domingo, 3 de agosto de 2014

LIÇÃO 05 – O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA



Tg 1.19-27.



INTRODUÇÃO
Vivemos num tempo em que, para muitos, há uma grande distância entre o dizer e o fazer, pregar e praticar, falar e dar exemplo. De que adianta, ao homem, ouvir mandamentos, preceitos e ordenanças sem vivenciar na prática os seus efeitos. Mahatma Ghandi, diante de um líder cristão, disse: “Eu admiro o vosso Cristo, e não o vosso cristianismo”. O crente tem que ser uma testemunha viva do evangelho. Do contrário, sua religião será vã, vazia e ineficaz. Que Deus nos ajude a viver na prática da Palavra de Deus, para não cairmos no descrétido daqueles que nos rodeiam. Desejo a todos uma excelente aula!!  


I. O AUTÊNTICO PROCEDIMENTO DA INTERATIVIDADE CRISTÃ (Tg 1.19-21)
O texto de Tiago 1.19 indica que havia contendas na igreja, com base no egoísmo, no desejo pela proeminência, em vinculação com a falta de consideração pelos sentimentos e direitos alheios. São defeitos comumente encontrados hoje em dia nas igrejas, uma fonte de contendas e cismas constantes. É errado o uso da faculdade da fala quando proferimos palavras iracundas, conforme mostra-nos o apóstolo Paulo em Efésios 4.29. Ao invés de usarmos os pulmões para apagar o fogo, quando a chama é pequena, fazemo-lo ser atiçada (Tg 3.5). O homem religioso que não doma a própria língua não é homem espiritual; mas é apenas um pretensioso (Tg 1.26).


1. Pronto para ouvir.
Quando falamos, sempre nos arriscamos a errar (Pv 10.19). Mas, quando ouvimos, sempre podemos aprender com nossos interlocutores, tanto o que é certo quanto o que é errado (1 Ts 5.21; Fp 4.8). Tiago mostra-nos que, ao invés de exibirem um mau temperamento, forçando sua vontade sobre os outros, os crentes deveriam estar prontos a ouvir e ver os prontos de vista dos outros (Rm 12.16; 1 Co 1.10). Deve haver uma atitude de mútua condescendência, o que é apenas outra maneira de se falar sobre o amor mútuo em operação (Jo 14.21; 15.10). O amor cristão consiste em cuidarmos dos outros conforme cuidamos de nós mesmos. Aquele que segue essa regra não explode em ira, nem anseia por impor sua vontade aos outros (Rm 13.10). Por isso, atentando para Palavra de Deus, ouçamos o que ela nos diz:

Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes a doutrina de tua mãe” (Pv 1.8).

Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios” (22.17a).

Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do tolo” (Ec 7.5).


2. Tardio para falar.
Essa qualidade acompanha a qualidade anterior. A prontidão em ouvir deve incluir a prontidão para receber a Palavra da Verdade (Tg 1.18). Pelo menos, o homem que atenta para essa Palavra terá a virtude do altruísmo e da condescendência, que este texto nos dá a entender. Assim, Tiago busca mostrar aos seus leitores que “o que despreza o seu próximo é falto de senso, mas o homem de entendimento cala-se” (Pv 11.12). Já que algum resto do velho homem permanece em nós, necessário é que, através da vida, sejamos continuamente renovados, até que a natureza carnal seja abolida; pois tanto a nossa perversidade, como a nossa arrogância, como a nossa indolência são grandes empecilhos a Deus, no aperfeiçoamento de sua obra em nós (Mt 15.18-20; Cl 3.5-10). Por isso, não nos apressemos no falar, mas guardemos a orientação bíblica, que diz:

Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente” (Pv 10.19).

Aquele que possui conhecimento refreia as suas palavras, e o homem de entendimento é de espírito sereno” (Pv 17.27,28).

Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus. Deus está nos céus, e tu estás na terra, pelo que sejas poucas as tuas palavras” (Ec 5.2).


