Ef 5.15-21
INTRODUÇÃO
Nesta lição
destacaremos princípios que são indispensáveis ao modelo de culto aceito por
Deus; elencaremos elementos que devem existir na liturgia da adoração oferecida
ao Senhor; e por fim, pontuaremos características do verdadeiro culto
pentecostal.
I. PRINCÍPIOS BÍBLICOS
INDISPENSÁVEIS AO CULTO
Devemos lembrar
que o culto não é espetáculo nem um show caracterizado por som alto e dançante,
gelo seco, roupas extravagantes, músicas carregadas de agressividade e barulho,
nos mais diversos ritmos, tais como rock, funk, rap, e axé, onde os
participantes estão mais interessados em euforia, gritaria, diversão e autossatisfação.
Todo elemento que intervém nesta relação, desviando a atenção para si, não
atende à finalidade do culto, que é elevar o homem a Deus (Sl 73 25-28; 1Co
10.31). Como veremos, o culto é importante porque Deus atribui a ele um valor
espiritual e singular. Notemos:
1. O culto deve
ser teocêntrico. “...preste culto somente a Ele” (Mt 4.10; Dt 6.13; Êx 20.4; Lv 26.1; Sl 97.7; Lc 4.8).
Deus
é zeloso da adoração e do culto oferecido a Ele. “Não adore essas coisas,
nem preste culto a elas, porque eu, o Senhor, ...sou Deus zeloso...” (Dt
5.9 – NAA; Sl 78.58; 1Co 10.20-22). Deus quer ser adorado pelos seus filhos: “...Assim
diz o Senhor: Israel é meu filho... deixe meu filho ir para que me adore...” (Êx
3.12 - NAA). Percebamos que a adoração precede ao culto: “Adore ...e
preste culto somente a Ele” (Mt 4.10 - NAA); “Temam ...e sirvam a
Ele...” (Dt 6.13 – NAA).
2. O culto deve
ser espiritual.
A primeira
característica da adoração é que ela deve ser de adoradores que “...adorem
em espírito...” (Jo 4.23). Somente uma adoração espiritual pode gerar
um culto espiritual e verdadeiro. Por isso, os sacrifícios no culto cristão são
espirituais: a) o corpo (Rm 12.1,2); b) o louvor (Hb 13.15); c)
a prática do bem (Hb 13.16); e, d) a mútua cooperação (Hb 13.16; Fp
4.18).
3. O culto deve
ser verdadeiro e reverente.
A Bíblia nos
ensina que o verdadeiro culto ao Senhor deve ser verdadeiro (Is 29.13; 1Sm
15.22; Is 1.10-17; Dt 10.12; Ez 33.31; Jo 4.23). Nossa liturgia é simples e
pentecostal, conforme o modelo do Novo Testamento: “Que fareis, pois,
irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem
revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1Co
14.26). Ela consiste em oração, louvor, leitura bíblica, exposição das
Escrituras Sagradas ou testemunho e contribuição financeira, ou seja, ofertas e
dízimos. Entendemos que a adoração está incompleta na falta de pelo menos um
desses elementos, exceto se as circunstâncias forem desfavoráveis ou contrárias
(SOARES [Org.], 2017, p. 145). É preciso ter reverência nos cultos ao Senhor
(Êx 19.16-25; 20.18-19; Ec 5.1; Hb 10.19-22; 1Co 14.40; Hb 12.28).
4. O culto deve
ser espontâneo e alegre (Êx 35.5,21,29;
2Cr 5.12-14).
No NT há
espontaneidade para orar e interceder: “Quero, pois, que os homens orem
em todo lugar, levantando mãos santas” (1Tm 2.8). A espontaneidade
chegou a tal ponto que houve necessidade de estabelecer ordem e limites na
igreja primitiva (1Co 12.3;14).
II.
O CULTO CRISTÃO E A LITURGICA NA BÍBLIA
Nos diversos atos
litúrgicos registrados na Bíblia estão traçados os elementos do culto cristão.
Notemos:
1. Elementos
litúrgicos do Tabernáculo e do Templo.
Fazia parte da
liturgia judaica: a) oração (2Cr 7.1); b) sacrifício (1Sm 1.3); c)
oferta (Dt 26.10; 1Cr 16.29); d) louvor e cântico (2Cr 7.3); e) a
oração antífona do Shema, “ouve Israel”, a confissão de fé dos judeus (Dt 6.4);
f) a leitura bíblica (Ne 8.1-8; Lc 4.16,17); e, g) e a exortação
(At 13.15) (SOARES [Org.], 2017, p. 145). Os sacrifícios, apontavam de forma
tipológica a Cristo e se cumpriram nEle, não sendo mais praticados pela Igreja
(Hb 9;10).
