Tg
2.1-13.
INTRODUÇÃO
Em
nossa cultura, é comum encontramos exemplos de acepção de pessoas em todas as
áreas da sociedade. Todavia, toda a humanidade foi criada por Deus e tem origem
comum em Adão. Por isso, para Deus não há privilégios, favoritismo ou
discriminação de pessoas; contempla a todos com Suas bênçãos. O evangelho é a
mensagem que dá respeito e dignidade ao ser humano. Portanto, humilhar e
preterir o pobre, ou ao menos favorecido, é condenável diante de Deus (Dt
19.15). Que o Senhor nos ajude, de modo que, nas igrejas não haja distinção de
pessoas pela condição econômica, social, de raça ou de sexo. Que aceitamos a
todos como filhos de Deus, amados e salvos em Cristo Jesus. Desejo
a todos uma excelente aula!!
I.
DEUS CONDENA A ACEPÇÃO DE PESSOAS
A prática da acepção de pessoas é um ato
que vai contra a natureza e a essência de Deus, visto que Ele não apenas
condena tal pratica (Dt 10.17; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9), como
também não quer que a pratiquemos (2 Cr 19.7; Jó 13.10; 32.21; Ml 2.9; Tg 2.9),
já que somos participantes de Sua natureza (2 Pe 1.4; Tt 3.5). Assim, vale
observar que, tal pratica constitui-se pecado (Tg 2.9).
1.
O que é acepção de pessoas.
a) Conceito
Etimológico.
Segundo a Champlin, o termo “acepção
de pessoas”, que no grego é “prosõpolepteõ”, é traduzido
literalmente como “recepção de face”, dando a entender quem “age
com parcialidade”. Assim, os termos ‘favoritismo’ e ‘parcialidade’ são
os melhores para definirem etimologicamente o referido termo.
b) Conceito
Secular.
Segundo
a Wikcionário, a acepção de pessoas é a escolha, predileção por alguém; inclinação, tendência em favor de pessoa (s)
por sua classe social, privilégios, títulos etc.
O Pr. Elinaldo Renovato define como ato
de agir com parcialidade, isto é: tomar partido, facção.
c) Conceito
Bíblico.
Segundo
Orlando Boyer, a acepção de pessoas é a preferência de pessoas ou pessoas, em
atenção à classe, qualidade, títulos ou privilégios.
2.
Toda e qualquer forma de acepção é, por Deus, condenável.
Dentre as muitas formas e tipos de acepções
cometidas pelos homens, citaremos algumas:
a) Com relação a raças ou nacionalidades.
Deus
não faz acepção de pessoas, não levando em conta a raça ou etnia, nação, povo,
ou língua. Pedro, ao chegar à casa de Cornélio, iniciou a pregação, dizendo:
“Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é
agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (At 10.34,35).
Israel rejeitou a salvação de Deus. O Verbo Divino foi enviado (Jo 1.1,9,10),
de modo que “...a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus; aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Não tem o mínimo sentido
dizer que os negros, os africanos, foram pessoas escolhidas para serem
rejeitadas por Deus, como queriam (e querem) alguns adeptos do apartheid, ou da discriminação racial e
de cor. João viu “uma multidão, a qual
ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que
estavam diante do trono e perante o Cordeiro...” (Ap 7.9).
b) Com relação à obediência.
Deus
“recompensará cada um segundo as suas obras”, dando “vida eterna aos que,
perseverança em fazer o bem, procuram glória, e honra e incorrupção” (Rm 2.6,7);
dando, porém, “indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à
verdade e obedientes à iniquidade” (Rm 2.8); e, ainda, dando “glória, porém, e
honra e paz a qualquer que faz o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego”
(Rm 2.10); “porque, para com Deus, não há acepção de pessoas”. A escolha dos
judeus foi apenas prioridade e não acepção de pessoas, como lemos em Rm 2.10:
“primeiramente ao judeu...”. Na verdade. “Deus amou o mundo...” (Jo 3.16a), e
não somente a Israel. O que interessa para Deus é a aceitação de Sua Palavra,
com obediência, em qualquer lugar do mundo.
c) Com relação à condição social.