3. Tardio para se irar.
Com grande frequência a ira se origina do ódio, se não é que sempre tem tal base, de mistura com o egoísmo; e ambas as atitudes caracterizam o pecador, que não faz segredo de sua depravação. Mas é uma desgraça quando essas coisas sucedem no seio da igreja, que pertencem somente a homens que não buscam pelas realidades espirituais, que não vivem segundo a dimensão eterna (1 Co 3.1-5; Cl 3.1,2; Hb 5.12-14).
A ira, nesse caso, indica a impaciência com o próximo, devido ao que são usadas palavras de despeito e egoísmo, de mistura com sentimentos de superioridade e ódio. Por causa da ira, amizades são perdidas; muitos ficam doentes, deprimidos; acidentes ocorrem; crimes são perpetrados; e tantos outros males. Quando nos iramos, esquecemo-nos do amor de Cristo; e este não opera em nós. Portanto, ao recomendar que sejam “tardio para se irar”, Tiago estava aplicando tal recomendação a todos os aspectos da vida do crente, dentro e fora da igreja. Não limitar-se, pois, a qualquer situação isolada da vida diária. No entanto, alguém dirá “É pecado se irar?”. A resposta bíblica é: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). A ira em si não é pecado, mas a ira dominando a nossa vida constitui-se pecado! Dois bons exemplos, desta verdade, são Jesus (Mt 21.12,13) e Moisés (Êx 32.19). Ambos se iraram, mas não pecaram!
Vale salientar, ainda que, há quatro variedades de disposição. Primeiramente, há aqueles que facilmente se iram, mas que facilmente são pacificados; esses perdem por um lado e ganham por outro. Em segundo lugar, há aqueles que não se iram facilmente, mas que dificilmente podem ser aplacados; esses ganham por um lado e perdem por outro. Em terceiro lugar, há aqueles que dificilmente se iram e que facilmente são aplacados; esses são os bons. Em quarto lugar, há aqueles que se iram facilmente, e dificilmente se deixam aplacar; esses são os ímpios. Todavia, atentemos para recomendação bíblica, que diz:

Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o se u espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32).

Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra o seu irmão, estará sujeito a julgamento, e qualquer que disser a seu irmão: Raca! Estará sujeito ao Sinédrio. Mas quem disser: Tolo! Estará sujeito ao fogo do inferno” (Mt 5.22).

Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas de entre vós. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4.31,32).


II. A PRATICIDADE DA PALAVRA COMO PROVA DO AUTÊNTICO CRISTIANISMO (Tg 1.22-25).
Na introdução desta aula, vimos o que disse Mahatma Ghandi a respeito do cristianismo. Somos ótimos em pregar, mas péssimos de viver o que pregamos! Tiago busca mostrar que o simples ouvir, entretanto, é inútil, se não leva à prática de uma vida santa. Tendo sido feitos novas criaturas em Cristo, cumpre-nos andar em obediência à fé revelada nas Escrituras, porquanto é possível, por argumentos sofísticos, enveredar alguém num estado de segurança carnal, enganando-se a si mesmo. Por essa razão, é imprescindível que:

1. Não sejamos apenas ouvinte (v.22)
A breve secção que ora se inicia salienta uma verdade religiosa e espiritual com a qual todos concordamos, mas que nem sempre praticamos. Frequentar aos cultos da igreja não basta; não é virtude ouvir lições e sermões, como se isso fosse um medicamento espiritual; nossa presença nos cultos, se formos ali somente para tal atividade, não impressiona a Deus (1 Sm 15.22; Mt 9.13). Somos obrigados, devido à nossa posição como crente, de pormos em prática aquilo que ouvimos (Mt 5.13-16,20). Aquele que ouve, mas não pratica, e ainda pensa que é um crente, perdeu-se no seu autoludíbrio (Mt 7.21; Lc 6.46-49; Rm 2.13). Se vemos em um espelho uma imagem da qual não gostamos, mas nada fazemos para melhorá-la, aquela aparência má permanecerá. Portanto, se na alma fica demonstrado haver um defeito, precisando ela do cultivo de algo positivo, pela prática, mas o indivíduo fica impassível, certamente teremos de imaginar uma alma indolente e corrupta (2 Co 6.14; Ef 5.7-12). Outrossim, a simples convicção de pecado, o reconhecimento de nosso estado, não tem real e duradoura significação, a menos que seja seguido pelo arrependimento autêntico. De nada adianta alguém ouvir falar sobre o amor, sobre como Deus amou ao mundo, sobre como Cristo deu sua vida, a menos que esse amor opere através de nós para benefício de outros (Jo 13.34,35; Rm 13.8; 1 Jo 16-18). A bem-aventurança espiritual pela qual lutamos, a aprovação de Deus, bem como a consciência de uma inquirição espiritual bem feita, só são dadas para aqueles que são praticantes da doutrina cristã, e não somente ouvintes (Mt 12.37).

