terça-feira, 3 de janeiro de 2017

LIÇÃO 01 – AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO ESPÍRITO







Gl 5.16-26




INTRODUÇÃO
Graça e Paz a todos! Quero iniciar este subsídio desejando a todos os nossos irmãos (ãs), amigos (as) e leitores (as) deste blog um feliz 2017 cheio da graça e das bênçãos do Senhor! Neste 1º trimestre de 2017 iniciaremos o ano letivo de nossas EDs com um tema imprescindível: “As Obras da Carne e o Fruto do Espírito – Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada diariamente”. O comentarista do trimestre é o Pastor Osiel Gomes – escritor, conferencista, bacharel em Teologia, Direito e graduado em Filosofia; líder da AD em Tirirical, São Luís – Maranhão, e que, por sinal, é a sua primeira vez comentando a revista Lições Bíblicas. Assim, o tema sugerido nos leva a fazermos uma introdução da epístola aos Gálatas, em seguida, abordamos um pouco de antropologia bíblica; depois, focamos na lista das obras da carne e, para finalizar, mencionamos todas as nove virtudes que compõe o fruto do Espírito. Desejo a todos um excelente trimestre!  


I. A EPÍSTOLA AOS GÁLATAS
O nome “Galácia” deriva dos gauleses, povo que invadiu a Ásia Menor no séc. III a.C., também chamado de povo celta pelos escritores clássicos da antiguidade. O termo “Galácia” foi aplicado a esse povo por volta do séc. III a.C., foi adotado pelos gregos e, aos poucos, foi se generalizando. Os gálatas estabeleceram seu reino na região de Péssina, Távia, Ancira –atual Ankara, capital da Turquia, que corresponde à região frígio-gálatas, mencionada em Atos 16.6; 18.23.

1. Autoria.
Não há motivo para se questionar as evidências internas da autoria da epístola (Gl 1.1; 5.2; 6.11). O apóstolo Paulo tinha amanuenses, dos quais Tércio era um deles (Rm 16.22). Assim, a maioria das cartas de Paulo foi escrita por seus amanuenses ou escribas. Porém, como a situação das igrejas da Galácia era crítica, estava em jogo não só a fé desses irmãos e nem apenas a autoridade apostólica de Paulo, mas principalmente o futuro do cristianismo. Por isso, ele mesmo escreveu de seu próprio punho (Gl 6.11), pois não queria deixar margem para os gálatas duvidarem da autenticidade da carta. Portanto, assim escreve: “Paulo, apóstolo (não da parte de homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos), e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia” (Gl 1.1,2).
  
2. Data e Local
Tem havido muita controvérsia quanto à data e o destinatário dessa epístola. Alguns estudiosos datam esta epístola entre 40-50 d.C., outros em 49 d.C., outros em depois 49 d.C., e outros em 55-60 d.C. No entanto, se levarmos em consideração as evidências internas que apontam para o Concílio de Jerusalém (Gl 2.1-10 cf At 15.2-5), e subsequentemente ao conflito de Paulo e Pedro em Antioquia da Síria (Gl 2.11-18 cf At 15.35), perceberemos, pois, que a data de 49 d.C.(mencionada por Stamps) é a mais plausível. Quanto ao local, este certamente foi Antioquia da Síria ou Jerusalém. Gálatas é, portanto, segundo a cronologia bíblica, a epístola mais antiga do apóstolo e mestre dos gentios.

