Ec 3.1-8
INTRODUÇÃO
No capítulo 3 de Eclesiastes, o sábio Salomão diz que “tudo
tem o seu tempo determinado” (Ec 3.1) e descreve uma série de
contrastes envolvendo fatos do dia a dia, como: nascer e morrer, plantar e
colher, ajuntar e espalhar, buscar e perder, estar calado e falar, além de
outros (Ec 3.1-8). Nesta lição nós estudaremos sobre a transitoriedade da vida
e sobre o tempo para cada propósito debaixo do sol.
I – A TRANSITORIEDADE DA VIDA
Um dos termos mais comuns em Eclesiastes é hebel,
traduzido por vaidade e que tem o sentido de “inutilidade” ou “futilidade”.
Este termo ocorre cerca de 37 vezes no livro (Ec 1.2,14; 2.1,11,15,17,19;
2.21,23,26; 3.19) além de outros. Já a expressão “vaidade de vaidades” (Ec
1.2) significa “vaidade completa” ou “futilidade no sentido mais
amplo, exagerado”; assim como o Cântico dos Cânticos era o louvor mais
elevado e o santo dos santos o lugar mais sagrado do tabernáculo (Ct 1.1; I Cr
23.13; Hb 9.3). O sábio diz que é vaidade: (1) as atividades humanas (Ec
1.14; 2.11); (2) a alegria e o prazer (Ec 2.1); (3) trabalho,
dinheiro e riquezas (Ec 4.4,7-8;5.10); (4) a vida (Ec 2.17; 6.12); (5)
a adolescência e juventude (Ec 11.10); e (6) a morte (Ec 3.19;
11.8). O que Salomão mostra neste livro é que todos os empreendimentos humanos
na terra não tem sentido nem propósito quando realizados à parte da
vontade de Deus. Somente através da fé e comunhão com Deus é que a vida passa a
ter sentido (Ec 3.12-17; 8.12,13; 12.13,14; 12.13,14).
II – TEMPO PARA TODO PROPÓSITO DEBAIXO DO
CÉU
“Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo
propósito debaixo do sol” (Ec 3.1). O termo traduzido por tempo deriva-se do
hebraico “zeman” e significa “uma ocasião estabelecida”, “um
tempo marcado ou determinado” ou “certo tempo” (Et 9.27,31; Ne 2.6;
Dn 2.16; 7.12,25). Vejamos, então, o ensino do sábio acerca do tempo:
2.1 Tempo de nascer e tempo de morrer (Ec 3.2a). O homem foi criado capaz de gerar
filhos, para que haja perpetuação da espécie (Sl 127.3). Ao instituir a
família, Deus disse ao primeiro casal: “Frutificai, multiplicai-vos e
enchei a terra...” (Gn 1.28). A partir de Adão e Eva, começou, então, a
nascerem os filhos (Gn 4.1,2; 5.1-32; 6.10; 10.1-32; 11.10-32). Deus criou o
homem capaz de viver eternamente, mas, por causa da Queda, o homem tornou-se
mortal (Gn 2.17; 3.19). Por isso, todos temos o dia para nascer e o dia para
morrer, exceto aqueles que foram trasladados, como Enoque e Elias (Gn 5.24; Hb
11.5; II Rs 2.1-11) e os santos que serão arrebatados (II Co 15.51-53; I Ts
4.13-18). O termo hebraico para morrer é “mûth” que pode ser
usada tanto no sentido literal como figurado (Gn 25.8; Jz 8.32; Jó 1.19; Pv
10.21).
2.2 Tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou (Ec
3.2b). No princípio,
quando Deus criou todas as coisas (Gn 1.1-2-25) Ele criou a terra fértil, as
ervas e árvores frutíferas para servir de mantimento para o homem (Gn 1.11,12).
