Fp
4.8,9; 2Co 10.3-5
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos o papel dos pensamentos na vida cristã como uma faculdade
essencial para formação das decisões, escolhas e atitudes. Veremos que os
pensamentos influenciam diretamente o nosso comportamento e a nossa comunhão
com Deus, especialmente no contexto da queda do homem. Finalmente, refletiremos
a necessidade de cultivar uma mente disciplinada e sujeita à Palavra do Senhor,
a fim de alcançarmos a sua renovação espiritual.
I. CONCEITOS E REFLEXÕES SOBRE O
PENSAMENTO
1.
Definindo o que são os pensamentos.
De
acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “pensamento”
é definido como a “faculdade de pensar; ato ou efeito de pensar”,
abrangendo ainda ideia, opinião, juízo, plano, lembrança e a faculdade
reflexiva do ser humano (Ferreira, 2009, p. 1534). De modo semelhante,
o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa descreve pensamento como a “faculdade
que tem o ser humano de formar ideias e representações da realidade; capacidade
de raciocinar”, incluindo também cogitação, intenção, opinião e
produto da atividade mental (Houaiss; Villar, 2001, p. 2195).
Convém destacar as expressões do hebraico bíblico como machăshābāh, que
é representada por “pensamento, plano, desígnio”, enquanto o
verbo “chāshav” refere-se a “pensar, calcular, considerar,
imaginar”. Já no grego do Novo Testamento, encontramos os termos como “diánoia”,
com o sentido de “mente, entendimento, disposição”, traduzido
como “mente, intelecto, percepção”, e “logismós”,
que significa “raciocínio, argumento, imaginação”. Tais termos
revelam que a noção bíblica de pensamento envolve tanto a esfera do propósito
e do plano (no hebraico), quanto a do entendimento, raciocínio e
disposição interior (no grego) (Strong, 2015).
2.
Uma visão paulina sobre os pensamentos.
Na
carta escrita aos Filipenses 4.8-9, o apóstolo Paulo exorta os crentes a
exercitarem o autocontrole dos pensamentos. Nesse sentido, ele argumenta que
uma mente disciplinada deve estar continuamente ocupada com virtudes e
pensamentos que glorificam ao Senhor. Embora a cidade de Filipos fosse
fortemente influenciada pela filosofia estoica e pelos valores cívicos romanos,
as orientações do apóstolo caminham na contramão da cultura dominante, que
valorizava a reputação, o sucesso e o poder. Paulo demonstra que o
intelecto sem Deus é espiritualmente pobre, e que os valores
espirituais são superiores aos valores meramente sociais e humanos. Assim,
possuir a mente de Cristo significa permitir que o Espírito Santo governe os
pensamentos, direcionando-os à verdade, à bondade e à virtude. A lista de
qualidades mencionadas por Paulo: verdadeiro, honesto, justo, puro,
amável e virtuoso, descreve conteúdos edificantes que devem ocupar o
interior do cristão diariamente. Já no contexto de 2 Coríntios 10.3-5, Paulo
defende sua autoridade apostólica diante do surgimento de falsos mestres e
críticos em Corinto, que questionavam sua legitimidade. A cidade de Corinto,
era marcada por orgulho intelectual, riqueza, corrupção moral e
competição retórica, valores que não possuem relevância diante de Deus.
Esse ambiente de soberba levou alguns a desprezarem a simplicidade e a
sinceridade do apóstolo, criticando sua capacidade argumentativa na exposição
das verdades bíblicas e até mesmo seu caráter. Contudo, Paulo, possuidor de uma
mente renovada e transformada pelo Senhor, não responde às
provocações de modo carnal. O poder do convencimento não reside na
capacidade da mente humana, mas no poder de Deus: “as
armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para
destruição das fortalezas” (2Co 10.4).
II. PENSAMENTOS EM CONSTANTE CONFLITO
CONTRA OS EFEITOS DO PECADO
1.
O pecado e os efeitos na mente do homem dos dias atuais.
