Lv 1.1-9
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos uma definição da palavra holocausto à luz das Escrituras Sagradas;
veremos também, algumas características da oferta de holocausto dentro do
sistema levítico; e por fim, destacaremos algumas marcas do sacrifício de
Cristo, que o faz ser o holocausto perfeito.
I. A PALAVRA HOLOCAUSTO À LUZ DAS
ESCRITURAS
1. Definição
etimológica.
Cerca de 290 vezes
a palavra holocausto aparece nas Escrituras, englobando tanto a forma singular
(199 vezes), como a forma plural (91 vezes), sendo que, a maior ocorrência do
termo está no livro de Levítico (62 vezes) (OLIVEIRA, sd, pp. 532,533). A
expressão holocausto aparece pela primeira vez na Bíblia, atrelada a história
de Noé: “E edificou Noé um altar ao SENHOR; e tomou de todo o animal limpo e de
toda a ave limpa, e ofereceu holocausto sobre o altar” (Gn 8.20). A
palavra hebraica traduzida como holocausto é: “olah”, e significa
literalmente: “aquilo que vai para cima”. O dicionário Vine (2002, p. 692),
lembra que no grego o termo advém de: “holokautõma” (Mc 12.33; Hb 10.6,8) e
que denota: “oferta queimada por inteiro”, formado de “holos”, “inteiro”,
e “kautos”,
em lugar de “kaustos”, adjetivo verbal de “kaiõ”, que quer dizer: “queimar”.
2. Descrição
bíblica.
A oferta do
holocausto, também chamada de oferta queimada (Lv 1.9), era inteiramente
consumida sobre o altar (Lv 6.9), com exceção da pele do animal (Lv 7.8), e das
entranhas com os resíduos de comida (Lv 1.16). Esse sacrifício era oferecido a
Deus como ato de adoração (1 Cr 29.20,21), em ação de graças (Sl 66.13-15),
para obter algum favor (Sl 20.3-5) e, em diversos ritos de purificação (Lv
12.6-8; 14.19,21,22; 15.15,30; 16.24; Jó 1.5). Era o único sacrifício
regularmente estabelecido para o culto no santuário e era oferecido
diariamente, de manhã e à noite por isso era chamado de o sacrifício “tãmíd”,
ou seja, perpétuo, contínuo (Êx 29.38-42; Ez 46.13; Dn 8.11; 11.31) (TENNEY,
vol. 03, p. 63 – acréscimo nosso). Deveriam ser apresentados como sacrifício de
holocausto, animais específicos (Lv 1.2,10,14), sendo macho sem defeito (Lv
1.3,10; 22.19-21).
II. CARACTERÍSTICAS DO SACRIFÍCIO
DE HOLOCAUSTO
1. Voluntário.
A oferta de
holocausto como podemos notar, tratava-se de um sacrifício voluntário, isto é,
a pessoa trazia de maneira livre e espontânea o animal que seria oferecido ao
Senhor: “Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR […]” (Lv 1.2; ver
1Sm 7.9; 13.9; Sl 20.3), conforme sempre são as ofertas mais altamente
motivadas, e era apresentada pelo ofertante à porta da tenda da congregação (Lv
1.3,5).
2. Substitutivo.
Um ato orientado
por Deus no ritual da oferta de holocausto, era: “E porá a sua mão sobre a cabeça
do holocausto […]” (Lv 1.4), prescrição essa determinada para todos os
sacrifícios de animais. Compare a mesma ocorrência na oferta de paz (Lv 3.2),
na oferta pelo pecado (Lv 4.4), no oferecimento do carneiro da consagração (Lv
8.22), no ritual do Dia da Expiação (Lv 16.21), e até na apresentação dos
levitas (Nm 8.10), exceto quando o sacrifício era de aves (Lv 14.4,14-17,49). O
adorador deveria colocar a mão sobre o animal a ser sacrificado (Lv 1.4), gesto
que simbolizava duas coisas: a) a
identificação do ofertante com o sacrifício; e, b) a transferência de algo para o sacrifício. No caso do
holocausto, o ofertante estava dizendo: “Assim como esse animal é entregue
inteiramente a Deus no altar, também eu me entrego inteiramente ao Senhor”.
