Lv 10.8-11;
1 Tm 3.1-3
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
veremos as definições etimológica e exegética da palavra sobriedade;
pontuaremos as consequências dos problemas sociais, físicos e psíquicos do
alcoolismo; e por fim, analisaremos as principais palavras para vinho no Antigo
e Novo Testamento e suas respectivas aplicações.
I. DEFINIÇÃO DE SOBRIEDADE
1. Definição
etimológica da palavra sobriedade.
Segundo o
dicionarista Antônio Houaiss (2001, p. 2594), sobriedade é: “qualidade,
condição ou estado de quem é sóbrio; moderação no comer ou beber; estado ou
condição de quem não se encontra intoxicado por bebida alcoólica; temperança;
equilíbrio, prudência; seriedade; caráter sereno; recatado”.
2. Definição exegética
da palavra sobriedade.
As expressões
gregas “nephalios, nephomen, nephalioi” referem-se à sobriedade e
também são usadas para identificar uma vida abstêmia (pessoas que não
ingerem bebidas alcoólicas), moderada e equilibrada (1Ts 5.6-8 ver ainda Rm
12.3; 1Tm 1.5; 2Tm 1.7). O termo “nepho” significa “ser
livre da influência de agentes tóxicos”. O adjetivo “nephalios” foi
usado por autores contemporâneos de Paulo como Filo e Josefo para denotar
abstinência ao vinho. O termo no grego é “sophron” denotando: “equilíbrio,
autodomínio, moderação, prudência” (VINE, 2002, p. 997).
II. UMA VISÃO SECULAR SOBRE O
ALCOOLISMO
Cientificamente
já se comprovou que o consumo de qualquer bebida alcoólica não traz nenhum
benefício a saúde. Vejamos duas dependências provocadas pelo alcoolismo:
1. O alcoolismo
e os problemas sociais.
Segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), em 2012, 15% das mortes mundiais
decorrentes de acidentes de trânsito estão relacionadas ao álcool. No Brasil,
estima-se que 18% dos acidentes de trânsito entre homens foram
causados pelo uso de bebidas alcoólicas e, destes, 5,2% por
mulheres.
2. O alcoolismo
e os problemas físicos.
Segundo a OMS
não há vantagem bioquímica alguma em consumir álcool e existem várias doenças e
prejuízos decorrentes do uso do álcool tais como: 22% dos
suicídios; 22% violência interpessoal; 22% câncer no
estômago; 30% câncer de boca e garganta; 12% tuberculose;
10% câncer de intestino; 8% das doenças cardíacas; 8%
câncer de mama; 12% câncer na laringe; 23% pancreatite;
50% cirrose hepática; e 100% síndrome alcoólica
fetal (BAPTISTA, 2018, p.124 – grifo e acréscimo nosso). Os maiores médicos
especialistas atuais em defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo
mesmo que moderado de álcool danifica o sistema reprodutivo das
mulheres jovens, provocando abortos e nascimentos de bebês com defeitos mentais
e físicos incuráveis.
3. O alcoolismo
e os problemas psíquicos.
Ainda segundo a
OMS o alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo e define como droga
toda a substância que, sendo introduzida no organismo, pode modificar uma ou
mais funções, alterando o sistema nervoso com a introdução da dependência
física e/ou psíquica do indivíduo […] Outros dados da OMS apontam o alcoolismo
como a terceira causa de morte no mundo. Pesquisas de 2015 indicam que no
Brasil a cada 36 horas um jovem morre vítima do consumo abusivo do álcool
(BAPTISTA, 2018, p. 124).
III. A BEBIDA NO ANTIGO
TESTAMENTO
Na Bíblia
verificamos que a bebedeira e outros vícios são vistos como atos pecaminosos
(Is 5.11,12; 28.1,7). O uso do álcool resulta em situações danosas e
constrangedoras para a família (Pv 20.1; 23.21,31,32; 31.4,5; Os 4.11; Lc
21.34; Ef 5.18; 1Co 6.10).
Vários versículos no AT encorajam as pessoas a que se mantenham longe do álcool
(Lv 10.9; Nm 6.3; Dt 14.26; 29.6; Jz 13.4,7,14; 1Sm 1.15; Pv 20.1; 31.4,6; Is
5.11,22; 24.9). No AT existem diversas palavras para designar “vinho”.
Notemos:
1. O AT e a
bebida forte.
A expressão “bebida
forte” vem da palavra hebraica “shekar” e dos 21 textos
do AT que mencionam “shekar”, 19 o condenam firmemente o uso
desta bebida (Lv 10.9; Nm 6.2,3; Jz 13.3,4; Dt 29.5,6). Os profetas eram especialmente
vigorosos em sua condenação desta bebida. Isaías a menciona oito vezes, e cada
referência é firmemente negativa (Is 5.11; 24.9; 28.7; 29.9). O profeta
Miqueias também falou sobre o seu uso (Mq 2.11), bem como o profeta Habacuque menciona
seus efeitos negativos (Hc 2.15,16). Este tipo de bebida nunca foi aprovada por
Deus (Lv 10.9-11; Jz 13.4-7; Pv 31.4; Nm 6.3; Pv 23.29-35) (STAMPS, 1995, p.