2. Pratiquemos a lei perfeita (v.25)
Não são muitas as pessoas na igreja cristã, ou mesmo no mundo, que são ateus teóricos; em outras palavras, não são muitos os que negam a existência de Deus. Mas a maioria das pessoas, visto que vive com base em motivos egoístas, se compõe de ateus práticos. Em outras palavras, vivem como se Deus não existisse; não há espaço para Deus em suas vidas; e o fato que Deus existe não faz qualquer diferença prática em suas vidas. A igreja cristã conta com muitos teístas teóricos que, na realidade, são ateus práticos (Tg 2.14-16; 1 Jo 3.18; 4.20). Esses são os que ouvem a Palavra, mas não põem em prática aquilo que ouvem; aprovam  sermões e lições, a leitura bíblica e as orações, mas agem com base em motivos egoístas, não estando verdadeiramente motivados por viver segundo os moldes da dimensão eterna. Quando argumentam, defendem veementemente a inspiração das Escrituras; mas, em suas vidas diárias, praticam muitas coisas que demonstram que não consideram a sério a Bíblia, a Palavra de Deus. Talvez até cheguem a denunciar heréticos, que se desviam daquilo que pensam ser a doutrina ortodoxa; mas, em suas vidas, são hereges práticos, discordando dos ensinamentos da fé que defendem (Mc 7.5-13). Defendem verbalmente ao cristianismo, mas não provam a verdade de suas doutrinas, mediante a vida prática diária (Tg 1.22,23). Acreditam na graça divina, mas agem como se esta fosse base para a doutrina da crença fácil, segundo a qual ideia ao homem é dada passagem livre para os céus, sem a necessidade de real conversão e de transformação moral segundo a imagem de Cristo. O que torna tão vital essa questão é que há um grande número de tais pessoas; e, infelizmente, a pregação superficial na igreja, que não exige moralidade, e nem desafio espiritual para a transformação segundo a imagem e a natureza de Cristo, tem promovido o culto dos ouvintes que não são praticantes da Palavra (Mt 7.15; 2 Pe 2.1-3; Jd 10-12).


III. AS PRINCIPAIS EVIDÊNCIAS DA VERDADEIRA RELIGIÃO (Tg 1.26,27).
De acordo com o Dicionário Teológico (CPAD), a palavra religião vem do latim “religionis”, que, por sua vez, deriva do verbo “religare”, que tem o sentido de “ligar outra vez”. No grego, porém, o termo é “Threskos” e aparece apenas aqui, em Tiago 1.26, em todo Novo Testamento. Porém, por trás desse conceito latino há a ideia de que o homem separou-se ou está separado de Deus e, através da verdadeira religião, o homem pode reatar sua ligação com Ele. Com base na Bíblia, porém, quem liga ou religa o homem com Deus não é a religião, mas Jesus Cristo, o único “mediador entre Deus e os homens” (1 Tm 2.5). Tiago emite três características da “religião pura e imaculada para com Deus, o Pai”, que são:

1. Saber refrear a língua (v.26).
No grego o termo “refrear” é “chalinagogeo” e significa “guiar com arreios”. Metaforicamente quer dizer controlar. Este termo é único em todo o Novo Testamento. O escritor sacro usa a metáfora de um cavalo fogoso e indomável. Algo se faz necessário para controlá-lo, pois, de outra maneira, desembestará na carreira e alguém sairá ferido. Por isso, para alguém ser um verdadeiro religioso precisa saber dominar a língua. Do contrário, “a religião desse é vã”. É o tipo de religiosidade sem valor, sem vida, sem poder, sem salvação, visto que a pessoa é conhecida pelo que expressa com a língua, pois Jesus disse que “da abundância do coração fala a boca” (Lc 6.45). Daí, a importância do fruto do Espírito, que abrange a temperança (Gl 5.22).