2. Elementos
litúrgicos de Esdras (Ne 8.1-12).
Após a
reconstrução do Templo o povo se congregou oferecendo um culto na seguinte
ordem: a) proclamação - leitura da Lei de Moisés; b) pregação -
interpretação da leitura; c) adoração - tempo para oração e adoração
coletiva; e, d) comunhão - compartilhamento de alimentos e festejos.
3. Elementos
litúrgicos de Jesus (Jo 14-17; Mt 26).
Nos últimos atos
de Jesus, ao instituir a Ceia, são claros os elementos litúrgicos: a) pregação
(Jo 14-16); b) oração e intercessão (Jo 17); c) instituição dos
símbolos [pão e do vinho]; e, d) cântico de adoração.
4. Elementos
litúrgicos no culto da Igreja Primitiva (At 2.42).
Na Igreja
Primitiva também havia uma liturgia bem definida: a) ensino da Palavra; b)
comunhão através do comer juntos e das coletas (ofertas ou contribuições); c)
partir do Pão – Ceia do Senhor; d) orações tanto na vida pessoal
como comunitária ou congregacional. O apóstolo Paulo instruiu a igreja a
preservar com: hinos, sempre eram cantados os Salmos; exposição da Palavra;
manifestação dos dons espirituais - profecia e mensagem em línguas quando
houvesse interpretação; e ofertas – denominadas de coletas (1Co 14.26; 1Co
16.1-3).
III.
DISTORÇÕES NO CULTO E NA LITURGIA DA IGREJA
O culto em algumas
igrejas, infelizmente, tem se desviado dos padrões bíblicos e históricos,
chegando-se a uma situação em que, em nome da liberdade e da espontaneidade, o
culto se desvirtuou em muitas igrejas, sendo marcado pela irreverência, superficialidade
e preocupação prioritária com as necessidades humanas, e não com a presença e a
glória de Deus. Notemos algumas mudanças no culto e liturgia da igreja ao longo
da história:
1. O culto e
liturgia na Igreja primitiva.
O culto da igreja primitiva
inspirou-se na liturgia das sinagogas. Nos cultos eram lidas passagens do
Pentateuco e dos Profetas, seguindo-se uma exposição do texto. Também eram
cantados salmos, especialmente o “Hallel” (Sl 113-118). O culto cristão foi
extremamente simples (não simplório), constando de orações, cânticos, leituras
do AT e dos livros dos apóstolos. Eram feitas exortações pelo dirigente,
ensinamentos das verdades bíblicas, coletas (ofertório) e celebração da Ceia do
Senhor (COUTO, 2016, pp. 47,48 – grifo nosso). Até o século III, o culto
transcorria com a seguinte ordem litúrgica: a) Leitura da Palavra; b)
Cântico de hinos; c) Oração em pé com a participação coletiva; d)
celebração da Ceia do Senhor; e, e) Coleta para ajudar viúvas,
enfermos, encarcerados (RODRIGUEZ, 1999. p. 43).
2. O culto e
liturgia na Igreja da contemporaneidade.
Infelizmente têm
surgido muitas formas estranhas e até exageros nos cultos e liturgias em
algumas igrejas em nossos dias: a) regressão espiritual. Uma espécie de
“segunda conversão”, algo que a Bíblia condena veementemente (Nm 23.23; Jo
8.32; Gl 3.13; 2Co 5.17); b) dança no espírito. Davi dançou
patrioticamente, mas, nunca no Templo, pois o templo é o local de adoração e
reverência (2Sm 6.14-16; 1Cr 15.29); no NT não há menção a este comportamento
entre os elementos do culto e a manifestação do Espírito; c) entrevista
espiritual. Caracterizada por ênfase desordenada na atuação de satanás no
mundo e na igreja, com conversações e entrevistas com demônios; d) maldição hereditária.
Consiste em pactos ascendentes da família feitos com demônios que trazem
maldição. A Bíblia é clara ao mostrar que tal doutrina é herética (Jr 31.29,30;
Ez 18.2-4,20; Rm 8.1); e) riso no espírito. Propagado no Brasil,
principalmente pelos grupos neopentecostais, onde as pessoas caem rindo no
chão, histéricas e dando gargalhadas sem nenhum controle de suas ações; e, g)
outras inovações. Introdução de elementos judaicos (judaização) no culto
cristão etc.
3. Desafios quanto
ao culto e a liturgia na atualidade.