De acordo com as leis naturais que foram estabelecidas pelo próprio Deus, o
homem tem o direito de plantar e de colher (Gn 4.1,2; Tg 5.7). Mas, o plantar e
o colher pode ser aplicado também no sentido figurado, como a Lei da Semeadura,
onde nós colhemos aquilo que plantamos, ou seja, quem planta ódio, colhe ódio;
quem planta amor, colhe o amor: “Tudo que o homem semear, isto também
ceifará” (Jz 1.7; Gl 6.7).
2.3 Tempo de matar e tempo de curar (Ec 3.3a). O termo hebraico para matar é “hãragh”
e tem o sentido de “ferir com intenção de matar”, “assassinar”
(Gn 4.8; Jz 8.24; I Rs 9.16; Et 8.11). O sexto mandamento do Decálogo
diz claramente: “Não matarás” (Êx 20.13; Dt 5.17). Somente Deus
tem o direito de tirar a vida de alguém, como Ele mesmo fez no passado (Êx
12.29; 14.27-31; I Sm 25.38) e também ordenou em algumas ocasiões que o seu
povo o fizesse (I Sm 15.3,18). Encontramos muitos exemplos de guerras e de
mortes na Bíblia, principalmente nas páginas do AT, que ocorreram como
consequência do pecado e do juízo divino (Gn 7.1-24; 19.24-26; Jz 3.15-22;
4.10-24; I Sm 7.11; 11.1-11; 15.1-7, 32-35; I Rs 18.40-46). Por isso, o sábio
pôde dizer que há tempo para matar. Mas, o maior desejo de Deus é curar os
enfermos, pois Ele mesmo se revelou como Jeová Rapha', ou seja, o Senhor
que sara (Êx 15.26; cf. Dt 32.39; Jó 5.18; Sl 103.3; 107.20; Is 53.4,5; Jr
33.6); e também, dar vida (Dt 32.39; Jo 10.10).
2.4 Tempo de derribar e tempo de edificar (Ec 3.3b). Diversas vezes o próprio Deus ordenou
que casas e altares fossem derribados, como a casa do leproso (Lv 14.45) e
altares dedicados a ídolos (Êx 34.13; Dt 12.3; Jz 6.25). Encontramos também na
Bíblia, Sansão derrubando o templo de Dagon (Jz 16.23-31); e os caldeus
derrubando os muros e o templo de Jerusalém (II Rs 25.10; II Cr 36.19).
Portanto, há tempo para derribar! Mas, há tempo também para edificar, como
podemos citar: Enoque, filho de Caim, que edificou uma cidade (Gn 4.17); Noé,
Abraão, Moisés e Samuel, que edificaram altares ao Senhor (Gn 8.20; 12.7,8;
13.8; 17.15; 24.4; I Sm 7.17) e o próprio Salomão que edificou o templo de
Jerusalém (II Sm 7.13; II Cr 8.1).
2.5 Tempo de
chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar (Ec 3.4). O choro faz
parte da história da humanidade. Encontramos diversos exemplos na Bíblia, tais
como: Hagar, que chorou ao ver seu filho com sede (Gn 21.16); Abraão, pela
morte de Sara (Gn 23.2); José, ao rever os seus irmãos (Gn 42.24; 43.30; 45.2);
o povo de Israel, pela morte de Arão e de Samuel (Nm 20.29; I Sm 28.3); Ana,
por não gerar filhos (I Sm 1.8,10); os amigos de Jó, ao vê-lo pobre e doente
(Jó 2.12); e, o próprio Jesus, diante do sepulcro de Lázaro e da cidade de
Jerusalém (Lc 19.41; Jo 11.35). Mas, o sábio disse que também há tempo de rir,
ou seja, tempo de alegria, como aconteceu com Jetro, sogro de Moisés, que
alegrou-se ao saber de todo o bem que o Senhor fez a Israel (Êx 18.9); a
alegria dos discípulos pelo fato de, em Nome de Jesus, os demônios serem
expulsos, e os seus nomes estarem escritos nos céus (Lc 10.20); o carcereiro de
Filipos, que recebeu Paulo e Silas em sua casa com alegria (At 16.34); e muitos
outros exemplos registrados na Bíblia (Lc 2.10,15; Jo 16.22).
