At 8.26-30
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos a definição das palavras hermenêutica, exegese e eisegese;
estudaremos os métodos de interpretação na leitura da Bíblia; pontuaremos como
devemos ler as Escrituras; e por fim, citaremos porque devemos ler a Bíblia.
I. DEFINIÇÃO DE HERMENEUTICA, EXEGESE
E EISEGESE
1.
Definição de hermenêutica.
Hermenêutica
é a ciência da interpretação; é a doutrina ou ciência cujo objetivo se
caracteriza na interpretação ou compreensão dos textos de teor religioso ou
filosófico. Ela reúne os princípios, as regras e os métodos de interpretação
para que uma pessoa possa compreender corretamente o sentido e o significado de
um texto. Podemos defini-la como a ciência que nos ensina os princípios, as
leis e os métodos de interpretação. A hermenêutica bíblica, é o processo de
interpretação do texto da Escritura. A palavra hermenêutica vem do termo grego “hermeneutike”
que, por sua vez, deriva do verbo grego “hermeneuo” e
transmite o significado de: “elucidar; explicar; interpretar; traduzir”.
Platão foi o primeiro a usar “hermeneutike” de maneira técnica.
2.
Definição de exegese.
A
palavra de exegese transmite a ideia de: “expor um ensino; descrever ou
relatar detalhadamente”. No grego, a palavra exegese possui o sentido
de “conduzir para fora”. Exegese é uma análise, interpretação ou
explicação detalhada e cuidadosa de uma obra, um texto, uma palavra ou
expressão. Etimologicamente, este termo significa: “interpretação;
exposição; explicação”. Então, a exegese bíblica é o processo de expor
a mensagem do texto bíblico; de “extrair ou conduzir para fora” a
informação expressa na revelação divina dentro da Escritura (Ne 8.8). Por
conseguinte, a exegese vem de “dentro da Bíblia para fora” e
nunca ao contrário (BENTHO, 2005, p. 69). A exegese é por assim dizer, a irmã
gêmea da hermenêutica.
3.
Definição de eisegese.
Enquanto
a exegese “tira para fora” o que já está no texto da Bíblia, a
eisegese “coloca para dentro” o que não está nas Escrituras.
Eisegese é o método que consiste em “injetar no texto um significado
estranho ao sentido do autor”. A interpretação peculiar, subjetiva e
tendenciosa de um texto bíblico vem de “fora para dentro”. A
eisegese, portanto, é o inverso da exegese. Trata-se de uma maneira de
contrabandear para o texto das Escrituras Sagradas as crenças, ideias e
práticas particulares do intérprete. A eisegese é uma prática utilizada pelo
próprio diabo (Gn 2.16,17; 3.1; Sl 91.11 ver Mt 4.5,6) (BENTHO, 2005, p. 69).
II. MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO NA LEITURA DA BÍBLIA
1.
Interpretação alegórica.
Literalmente
alegoria é: “dizer uma coisa que significa outra”. Como figura
literária, a alegoria é um recurso válido e útil; porém, como sistema de
interpretação, mutila os textos bíblicos (BENTHO, 2005, p. 124). O grande
problema de usar alegorias como método de interpretação bíblica é que ele não
leva em consideração a intenção do autor original. A intenção do autor perde-se
de vista e o intérprete introduz no texto as suas próprias palavras e
percepções. Geralmente o intérprete alegórico é especulativo e extravagante. Na
ânsia de encontrar o sentido espiritual em cada sentença da Escritura, ele
perde de vista o contexto histórico e sangra o propósito tencionado pelo autor
original, e assim a Bíblia passa a ser interpretada, não pela própria Bíblia,
mas pela mente fantasiosa do intérprete. O reformador Lutero chamou a
interpretação alegórica de: “sujeira; escória e trapos obsoletos” e
advertiu sobre a atração sedutora de espiritualizar o texto bíblico: “Uma
alegoria é como uma bela meretriz que acaricia os homens de uma forma
impossível de não amá-la” (LAWSON, 2010, p. 62). Assim como Lutero, um
outro reformador considerava a interpretação alegórica como: “artimanha
de Satanás para obscurecer o sentido da Escritura”. Ele afirmava que: “sacra
Scriptura sui interpres” ou seja, “a própria Escritura interpreta
a Escritura” (LAWSON, 2015, p. 71).
