitas águas, são características
INERENTES EXCLUSIVAMENTE ao Filho de Deus e não de algum anjo seu.
CONCLUSÃO
Vimos que apesar de ter vivido
durante oito décadas numa terra pagã, Daniel manteve seu coração e sua vida puros
diante de Deus. Orava para que o remanescente que habitava em Jerusalém fosse
um povo santo para o Senhor, a fim de que fossem abençoados em seu trabalho.
REFERÊNCIAS
Ø ADEYEMO,
Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. Mundo Cristão.
Ø GILBERTO,
Antonio. Daniel & Apocalipse. CPAD.
Ø _______________.
et al. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø SILVA, Severino
Pedro da. Daniel versículo por versículo. CPAD.
Ø STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. IV.
Geográfica.
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