Diante do
crescimento de outros movimentos denominados pentecostais e neopentecostais,
bem como a comunicação global pela internet, a igreja tem vivenciado uma
influência de modismos, substituindo, em alguns lugares, os elementos bíblicos
que marcam o seu culto e liturgia como: Perda do costume da oração coletiva (Jz
21.2; Jz 2.4; 2 Cr 5.13; At 2.14; 4.24); diminuição de tempo para exposição da
Palavra (Cl 3.16); perda da adoração cristocêntrica; perda da adoração
ultracircunstancial; ênfase em mensagens de autoajuda; hinos, sem adoração, centrada
apenas no homem e suas experiências (antropocentrismo); utilização de símbolos
judaizantes (estrela de Davi, menorá, talit, kipá, shophar); aplausos
substituindo a glorificação espontânea (Rm 15.9; Ap 4.9); e, danças e teatro
nos cultos que retiram a centralidade da palavra, transferindo-a à estética.
IV.
OS ELEMENTOS DO GENUÍNO CULTO PENTECOSTAL
Os principais
elementos do culto pentecostal são:
1. Oração.
Oração é uma prece
dirigida pelo homem ao seu Criador, com o objetivo de adorá-Lo e lhe pedir
perdão pelas faltas cometidas, agradecer-Lhe pelos favores recebidos, buscar
proteção e, acima de tudo, uma comunhão mais íntima com Ele (1Cr 16.11; Sl
105.4; Is 55.6; Am 5.4,6; Mt 26.41; Lc 18.1; Jo 16.24; Ef 6.17,18; Cl 4.2; 1Ts
5.17).
2. Hinos.
Um dos principais
elementos do culto é o louvor a Deus. Louvar a Deus significa servi-lo em
espírito e em verdade. A música esteve presente no culto de Israel e da Igreja
primitiva (Nm 10.1-10; Jz 7.22; Jó 38.7; Ef. 5.19; 1Tm 3.16; At 16.25).
3. Leitura
bíblica.
A leitura da
Bíblia é indispensável em um culto cristão e deve ser um momento de profunda
reverência, onde os verdadeiros adoradores deverão acompanhar a leitura do
texto. Encontramos diversos exemplos da leitura das Sagradas Escrituras, tanto
no Antigo como no Novo testamento (Nm 24.7; Dt 31.26; Js 8.34,35; 2Cr 34.14-21;
Ne 8.8; 9.3; Lc 4.14-21; At 17.11).
4. Contribuições.
As ofertas
representam a expressão de gratidão do cultuador (Êx 35.29; 36.3; Lv 7.16;
22.18), bem como os dízimos (Ml 3.10). Devemos dar a Deus parte daquilo que
dEle recebemos (Êx 23.15; 2Co 9.7). A contribuição no culto é bíblica e deve
ser oferecida tanto pelos ricos como pelos pobres (Mc 12.41-44).
5. Pregação.
A pregação é a
parte central do culto cristão e sem ela o culto fica sem brilho e objetivo,
pois é através dela que a fé é gerada (Rm 10.14-17; Gl 3.2); é a vontade de
Deus, que todos se arrependam e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (Ez
18.23; At 17.30; 1Tm 2.4). A mensagem deve ter a primazia no culto
cristão e relegar isso é um grande perigo a Igreja.
6. Dons
espirituais.
Não se pode pensar
em Culto Pentecostal sem a manifestação dos dons espiritais, pois ele é
caracterizado não apenas pela verdadeira adoração ao Criador, mas também pelas
manifestações espirituais e sobrenaturais do Espírito Santo entre os adoradores
por meio dos dons espirituais (1Co 14.26). Além da adoração “salmos”, e do
ensino “doutrina”, no culto pentecostal a manifestação dos dons é comum. Paulo
faz menção a diversos dons, tais como: revelação, língua, interpretação, profecia
e outros (1Co 14.26-40).
CONCLUSÃO
O culto
verdadeiramente pentecostal é baseado no que Deus determinou por meio de sua
Palavra. De modo que, os cultos que não possuem tais princípios, não fazem
parte do verdadeiro pentecostalismo.
REFERÊNCIAS
Ø COUTO,
Vinicius. Culto Cristão: Origens,
desenvolvimento e desafios contemporâneos. 1 ed. SP: Editora Reflexão,
2016.
Ø GONÇALVES,
José. O Corpo de Cristo: Origem, Natureza
e Vocação da Igreja no Mundo. 1 ed. RJ: CPAD, 2024.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. 1 ed. RJ: OBJETIVA, 2001.
Ø KESSLER,
Nemuel. O culto e suas formas. 1
ed. RJ: CPAD, 2016.
Ø LUIZ,
Gesse. Caminhos e Descaminhos na
História da Liturgia Cristã. 1 ed. Curitiba: AD Santos, 2016.
Ø MARTIN,
Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva.
2 ed. SP: Vida Nova, 2012.
Ø SOARES,
Ezequias [Org.]. Declaração de Fé das
Assembleias de Deus. 1 ed. RJ: CPAD, 2017.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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