Os
vv.2,3 alertam para a discriminação entre pobres e ricos na igreja, tomando o
exemplo de alguém que, chegando à congregação, com anel no dedo, vestidos
preciosos, é chamado “para cima”, enquanto o pobre é mandado ficar “lá
embaixo”. Paulo, exortando aos senhores e patrões de Éfeso, quanto ao
tratamento que deveriam dar aos servos, lhes ordenou, com a autoridade do
Espírito Santo: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as
ameaças, sabendo que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não
há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Senhores e servos ou escravos dividiam a
sociedade. Mas o evangelho levou a mensagem do respeito à dignidade humana,
como nenhuma outra filosofia o fez. Paulo, em sua carta a Filemom, (Fm v.16),
roga que o patrão, crente, receba o escravo fugitivo, mas convertido, não como
escravo, mas como irmão em Cristo (vv.15,16). Só um cristão poderia conceber
esse comportamento. Hoje, é importante que os patrões crentes tenham seus
empregados (domésticos, funcionários, etc.) em respeito e honra, para
testemunho do amor de Deus em seus corações.
d) Com relação à distinção por sexo.
Ensinando
sobre as mulheres no culto, Paulo diz que “...nem o varão é sem a mulher, nem a
mulher, sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim
também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus” (1 Co 11.11,12). Em Gl
3.27,28, diz o apóstolo que entre os que foram revestidos de Cristo, “...não há
macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. No Antigo
Testamento, havia discriminação de sexo, não por orientação de Deus, mas pela
influência da cultura oriental. Entre os judeus, a mulher era considerada
inferior na vida religiosa. Josefo, historiador judeu, diz que naquele tempo
entre os judeus, “uma centena de mulheres não vale mais do que dois homens”. Um
rabino disse: “Eu te agradeço porque não nasci escravo, nem gentio, nem
mulher”. Machismo puro. Quão diferente é no Cristianismo. Jesus valorizou o
trabalho feminino (ver Mt 27.55; Mc 15.41; Lc 8.2,3). Nas epístolas paulinas,
temos mulheres em destaque (ver 2 Tm 1.5; Rm 16.117).
e) Com relação à salvação.
Há
igrejas que pregam que Deus predestinou pessoas para serem salvas e outras,
para serem irremediavelmente perdidas. O teólogo João Calvino ensinava que “é o
decreto de Deus... para alguns é preordenada a vida eterna, e para outros, a
condenação eterna”. Isso vai de encontro ao caráter de Deus, revelado na
Bíblia, que diz, como vimos acima, que “Deus não faz acepção de pessoas” (cf. Dt
10.17; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9,25; 1 Pe 1.17).
II.
A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS
Tiago
inicia o segundo capítulo de sua epístola com uma exortação: “Meus irmãos, não tenhais a fé de
nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas”
(v.1). Ora, o Dr. Davidson enfatiza que no referido texto existe uma inferência que, se assim fazemos, não
somos realmente cristãos. E, Champlin comenta que: “a fé como virtude, que consiste de uma qualidade espiritual, na qual
mostramos nossa confiança e nossa entrega aos cuidados de Cristo. Essa é a fé subjetiva,
isto é, a outorga pessoal da alma a Cristo, o que confere ao crente uma vida
dedicada”. Essa é a fé referida neste versículo, e que normalmente aparece
nas páginas do Novo Testamento. Este aspecto da fé é, por exemplo, amplamente
comentado em Hebreus 11, conhecido como “a galeria dos heróis da fé”, com
poemas ilustrativos. Portanto, a outorga inicial da alma a Cristo é vivida na
vida diária e vai sendo aprimorada, porquanto a vida inteira do crente visa uma
dedicação sempre crescente a Cristo, quando vamos recebendo sua própria imagem
e natureza (Rm 8.29; 2 Co 3.18). Por isso, podemos destacar algumas
características da autêntica fé, que são:
