Lv 9.1-14
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos uma definição das palavras doutrina e culto; pontuaremos a descrição
dos elementos do culto levítico com suas características; analisaremos a
doutrina do culto levítico e sua aplicação para a igreja; e por fim, estudaremos
os principais elementos do culto cristão.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA DOUTRINA
E CULTO
1. Definição do
termo doutrina.
No AT, essa
palavra ocorre principalmente como tradução do termo hebraico “leqah”,
que significa: “o que é recebido” (Dt 32.2; Jó 11.4; Pv 4.2; Is
29.24). O termo doutrina segundo Houaiss (p. 1081) significa: “conjunto
coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas”. A
palavra doutrina significa ainda: “ensino ou instrução”; envolve
também a ideia de crença, dogma, conceito ou princípio fundamental ou normativo
por detrás de certos atos (CHAMPLIN, 2004, p. 228). No NT o termo deriva-se do
grego “didache” (Mt 4.23; 9.35; Rm 12.7; 1Co 4.17; 1Tm 2.12), que
expressa tanto o ato de ensino (sentido ativo) como aquilo que é ensinado
(sentido passivo). Nesse sentido, a doutrina do culto Levítico tem a ver com os
ensinamentos que o povo de Israel precisava aprender, em relação a sua forma,
meios e propósitos, na adoração a Deus.
2. Definição do
termo culto.
Todas as
palavras traduzidas na Bíblia pelo termo culto significam: “trabalho,
serviço prestado a um superior, serviço prestado a Deus”. Segundo
Houaiss (2001, p. 887), a palavra “culto” deriva do Latim, “cultu”,
e significa: “adoração ou homenagem a Deus”. Etimologicamente, o
termo indica: “honrar, cultivar, reverenciar respeitosamente […], é o conjunto
de atitudes e ritos pelos quais se adora uma divindade […] veneração,
reverência, admiração, paixão externa para com alguém” (CLAUDIONOR, 2006, p.
127). Os principais termos que descrevem o ato de “culto” na Bíblia são: “shachah”
no hebraico significando: “inclinar-se, prostrar-se”, e
no grego as expressões “latréia” e “proskyneo” significando
respectivamente: “baixar-se para beijar, prostrar-se para adorar;
reverenciar, prestar obediência, render homenagem”.
II. DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS DO
CULTO LEVÍTICO
É quase
impossível lermos o Pentateuco sem que não nos impressionemos pela estrutura
que ganha o culto no judaísmo. Somente uma revelação divina, como a que foi
dada a Moisés, justificaria a existência de tantos símbolos presentes na
adoração hebraica. O culto levítico era extremamente ritualista, no entanto,
era constituído de uma adoração enriquecedora. Notemos isso em alguns elementos
do culto:
1. Os
ministrantes.
Arão e seus
filhos haviam obedecido às ordens de Deus quanto a consagração ao sacerdócio,
assim sendo, estavam prontos para começar a servir ao Senhor no altar (Lv 9.1).
Até esse ponto, era Moisés quem oferecia os sacrifícios (Lv 8.14-29), daqui em
diante, Arão e seus filhos assumiram seu ministério sacerdotal (Lv 9.2-12). O
capítulo 9 de Levítico, é um referencial da adoração no AT, registra os
primeiros sacrifícios públicos de Israel sob o regime do sacerdócio levítico.
No capítulo 8, os sacrifícios foram oferecidos na ordenação de Arão e seus
filhos, mas o povo ficou só observando; não participou. Agora, os sacerdotes
começam de fato o ministério de mediação (Lv 9.15-23) (BEACON, 2010, p. 275 – acréscimo
nosso). Os levitas se aposentavam do serviço aos 50 anos de idade, embora
continuassem dando assistência (mas sem realizar serviço braçal) aos
jovens sucessores (Nm 8.23-26).
2. Os
sacrifícios.
O ministério
mediador de Arão começa quando Moisés o ordena a tomar um bezerro sem defeito,
de dois anos, como oferta pelo pecado, e um carneiro para um holocausto, e
sacrificá-los diante do SENHOR. Estes dois animais deviam ser oferecidos em
prol de Arão e o sacerdócio, e é significante que eram ofertas pelo pecado (Lv
9.7,8,10). A oferta pelo pecado precede naturalmente o holocausto, e indica o
modo segundo o qual Deus deseja que os adoradores se aproximem dEle. Antes de
mais nada havia a necessidade de purificação do pecado, de tal modo que o
transgressor pudesse ficar limpo diante de Deus (Lv 8.14-17; cf. Êx 29.10-14).
