quarta-feira, 13 de novembro de 2024

LIÇÃO 07 – A PROMESSA DE UM CORAÇÃO NOVO






Rm 2.25-29; Jr 31.31-34
 
 
 
INTRODUÇÃO
Nesta lição falaremos sobre o conceito de “novo coração” na Bíblia com sendo a regeneração; estudaremos a necessidade de ter um “novo coração”; pontuaremos os aspectos do resultado de se ter o “novo coração”; e for fim, analisaremos as características de um “novo coração” como se referindo ao “homem interior” para revelar o centro da vida mental, emocional e espiritual do ser humano.
 
 
I. O CONCEITO DE “NOVO CORAÇÃO” NA BÍBLIA COMO SENDO A REGENERAÇÃO
A palavra “coração” recebe destaque nas Escrituras sendo mencionada cerca de 876 vezes. A palavra hebraica “leb” e a grega “kardía” para “coração” são usadas pelos escritores bíblicos tanto de modo literal como figurativo (Dt 4.29; 10.12; 2Cr 6.14; Jr 29.13; Jl 2.12-13; Sl 51.10). Na grande maioria das ocorrências nas Escrituras, a palavra “coração” é usada figurativamente e representa: “a parte central do ser humano, o íntimo, o homem interior” (Ez 36.26-27). De modo geral, essa palavra “coração” se refere ao “homem interior” (Jo 3.3) a fim de revelar o centro da vida mental, emocional e espiritual do ser humano (Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27). Desse modo, o apóstolo Paulo faz referência ao “homem exterior” (o corpo físico) e ao “homem interior” (alma e espírito), que constitui o ser humano em sua integralidade: corpo, alma e espírito (Hb 4.12). É para a dimensão desse “homem interior” que a Bíblia aplica a palavra “coração”. [...] Portanto, de maneira geral, a palavra “coração” se refere ao que está no interior do ser humano (Pv 4.23; Mt 15.18-20) (Renovato, 2024, pp. 48,50).
 
1. O “coração novo” como sendo a regeneração na Bíblia.
Teologicamente podemos dizer que o “novo coração”, “novo nascimento” ou “regeneração” é “o milagre que se dá na vida de quem aceita a Cristo, tornando-o participante da vida e da natureza divina. Através da regeneração o homem passa a desfrutar de um nova realidade espiritual” (ANDRADE, 2006, p. 317 – acréscimo nosso). O Pastor Eurico Bergstén (2016, p. 174) diz que: “a regeneração ou novo nascimento significa o ato sobrenatural em que o homem é gerado por Deus (1Jo 5.18) para ser seu filho (Jo 1.12) e participante da natureza divina (2Pe 1.4)”. A doutrina da regeneração é bíblica e foi ensinada por Jesus e pelos seus santos apóstolos (Jo 3.3,7; 2Co 5.17; Gl 6.15; Jo 1.12.13; Ef 2.1,5; Cl 2.13; Tt 3.5; Tg 1.18; 1Pe 1.23). A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil diz que a “Regeneração é a transformação do pecador em uma nova criatura pelo poder de Deus [...]. Essa obra é também conhecida como novo nascimento, ou nascer de novo e nascer do Espírito. Trata-se de uma operação do Espírito Santo na salvação do pecador” (SOARES [Org.], 2017, p. 112).
 
 
II. A NECESSIDADE DE RECEBER UM NOVO CORAÇÃO
“A palavra regeneração é particularmente utilizada no Novo Testamento, e em grego é palingenesia, com um conceito bastante amplo, podendo significar ‘novo nascimento’ (Jo 3.3,4), ‘gerar de novo’ (1Pe 1.3), e ‘nova criação’ (2Co 5.17; Gl 6.15). Esse fenômeno tem relação com ensinamentos do Antigo Testamento, que tratam sobre o recebimento de ‘um novo coração’ (Ez 36.26) e ‘um novo espírito’ (Dt 10.16; 30.6). Em Ezequiel 36.24 Deus promete retirar o coração de pedra, dando-lhe um novo espírito, e um novo coração. Esta circuncisão do coração é a obra do Espírito de Deus e pode ser realizada somente por Ele” (Barreto, 2024, p. 96). “[…] Outros textos, como Deuteronômio 30.6, falam sobre a circuncisão do coração, uma metáfora para a purificação e transformação interior que só Deus pode realizar, o que pode ser visto como uma atuação regeneradora do Espírito, mesmo que de forma não tão explícita quanto no Novo Testamento” (Barreto, 2024, p. 124).
 