241 – grifo e acréscimo nosso).
2. O AT e o
vinho fermentado.
O vinho
fermentado (alcoólico) no hebraico é chamado de “yayin”, palavra
comum para vinho envelhecido e, portanto, intoxicante. O uso deste vinho sempre
foi motivo para práticas ilícitas (Gn 9.20-29; 19.31-38). Por isso, o sacerdote
deveria afastar-se da bebida alcoólica (Lv 10.9-11). O AT mostra oito casos de
embriaguez com esta bebida que terminaram em desastre familiar: Noé (Gn
9.21); Ló (Gn 19.32-35); Nadabe e Abiú (Lv
10.1-11); Nabal (1Sm 25.36,37); Urias (2Sm 11.13); Amnon
(2Sm 13.28); Belsazar (Dn 5.1-3); e Assuero (Et
1.1-10). Salomão descreve os efeitos físicos imediatos desta bebida como:
brigas, ferimentos, ais e tristezas (Pv 23.29-35). Em outro lugar, se refere ao
vinho como produzindo pobreza (Pv 21.17), violência (Pv 4.17), e alvoroço (Pv
20.1). Isaías adiciona que ele engana a mente (Is 28.7), inflama uma pessoa, e conduz
ao esquecimento de Deus (Is 5.11, 12), e ainda associa o vinho com a aceitação
de suborno (Is 5.22,23). Amós combina-o com a profanação (Am 2.8) (STAMPS,
1995, p. 241).
3. O AT e o
vinho não fermentado.
Outra palavra é “tirosh”,
com o significado de “vinho novo”, refere-se à bebida exclusivamente
não-fermentada ou suco novo da uva (Dt 11.14; Pv 3.10; Jl 2.24). Esta
palavra aparece cerca de 38 vezes no AT sempre referindo-se ao vinho
não-fermentado, onde “tem benção nele” (Is 65.8). Nas Sagradas
Escrituras, este tipo de vinho, com o pão e o azeite, é visto como bênção de
Deus (Os 2.22). A Bíblia faz uma referência quanto ao uso deste vinho pelos sacerdotes
(Is 28.7-8). Em sua oferta de manjares ao Senhor, os israelitas faziam-lhe
também a libação de um quarto de him de vinho (Lv 13.13). Vários textos que se
referem a “tirosh” como o produto da vide (Mq 6.15; Is 2.8; 65.8;
Pv 3.10; Jl 2.24; Mq 6.15; Os 9.2). Só um texto sugere indiretamente que “tirosh”
pode produzir fermentação (Os 4.11) (STAMPS, 1995, p. 241).
IV. A BEBIDA NO NOVO TESTAMENTO
A Bíblia condena
a embriaguez e o alcoolismo com veemência e aos salvos se ordena que não
permitam que seus corpos sejam “dominados por coisa alguma” (1 Co
6.12, 2Pe 2.19). Paulo colocou no mesmo nível de condenação eterna os bêbados,
os devassos, os idolatras, os homossexuais, e os ladrões os quais não herdarão
o Reino de Deus (1 Co 6.9-10; Rm 13.13; 1Pe 3.3-5). O cristão não deve ingerir
vinho, cerveja, champanhe, whisky ou qualquer outra bebida mesmo que seja “considerada
leve”, mas, deve “afastar-se da aparência do mal” (1Ts
5.22; 1Pe 3.11).
1. Jesus e o uso
do vinho.
No NT o primeiro
milagre realizado por Jesus é a transformação da água em vinho (Jo 2.1-11), daí
muitos utilizam-se levianamente dessa passagem bíblica para
justificar que o consumo do álcool não contraria a Palavra do Senhor, bem como
o texto de Lucas 7.33,34. Na Santa Ceia Jesus tomou “do fruto da vide” do
grego “gleukos”, indicando tratar-se do suco de uva nova (Mt
26.29; Mc 14.25; Lc 22.18). Se Jesus tivesse usado vinho fermentado (alcoólico)
a palavra grega seria “oinos” (por mais que esta palavra em alguns poucos
casos também se refira ao vinho não embriagante dependendo do seu contexto).