3. Destinatário
Ao escrever a epístola aos Gálatas, Paulo destina a mesma para “às igrejas da Galácia” (Gl 1.2). Na época do ministério de Paulo a Galácia não era apenas a terra dos gauleses ou celtas. Abrangia também a região de Antioquia da Pisídia, Listra, Icônio e Derde, na Licaônia, cidades que formam o que chamamos de Galácia do Sul. A Galácia do Norte é a região mencionada em Atos 16.6; 18.23. A Galácia do Sul fora anexada pelo Império Romano em 25 a.C. tornando toda da Galácia em província do Império. Desse modo, a partir de então, toda aquela região era chamada de Galácia.
Todavia, o fato de Paulo apenas endereçar sua epístola “às igrejas da Galácia”, gerou uma dificuldade de interpretação entre os estudiosos em saber se o apóstolo enviou essa epístola para as igrejas da Galácia do Norte ou para as igrejas da Galácia do Sul. Isto fez surgir duas linhas de interpretação que apresentam argumentos consistentes, mas nenhum deles é decisivo. Entretanto, os argumentos em favor da Galácia do Sul nos parecem mais convincentes. O Novo Testamento não registra nenhuma atividade de Paulo e sua comitiva na Galácia do Norte. O texto apenas diz: “e passando pela Frígia e pela província da Galácia” (At 16.6) e “passando sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia” (At 18.23). Não está, pois, declarado que Paulo fundou igrejas nessas regiões. Não há qualquer citação referente à Galácia do Norte nesse sentido. Mas, sim, quanto a Galácia do Sul (At 13.14-14.23).

4. Tema e Palavra-Chave.
O tema central da epístola aos Gálatas, segundo Donald Stamps, é “Salvação pela Graça mediante a Fé”. Todavia, o Dr. John Macathur faz uma observação bem interessante ao tratar o assunto mostrando que, tanto em Gálatas como em Romanos o tema central das respectivas cartas é: “A Justificação pela Fé”. Paulo defende essa doutrina (a qual é o cerne do evangelho) tanto em sua ramificação teológica (Gl 3-4) quanto em sua ramificação pratica (Gl 5-6).
Se observarmos bem, tanto o Dr. Stamps como o Dr. Macathur estão corretos quanto ao tema central de Gálatas, pois esta é a epístola paulina que mais se aproxima de Romanos. Podemos apresentar cerca de 25 passagens paralelas entre essas epístolas, defendendo os mesmos ensinos (compare Rm 4.3 com Gl 3.6; Rm 4.10,11 com Gl 3.7). Estas epístolas livraram o cristianismo de se tornar uma seita do judaísmo. Se Romanos foi o estopim que incendiou toda a Europa do século XVI, com a Reforma Protestante, Gálatas foi para Lutero a pedra fundamental usada contra a hierarquia e todo o ritualismo da Igreja Romana. Depois de Romanos, Gálatas é o livro da Bíblia que exerceu mais influência na história do cristianismo. Diante disto, não é difícil entender porque ela é considerada pelos estudiosos como “A Carta Magna da Liberdade Cristã”. Assim, a palavra-chave da epístola não poderia ser outra, senão: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1).

5. Propósito.
Paulo tomou conhecimento de que certos mestres judaicos estavam inquietando seus novos convertidos na Galácia, impondo-lhes a circuncisão e o jugo da lei mosaica como requisitos necessários à salvação e ao ingresso na igreja. Ao saber disso, Paulo escreveu: 1) para demonstrar cabalmente que as exigências da lei, como a circuncisão do velho concerto, nada tem a ver com a operação da graça de Deus em Cristo para a salvação sob o novo concerto; e 2) para reafirmar claramente que o crente recebe o Espírito Santo e com Ele a nova vida espiritual por meio da fé no Senhor Jesus Cristo e não por meio da lei do AT.

6. Esboço da Epístola.

I. Pessoal: o pregador da justificação (1.1-2.21)
A. A correção apostólica (1.1-9)
B. Credenciais apostólicas (1.10-2.10)
C. A segurança apostólica (2.11-21)
II. Doutrinário: os princípios da justificação (3.1-4.31)
A. A experiência dos gálatas (3.1-5)
B. A bênção de Abraão (3.6-9)
C. A maldição da Lei (3.10-14)
D. A promessa da aliança (3.15-18)
E. O proposito da Lei (3.19-29)
F. A filiação dos cristãos (4.1-7)
G. A futilidade do ritualismo (4.8-20)
H. Ilustração da Escritura (4.21-31)
III. Pratica: os privilégios da justificação (5.1-6.18)
A. A libertação do ritual (5.1-6)
B. A libertação do legalismo (5.7-12)
C. A liberdade no Espirito (5.13-26)
D. A libertação da escravidão espiritual (6.1-10)
E. Conclusão (6.11-18)