2. Visitar os órfãos e viúvas (v.27).
No grego o termo “visitar” é “episkeptomai” e significa “cuidar”. Era o verbo comumente usado para indicar as visitas aos enfermos (Mt 25.36,43). Porém, envolve mais que uma simples visita. Também indica a manifestação de simpatia e as dádivas para aliviar as necessidades físicas; como quem age como pai para quem não é pai. As viúvas e os órfãos não são os únicos que possuem necessidades, sendo aqui usados como símbolos (Dt 27.19; At 6.1). Assim, a verdadeira religião atende ao “homem integral” (corpo, alma e espírito), valorizando “o amor genuíno pelos necessitados” (Bíblia de Estudo Pentecostal). Portanto, órfãos e viúvas, no texto, representam todos os necessitados, os famintos, os carentes físicos e emocionais. São os que não têm o mínimo para comer; os meninos de rua, as crianças abusadas sexualmente; os párias, os injustiçados de todos os tipos. A igreja que quer praticar a “religião pura e imaculada” precisa cuidar do corpo, também, tanto quanto da alma e do espírito. Jesus pregou a maior mensagem, mas multiplicou o pão duas vezes, alimentando os famintos. Os discípulos queriam que a multidão “se virasse”, mas o Mestre lhes ordenou: “...dai-lhes vós de comer” (Mt 14.16b)

3. Guardar-se da corrupção do mundo (v.27).
O verdadeiro sacrifício do crente a Deus é a sua própria pessoa (Rm 12.1,2). Como sacrifício, o crente deve ser sem mácula e sem defeito. O grego usa a palavra “aspilos” isto é “imaculado”, “sem defeito”. É a forma privativa de “spilos”, “mancha”, “mácula”. Outra vez o escritor sacro mostra sua preocupação pela pureza e pelas qualidades morais, em contraste com o que é cerimonialmente apropriado. Não mais precisamos de sacrifícios de animais sem defeito; nós mesmos devemos ser moralmente puros, isentos de vícios, como crentes que estão recebendo as perfeições morais da própria natureza de Cristo (2 Pe 1.4; Ef 4.12,13). Desta forma, Tiago usou uma dialética perfeita. Emitiu uma tese: o que é ser religioso; seguiu-a de uma antítese: quem não sabe refrear a sua língua está enganado e, por fim, chegou à síntese: o verdadeiro religioso interessa-se pelo sofrimento alheio (religião prática) ao mesmo tempo em que cuida do espírito, zelando pela santidade, “guardando-se da corrupção do mundo”. Não adianta ser caridoso, filantropo, equilibrado no falar e não ser um crente santo. O caminho do inferno está cheio desse tipo de gente. Para o céu só vão os que zelam pela santificação (cf. Hb 12.14).


CONCLUSÃO
Praticar a Palavra de Deus é algo difícil, porém, sublime. As Escrituras Sagradas são o código de Deus para o homem.  Nela, de um lado, encontramos o amor e a bondade divinos. De outro, os preceitos, os estatutos e as normas, através das quais os interesses humanos, egoístas e carnais são contrariados e condenados. Mas, com a ajuda do Espírito Santo, podemos viver a Palavra em nossa vida diária. Que Deus em Cristo vos Abençoe! Amém!! 




REFERÊNCIAS
Ø  CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø  ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø  DAVIDSON, Francis. O Novo Comentário da Bíblia. VIDA NOVA.
Ø  LIMA, Elinaldo Renovato de. Lições Bíblicas. (1º Trimestre de 1999). CPAD.


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