A lei da Páscoa (Êx 12.14-20) proibia durante a semana daquele evento, a
presença de fermento tanto no vinho quanto no pão, pois o fermento é o símbolo
do pecado nos tempos bíblicos (Mt 16.6-12; 1Co 5.7,8). Logo, assim como o pão
representava o corpo puro de Cristo e o vinho representa
o sangue incorruptível de Cristo, só pode ser representado pelo
suco de uva não fermentado (1Pe 1.18,19). No AT bebidas fermentadas nunca
deviam ser usadas na casa de Deus, e um sacerdote não podia chegar-se a Deus em
adoração se tomasse qualquer líquido embriagante (Lv 10.9). Jesus é o grande
Sumo Sacerdote do novo concerto (Hb 3.1; 5.1-10) e cumpriu a lei em todas as
suas exigências (Mt 5.17), então imaginar o próprio Jesus quebrando esta
orientação divina é no mínimo incoerência e apelação teológica.
2. Paulo e o uso
do vinho.
Quando o assunto
do vinho é apresentado na Bíblia, o primeiro texto que aparece e que vem à
mente de alguns é de 1Timóteo 5.23, onde Paulo aconselha a Timóteo dizendo: “Não
bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e
das tuas frequentes enfermidades”. A cautelosa precaução da linguagem
do apóstolo é muito significante, pois é mais uma prescrição de um médico a um
paciente do que um princípio geral para todas as pessoas. Paulo ainda
recomendou: “não dado ao vinho[…]” (1Tm 3.3 ver ainda 1Tm 3.8; Tt
1.7, 2.3). Uma poderosa indicação bíblica contra o vinho intoxicante é
encontrada em Efésios onde Paulo admoesta os efésios dizendo: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há contenda,
mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). A passagem consiste de duas
importantes declarações postas em contraste (antítese) para cada uma: “embriagueis
com vinho” contra “enchei-vos do Espírito”. Aqui ele não
se refere apenas ao efeito
entorpecente do vinho, mas a embriaguez por qualquer tipo de bebida. O
posicionamento do apóstolo a respeito da bebida alcoólica é taxativo: é pecado
usar bebida alcoólica, pois a Bíblia não faz concessão à bebedice (1 Ts 5.6; Tt
2.2 ver ainda Lc 12.45,46; 1 Pe 1.13; 4.7;5.8) (BACCHIOCCHI, 1989, p. 248).
3. Timóteo e o
uso do vinho.
As Escrituras
não fazem concessão nenhuma à bebedice, por isso, Paulo disse que o bispo
cristão deveria ser abstinente ou abstêmio “nephalion” (1Tm
3.2-3). É razoável assumir que o apóstolo não poderia ter instruído a Timóteo
para requerer abstinência dos líderes da igreja sem primeiro ensiná-lo com tal
princípio. A abstinência de um ministro cristão era baseado, presumivelmente,
na legislação do AT que proibia os sacerdotes de usarem bebidas intoxicantes
(Lv 10.9-10). O ministro cristão não deveria ser menos santo que um sacerdote
judeu (Lv 10. 10-11). Há indício históricos que atestam o uso externo de vinho
não fermentado para propósitos terapêuticos para curar ferimentos (Lc 10.33,34)
e também para purificar água contaminada com resíduos dos jarros de argila (1Tm
5.23).
4. Os gregos e o
uso do vinho.
Homero (VIII a.C.)
menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho como
sendo o ideal para consumo. Aristóteles (384-322 a.C.) só
recomendou o uso de um doce suco de uva chamado “glukus” se fosse
não fermentado porque disse ele: embora chamado vinho ele não tem o
efeito do vinho e não é intoxicante. Ateneus (280 d.C.),
aconselhou especificamente o uso de suco de uva não fermentado para doenças
estomacais: Deixai-o tomar um vinho doce misturado com água ou aquecido, especialmente
aquele tipo chamado “glukus”, como sendo bom para o estômago;
pois o vinho doce (não fermentado) não torna a cabeça pesada.
Outra advertência relativo ao uso do vinho como terapêutico é dado por Plínio
(79 d.C.), um contemporâneo de Paulo. Ele recomenda o uso de um vinho
não fermentado, fervido chamado “adynamon” por pessoas doentes
(BACCHIOCCHI, 1989, p. 248).
CONCLUSÃO
Concluímos que
todos os salvos são feitos reis e sacerdotes de Deus, pertencentes ao reino
espiritual de Deus (1 Pe 2.9). Logo, o padrão de Deus para os reis e sacerdotes
do AT quanto a não ingerirem bebidas embriagantes é igualmente aplicável a todo
crente (Nm 6.1-3; Ef 5.18). Quanto ao uso do vinho, sigamos o exemplo dos
recabitas que voluntariamente, abstinham-se de qualquer bebida forte para que a
aliança de seus ancestrais permanecesse firme. E, por causa de sua fidelidade,
foram honrados pelo Senhor (Jr 35.6-10).
REFERÊNCIAS
Ø LIMA,
Elinaldo Renovato de. Ética Cristã:
Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø BACCHIOCCHI,
Samuele. Vinho na Bíblia: um estudo bíblico sobre o uso de bebidas
alcoólicas. CPEW.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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