2.6 Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras (Ec
3.5a). A expressão
“espalhar pedras” pode ter pelo menos dois sentidos: (1) desfazer
projetos humanos que não estão de acordo com a vontade de Deus, como a
construção da Torre de Babel (Gn 11.1-11); (2) limpar um terreno,
tirando as pedras soltas para plantação ou para uma nova construção (Is 5.2;
62.10). Já o ato de ajuntar pedras pode ser visto na Bíblia como um memorial
(Js 4.5-9); e também para edificação, como ocorreu na construção do templo de
Jerusalém (I Rs 5.17,18).
2.7 Tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar (Ec
3.5b). Encontramos o
termo abraçar na Bíblia tanto no sentido literal como figurado. No
sentido literal, podemos citar Labão abraçando Jacó quando ele fugiu da
presença de Esaú (Gn 29.13); Esaú abraçando Jacó quando eles se reencontraram
(Gn 33.4); Jacó abraçando os filhos de José (Gn 48.10); e o abraço de Salomão e
a sunamita (Ct 2.6; 8.3). No sentido figurado, podemos citar o ato de abraçar a
sabedoria (Pv 4.8); a aliança com Deus (Is 56.4,6); e as promessas (Hb 11.13).
Assim, no sentido literal somos exortados a abraçar o irmão e amigo; mas não a
mulher estranha (Pv 5.20); e o falso evangelho (II Co 11.4).
2.8 Tempo de buscar e tempo de perder (Ec 3.6a). Existem diversos exemplos de perdas e
buscas na Bíblia, como as jumentas de Quis, pai do rei Saul (I Sm 9.3); um
jovem que perdeu um machado emprestado (II Rs 6.5); um pastor que perdeu uma de
suas ovelhas (Lc 15.4); uma mulher que perdeu uma dracma (Lc 15.8); dentre
outras. Mas, em todos esses exemplos, podemos ver a preocupação da busca pelo
que se perdeu (I Sm 9.3-20; II Rs 6.6,7; Lc 15.4-6,8-10). Dentre tantas coisas
que podemos buscar neste mundo, a mais importante é a presença de Deus (Is
55.6; Jr 29.13).
2.9 Tempo de guardar e tempo de deitar fora (Ec 3.6b). O termo original traduzido como guardar
é “sãmar” e significa “guardar”, “proteger”, “cuidar”
(Gn 2.15; II Rs 22.14; I Sm 26.15; II Sm 18.12). A Bíblia está repleta de
exortações acerca de guardar o que é bom, como a Palavra de Deus (Lc 11.28; Jo
8.51,52; 14.23,24); o coração, ou seja, a mente (Pv 4.23); os Mandamentos (I Jo
3.22,24; 5.2); o bom depósito (II Tm 1.14); o que temos recebido e ouvido (Ap
3.3). Mas, também, lançar fora tudo que é mal, como os ídolos (Gn 35.2; Js
24.14); objetos que não trazem edificação (At 19.19); e sentimentos maléficos,
como malícia, engano, fingimento e murmuração (I Pe 2.1).
2.10 Tempo de rasgar e tempo de coser (Ec 3.7a). Encontramos na Bíblia diversos
exemplos de vestes que foram rasgadas, como sinal de tristeza (Gn 37.29,34; Nm
14.6; Js 7.6; 11.35; II Sm 3.31; I Rs 21.27); purificação (Lv 13.45,56);
profecia (I Rs 11.30,31); escárnio (Mt 26.65; Mc 14.63; Jo 19.24), dentre
outras. Encontramos também Deus exigindo que o seu povo rasgasse o coração, em
vez de rasgar as vestes (Jl 2.13). Mas, para nós, o objeto mais importante que
foi rasgado foi o véu do Templo, por ocasião da morte de Jesus (Mt 27.51; Mc
15.38; Lc 23.45) que nos assegura que Cristo nos abriu um novo e vivo caminho
(Hb 10.20). Salomão disse que também tem tempo de coser, ou seja, restaurar ou
recuperar aquilo que se “rasgou”.