3. A liturgia.
Um outro ponto
que deve ser considerado a respeito do culto a Deus descrito em Levítico, é a
sua liturgia; a palavra liturgia advém do grego “leiturgia”, que
quer dizer: “serviço divino”, usada frequentemente no contexto de
serviço religioso (Lc 1.23; 2Co 9.12; Fp 2.17,30; Hb 8.6; 9.21), podendo ser
dito de forma prática que é: “culto público oficiado por uma igreja; um
ritual”. Andrade destaca ainda que, liturgia é: “a forma pela
qual um culto público é conduzido” (2006, p. 255). Um outro ponto
evidente em Levítico, é que o Deus vivente não é uma imagem impotente à qual os
homens prestam culto segundo suas ideias, a sua maneira. Somente Ele é quem
determina os requisitos (Lv 9.7,10,16), segundo os quais lhe é possível habitar
com seu povo (Êx 25.8).
III. A DOUTRINA DO CULTO LEVÍTICO
E SUA APLICAÇÃO PARA A IGREJA
O culto no AT
apresenta princípios que são perfeitamente aplicáveis a Igreja. Vejamos:
1. O culto
cristão é teocêntrico.
O culto deve ser
realizado dentro de critérios instituídos pelo próprio Deus, bem como ser
composto por elementos fixados na Bíblia (Sl 115.1). A luz das Escrituras, o
crente aprende que o culto ao Deus verdadeiro não deve ser maculado com o uso
de imagens de escultura (Êx 20.4-6), nem deve usar linguagem deselegante em
suas mensagens (1Tm 4.12; Tt 2.7,8), que tal culto se torna vão quando mesclado
com ensinamentos que não passam de regras inventadas por homens (Mt 15.8,9; Cl
2.20-23). O Deus trino deve ser o alvo exclusivo da adoração, não podendo o
louvor dos adoradores ser dirigido a nenhum outro (Mt 4.10). É no culto que o
nome de Deus é exaltado em cânticos e orações, com a força que decorre da união
de vozes, pensamentos e corações (Sl 34.3).
2. O culto
cristão é ordeiro.
A adoração deve
partir do íntimo do indivíduo, sendo verdadeira e sincera (Jo 4.24). O culto deve
ocorrer num ambiente marcado por decência e ordem, onde o crente que cultua
deve ter a alma mergulhada em reverência e santo temor: “[…] pela qual
sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade” (Hb 12.28) e o
culto genuíno deve ser oferecido a Deus por meio de um mediador, o qual é Jesus
Cristo (Ef 2.18; 1Tm 2.5). O culto realizado na presença do Senhor, precisa ser
marcado por decência e ordem: “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”
(1Co 14.40),“[…] pois o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb
12.29).
3. O culto
cristão é reverente.
O culto ao
Senhor não deve ser um momento para a realização de danças, homenagens a este
ou aquele indivíduo, apresentações humorísticas (Ef 5.4), supostos exorcismos e
para inúmeras outras práticas carentes de amparo bíblico (1Co 14.40). Em lugar
dessas coisas, o culto a Deus deve ser constituído essencialmente de pregação, oração,
louvor e dádivas (Ef 2.21,22; 1Pe 2.5). O levantar as mãos durante os cânticos
não é prática comum nas igrejas mais tradicionais. Não obstante, esse gesto
esteja presente na Bíblia associado ao juramento (Gn 14.22,23; Dn
12.7; Ap 10.5,6), à oração (Sl 28.2; 77.2; 88.9; 141.2; Lm 2.19;
3.41,42; 1Tm 2.8) e ao louvor (Ne 8.6; Sl 63.4; 134.2). Sabe-se também
que levantar as mãos é uma expressão física que simboliza o
desejo de alcançar a Deus (Sl 143.6), o seu perdão, o seu favor ou os seus
ensinos (Sl 119.48).