Manter a mente saudável é um dos maiores
desafios enfrentados pela humanidade em nossos dias. Mais uma vez, retornamos
ao pecado como ponto de partida da influência que atinge os pensamentos,
emoções, decisões e ideias humanas. Essa realidade se manifesta de forma
evidente por meio da ansiedade desordenada e do estresse
constante, reflexos da rotina acelerada e das pressões do cotidiano,
seja no trabalho, nas finanças, nas expectativas sociais, ou até mesmo nos
momentos que deveriam ser de descanso (Ec 2.23). Vivemos em uma sociedade que
tenta assumir o controle absoluto da própria vida, rejeitando qualquer
possibilidade de frustração e buscando incessantemente garantias para o futuro.
Essa postura, contudo, acaba usurpando o lugar que pertence a Deus e afastando
o homem da confiança plena no Pai celestial (Mt 6.25–26, 31–32). Como
consequência, a mente humana, que antes da Queda se ocupava em agradar a Deus e
cumprir seus propósitos, tem sido conduzida por caminhos de inquietação,
insegurança e vazio existencial. Muitos vivem sem direção, dominados por
dúvidas sobre o futuro, sobre a carreira (secular ou ministerial) e até mesmo
sobre o verdadeiro sentido da vida. A isso se soma a dificuldade em lidar com
as emoções. Desde cedo, muitos aprendem que “não devem chorar” ou que precisam
“ser fortes o tempo todo”, o que gera repressão emocional e adoecimento
interior. O temor torna-se um companheiro constante, enquanto as expectativas
sociais e familiares se transformam em fontes de cobrança e comparação. Diante
desse cenário, não é raro que pessoas optem pelo isolamento, ainda que estejam
cercadas por outras. O fenômeno se intensifica com o avanço
das mídias sociais, que criam uma realidade paralela: conectada virtualmente,
mas emocionalmente distante. Frente a tudo isso, é urgente retornar aos
princípios bíblicos, a fim de que nossa mente não seja destruída pelos males
deste presente século.
2.
O pecado afetou a espiritualidade da mente humana.
A
mente humana é uma criação divina, dotada por Deus de faculdades
extraordinárias, destinadas a possibilitar ao homem glorificar o seu Criador.
Contudo, após ser afetada e contaminada pelo pecado, essa mente tornou-se
obscurecida pelas trevas espirituais (2Co 4.4). As Escrituras revelam o triste
diagnóstico moral e espiritual das faculdades mentais humanas, que, corrompidas
pelo pecado, transformaram-se em uma verdadeira “fábrica de males”. Jesus
declarou: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios,
adultérios...” (Mt 15.19). Nesse contexto, o termo coração não se
refere ao órgão físico, mas à sede interior do ser humano, abrangendo
pensamentos, desejos, emoções, intenções e vontade, a fonte de onde brotam
ações e pensamentos malignos. Então desde a Queda, o homem passou a conviver
com sentimento de culpa e peso na consciência, conforme vemos em Gênesis
3.9-10. A partir desse evento, surge a indisciplina espiritual, dúvidas sobre a
vontade divina e a crise de propósito que afetam toda a humanidade. Mesmo após
milhares de anos, os efeitos da Queda continuam evidentes: a mente humana ainda
é dominada por pornografia, adultério, vícios, ira, orgulho, além do
desinteresse por períodos de comunhão, oração, leitura bíblica e da legitima
adoração a Deus.
3.
O pecado transformou a mente humana num campo de batalha espiritual.
Com
a entrada do pecado no mundo, o homem não apenas se afastou da presença do
Eterno, mas também experimentou uma ruptura em suas faculdades mentais e
espirituais. O pecado abriu uma brecha na mente humana, tornando-a vulnerável
às influências malignas. Neste aspecto, tanto a espiritualidade como as
faculdades mentais passaram a estar em constantes conflitos. No Antigo
Testamento, vislumbramos indícios claros dessa influência espiritual sobre a
mente humana (Gn 6.5), e constatamos como ela estava à disposição da
perversidade. Contudo, é nos dias de Cristo que essa realidade se intensifica e
se manifesta de forma mais evidente. Os Evangelhos registram diversos episódios
em que as forças demoníacas atuam sobre a mente e o corpo das pessoas,
levando-as à opressão e possessão espiritual. Jesus, porém, revela sua
autoridade absoluta sobre essas potestades, libertando e promovendo sanidade
dos aflitos (Mt 4.24; 8.16,28-34; 9.32-34; 12.22-32; 15.21-28; Mc
1.23-27,32-39; 3.11-12; 5.1-20; 7.24-30; 9.14-29; Lc 4.33-41; 8.26-39; 9.37-43;
11.14-26), evidenciando que o ministério de Cristo foi também uma poderosa
guerra espiritual pela libertação da mente humana.