1. O novo coração e a regeneração.
Na obra “Protopentecoste: Ações do Espírito Santo no Antigo Testamento” está escrito que: “A promessa de Deus em Ezequiel (Ez 36.26-27) se concretiza na experiência daqueles que, pela fé, recebem o Espírito Santo e são transformados interiormente. Esta renovação não é apenas uma reforma externa, mas uma mudança profunda que afeta o coração e a vontade, tornando possível a obediência genuína e a devoção sincera. Assim, a habitação do Espírito Santo é a chave para a vida espiritual autêntica, desde os tempos antigos até o presente, garantindo que os crentes sejam capacitados a viver em conformidade com a vontade de Deus, manifestando Sua glória e santidade ao mundo” (Barreto, 2024, p. 96).
 
2. O novo coração fala de mudança interna.
O texto de 1Samuel 10.6 mostra que: “Duas vezes é dito que o Espírito’ veio sobre Saul’. Após a primeira vez, Saul é ‘transformado em um novo homem’. Ocorre uma mudança interior, em seu coração. Assim, a unção deixa de ser apenas um rito para, de fato, simbolizar o agir de Deus sobre o ser humano que o Senhor escolheu. Aqui os resultados são internos, antes de serem externos […] ‘Ser um novo homem’ e ‘ter um novo coração’ (1Sm 10.7,9) apontam para mais que uma capacitação externa, trata-se de uma mudança interior. Essa transformação interior promovida pelo Espírito Santo na vida de Saul destaca uma verdade fundamental sobre o papel do Espírito […]. A mudança externa é precedida por uma transformação interna, o que indica que […] um coração alinhado com Deus” (Barreto, 2024, p. 102).
 
3. O novo coração fala de uma transformação.
Robert Charles Sproul (2011, p. 236) asseverou: “Não podemos ser cristãos a menos que o Espírito Santo nos regenere e transforme o nosso coração de pedra num coração de carne. Como Jesus disse a Nicodemos, se um homem não nascer do Espírito, não pode ver o reino de Deus, muito menos entrar nele. O Espírito entra e habita em cada pessoa a quem ele regenera”. Segundo Beacon (2006, p. 49) a palavra traduzida como “de novo” é “anothen”, que tem vários significados e um deles é: “de cima”. Acerca disso Wilmington (2015, pp. 362,363) diz que: “o único requisito para viver nesta terra é ter um nascimento físico; igualmente, o único requisito para viver um dia nos céus é ter um nascimento espiritual”. Na obra “Protopentecoste: Ações do Espírito Santo no Antigo Testamento” está escrito que podemos verificar alguns textos bíblicos que são apresentados para argumentar essa transformação interna pela mudança do coração (Barreto, 2024, p. 101). Vejamos: 
  • Dt 30.2: “E te converteres ao Senhor teu Deus, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma […].
  • Dt 30.6: “E o SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração”.
  • Dt 10.16: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz”.
  • Jr 31.33: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”.
  • 1Sm 7.3: “Então falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo: Se com todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso coração ao Senhor, e servi a ele só [...]”.
 
4. O coração novo fala da ação do Espírito Santo na vida do pecador.
“É justamente aqui que a graça de Deus se manifesta de maneira poderosa e indispensável. A salvação não é algo que o homem possa alcançar por seus próprios méritos ou esforços, mas é um dom gratuito de Deus, concedido pela sua soberana misericórdia. Somente através da atuação do Espírito Santo é que o coração humano pode ser regenerado, despertado para a vida espiritual e capacitado a responder ao chamado de Deus. A graça de Deus não apenas convida, mas efetivamente transforma, restaurando a imagem de Deus no homem e habilitando-o a viver de acordo com os propósitos divinos. Sem essa intervenção graciosa, o ser humano permaneceria para sempre em seu estado de alienação e perdição” (Barreto, 2024, p. 110).
 
 
III. ASPECTOS DO RESULTADO DO NOVO CORAÇÃO
“O coração é onde a pessoa pensa (Gn 6.5; Dt 7.17; 1 Cr 29.18; Ap 18.7), onde a pessoa compreende e tem entendimento (1Rs 3.9; Jó 17.4; Sl 49.3; Pv 14.13; Mt 13.15). O coração faz planos e tem intenções (Gn 6.5; 8.21; Pv 20.5; 1Cr 29.18; Jr 23.20). A pessoa crê com o coração (Lc 24.25; At 8.37; Rm 10.9). O coração é o lugar da sabedoria, discernimento e habilidade (Êx 35.34; 36.2; 1Rs 3.9; 10.24). O coração é o lugar da memória (Dt 4.9; Sl 119.11). O coração desempenha o papel da consciência (2Sm 24.10; 1Jo 3.20, 21)” (Longman, 2023, p. 407).
 