IV. OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO
CULTO CRISTÃO
São cinco os
principais elementos do culto cristão. Passaremos a abordá-los mais
detalhadamente. Notemos:
1. Louvor.
A música não
pode ser esquecida durante o culto (Ef 5.19), e a sua execução não pode ser
desequilibrado ao ponto do culto ser afetado em seu conteúdo (Ef 5.19; Cl
3.16). Tanto no AT como no NT a música esteve presente no culto de Israel e da
Igreja primitiva (Nm 10.1-10; Jz 7.22; Jo 38.7; Ef. 5.19; 1Tm 3.16; At 16.25).
Não é por acaso que o maior livro da Bíblia é um hinário (Salmos). É no culto
que a plenitude espiritual dos adoradores se expressa em salmos, hinos e ações
de graça (Ef 5.18-20). A música esteve presente no culto de Israel e da Igreja
primitiva (Nm 10.1-10; Jz 7.22; Jó 38.7; Ef. 5.19; 1Tm 3.16; At 16.25).
2. Leitura
Bíblica.
É no culto
verdadeiramente cristão que o alimento espiritual é distribuído aos crentes por
meio da pregação da Palavra viva que nutre, vivifica, ensina e admoesta (Mt
4.4; 1Co 14.26; 2Tm 3.16). A leitura do texto bíblico deve ocupar o
lugar de destaque no culto, onde os crentes portando suas Bíblias acompanharão
a leitura (At 17.11). O salmista amava a lei do Senhor e desejava estar na casa
do Senhor para aprender (Sl 27.4; 119.18,92), e nenhum crente instruído e
maduro duvida da centralidade da pregação na vida da igreja de Deus (1Tm 4.13;
1Ts 2.13). Encontramos diversos exemplos da leitura das Sagradas Escrituras,
tanto no Antigo como no Novo testamento: (Nm 24.7; Dt 31.26; Ne 8.8; 9.3; Js
8.34,35; 2Cr 34.14-21; Lc 4.14-21).
3. Oração e
contribuição.
Diversos textos
das Sagradas Escrituras incentivam o crente a orar (1Cr 16.11; Sl 105.4; Is 55.6;
Am 5.4,6; Mt 26.41; Lc 18.1; Jo 16.24; Ef 6.17,18; Cl 4.2; 1Ts 5.17). A Bíblia
está cheia de exemplos de oração e Jesus foi o nosso maior exemplo. As ofertas
representam a expressão de gratidão do cultuador. Devemos dar a Deus parte daquilo
que dEle recebemos (Êx 23.15; 2Co 9.7). A contribuição no culto é bíblica e
deve ser oferecida tanto pelos ricos como pelos pobres (Mc 12:41-44). Um culto
sem ofertas é um culto antibíblico, pois as ofertas representam a expressão de gratidão
do cultuador, pois a contribuição no culto é bíblica (Mc 12.41-44).
4. Pregação.
A pregação é a
parte central do culto cristão, sem ela o culto fica sem brilho e objetivo,
pois é através dela que a fé é gerada (Rm 10.14-17; Gl 3.2); é a vontade de
Deus, que todos se arrependam e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (Ez
18:23; At 17:30; 1Tm 2:4). Se observarmos atentamente os pregadores do NT
notaremos os pontos essenciais da mensagem evangelística: Morte e ressurreição
de Cristo (At 2.23-32; 3.13-15;10.37-41); arrependimento (At 2.38; 3.19);
salvação (At 2.40); fé (At 3.16); ressurreição (At 3.26); julgamento (At 10.42)
e perdão dos pecados mediante a fé (At 10:43). Lamentavelmente, em muitos
púlpitos evangélicos estas mensagens estão cada vez mais escassas.
CONCLUSÃO
Um dos maiores
privilégios do cristão é poder cultuar a Deus. Enquanto muitos estão cultuando
aos ídolos, temos o privilégio de cultuar e adorar ao Único e Verdadeiro Deus,
o Criador de Todas as coisas. Devemos entender que o nosso culto, quer seja
individual ou coletivo, deve ser oferecido a Ele com decência e ordem (Rm 12.1;
1Co 14.40). Que possamos, então, com todo fervor, devoção e reverência,
oferecermos o nosso culto racional ao Senhor.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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