Nos sacrifícios que envolviam o derramamento de sangue, a imposição de mãos
simbolicamente transferia o pecado e a culpa para o animal que morria no lugar
do pecador (WIERSBE, 2006, p. 336).
3. Expiatório.
O holocausto era
uma dádiva que visava ganhar o favor divino para o adorador conforme é indicado
na seguinte frase: “[…] para que seja aceito a favor dele, para a
sua expiação” (Lv 1.4-b), ficando claro textualmente o propósito de
Deus na oferta de holocausto. Esta expiação significa “remissão da culpa através do
pagamento ou cumprimento da pena”, nesse caso em particular por meio da
morte do animal oferecido (Lv 1.3,9,13,17).
4. Provisório e
repetitivo.
Como já vimos o
holocausto era um sacrifício contínuo (Nm 28.1-6; Ez 46.13; Dn 8.11), e embora
os sacrifícios descritos em Levítico, tenham sido instituídos por Deus, eles
não eram plenos: “nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano,
pode aperfeiçoar os que a eles se chegam […]” (Hb 10.1), pois: a) eram repetitivos (Hb 10.11); b) não limpavam à consciência (Hb 9.9);
e, c) não purificavam os pecados (Hb
10.4).
5. Tipológico.
Os holocaustos
são sombra da disposição de Cristo em entregar a si mesmo (Hb 10.1). O animal
inocente simbolizava a perfeição moral demandada pelo santo Deus, bem como a
natureza perfeita do real sacrifício futuro, a saber, Jesus Cristo. O animal
sacrificado pelos israelitas não apenas acalmava a ira de Deus ou se tornava um
substituto para receber punição, mas sobretudo, prenunciava o dia em que o
Cordeiro de Deus, Jesus Cristo (Jo 1.29), morreria e venceria o pecado para
sempre (Cl 2.13,14).
III. CARACTERÍSTICAS DO SACRIFÍCIO
DE JESUS COMO O HOLOCAUSTO PERFEITO
1. Voluntário.
Jesus não foi
forçado a ir à cruz. Ele não foi à cruz contra sua vontade. Ele mesmo disse: “Por
isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma
tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para
tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10.17,18). A
morte de Cristo não deve ser considerada como um acidente, mas algo
intencional, como demonstração do Seu eterno amor pela humanidade (Jo 3.16;
10.11; Rm 5.6,8,15).
2. Substitutivo.
Quando o homem
caiu e se afastou de Deus, ficou em débito eterno para com o Senhor (Cl 2.14). O
homem, por si só não poderia resolver seu problema ou pagar sua dívida diante
de Deus, a não ser que um “substituto” fosse providenciado, o
que está fora do alcance do homem conseguir. Essa atividade, dentro da
Teologia, é chamada de “expiação vicária”, que pode ser
entendida como “substituição penal” (2 Co 5.14, 15,21). A Bíblia ensina que os
sofrimentos e a morte de Cristo foram vicários por todos os homens, pois Ele
tomou o lugar dos pecadores, e que a culpa deles lhes foi “imputada” e a punição que
mereciam foi transferida para Ele (Lv 1.2-4; 16.20-22; 17.11; Is 53.6,12; Mt
20.28; Mc 10.45; Jo 1.29; 11.50; Rm 5.6-8; 8.32; 2Co 5.14,15,21; Gl 2.20; 3.13;
1Tm 2.6; Hb 9.28; 1Pd 2.24) (RYRIE, 2017, p. 331).
3. Expiatório ou
Propiciatório.