2.11 Tempo de estar calado e tempo de falar (Ec 3.7b). Há muitos mandamentos e recomendações
nas Escrituras acerca do falar e estar calado, principalmente no livro dos
Provérbios (Pv 6.16-19; 10.19,32; 12.18; 15.1; 18.21; 13.3). Os apóstolos
também nos exorta a falarmos a Palavra (Fp 1.14; 4.3; I Ts 2.2; Hb 13.7); falar
o que convém a sã doutrina (Ef 6.20; Tt 2.1); e a falar a verdade (Ef 4.25;
6.14). O apóstolo Tiago disse que todo homem deve estar pronto para ouvir, mas
ser tardio para falar (Tg 1.19); e, o apóstolo Paulo disse que devemos usar a
nossa fala para adoração e promover edificação (I Co 14.26). Mas, o sábio disse
que também há tempo de ficar calado, como o Senhor Jesus, que diante das
acusações, ele não abriu a sua boca (Is 53.7; Mt 26.62; 27.12; Jo 19.10).
2.12 Tempo de amar e tempo de aborrecer (Ec 3.8a). O amor a Deus e ao próximo é o maior
de todos os mandamentos (Lv 19.18; Mt 22.35-40; Lc 6.27-36; Jo 13.35; 14.15; I
Jo 4.7,8,12,19,20; 23). Jesus disse que devemos amar até mesmo os nossos
inimigos (Mt 5.44; Lc 6.27,35). Mas, há tempo para aborrecer. O termo hebraico
usado neste texto é “sãné” e tem o sentido de “odiar”, “aborrecer”,
“detestar” (Am 5.21; 6.8; Os 9.15; Sl 5.5,6). Assim, devemos aborrecer
tudo aquilo que é mau, como a violência (Sl 11.5); a transgressão (Pv 17.19) e
a corrupção do mundo (I Jo 2.15-17).
2.13 Tempo de guerra e tempo de paz (Ec 3.8b). A Bíblia registra muitos conflitos e
guerras, como a que ocorreu nos dias de Abraão, que entrou em uma peleja para
livrar o seu sobrinho Ló (Gn 14.14-17); e as muitas batalhas envolvendo a nação
de Israel (Êx 17.16; Js 4.13; 5.4,6; Jz 20.17; I Sm 14.52). As guerras ocorrem,
desde os tempos mais antigos, por causa da Queda e da maldade do homem. Mas, há
também tempo de paz! O termo hebraico para paz é “shalom” que tem
um sentido amplo e significa “bem”, “feliz”, “tranquilo”, “saúde”
e “prosperidade” (Nm 25.12; Js 9.15; Sl 4.8; 35.20). O desejo de
Deus é que os homens vivam em paz (Is 9.6; Jo 14:26,27; Rm 5.1,2; 12.18; Cl
3.15; Fl 4.17; I Pe 3.11).
CONCLUSÃO
A vida é repleta de bons e maus momentos: alegria e tristeza,
amor e ódio, vida e morte, ganhos e perdas, paz e guerras. Mas, como diz o dito
popular: “Não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe”. Por isso,
devemos aproveitar ao máximo o nosso tempo e também estar preparados para
enfrentar tanto os dias bons como os dias maus.
REFERÊNCIAS
ü ALMEIDA. João Ferreira de. Bíblia
de Estudo Palavras Chave. CPAD.
ü CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de
Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
ü MELO, Joel leitão de. Eclesiastes
versículo por versículo. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação