Tg
3.13-18.
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos sobre a diferença
entre a sabedoria do alto e a terrena. Sob o ponto de vista bíblico, a
autêntica sabedoria consiste em temer a Deus e guardar os seus mandamentos (Ec 12.13; Pv 1.7). Tiago
ensina que, aquele que é sábio demonstra sua sabedoria quando realiza boas
obras e sabe se relacionar com os outros. Destaca também, a mansidão como
característica de quem é sábio. Por isso, enquanto muitos se vangloriam de sua
inteligência e se tornam soberbos, presunçosos e orgulhosos. E, às vezes,
utilizam seus conhecimentos para intentos perversos e malignos. Nós, por meio
da Palavra de Deus, aprendemos que ser sábio é seguir o Mestre, que disse: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração...” (Mt 11.29). Isso, sim, é sabedoria verdadeira! Não se esqueçam de revisar
a lição 3, pois trata da mesma temática. Desejo
a todos uma excelente aula!!
I.
A POSTURA REVELA A ORIGEM DA SABEDORIA (Tg
3.13-15).
1. O conceito de sabedoria
segundo Tiago.
Ao
indagar, com uma pergunta retórica, àqueles mestres, Tiago estava mostrando que
ser sábio é uma coisa, e ter conhecimento é outra. O termo “sábio” no grego é “sophos”, que nos escritos clássicos
era termo usado para indicar “astuto”,
conhecedor das ciências, habilidoso em alguma arte ou artesanato. O termo “conhecimento”, nos escritos grego
clássicos é “episteme”, que é
frequentemente usado como sinônimo ou quase sinônimo de “sabedoria”, e significa “hábil”,
“versado”, em algum
conhecimento cientifico ou filosófico. Assim, a sabedoria é a mais
transcendental dessas duas qualidades (1 Co 1.30); e é isso que é desenvolvido
nos versículos seguintes. O conhecimento tem a tendência de inchar, quando não
é espiritualmente controlado (1 Co 8.1), mas a sabedoria sempre reconhece suas
origens (Tg 1.16,17). Portanto, o conhecimento se orgulha de ter aprendido
tanto, a sabedoria é humilde, porque não sabe mais (Pv 15.33).
Devido
a essa realidade, Tiago argumenta que seus leitores devem provar seus saberes
através de “obras em mansidão de
sabedoria”. O termo “mansidão”
no grego é “prautes”, que quer
dizer “gentileza”, “humildade”, “cortesia”, “mansidão”.
Trata-se de um dos aspectos do fruto do Espírito Santo, o que significa que se
manifesta mediante o desenvolvimento espiritual, através do poder divino (Gl
5.22,23; Fp 2.12,13; 1 Pe 2.1-3). Além disso, Tiago argumenta que tal mansidão
deve ser fruto de um “bom procedimento”.
No grego é usado o termo “anastrophe”,
que significa “conduta”, “comportamento”, o caráter geral de
uma vida, que no Novo Testamento é indicado pela metáfora do ‘andar’ (Gl 5.16; Ef 5.8; Cl 4.5). O
sábio deve ser pessoa de uma conduta repleta de boas obras, efetuadas em
mansidão. Sem a prática cristã, todas as outras coisas que alguém professe
possuir é sal que já perdeu o sabor (Mt 5.13,16). Portanto, Tiago compartilha
do conceito bíblico geral que a sabedoria não consiste apenas no conhecimento,
na astucia e na habilidade, mas antes, em uma profunda compreensão sobre o que
é e deve ser a vida piedosa (1 Tm 4.8; 2 Pe 1.3,5-7). Tal sabedoria produz
concórdia e harmonia entre as pessoas e os grupos. Faz agudo contraste com o
egoísmo calculista que é a causa de ‘desordem’
social e de todas as ‘praticas vis’. Sendo
que, a sabedoria nada será, a menos que se manifeste na forma de boas obras e
de uma vida moral e espiritual correta. Também precisa ser frutífera e
poderosa, tal como se espera que seja a fé cristã (Tg 2.14ss), porquanto, a
sabedoria que não é comprovada desse modo é uma sabedoria falsa; e mostra-se
ainda mais falsa quando se torna motivo de orgulho e de contenda (1Co 3.1).
2. Tiago reprova as
motivações e a postura daqueles mestres.
