Ed 9.1-4; Ne 13.23-26; 9.38;
10.1,29,30
INTRODUÇÃO
Nesta
lição aprenderemos que o casamento misto, foi uma das grandes dificuldades
enfrentadas pela liderança de Esdras e Neemias na restauração de Jerusalém;
veremos também quais consequências estes casamentos trouxeram para a nação de
Israel; e por fim, responderemos à luz do Novo Testamento, aos principais
questionamentos sobre o casamento misto.
I. O CASAMENTO MISTO NO PERÍODO DE ESDRAS E NEEMIAS
1. O relato do casamento misto.
Ao
chegar em Jerusalém, o escriba e sacerdote Esdras é informado de um grande
problema entranhado no meio do povo: “[...] chegaram-se a mim os príncipes,
dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se têm separado
dos povos destas terras [...] porque tomaram das suas filhas para si e
para seus filhos, e assim se misturou a
semente santa com os povos destas terras [...]” (Ed 9.1,2). Os
descendentes dos que haviam chegado cerca de oitenta anos antes, não haviam
observado a dedicação exigida por Zorobabel (Ed 4.2), contraindo o casamento
misto. Vinte e cinco anos depois, esse mesmo erro foi identificado por Neemias
(Ne 13.23), mesmo depois dos judeus terem feito uma aliança prometendo não
contrair casamento misto (Ne 10.30).
2. A reação de Esdras e Neemias.
Ao
ser informado da transgressão do povo, o sacerdote Esdras revelou uma profunda
tristeza de coração (Ed 10.6), que foi evidenciada ao rasgar as suas vestes e
arrancar os próprios cabelos e barba (Ed 9.3), tal atitude era um sinal de
humilhação, expressava profunda tristeza pelo pecado. Sua oração sincera nos
proporciona uma boa perspectiva sobre o pecado cometido pelo povo: a) que o pecado era grave (Ed 9.6); b) que ninguém peca sem afetar a outros
(Ed 9.7); c) que ele também se
identificava com erro do povo, apesar de que não tinha esposa pagã (Ed 9.10);
e, d) que o amor de Deus e sua
misericórdia tinham salvado à nação quando esta não tinha feito nada para
merecê-lo (Ed 9.8,9,15). Neemias em seus dias igualmente reagiu de forma
incisiva: “E contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei
alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os fiz jurar por
Deus” (Ne 13.25), o povo tinha prometido que não ia permitir que
seus filhos se casassem com pagãos (Ne 10.30), mas durante a ausência de
Neemias, o povo tinha levado a cabo matrimônios mistos, rompendo assim a
aliança solene com Deus. O trato duro do Neemias para esta gente mostra o
contraste que existe entre sua grande fidelidade a Deus e a negligência, desobediência
e a deslealdade do povo. Deus preza pela fidelidade dos seus servos (Nm 12.7;
1Sm 12.24; 1Co 4.2).
3. A reação do povo de Israel.
Comovidos
pela reação de Esdras ante o erro cometido pelo povo (Ed 10.1a), uma grande
congregação de Israel se uniu ao seu líder diante da casa de Deus para chorar
(Ed 10.1b), em reconhecimento do seu pecado (Ed 10.2) , e decidiram reatar a
aliança com Deus (Ed 10.3). O real avivamento envolve mais que palavras,
resulta em novas atitudes, em mudança de comportamento (Pv 28.13; 2Co 5.17).
II. O PERIGO DO CASAMENTO MISTO
1. É a quebra do mandamento divino.
O
ato da exogamia, ou seja, o casamento de um indivíduo com um membro de grupo
estranho àquele a que pertence, era uma desobediência expressa a um mandamento
divino (Êx 34.11-16; Dt 7.1-4), devido a sacralidade do propósito de Deus em
relação à nação de Israel, o casamento misto era definitivamente um pecado. Não
era preconceito divino a exigência da separação das nações pagãs, mas sim, a
preocupação com a integridade e a santificação do povo escolhido (Lv 20.7; Dt
7.6). O alvo de Deus para Israel era distinguir o seu povo dos demais à sua
volta. Israel era propriedade exclusiva e peculiar de Deus (Êx 19.5,6). Assim,
deveriam preservar a semente santa, como nós hoje, que também temos de Deus a
determinação de santificar nossas famílias e revelar seus propósitos por
intermédio de cada um de nós (Hb 13.4). Aprendamos com Abraão sobre o valor de
ser semente santa do Senhor (Gn 24.1-4).