II. A TRICOTOMIA DO HOMEM
O homem foi criado com uma biforme natureza: material e imaterial. A primeira foi formada do pó da terra e a segunda outorgada diretamente pelo Criador (Gn 2.7). Todavia, a Bíblia é clara em textos como 1 Ts 5.23 e Hb 4.12, onde o homem é identificado como que constituído de corpo, alma e espírito. O corpo é o invólucro da substância imaterial; a alma, a sede dos apetites e das emoções; e o espírito, a sede da adoração a Deus. A isso chamamos tricotomia. O termo “tricotomia” significa “aquilo que é dividido em três”, ou “que se divide em três tomos”. É disto que trataremos a seguir:

1. O Corpo.
O termo “corpo” no grego é “sôma”, e é bom lembrar que tratar-se de um termo neutro. Por isso, sôma pode referir-se tanto ao corpo do ser humano quanto do animal irracional. O corpo, por si só, nada pode fazer. Tiago asseverou esta verdade, ao escrever: “o corpo sem o espírito está morto” (Tg 2.26). O corpo é a sede dos sentidos físicos, pelos quais a alma se manifesta ao mundo exterior (Ec 11.9; Lc 12.19). O corpo e a alma além de bem distintos, são dependentes entre si. Por essa razão, há no corpo, faculdades que permite a alma expressar a sua função racional. Essas faculdades constituem-se em cinco, a saber: visão, audição, olfato, paladar e tato. Ainda que sejam distintas umas das outras, elas não atuam independentes do comando da alma.
Agora, observe esse dois textos:
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Na verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl 5.16).
No primeiro texto, Mateus 26.41, o termo “carne” é “sôma” que, como já explicamos, significa “corpo”. Mas, no segundo texto, Gálatas 5.16, o termo grego aqui para a palavra “carne” é “sárx” e é usado por Paulo, em suas cartas, para identificar a grande inimiga do Espírito à “natureza pecaminosa” (Rm 6.19; 7.5; 2 Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18). Portanto, a questão dos conflitos interiores não se fundamenta no corpo (sôma), pois ele é apenas algo material, mas sim na natureza pecaminosa (sárx) (Rm 7.18; Gl 5.17). O corpo é apenas um veículo que a natureza pecaminosa usa para expressar suas obras, por isso que Paulo diz que o corpo pode ser transformado, mudado, ao contrário da carne, isto é, da natureza pecaminosa, jamais ela pode ser transformada (1 Co 15.51; Fp 3.21; Rm 8.7,8).

2. A Alma.
 O termo “alma” no hebraico é “nephesh”, e no grego é “psiquê”. Às vezes este termo (alma) é empregado nas Escrituras para representar alguns vocábulos, tais como: coração (Sl 73.26; Jr 17.9; Mt 12.34,35), sangue (Lv 17.11; Gn 9.4; 4.10; Lm 2.12), vida (Gn 9.5; Is 43.4; Jó 12.10; 33.4), espírito (2 Co 7.1; Tg 2.26), e, ainda, pessoa  física (Êx 1.5; Dt 10.22; At 7.14). Por isso, é necessário entender o contexto para ver o sentido do termo!
Mas, em que consiste a alma? O que é a alma? Ela é a sede das emoções (Jó 30.25; Sl 42.2; 86.4; Ct 1.7; Is 1.14) e do apetite físico (Nm 21.5; Dt 12.20; Ec 2.24; Jó 33.20; Sl 107.18; Mq 7.1). Segundo o Dr. Myer Pearlman, “a alma é aquele principio inteligente e vivificante que anima o corpo humano [...]. A alma, no início, veio a existir em resultado do sopro sobrenatural do Espírito de Deus. No entanto, não devemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca”. Os textos de Gn 6.5; Ez 18.4,20; Sl 41.4; Mt 15.19 e Mc 7.21-23 atestam essa verdade de que a alma é quem peca. Aliás, a sárx (natureza pecaminosa), que é a herança de Adão à humanidade, está contida exatamente na alma do homem (Rm 5.12; 3.23; 7.20; 1 Co 15.21,22,45).  
No entanto, é necessário distinguimos a alma humana da alma dos animais. A alma dos animais (Gn 1.20,24,30) nada tem a ver com a alma dos homens, pois estes receberam “espírito” de vida (Gn 2.7) que  os distingue daqueles (Jó 32.8; Pv 20.27). O apóstolo Paulo afirma que nem “nem toda a carne é uma mesma carne”, assim também, “nem toda a alma é a mesma alma”. A alma do animal perece na sua morte, mas a do homem não (2 Co 5.1; Ap 6.9).
Além disso, a alma também possui faculdades ou qualidades, pelas quais ela se manifesta que são: Intelecto, Sentimento e Vontade. Através do intelecto (Gn 1.28; 2.19,20) a alma pensa, raciocina, decide, julga e conhece. Ou seja, é a alma quem recebe os conhecimentos. Através do sentimento a alma faz do homem um ser emotivo. Assim, o homem não é uma máquina insensível, pois pode sentir todas as grandes emoções, como alegria, amor, paz, prazer, tristeza, descontentamento, pesar e dor. Já através da vontade a alma se expressa como resultante das influências do intelecto e dos sentimentos. A vontade não age sozinha. Não há vontade livre ou independente. Ela obedece às forças emotivas e intelectuais da alma.   