1. Sem o “novo coração” o homem permanece morto espiritualmente.
Paulo diz que o homem não regenerado “está morto em delitos e pecados” (Ef 2.1,5). Vale salientar que essa “morte” não é a incapacidade de corresponder ao chamado de Deus, mas a separação espiritual da presença dEle (Is 59.2; Rm 3.23). Paulo disse que o homem nessa condição não compreende as coisas de Deus (1Co 2.14). O pecador é iluminado, quando exposto a pregação da Palavra que esclarece seu entendimento (Ef 1.18; 6.4; 2Co 6.4), até então obscurecido pelo pecado (Ef 4.18) e pelo diabo (2Co 4.4), e, ao crer no evangelho este é então vivificado (Ef 1.13; 2.1,5). No entanto, mesmo sendo iluminado, a pessoa pode optar por aceitar ou rejeitar o plano da salvação (Mt 16.24; Jo 7.37; Ap 22.17).
 
2. Sem o “novo coração”, o homem não tem acesso ao Reino de Deus.
Por melhor que seja uma pessoa, ela não pode produzir sua salvação (Is 64.6; Tt 3.5). Jesus declarou ao religioso Nicodemos três vezes que “é necessário nascer de novo” (Jo 3.3,5,7). Moody (sd, p. 18) diz que esta “não é simplesmente uma exigência pessoal, mas universal”. Segundo o Mestre Jesus, o novo nascimento é necessário porque: a) sem ele o homem não pode ver o Reino de Deus (Jo 3.3); e, b) tampouco entrar nele (Jo 3.5). O homem do jeito que está não pode ter acesso ao Reino de Deus, pois é “filho da ira por natureza” (Ef 2.3); e, andando na carne não pode agradar a Deus (Rm 8.8). Somente quando nasce de novo, este homem é criado em verdadeira justiça e santidade requeridas por Deus para que tenha acesso ao Reino (Ef 4.24).
 
 
IV. CARACTERÍSTICAS DO NOVO CORAÇÃO
1. Um ato espiritual.
A desobediência humana recebeu como sentença a morte, tanto física quanto espiritual (Gn 2.16,17; Ez 18.4; Rm 6.23; Ef 2.1,5). Essa morte espiritual implica na separação da presença de Deus (Rm 3.23). Portanto, “morto espiritualmente” o homem necessita “nascer de novo” espiritualmente para ter comunhão com Deus. Por isso, no discurso de Jesus com Nicodemos o Mestre lhe diz: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Segundo Beacon (2006, p. 49 – acréscimo nosso) a palavra traduzida como “de novo” é “anothen”, que tem vários significados e um deles é: “de cima”. Acerca disso Wilmington (2015, pp. 362,363) diz que: “o Messias estaria, então, dizendo que o único requisito para viver nesta terra é ter um nascimento físico; igualmente, o único requisito para viver um dia nos céus é ter um nascimento espiritual”. Esse “nascer do Espírito” em nada tem a ver com a reencarnação, que é um ensinamento que não encontra apoio nas Escrituras (2Sm 12.21-23; Hb 9.27). Aliás, Nicodemos perguntou se a regeneração era vir de novo a vida fisicamente, voltando ao ventre materno (Jo 3.4). Jesus respondeu dizendo “o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6).
 
2. Um ato interior.
Os profetas predisseram este ato sobrenatural (Dt 30.6; Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27). Embora o Antigo Testamento tenha em vista a nação de Israel, a Bíblia emprega várias figuras de linguagem para descrever o que acontece no novo nascimento. Nestas passagens bíblicas o novo nascimento é comparado a uma “cirurgia interior”. Deixando claro que a regeneração é um ato divino operado pelo Espírito Santo no espírito do homem. Macgrath (2010, p. 525), diz: “a regeneração altera a natureza interior do pecador” (Gl 5.16,17; Cl 3.5; 1Pe 2.11; 2Pe 1.4; 1Jo 3.9; 5.18).
 
3. Um ato instantâneo.
Diferente da santificação que é um processo, a regeneração é um ato instantâneo. A palavra “instantâneo” segundo o Aurélio significa: “que se dá num instante; rápido; súbito” (2004, p. 1113). O apóstolo Paulo nos diz: “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é […]” (2Co 5.17). É bom destacar também que a regeneração é uma etapa da salvação distinta da justificação, da santificação e da glorificação. A ordem segue-se assim: primeiro “o pecador é declarado justo”; em seguida “ele é feito justo”; depois “ele vai se tornando justo”; e, por fim, ele “será perfeitamente justo”.
 
 
CONCLUSÃO
Estudamos nesta lição que palavra “coração” se refere à realidade da vida interior de cada pessoa e o que atesta a Nova Aliança não é mais uma marca física (Rm 2.28), mas a obra realizada pelo Espírito Santo no coração da pessoa (Rm 2.29). 
 
 
 
REFERÊNCIAS
Ø  ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD, 2010.
Ø  BARRETO, Alessandro. Protopentecoste: Ações do Espírito Santo no Antigo Testamento. Editora Bereia Acadêmica, 2024.
Ø  LONGMAN, Tremper. Dicionário Bíblico Baker. CPAD, 2023.
Ø  SOARES, Esequias [Org.]. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. CPAD, 2017.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, 1995.
       

Por Rede Brasil de Comunicação.

 




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