Deus demonstra
Sua justa ira para com o pecado (Jo 3.36; Rm 1.18-32; Ef 2.3; 1Ts 2.16; Ap
6.16; 14.10,19; 15.1,7; 16.1; 19.15), de forma que, qualquer que seja a atitude
desse Deus absolutamente Santo contra o pecado, é completamente justo e
aceitável, pois, devido a seu caráter Santo, não pode deixar impune o mal, nem
tão pouco fingir que ele não existe, ou que não tem importância. Contudo, em
Cristo por meio do seu perfeito sacrifício, é providenciada uma oferta “propiciatória”
e assim a ira de Deus contra o pecado é apaziguada (Rm 3.25; 1Jo 2.1-2; 4.10
cf. Êx 25.17-22; Lv 16.14.15) (CHAFER, 2010, p. 99). A palavra propiciação
significa: “aquilo que propicia, isto é, torna favorável”. O pecado separa
o homem de Deus (Is 59.2; Rm 3.23; Ef 2.1-3), mas Jesus, o nosso cordeiro,
morreu para tirar o pecado (Jo 1.29;1Jo 3.5) e, por causa dessa propiciação, a
ira de Deus se retirou (Is 12.1-3) e aquele que crer em Jesus é livre de toda a
culpa diante da Lei. Deus nos concedeu um sinal de sua aprovação a esta
propiciação: na hora da morte de Jesus, o véu do templo se rasgou de alto
abaixo (Mt 27.51). Assim, Deus mostrou que Jesus abriu um “novo e vivo caminho” (Hb
10.20).
4. Redentor.
A redenção é
mais um aspecto do sacrifício de Cristo sobre a cruz, que é ligado ao pecado e
restrito em seu significado. Como substituição tem o sentido de assumir a
culpa, já a redenção tem sentido de pagar essa culpa assumida. Ou seja, a
redenção é aplicada no que diz respeito ao pecado e o débito que ele causa, que
pode apenas ser pago com sangue (Hb 9.22 cf. Lv 17.11). Logo, para que o preço
de pecado pudesse ser pago, era necessário derramamento de sangue de um
cordeiro sem máculas (Jo 1.29; cf. Is 53.9; 1Pd 2.21-22). A ideia expressa
nesse contexto é de prover liberdade através do pagamento de um resgate (Rt
3.9; Os 3.15; Is 43.3,10-14). Cristo é o Redentor da raça humana e a ideia
expressa é de comprar (Mt 13.44, 46; 14.15; Mc 6.36; Lc 9.13; cf. Gn 41.57,
42.5,7; Dt 2.6). “Por que fostes comprados por preço […]” (1 Co 7.23). A ideia
presente neste texto aponta para uma compra de alto valor. Assim, podemos
concluir que essa compra implicou no pagamento de um preço alto (1 Pe 1.18,19),
que é o sangue do próprio Messias (Ap 5.9,10). Assim, por meio do pagamento, o
redimido é desatado e está livre (CHAFER, 2010, vol.3, p. 99).
5. Único e
eficaz.
Os sacrifícios
de animais precisavam ser repetidos, mas Jesus Cristo ofereceu a si mesmo uma
só vez (Hb 7.26,27). Por fim, os sacrifícios de animais não poderiam jamais
apagar, pois, seu sangue apenas “cobriria” o pecado até que o sangue
de Cristo “tirasse o pecado do mundo” (Jo 1.29). Seu sacrifício purifica a
consciência (Hb 9.14); e uma vez que Cristo é “sem mácula”, pôde
oferecer o sacrifício perfeito (Hb 10.10,14,18); de maneira que quando Jesus
morreu na cruz, como oferta pelos nossos pecados, o véu do templo foi rasgado
de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45), ficando por meio de Cristo
aberto o acesso a Deus (Hb 9.1-14; 10.19-22). Contrastando o acesso limitado a
Deus que os israelitas tinham por meio do sistema sacrificial Levítico, Cristo,
ao dar sua vida por nós como sacrifício perfeito, abriu o caminho para a
própria presença de Deus e para o trono da graça (Hb 4.16).
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus
Cristo realizou muitas obras, porém, a obra suprema que Ele consumou foi a de
morrer pelos pecados do mundo (Mt 1.21; Jo 1.29). O evento mais importante e a
doutrina central da salvação, resumem-se nas seguintes palavras: “[…] Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co 15.3).
REFERÊNCIAS
ü CHAFER,
Lewis Sperry, Teologia Sistemática.
HAGNOS.
ü OLIVEIRA,
Oséias Gomes. Concordância Bíblica Exaustiva Joshua. Vol. 02. CENTRAL GOSPEL.
ü RYRIE,
Charles. Teologia Básica. MUNDO CRISTÃO.
ü TENNEY,
Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Vol 3. EDITORA CULTURA CRISTÃ.
ü VINE,
W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
ü WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento. PDF.
Por Rede
Brasil de Comunicação.