3. O Espírito
O termo “espírito” no hebraico é “ruach”, e no grego é “pneuma”. Mas, o que é o espírito? Ele é a sede da adoração a Deus, ou seja, da vida religiosa e espiritual do homem (Sl 51.17; 95.6; Jr 7.2; Mt 2.2; Jo 4.23,24; At 2.5; Tg 1.26; Ap 19.10; 22.8,9). É através do espírito que, o homem, tem a capacidade de relacionar-se com o seu Criador (Rm 1.9; Fp 1.27). No princípio, ao criar o espírito (Gn 2.7; Zc 12.1), Deus não apenas soprou o fôlego de vida, mas implantou no espírito do homem a imortalidade (Ec 3.11; 12.7; Dn 12.2). Assim, o espírito é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas criadas. Logo, os seres irracionais, não podem conhecer as coisas de Deus (1 Co 2.11; 14.2; Ef 1.17; 4.23), e nem ter um relacionamento pessoal e responsável com ele (Jo 4.24). Portanto, ao contrário da alma, que busca mais um relacionamento com as coisas físicas, o espírito do homem busca um relacionamento pessoal com Deus e a sua Palavra.
Semelhantemente ao corpo e a alma, o espírito também possui suas faculdades, pelas quais ele relacionar-se com seu Criador, essas faculdades são: e Consciência (1 Tm 1.5, 3.9; 19; At 23.1). A faculdade da fé é uma qualidade do espírito humano que expressa a religiosidade do homem e o torna capaz de adorar, reverenciar, louvar e orar a Deus, o Criador (1 Co 14.15; Ef 5.19; Cl 3.16). Não se trata de um tipo de fé, adquirida ou ensinada, mas é uma forma inata que nasce com qualquer ser humano. Ela nos estimula a buscar a Deus e comungar com Ele. Já a faculdade da consciência é a lei moral e espiritual, no interior do homem, que aprova ou desaprova as suas ações (Rm 2.14,15; At 24.16; 1 Co 8.7). É a intuição que o espírito tem dos atos e estados do ser humano em sua vida cotidiana. A consciência não está sujeita à vontade, e nem aos sentimentos da alma.