2.
Interpretação figurada.
A
linguagem figurada ou sentido figurado consiste em uma ferramenta de
comunicação, que utiliza figuras de linguagem para expressar um sentido não
literal de um determinado enunciado. A linguagem figurada é usada para dar mais
expressividade ao discurso, para tornar mais amplo o significado de uma
palavra. Além disso, também serve para criar significados diferentes ou quando
o interlocutor não encontra um termo adequado para o que deseja comunicar. Um
texto pode ser interpretado figurativamente quando ele tem o sentido figurado
(Mt 12 40; Gl 4.24); ou quando a interpretação literal for inviável (Ap
13.1-3).
3.
Interpretação simbólica.
Esse
método é usado quando se trata de objetos inanimados, que aparecem
paralelamente a fim de esclarecer o assunto. Nos capítulos 2 e 7 do livro de
Daniel há este tipo de interpretação. No livro do Apocalipse aparecem muitos
símbolos que representam literalmente coisas concretas. Jesus explicou que as
sete estrelas em sua mão direita representam “os anjos [mensageiros] das
sete igrejas” (Ap 1.20) e que os sete candeeiros representam “as
sete igrejas da Ásia” (Ap 1.20). As taças de incenso representam “as
orações dos santos” (Ap 5.8) e as águas simbolizam “povos,
multidões, nações e línguas” (Ap 17.1,15).
4.
Interpretação literal.
Com a
Reforma Protestante no século XVI, a importância do sentido literal do texto
bíblico é resgatada e o “misticismo hermenêutico”, deixado de
lado. Os reformadores protestaram contra o método alegórico e enfatizaram que o
sentido
literal, a intenção do autor, o sentido original de cada passagem das Escrituras,
são o guia seguro para entender a Palavra de Deus. Esse é o método que se
preocupa em dar um sentido literal às palavras, interpretando-as conforme o
significado original. Um bom intérprete da Bíblia deve considerar em sua
exegese as condições históricas, a gramática e o contexto (método
histórico-gramatical). Há passagens que não podem ser interpretadas
literalmente por seu conteúdo, porque outras razões óbvias fazem-nas exigir uma
interpretação figurada ou simbólica. Quando a Bíblia menciona os olhos, os
braços ou as asas de Deus (Sl 34.15; Is 51.9; Sl 91.4), isso não deve ser
interpretado literalmente porque Deus não possui características físicas – Ele
é Espírito (Jo 4.24).
III. COMO DEVEMOS LER A BÍBLIA
1.
Devemos ler a Bíblia conhecendo o seu Autor (2Tm 3.16).
Apesar
de ter sido escrita por aproximadamente 40 escritores, a Bíblia possui um único
autor: Deus. Ao lermos a Bíblia devemos entender que os escritores foram apenas
os instrumentos de Deus para nos transmitir a Sua palavra. A Bíblia não nos
transmite apenas as palavras de Moisés, Davi e Paulo, e sim, as palavras de
Deus por intermédio dos escritores. O apóstolo Paulo diz que toda Escritura é
inspirada por Deus (2Tm 3.16) e o apóstolo Pedro diz que os homens santos de
Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.20,21).
2.
Devemos ler a Bíblia diariamente (Dt 17.19).
O
Senhor disse, por intermédio de Moisés, que os reis de Israel deveriam ler o
Livro da Lei diariamente (Dt 17.18,20). Lamentavelmente, muitos cristãos não
encontram tempo para ler a Bíblia, mas passam horas a fio diante do computador,
da TV, e outros tipos de entretenimento como a internet.
3.
Devemos ler a Bíblia meditando (Sl 1.1-3; Js 1.8).