Após
conceituar o que é sabedoria, Tiago passa a reprovar as motivações, bem como a
postura daqueles que se declaravam mestres. Ele diz: “Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração,
não vos glorieis, nem mintais contra a verdade”. (v.14). A inveja é uma
das obras da carne, uma espécie de ódio, o contrário do amor, que é o fator
orientador na família de Deus (Jo 14.21; 15.10). O termo grego aqui usado é “zelos”, que significa “ardor”, “ansiedade”, “zelo”,
mas que, em sentido negativo, significa “ambição
desmedida”, “emulação”,
“inveja”. Portanto, ao
deixar-se arrastar por tal defeito de caráter o indivíduo se esquece de que
está servindo a Cristo, e começa a servir a si mesmo, sem quaisquer reservas (Rm
16.17,18; 1 Pe 2.1-3). Assim, seu zelo é “amargo”
com interesses próprios, pois ao invés de alguém ser consumido de zelo pelo
Senhor, o zelo carnal corrói a igreja (1 Co 3.1-4). Além de reprovar o
sentimento de amarga inveja, Tiago igualmente condena o sentimento faccioso que
se alastrava naquela comunidade cristã. Porquanto, os tais esforçavam-se por
ser, cada qual, o líder mais poderoso; e aqueles que o apoiam adicionam
combustível ao fogo, até que tudo é consumido pelas chamas devoradoras da
carnalidade (1 Co 3.3). Assim, mostra-lhes Tiago que tal postura é “contra a verdade”, pois essa forma
de jactância, no próprio espírito faccioso, e naquilo que alguém ganha com
isso, é uma afronta para a verdade, porquanto é exibição de uma vida falsa (2
Tm 2.17,18). Portanto, Tiago repreende essa forma de atitude, como algo indigno
em um mestre ou líder da igreja. Eles não promoviam a verdade cristã, em
valores e ações práticas e morais (Mt 5.46,47; 7.12). Antes suas vidas serviam
apenas para semear a hipocrisia, a contenda, o partidarismo e o egoísmo. Logo,
eles mesmos eram “mentiras espirituais”,
pois se comportavam semelhantes aos fariseus (Mt 23.3).
3. Tiago revela o tipo de
sabedoria vivida por tais mestres
A
partir de então, Tiago revela àqueles mestres o tipo de sabedoria que regia a
suas vidas, dizendo: “Essa não é a
sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica” (v.15).
Com certeza, tal oratória não soou muito agradável para àqueles mestres!
Todavia, o irmão do Senhor ensina-lhes que a sabedoria mediante a qual o
indivíduo se exalta a si mesmo e provoca rivalidades no seio da igreja, não
pode ser atribuída à inspiração celeste; não ‘desce’ dos céus, não é ‘enviada
por Deus’. Não procede da iluminação do Espírito Santo, conforme deve ser
toda a sabedoria verdadeira (Ef 1.17,18). A sabedoria proveniente do alto se
reveste de muitas qualidades boas. Mas a sabedoria que vem da terra se reveste
de qualidades negativas. Então, vejamos o que Tiago quis dizer ao classificar a
sabedoria daqueles mestres de:
a) Terrena. Tal
sabedoria se desenvolve sobre a terra, como propriedade de habitantes mundanos,
que não têm direito a se considerarem espirituais. É uma sabedoria humana, não
inspirada do alto, egocêntrica, calculistamente carnal. Sua astúcia visa
somente a vantagem particular, e não o cultivo da piedade (1 Tm 6.3-6).
Deriva-se do mundo frágil e finito da vida e dos negócios humanos, não sendo
por isso, de modo algum, uma propriedade divina.
b) Animal. Este termo é tradução do termo grego
“psychikos”, que significa “natural”, isto é, pertencente à vida
natural, em contraste com a vida sobrenatural. É animal porque está confinada à
alma, aquela porção que o homem tem em comum com outros animais (Gn 1.20,24;
2.7), e em sentido algum transcende a esse tipo inferior de natureza.
Conclui-se,
assim, que essa sabedoria é “terrena”
porque busca distinções humanas e pertence a categorias terrenas (Cl 3.2,5).
Além disso, ela é “sensual”, isto é,
natural (1 Co 2.14; Jd 19), porque é o resultado de princípios que atuam sobre
os homens naturais, como a inveja, a ambição, o orgulho, etc. Finalmente, ela é
“demoníaca”, porque primeiramente
veio do diabo, constituindo a imagem mesma de seu orgulho, de sua ambição, de
sua malignidade e de sua falsidade (Jo 8.44; 10.10a; 1 Tm 3.7).
II.
O MAL PROCEDE DE SENTIMENTOS
NOCIVOS À FÉ (Tg 3.16).
a) Confusão
– Este termo no grego é “akatastasia”,
e significa “desordem”, “perturbação”, “tribulação”. A igreja cai em uma
série de conflitos e lutas por poder, em que os chamados “mestres sábios” encabeçam, por assim dizer, exércitos adversários.