III. AS OBRAS DA CARNE
O termo “obra” no grego é “érgo” e significa “fazer, criar”. Assim, as obras da carne constituem-se em uma lista de pecados criada ou gerada pela sárx (natureza pecaminosa) e que, mesmo após a conversão do crente, a mesma continua nele constituindo-se em sua pior inimiga (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Por isso, Paulo adverte-nos ao dizer que aqueles que praticam as obras da carne não poderão herdar o Reino de Deus (5.21). Portanto, a sárx (natureza pecaminosa) precisa ser resistida e controlada numa guerra espiritual contínua, que o crente trava através do poder do Espírito Santo (Rm 8.4-14; ver Gl 5.17).
Vale lembrar ainda que, tais obras diferem de uma versão bíblica para outra, ou seja, na versão ARC (Almeida Revista e Corrigida) os termos “emulações, pelejas, heresias, homicídios”, são substituídos na versão ARA (Almeida Revista e Atualizada) por “ciúmes, discórdias, facções”. Observe que o termo “homicídios” não foi incluso na versão ARA por entender que o mesmo já se encontra subentendido em obras que constam na lista, tais como: inveja, dissensões, facções. Já na versão AEC (Almeida Edição Contemporânea) apenas os termos “emulações, heresias, glutonarias” da versão ARC são substituídos por “ciúmes, facções, orgias”. O termo “homicídios” também não aparece aqui por concordar com o mesmo entendimento da versão ARA. Já com relação aos termos “pelejas, glutonarias” da ARA esses foram substituídos por “discórdias, orgias” da versão AEC. Portanto, nossa intenção aqui é esclarecer possíveis dúvidas e questionamentos quanto à substituição e omissão de alguns desses termos por se trata de sinônimos. Tratemos, a seguir, de cada uma delas:
  • Prostituição (gr. pornéia). Trata-se de imoralidade sexual de todas as formas. Isto inclui, também, gostar de quadros, filmes ou publicações pornográficos (cf. Mt 5.32; 19.9; At 15.20,29; 21.25; 1Co 5.1).
  • Impureza (gr. akatharsia). Trata-se de pecados sexuais, atos pecaminosos e vícios, inclusive maus pensamentos e desejos do coração (Ef 5.3; Cl 3.5). Em suma é a corrupção sexual.
  • Lascívia (gr. aselgeia). Trata-se da sensualidade, luxúria. É a pessoa seguir suas próprias paixões e maus desejos a ponto de perder a vergonha e a decência (2 Co 12.21). Segundo o comentarista do trimestre, é a falta de controle no aspecto sexual.
  • Idolatria (gr. eidololatria). Trata-se da adoração de espíritos, pessoas ou ídolos, e também a confiança numa pessoa, instituição ou objeto como se tivesse autoridade igual ou maior que Deus e sua Palavra (Cl 3.5).
  • Feitiçarias (gr. pharmakeia). Trata-se do espiritismo, magia negra, adoração de demônios e o uso de drogas e outros materiais, na prática da feitiçaria (Êx 7.11,22; 8.18; Ap 9.21; 18.23).
  • Inimizades (gr. echthra). Trata-se de intenções e ações fortemente hostis; antipatia e inimizade extremas.
  • Porfias (gr. eris). Trata-se de brigas, oposição, luta por superioridade (Rm 1.29; 1 Co 1.11; 3.3). Segundo o comentarista do trimestre, são as disputas que surgem por causa de desejos egoístas.
  • Emulações (gr. zelos). Trata-se de ciúme, ressentimento, inveja amarga do sucesso dos outros (Rm 13.13; 1 Co 3.3).
  • Iras (gr. thumos). Trata-se de ira ou fúria explosiva que irrompe através de palavras e ações violentas (Cl 3.8).
  • Pelejas (gr. eritheia). Trata-se de discórdia, ambição egoísta e a cobiça do poder (2 Co 12.20; Fp 1.16,17).
  • Dissensões (gr. dichostasia). Trata-se de introduzir ensinos cismáticos na congregação sem qualquer respaldo na Palavra de Deus (Rm 16.17). Segundo o comentarista do trimestre, dissensão é divisão.  
  • Heresias (gr. hairesis). Trata-se de grupos divididos dentro da congregação, formando conluios egoístas que destroem a unidade da igreja (1 Co 11.19). Facções (gr. fatríes) que, segundo o Pr. Osiel Gomes, significa pessoas que procuram demonstrar suas opiniões partidárias. 
  • Invejas (gr. fthonos). Trata-se de antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que não temos e queremos. Segundo o comentarista do trimestre, a inveja está ligada com todos os pecados já mencionados antes dela, ela ajuda na consumação das disputas, divisões e homicídios.
  • Bebedices (gr. methe). Trata-se de descontrole das faculdades físicas e mentais por meio de bebida embriagante.
  • Glutonarias (gr. kômoi). Trata-se de diversões, festas com comida e bebida de modo extravagante e desenfreado, envolvendo drogas, sexo e coisas semelhantes. Segundo o comentarista do trimestre, o termo “kômoi” do grego pode referir-se tanto a orgia como para comilança (glutonaria). 
Essa lista de pecados gerados pela sárx (natureza pecaminosa) pode ser classificada em três grupos, a saber: Ordem Moral ou Sexual, Ordem Religiosa e Ordem Social ou Interpessoal.