4.
As ciências e filosofias humanas não são suficientes para vencer a batalha da
mente.
É
notável o avanço no mundo acadêmico, científico e filosófico no contexto
mundial, especialmente quanto às questões que envolvem debates sobre saúde
mental. Todavia, é perceptível que a humanidade está cada vez mais aprofundada
em seus dilemas e regressos, isto porque dia após dia novos diagnósticos e
transtornos surgem neste contexto. Muito embora o cenário seja desesperançoso,
destacamos a mensagem e a superioridade do evangelho como o instrumento eficaz
e capaz de promover a restauração e renovação da mente humana (Rm 12.1,2).
Entender o comportamento humano, suas fragilidades e necessidades é de
relevante importância, mas devemos entender que só em Cristo encontramos
segurança e proteção eficaz para nossa mente (Fp 4.7).
III. TEMOS A MENTE VITORIOSA DE
CRISTO
1.
Disciplinando os pensamentos intrusivos.
Nossos
sentimentos são moldados pelos pensamentos, e estes, por sua vez, influenciam
diretamente nosso comportamento. Por isso, devemos estar sempre em alerta e
vigilância interior. O próprio Jesus nos advertiu: “a boca fala do que
está cheio o coração” (Mt 12.34), indicando que o interior, mente e
coração, determina nossas palavras e atitudes. Assim como o soldado vence a
batalha por estar bem treinado, alimentado e firme, o cristão também deve
fortalecer sua mente, rejeitando tudo o que desagrada a Deus. Em vez disso,
deve preenchê-la com pensamentos saudáveis e edificantes, conforme a exortação
do apóstolo Paulo: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o
que é puro, tudo o que é amável […] nisto pensai” (Fp 4.8).
Lembremo-nos que “não podemos impedir que um pássaro pouse sobre a nossa
cabeça, mas podemos evitar que ele faça um ninho sobre ela”.
2.
Mente fortalecida e revestida pelas armas espirituais.
A
Bíblia nos revela o modelo perfeito para o desenvolvimento de uma mente
espiritualmente saudável e equilibrada em Cristo mostrando que mentes
transformadas, são vidas restauradas. Vejamos:
- Nossa mente encontra equilíbrio ao reconhecer a soberania e dependência de Deus (1Pe 5.6-7).
- Precisamos alinhar nossos pensamentos com a verdade bíblica e a perspectiva de Cristo (Rm 12.2).
- Nossos pensamentos devem ser guiados com as coisas de Deus (Fp 4.19).
- Devemos disciplinar nossa mente com bons pensamentos (Cl 3.2, Lm 3.21-23, Sl 77.11-12).
- Devemos ocupar a mente com aquilo que agrada a Deus (1Co 6.12, Sl 101.3, Pv 23.2, Mt 5.29).
CONCLUSÃO
Ainda
que o pecado tenha afetado profundamente a mente humana, louvamos a Deus, o
restaurador de todas as coisas por meio de seu Filho, Jesus Cristo. É através
de Cristo que nossos pensamentos e sentimentos são renovados, e, com o auxílio
do Espírito Santo, podemos novamente glorificar a Deus com todo o nosso ser,
interior e exteriormente (Ef 4.24).
REFERÊNCIAS
Ø BÍBLIA
SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e
Corrigida. SBB, 2009.
Ø FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
Positivo, 2009.
Ø HOUAISS,
Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Objetiva, 2001.
Ø STRONG,
James. Concordância de Strong: dicionário bíblico hebraico, aramaico e
grego. SBB, 2015.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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