1. A autêntica fé é imparcial.
Depois
de exemplificar o que ocorria na prática, no momento do culto a Deus (vv.2,3),
Tiago faz a seguinte indagação: “Porventura
não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus
pensamentos?” (v.4). Segundo Champlin, é usado em Tiago 2.4, o termo
grego “diakrino” que
literalmente significa “fazer
distinção”, “separar”,
mas que no referido texto possui sentido moral significando “exercer duplicidade mental”,
tornar-se culpado de discriminação e de preconceitos contra homens que são tão
justos como quaisquer outros, favorecendo a outros que, em si mesmos, não são
melhores que os demais. No entanto, o Evangelho de Cristo em momento algum nos
ensina a agir com parcialidade, favoritismo, discriminação ou preconceito; pelo
contrário, Jesus nos ensinou por meio de seu exemplo de vida a jamais agir
dessa maneira (Mt 22.16; Mc 12.14; Lc 20.21). E asseverou: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai
segundo a reta justiça” (Jo 7.24). O Apóstolo Paulo compreendia,
também, este ensino de modo que instruiu o jovem pastor Timóteo, dizendo: “Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo
Jesus, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes essas coisas, nada
fazendo com parcialidades” (1Tm 5.21). Portanto, cabe agora a nós,
imitarmos o exemplo de imparcialidade ensinada por Jesus (Jo 13.15; Cl 2.6; 1
Jo 1.6).
2. A autêntica fé visa realizar a
vontade de Deus.
Tiago,
posteriormente, mostra nos versículos 5 ao 7 que aqueles crentes estavam
cometendo uma grave injustiça social, e portanto, agindo contra a vontade de
Deus, pelo fato de eles estarem desonrando o pobre (Sl 41.1; 82.3; Pv 19.17;
28.27; Jr 22.16; Mt 19.21; Gl 2.10). Além disto, e mais grave ainda, eles
estavam promovendo a discriminação social dentro da própria igreja. Por isso,
se eles realmente desejavam fazer a vontade de Deus deveriam atentar para
admoestação de Tiago: “Todavia, se
cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real” (v.8a). Cumprir
a Escritura, ou seja, viver a Palavra de Deus é essencial para que a vontade de
Deus seja realizada em nós e por nós (Mt 5.46,47; Jo 3.21; 14.21; Tg 1.22). Champlin
diz que ao usar o termo “Escritura”,
Tiago estava fazendo uma alusão ao Antigo Testamento e que, neste caso,
referia-se ao texto de Lv 19.18. Ele ainda diz que, há evidências que o uso da
referida expressão “Escritura” indique algo “obrigatório”, desde os primitivos
tempos cristãos. Ora, o judaísmo tinha dez mandamentos centrais, e mais de
seiscentos outros mandamentos, alguns dos quais, com a passagem do tempo,
adquiriram importância primária, pelo menos para alguns judeus, como os
fariseus. Porém, há uma lei real ou régia, que forma a base de toda a
verdadeira lei moral, sem a qual a observância da lei não é agradável aos olhos
de Deus – e essa lei é a lei do amor. Portanto, guardar a Palavra de Deus é
imprescindível para fazermos a Sua vontade, pois Jesus já nos advertiu dizendo:
“Nem todo o que me diz: Senhor!
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus” (Mt 7.21). É bom atentarmos para esta verdade!
3. A autêntica fé tem como seu
alicerce o amor.
Após
mostrar a relevância de uma fé imparcial e da finalidade desta fé que é fazer a
vontade de Deus, Tiago chega ao ápice de seu ensino dizendo: “...se cumprirdes ...Amarás a teu próximo como a ti mesmo, em
fazeis” (v.8b). Tiago, agora, mostra a base e o alicerce da fé que é o
amor (Mt 22.40; 1 Co 13.13; Rm 13.8,9; Gl 5.14). Champlin ao comentar o assunto
diz que a lei e os profetas, em sua inteireza, se baseavam sobre esses dois
preceitos basilares: amor a Deus
e amor ao próximo. Amar ao próximo é apenas uma outra forma de
amar a Deus, um principio bem ilustrado em Mt 25.35ss. Por essa razão é que
Paulo, em Romanos 13.10, mostra que “o
amor é o cumprimento da lei”. Essa lei do amor não consiste no
afrouxamento das obrigações morais; bem pelo contrário, empresta significado a
toda ação moral, exigindo que haja nela certa qualidade espiritual e íntima, a
fim de que a obediência não seja meramente ritualista, legalista ou cerimonial.