Logo, a igreja cai em total confusão e desordem, mas nunca por inspiração do
Espírito de Deus (1 Co 14.33).
b) Má ou Perversa
– Este é um adjetivo grego adjetivo “phaulos”,
que significa “vil”, “depravado”, “indigno” e “ruim”.
O escritor sacro não enumera as coisas que ele tinha em mente, provavelmente,
porque deixa isso em aberto, para ser preenchido pela imaginação dos seus
leitores. Por isso, podemos pensar em imoralidades, desonestidade, furtos na
igreja, etc. Em suma, cada uma das “obras
da carne” será praticada (Gl 5.19-21). O estado da igreja local inteira
tornar-se-á vil, contrário totalmente às exigências morais do evangelho (Mt
5.16,20,48; Rm 12.9,21; Gl 6.9).
III.
TIAGO ENSINA A COMO IDENTIFICAR A VERDADEIRA SABEDORIA (Tg 3.17,18).
Agora,
depois de abordar pela segunda vez a questão da inveja e do espírito faccioso,
e de forma contundente, Tiago passa a mostrar aqueles mestres as qualidades ou
virtudes existentes na verdadeira sabedoria, ao dizer: “Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois,
pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem
parcialidade e sem hipocrisia” (v.17). O escritor sacro já havia
identificado no versículo 15 o tipo de sabedoria utilizada por aqueles mestres,
a saber, terrena, animal e demoníaca; então, para mostra-lhes a diferença das duas passa a
mencionar cada uma das qualidades da verdadeira sabedoria, como ele disse ‘que vem do alto’, isto é, que tem sua
origem em Deus.
1. As características da
sabedoria que vem do alto.
a)
Pura – Do grego “hagnós”
que significa “sagrado”, “casto” e “sem mancha”. Trata-se de uma expressão pura, do íntimo; não tem
falhas ocultas. Essa é a sua qualidade primária; e dessa qualidade se originam
todas as outras, conforme se vê na lista abaixo. Tal sabedoria é isenta das
corrupções humanas, que fazem parte integrante da sabedoria mundana; não conduz
a qualquer facção e nem exaltação de um homem sobre outro; não contempla
maldade moral, mas seu intuito constante é a prática do bem (Rm 12.21; Gl 6.9;
1 Pe 3.11). É inocente de quaisquer motivos dúbios, e seu intuito é glorificar
unicamente a Deus (1 Pe 3.17; 1 Co 10.31).
b)
Pacífica – A sabedoria não é contenciosa, nem facciosa
e nem beligerante. Não busca seus
próprios interesses, à custa de outrem, conforme faz a carnal sabedoria humana
(Cl 2.4,5,8; Ef 5.6). Pelo contrário, confere a paz; alimenta-se da harmonia (Rm
12.18). Por isso, o Senhor Jesus fez a seguinte promessa: “Bem-aventurados são os pacificadores,
porquanto serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).
c)
Moderado – Do grego “piekes”
que significa “razoável”, “cheio de consideração”, “indulgente” e “gentil”. São qualidades que os
homens facciosos e por demais ambiciosos não possuem. Antes, a sabedoria do
homem espiritual é tratável, moderada, sem temperamento radical (Gl 6.1).
Parece até um paradoxo! Se a sabedoria ‘que
vem do alto’ é ilimitada, como pode ser moderada? Sim. Da parte de Deus,
ela não tem limites. Mas, utilizada pelo homem, deve ser moderada, sem
exageros, sem exibição. Tal pessoa não pode orgulhar-se, porquanto deve possuir
o fruto da temperança (Gl 5.22).
d)
Tratável – Do grego “eupeithes”
que significa “facilmente persuadido”, o contrário de obstinado,
que normalmente é o caráter dos homens por demais ambiciosos, que se tornam
ditadores na igreja. Essa sabedoria é “aberta
à razão”. Pode ver o ponto de vista alheio, mudando suas próprias opiniões
(1 Ts 5.21).
e) Cheia de Misericórdia – Os
homens por demais ambiciosos tendem para a crueldade e para o mau temperamento.