2. Leva a perda da identidade.
O
jugo desigual trouxe para os filhos de Judá, na época de Neemias, uma perda da
identidade. Eles não conseguiam mais falar a sua própria língua (Ne 13.24). O
idioma é, sem dúvida, um dos traços mais fortes e marcantes de uma cultura (Dn
1.4). A perda da capacidade de falar o judaico não era apenas uma questão
fonética, mas cultural, moral. Juntamente com a língua, os filhos de Judá
também haviam absorvido a mentalidade e a prática daquelas nações pagãs. Quando
um crente cai nos laços do jugo desigual, ele começa a perder sua identidade
cristã, percebe-se isso no seu falar, agir, vestir, relacionar-se. Ele vai se
conformando progressivamente ao mundo até desviar-se por completo. A mistura
havia chegado a tal ponto que o sumo sacerdote Eliasibe se aparentou com
Tobias, um inimigo declarado do povo de Deus (Ne 13.4). O neto do sumo
sacerdote se aparentou com Sambalate, outro inimigo que causou muitos males aos
servos do Senhor (Ne 13.28).
3. Conduz a apostasia.
O
Senhor Deus advertiu a nação quanto ao perigo do casamento misto, ou seja, da
união conjugal com outros povos (Êx 34.12-16; Dt 7.1-4). No entanto, os filhos
de Israel não guardaram este mandamento, e, como Deus havia advertido, esses
casamentos conduziram os israelitas a apostasia (Nm 25.1-3; 1Rs 11.1-8;
16.31-34; Ed 10.1,2). O rei Acabe, por exemplo, influenciado por sua esposa
Jezabel, substituiu o culto à Jeová pela adoração à Baal (1Rs 16.31-33), e,
como se não bastasse, ela intentou matar a todos os profetas do Senhor (1Rs
18.4). Salomão um dos maiores reis de Israel incorreu no mesmo erro (Ne 13.26;
ver 1Rs 11.1-8). O povo de Israel não atentou para isto, e constituíram
casamentos com os povos que estavam ao redor, recebendo como herança a
idolatria, as abominações e as impurezas dos pagãos, o que os levou ao
cativeiro babilônico (Jr 13.1-14; 25.1-11). É por esta razão que a Bíblia nos
adverte sobre o perigo do jugo desigual (Am 3.3; 2Co 6.14-18).
III. CASAMENTO MISTO UM JUGO DESIGUAL, RESPONDENDO A ALGUNS
QUESTIONAMENTOS
1. O que significa?
À
luz do texto de 2Coríntios 6.14, podemos afirmar que o jugo desigual é: “a
comunhão ou relacionamento íntimo por parte de um crente e um incrédulo, seja
através de um casamento ou amizade”. O apóstolo faz uso da figura de um
jugo, que é uma peça de madeira colocada no lombo de dois bois, unindo-os, a
fim de que eles possam arrastar o carro durante o cultivo da terra. O próprio
Deus proibiu que dois animais diferentes lavrassem a terra e que sementes
diferentes fossem lançadas no mesmo terreno (Dt 22.9,10). Além do mais, o boi
era um animal limpo, enquanto o jumento era impuro (Dt 14.1-8). Interessante
que nem entre o reino animal e vegetal deve haver a junção de diferentes
espécies, pois o resultado sempre será uma anomalia, uma aberração (Lv 19.19).
2. É compatível com a vida cristã?
O
casamento dentro do ideal de Deus, deve ser de acordo com os critérios que ele
estabeleceu. O ensino de Paulo sobre isso é claro, o casamento deve ser no
Senhor (1Co 7.39). Para Paulo, namoro, noivado e casamento misto se constitui
um ato de desobediência aos preceitos divinos, diz ele: “Não vos ponhais em jugo desigual
com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a
iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e
o Maligno? Ou que união do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14,15). Um
crente casar-se deliberadamente com um incrédulo está em desacordo com a
Palavra de Deus (1Co 7.39). Esse princípio foi reprisado inúmeras vezes
para o povo de Israel e repetidas vezes desobedecido (Ne 9.2; 10.28;
13.1-9,23-31). A experiência prática de Israel e a vida cristã ensinam que,
qualquer conformidade com o mundo, implica em trazer a idolatria, a apostasia e
maldição (Rm 12.2; 1Jo 2.15-17).
3. Legitima a dissolução do
casamento?
Esse
foi um dos questionamentos respondidos pelo apóstolo Paulo à igreja de Corinto
(1Co 7.1,12,13). É um ato de desobediência um cristão casar-se com um incrédulo, mas, se
a pessoa se torna cristã depois de ter se casado legitimamente, ela não pode
usar esse acontecimento como base para separação. Ela precisa exercer a
influência que tem como cristã para mudar e transformar o seu lar e ainda levar
o seu cônjuge à conversão (1Co 7.17-24). Paulo está dizendo que a conversão não
altera as nossas obrigações sociais. Não se pode usar a ação de Israel no
período de Esdras em relação ao casamento misto (Ed 10.11), para legitimar o
divórcio em caso de um crente já estar casado com um não crente, como salienta
Shedd (2002, p. 682 - acréscimo nosso): “As
mulheres despedidas não seriam de fato esposas, mas sim, concubinas. Na melhor
das hipóteses, seriam de casamentos ilícitos”. No caso de um crente já estar
casado com um incrédulo, essa passagem não autoriza separação ou divórcio
(1Co 7.12-16).
4. Qual deve ser a conduta do cônjuge
cristão?
Alguns
do membro da igreja que estava em Corinto haviam sido salvos depois de se
casarem, mas os respectivos cônjuges ainda não haviam se convertido a Cristo.
Paulo respondeu que deviam permanecer com os cônjuges não convertidos, enquanto
estes (não crentes) assim consentissem (1Co 7.12,13). A salvação não altera o
estado civil, pelo contrário, deve intensificar a relação matrimonial, como bem
aconselhou o apóstolo Pedro para esposas de maridos não cristãos (1Pe 3.1-6).
Uma vez que o casamento é, basicamente, um relacionamento físico, tornando-se
os dois uma só carne (Gn 2.24), só pode ser rompido por uma causa física, como
o adultério ou a morte (Mt 19.9; 1Co 7.39; Rm 7.2). Paulo enfatiza o fato de
que o cônjuge cristão pode exercer uma influência espiritual sobre o cônjuge
não salvo (1Co 7.14). Isto não significa que o descrente sofra uma mudança
moral ou espiritual. A expressão “é
santificado” não pode significar santo em Cristo perante Deus, porque este
tipo de santidade não pode ser atribuído a um descrente. O apóstolo usa o termo
santificado aqui com um significado cerimonial, e não em um sentido ético ou
espiritual (BEACON, 2006, p. 298). Destacamos também que esta passagem não
ensina que o cônjuge incrédulo é salvo por causa do cônjuge cristão, uma vez
que cada pessoa deve aceitar a Cristo individualmente (1Co 7.16; Jo 3.16).
Antes, significa que o cristão exerce uma influência espiritual no lar que pode
conduzir à salvação do outro.
CONCLUSÃO
A
família, decorrente do casamento, é uma dádiva de Deus ao homem (Sl 128),
portanto, precisa ser valorizada e conservada sob a proteção divina. Que Deus
guarde nossas famílias do fracasso espiritual, porque assim como um casamento
na direção do Senhor possibilita uma felicidade sem limites, o casamento misto
é uma porta aberta para a infelicidade.
REFERÊNCIAS
Ø LOPES, Hernandes Dias. Neemias
o líder que restaurou uma nação. HAGNOS.
Ø SHEDD, Russel. Bíblia de Estudo. VIDA
NOVA.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø KIDNER, Derek. Esdras e Neemias; introdução e
comentário. VIDA NOVA.
Ø IERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 2.
GEOGRAFICA.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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