O
cristão deve ler a Bíblia meditando, isto é, pensando, refletindo, analisando,
como fez Davi (SI 119.15,16) e Daniel (Dn 9.2-4). A meditação aprofunda o
sentido. O Senhor disse a Josué que meditasse no Livro da Lei de dia e de noite
(Js 1.8); e o salmista disse: “Bem-aventurado é o varão… que tem o seu
prazer na Lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite…” (Sl
1.1-3).
4. Devemos ler a
Bíblia inteira.
Muitos cristãos
contentam-se em ler apenas pequenos trechos da Bíblia e outros apenas leem os
textos da caixinha de promessa. No entanto, devermos lembrar que a Bíblia não
contém apenas promessas, mas também, mandamentos, ordenanças, advertências,
ensino etc. Todo conteúdo das Escrituras é de suma importância para nós. Por
isso, devemos lê-la do princípio ao fim (Rm 15.4).
IV. POR QUE DEVEMOS LER A BÍBLIA
1.
Porque a Bíblia é o manual do crente (2Tm 2.15; 3.16).
Ela
é o livro-texto do cristão. Ela nos ensina como devemos amar, temer e obedecer
a Deus (Dt 17.18,19; Ec 12.13; Lc 10.27); como devemos amar ao próximo (Mc
12.33; Lc 10.27-37); bem como nos ensina a viver neste mundo (Mt 5.13-16; 1Co
10.32). Por isso, devemos ler a Bíblia para ser sábio; crer na Bíblia para ser
salvo e praticar a Bíblia para ser santo (1Tm 4.16; 2Tm 3.15).
2.
Porque a Bíblia alimenta nossas almas (Mt 4.4; Jr 15.16; 1Pe 2.2).
Sem
dúvidas, a leitura da Palavra de Deus produz nutrição e crescimento espiritual.
Ela é tão indispensável à vida espiritual como o alimento é para o corpo. Por
isso, ela é comparada ao alimento. O texto de l Pedro 2.2, fala do intenso
apetite do recém-nascido: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente
nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo”.
Assim deve ser o nosso apetite pela Palavra de Deus.
3. Porque a Bíblia é a espada do Espírito (Ef 6.17; Hb 4.12).
Escrevendo
aos efésios, o apóstolo Paulo fala sobre a armadura de Deus (Ef 6.10-17), onde
ele descreve diversas peças da armadura, que servem para defesa, tais como:
capacete, couraça, escudo, etc. A Palavra de Deus, que é chamada de “espada
do Espírito”, é a única arma de ataque nessa descrição: “Tomai
também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”
(Ef 6.17). O escritor aos Hebreus também compara a Bíblia a uma espada
(Hb 4.12). Foi com esta arma que Jesus venceu a tentação (Mt 4.1-11).
4. Porque a
Bíblia é um livro diferente dos demais livros (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21).
Desde a invenção
da escrita e da imprensa, milhares de livros já foram escritos no mundo. Muitos
deles se tornaram conhecidos no mundo, marcaram a história e até se tornaram
best-seller, ou seja, mais vendidos. Mas, nenhum deles pode ser comparado à
Bíblia. Isto por quê: Somente a Bíblia é inspirada por Deus (2Tm 3.16; 2Pe
1.20,21); somente a Bíblia é viva, eficaz e infalível (Hb 4.12; Is 55.10,11; Is
40.8; 1Pe 1.24,25).
CONCLUSÃO
A Bíblia deve ser
lida e interpretada. Nesse mister, somos auxiliados pela exegese e pela
hermenêutica. Contudo, nenhuma das técnicas de interpretação estão acima da
autoridade da Palavra de Deus. O que a igreja crê e professa deve ser
interpretado à luz da própria Escritura.
REFERÊNCIAS
Ø
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø
BENTHO, E. C. Hermenêutica
fácil e descomplicada. CPAD.
Ø
LAWSON, Steven. A heroica
ousadia de Martinho Lutero. FIEL.
Ø
LAWSON, Steven. A arte
expositiva de João Calvino. FIEL.
Ø
COELHO, Alexandre. Lições
CPAD Jovens. 2018. 4º Trimestre. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.