AS OBRAS DA CARNE (SÁRX)
Ordem Moral
ou Sexual
Ordem
Religiosa
Ordem Social ou Interpessoal
Prostituição
Idolatria
Inimizades
Impureza
Feitiçarias
Porfias
Lascívia
Heresias
Emulações


Iras


Pelejas


Dissensões


Invejas


Homicídios


Bebedices


Glutonarias

Vale salientar que, Paulo citou apenas algumas obras da carne (sárx), pois ele diz: “e coisas semelhantes a estas” (Gl 5.21). O que faz-nos entender que a lista é muito extensa! Portanto, para não viver no poder da carne (sárx), Paulo aconselha que todos os crentes procurem viver sob o domínio do Espírito Santo de Deus (Gl 5.16,25).


IV. O FRUTO DO ESPÍRITO
Em oposição às obras da sárx (natureza pecaminosa), o Espírito Santo proporciona ao crente um modo de viver santo, íntegro e honesto denominado “fruto do Espírito”. O termo “fruto” no Novo Testamento é a tradução do original “karpos”, e pode significar “o fruto”, quanto “dar fruto”, “frutificar” ou ser “frutífero” (Mt 12.33; 13.23; At 14.17). Este antídoto só é manifesto na vida do crente que busca viver uma vida de comunhão com Deus, permitindo que o Espírito Santo dirija e influencie sua vida (ver Rm 8.5-14; 8.14; cf. 2 Co 6.6; Ef 4.2,3; 5,9; Cl 3.12-15; 2 Pe 1.4-9). Noutras palavras, o karpos do Espírito são virtudes cristãs que são manifestas na vida daqueles que vivem sob o controle (domínio) do Espírito Santo. Portanto, trata-se de um recurso para destacar a unidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que se sujeitam a Ele, produzindo as diversas virtudes, mas tendo uma só fonte. Vejamos, pois, cada uma delas:
  • Amor (gr. Agápe). Trata-se do interesse e da busca do bem maior de outra pessoa sem nada querer em troca (Rm 5.5; 1 Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14). É importante entender que Paulo não está dizendo aqui, que as demais virtudes vêm do amor, na verdade, o amor é a decisão de tudo (1 Co 13.13; 1 Jo 4.8).
  • Gozo (gr. Charáalegria com motivos certos). Trata-se da sensação de alegria baseada no amor, na graça, nas bênçãos, nas promessas e na presença de Deus, bênçãos estas que pertencem àqueles que crêem em Cristo (Sl 119.16; 2 Co 6.10; 12.9; 1 Pe 1.8; ver Fp 1.14). Logo, não é produto do crente, mas vem ao crente por meio de Jesus e do Espírito Santo (Jo 15.11; 1 Ts 1.6).
  • Paz (gr. Eiréneordem, segurança, felicidade, ausência de ódio, vida confiante no que Cristo fez). Trata-se da quietude de coração e mente baseada na convicção de que tudo vai bem entre o crente e seu Pai celestial (Rm 15.33; Fp 4.7; 1 Ts 5.23; Hb 13.20). Essa paz vem de Cristo e concede tranquilidade ao crente (Jo 14.27; Fp 4.6), ela visa atingir também os relacionamentos.
  • Longanimidade (gr. makrothumíapaciência). Trata-se da perseverança, paciência, ser tardio para irar-se ou para o desespero (Ef 4.2; 2 Tm 3.10; Hb 12.1). Dominado por essa virtude o cristão não se apressa em tomar atitudes ásperas de imediato, nem fica dominado com o sentimento de vingança, mas deixa tudo nas mãos de Deus (Rm 12.19).
  • Benignidade (gr. Chrestótesgenerosidade, amabilidade). Trata-se de não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor (Ef 4.32; Cl 3.12; 1 Pe 2.3). A ênfase está em fazer o bem e envolve atitudes sociais.
  • Bondade (gr. Agathosýne – retidão, bondade benéfica). Trata-se do zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal; pode ser expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal (Mt 21.12,13). Essa bondade trata-se mais de uma conduta, alguém que faz o bem porque é reto e aborrece o mal. Dominado por essa virtude o cristão nunca agirá com intenções e motivos maléficos.
  • (gr. Pistis – entenda que não se trata apenas de fé, mas sim de fidelidade, lealdade). Trata-se de lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2; 4.7;Tt 2.10). São diversos conceitos que essa palavra recebe, mas nesta ocasião ela ganha uma conotação de integridade, dignidade que merece confiança (Mt 23.23; 2 Tm 4.7; Tt 2.10).
  • Mansidão (gr. Praótesgentileza, faz o bem para o outro com toda humildade, pois o eu carnal está subjugado). Trata-se da moderação, associada à força e à coragem; descreve alguém que pode irar-se com equidade quando for necessário, e também humildemente submeter-se quando for preciso (2 Tm 2.25; 1Pe 3.15; para a mansidão de Jesus, cf. Mt 11.29 com 23; Mc 3.5; a de Paulo, cf. 2 Co 10.1 com 10.4-6; Gl 1.9; a de Moisés, cf. Nm 12.3 com Êx 32.19,20).
  • Temperança (gr. Enkráteia – domínio próprio, autocontrole). Trata-se do controle ou domínio sobre nossos próprios desejos e paixões, inclusive a fidelidade aos votos conjugais; também a pureza (1 Co 7.9; Tt 1.8; 2.5). Estudiosos falam desse controle como um ato de reprimir com mão forte, por meio do Espírito Santo, os desejos do eu carnal. 
Observe que no tocante às obras da carne (sárx), Paulo diz que: “os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.21). Noutras palavras, Paulo está afirmando que para as obras da carne existe restrição, exigências, mas, já para as obras (fruto) do Espírito não há Lei (Gl 5.23), ou melhor, não existem restrições. Por que não há lei? Porque essas obras do Espírito são benéficas para nossa vida (Rm 8.4; 1 Tm 1.9). Por isso, o cristão deve procurar sempre viver sob o poder do Espírito Santo para que esse fruto (karpos) esteja em sua vida (Jo 15.2; Ef 5.9; Cl 3.12; 1 Co 13.7). 