A verdadeira sabedoria produz profundo sentimento de misericórdia no homem
interior. O homem sábio segundo o mundo, entretanto, não demonstra misericórdia
para com ninguém, e procura fazer nome para si mesmo, de modo brutal. Porém, o
homem verdadeiramente sábio é cheio de misericórdia, pois aplica o princípio do
amor cristão em sua vida (Lc 10.30-35).
f)
Bons Frutos – A sabedoria tem o caráter de misericórdia,
cultivando o fruto do Espírito (Gl 5.22,23); e assim sua vida é repleta de
piedade, sendo transformada para receber a imagem moral de Cristo, que é o
supremo possuidor dessas qualidades. Neste caso, os “bons frutos” indicam as “boas
obras” (Mt 21.45; Gl 5.22; Ef 5.8; Fp 1.11). Os efeitos da bondade e de
misericórdia, mui provavelmente estão praticamente em foco.
g)
Imparcialidade - Do grego “adiákritos”
que significa “não dividido em
julgamento”, “sem variação”
e “de todo o coração”. O homem
verdadeiramente sábio já se desfez da mente dúplice, entre as coisas terrenas e
as celestiais; vive exclusivamente para a dimensão eterna (Mt 6.19-21; Cl 3.1,-3;
Gl 2.20); também pode julgar com imparcialidade, tratando dos homens com
justiça e com honestidade (Jo 7.24). Portanto, a sabedoria divina não admite “dois
pesos e duas medidas”, tão comum em nossos dias (Lv 19.15,35,36; Dt 1.17; Tg
2.1).
h) Sem Fingimento – O
homem verdadeiramente sábio não precisa ser insincero, e nem hipócrita,
porquanto nada tem a ocultar, e não busca suas próprias vantagens (Fp 2.3,4).
Tal homem não precisa viver como um ator, desempenhando um papel falso. Antes,
vive na sinceridade (Rm 12.9; 2 Co 6.16). Assim, a sabedoria ‘que é do alto’ jamais dirá: “faça o que eu digo, e não faça o que eu faço”,
porquanto isso é coisa da sabedoria terrena (Mt 23.3; Rm 12.9; 1 Pe 2.1).
2. Produzindo fruto de justiça.
Finalmente,
Tiago conclui seu ensino mostrando o resultado da sabedoria “que vem do alto”, dizendo: “Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz,
para os que exercitam a paz” (v.18). Ora, Tiago está dizendo que a conduta
reta produz muitas recompensas, que resultam na vida eterna (Rm 8.6). O cultivo
dos galardões é realizado na atmosfera da paz (Hb 12.14; Rm 12.18,19). E o
homem justo, que é verdadeiramente sábio, sabe disso, evitando os interesses
pessoais e o espírito contencioso, que não contribuem para essa finalidade. Por
essa razão, o Senhor Jesus, em seu Sermão do Monte, chamou de “filhos de Deus” aos que são pacificadores
(Mt 5.9). Ora, o Senhor, em sua cruz e missão, estabeleceu a paz (Ef 2.13,14;
Rm 5.1). Assim, os homens deveriam seguir ativamente o exemplo por ele deixado
(Ef 2.15; Cl 1.20). Os pacificadores não são meramente aqueles que conciliam
oponentes, para evitarem as brigas. Mas são aqueles que promovem ativamente a
paz, mediante esforços planejados, procurando solucionar pendências com os inimigos
e antagonistas. São exatamente o contrário daqueles que despertam contendas, e
que agem devido à sua excessiva ambição. Desta forma, Tiago mostra-lhes que eles
devem “semear e exercitar a paz”, por
ser ela mais uma das características da verdadeira sabedoria. Portanto,
exercitemos a paz do Senhor!
CONCLUSÃO
Diante
de tão rico ensinamento de Tiago, é hora de fazermos uma breve reflexão: Que
tipo de sabedoria estamos vivendo? A que vem do alto? Ou a que é terrena,
animal e demoníaca? Nesta lição, ficou bem claro que, não pode haver justiça
onde não há paz! Olhemos para o mundo, e constatemos que clamam por justiça,
porém “não conhecem o caminho da paz” (Rm 3.17). Portanto, como filhos
de Deus temos o dever de sermos agentes de pacificação neste mundo “sem
Deus, sem paz e sem salvação” (Ef 2.11-19). Assim, com uma postura
cristrocêntrica daremos testemunho da sabedoria que em nós reside “resplandecendo
como astros no mundo” (Fp 3.15). Que Deus em Cristo vos Abençoe! Amém!!
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø DAVIDSON, Francis. O Novo Comentário da Bíblia.
VIDA NOVA.
Ø SILVA, Eliezer de Lira e. Lições Bíblicas.
(3º Trimestre de 2014). CPAD.
Ø LIMA, Elinaldo Renovato de. Lições Bíblicas.
(1º Trimestre de 1999). CPAD.