O Senhor Jesus deixou esta verdade explicita ao dizer: “Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei a
vós, assim também deveis amar uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois
meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34,35). Portanto,
conclui-se que quem anda na lei do amor não faz acepção de pessoas!
III.
RAZÕES PARA NÃO SE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS
Dentre
as muitas razões para não se praticar a acepção de pessoas, já que podemos enumerar
várias razões, citaremos apenas duas que consideramos serem as essenciais, que
são:
1. Somos, em Cristo, novas
criaturas (2 Co 5.17).
Se
somos realmente, hoje, novas criaturas, não podemos mais continuar a agirmos
com atitudes de acepção, favoritismo, preconceitos e de discriminação, pois “fomos
sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressurgiu
dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de
vida” (Rm 6.4). Andar em novidade de vida implica não procedermos mais
como velhas criaturas que éramos, pois “quanto
ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas
concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e
vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e
santidade” (Ef 4.22-24). Assim, se somos novas criaturas e estamos
andando em novidade de vida, não devemos mais agir com atitudes de pessoas que
ainda não passaram pelo processo do novo nascimento (Jo 3.5), “pois já vos
despistes do velho homem com seus feitos, e vos vestistes do novo, que se
renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou. Aqui não há
grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre,
mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3.9-11). Em Cristo, como novas criaturas, procedamos
sem parcialidade, mas com amor (1 Co 13.5)!
2. Devemos, em Cristo, praticar
boas obras (Ef 2.10).
Se hoje
fomos alcançados pela graça de Deus é porque houve um propósito, certo? Então,
qual seria este propósito? O Senhor Jesus responde a esta questão assim: “Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos
abrolhos? Do mesmo modo, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz
frutos maus. Não pode a árvore boa produzir maus frutos, nem a árvore má
produzir frutos bons” (Mt 7.16-18). O que você é hoje? Uma árvore boa
ou uma árvore má? Por certo, hoje, em Cristo, somos árvores boas! Então, você e
eu, sabemos o que devemos produzir, não é mesmo!? O apóstolo Paulo compreendia
o ensino do Mestre, por isso disse: “Porque
outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Andai como filhos da luz”
(Ef 5.8). Somos salvos pelo Senhor Jesus para, como boas árvores e como filhos
da luz, praticarmos boas obras; pois ele disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).
Paulo, por sua vez, disse: “Portanto, como eleitos de Deus, santos e
amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, se
alguém tiver queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim
também perdoai vós. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da
perfeição” (Cl 3.12-14). Portanto, como boas árvores, não devemos
produzir a acepção de pessoas, nem o favoritismo ou a parcialidade, muito menos
a discriminação ou o preconceito; mas, e principalmente, o amor que gera em nós
a perfeição de Deus e glorifica o nome do Senhor!
CONCLUSÃO
Diante
do exposto aprendemos que a acepção de pessoas por condição social, econômica,
familiar ou de outra ordem é comportamento incompatível com o caráter inclusivo
do Evangelho. Jesus veio trazer salvação, amor e paz para todos os que crêem, em
qualquer nação, raça, ou povo do mundo. Que Deus nos abençoe, não permitindo a
discriminação de pessoas tanto em nosso meio como fora dele. Portanto, para combater
a acepção de pessoas, precisamos atentar para três coisas: amar a todos
igualmente (inclusive os não crentes); tratar a todos com equidade e mostrar
que os preconceitos são contrários a Deus. Que Deus em Cristo vos Abençoe!
Amém!!
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø DAVIDSON, Francis. O Novo Comentário da Bíblia.
VIDA NOVA.
Ø LIMA, Elinaldo Renovato de. Lições Bíblicas.
(1º Trimestre de 1999). CPAD.
Ø Site: http://pt.wiktionary.org/wiki/acep%C3%A7%C3%A3o
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