CONCLUSÃO
Diante do exposto aprendemos sobre o valor da epístola aos Gálatas, e entendemos melhor sobre as atribuições e faculdades tanto da alma como do espírito humano, também assimilamos o termo “carne” no contexto dos escritos paulinos. Além disso, aprendemos ainda sobre oque é e quais são as obras da carne e do fruto do Espírito. Todavia, parece estar faltando alguma coisa! Eu já percebi o quê! Responder essa indagação: “Como vencer a natureza pecaminosa?” Ora, segundo Paulo, o cristão precisa andar no ou pelo Espírito, tão somente desse modo estará em condição de freá-la, de não ser dominado por ela, satisfazendo seus desejos (Gl 5.16,25). Portanto, somente assim, sua vida será marcada pela vitória, pois quem terá o controle pleno de sua vida é o Espírito Santo de Deus (Ef 4.30).




REFERÊNCIAS
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GOMES, Osiel. As Obras da Carne e o Fruto do Espírito. CPAD.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. VIDA.
ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
HOWARD, R.E. Comentário Bíblico Beacon. Vol. 09 CPAD.
THOMPSON, Frank C. Bíblia de Estudo Thompson. VIDA.
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. SBB.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas. (4º trimestre/1995). CPAD.
SOARES, Esequias. Lições Bíblicas. (2º trimestre/1997). CPAD.
SOARES, Esequias. Lições Bíblicas. (2º trimestre/1999). CPAD.




Por Amigo da EBD.


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