Gn
14.12-20
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
estudaremos a ocasião em que Abraão junto com os seus servos, entrou numa
guerra com o intuito de libertar seu sobrinho Ló, que havia sido levado cativo.
Ao retornar da peleja, ele encontrou-se com Melquisedeque, que era rei de
Salém, a antiga Jerusalém, e que também exercia o sacerdócio antes mesmo da
instituição da Lei. Abraão recebeu dele pão e vinho, foi abençoado por ele e
deu-lhe os dízimos dos despojos. O sacerdócio de Melquisedeque é uma figura ou
tipologia do sacerdócio de Cristo.
I. QUEM FOI
MELQUISEDEQUE
“Melquisedeque é
a transliteração, para o português, do termo hebraico “Malkisedeq”, que
significa “rei da justiça”. Ele era rei de Salém (a antiga Jerusalém) e
sacerdote de El Elion (Deus Altíssimo), o que o tornava um rei-sacerdote, o que
serviu mui apropriadamente para ilustrar o mesmo oficio, ocupado em forma muito
mais significativa, pelo Senhor Jesus Cristo” (CHAMPLIN, 2001, p. 210). A
história de Melquisedeque é mencionada nas Escrituras na ocasião em que ele
encontrou-se com o patriarca Abraão (Gn 14.18-20); no Salmo 110; e também na
Epístola aos Hebreus (caps. 5-7). Vejamos, ainda, outras informações sobre ele:
1.1 Rei de Salém
(Gn 14.18a).
Salém é a forma
abreviada de Jerusalém e é encontrada pelo menos cinco vezes nas Escrituras (Gn
14.18; 33.18; Sl 76.2; Hb 7.1,2). Este título dado a Melquisedeque significa
“rei de paz”. A cidade de Jerusalém recebeu no passado diversos outros nomes,
tais como: Sião (II Sm 5.7); a cidade de Davi (I Rs 2.10); Santa Cidade (Ne
11.1); a cidade de Deus (Sl 46.4); A cidade do Grande Rei (Sl 48.2), dentre
outros. Esta cidade tinha um significado especial para o povo de Deus no AT,
pois era o lugar onde o Senhor reinava sobre Israel (Sl 99.1,2; 48.1-3,12- 14).
Nela, reinou Melquisedeque (Gn 14.18) e Davi (I Rs 2.11) no passado, e dela
Cristo reinará sobre o mundo, no futuro (Is 2.3; Mq 4.2).
1.2 Sacerdote do
Deus Altíssimo (Gn 14.18b).
Esta é a
primeira menção do termo “sacerdote” na Bíblia. “Melquisedeque era cananeu, e,
como Jó, é um exemplo de um não israelita, servo de Deus. Melquisedeque é um
tipo ou figura da realeza e sacerdócio eternos de Jesus Cristo, que é sacerdote
e rei (Sl 110.4; Hb 7.1,3)” (STAMPS, 1995, p. 54). O sacerdócio de Cristo é
“segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 6.20), porque é anterior ao sacerdócio
de Arão e da tribo de Levi, que só foi instituído na Lei (Êx 28.1-29). Abraão
não só reconheceu a autoridade desse sacerdote, a ponto de lhe entregar o
dízimo (Gn 14.20), como também foi abençoado por ele (Gn 14.19).
II. QUEM FOI ABRAÃO
Abraão é um dos
personagens mais marcantes da história bíblica. Ele foi chamado por Deus para
ser o pai dos judeus (Gn 12.1,2), povo de onde viria o Messias (Gn 12.3; Mt
1.1). Sua vida de fé (Hb 11.8-10), obediência (Gn 12.4), fidelidade (Gn 14.14;
23.2), compaixão (Gn 18.23) e coragem (Gn 14.14-16), fez com que ele
alcançasse, não só o título de “pai dos judeus” (Sl 105.6) e “pai da fé” (Rm
4.16); como também, se tornasse o único personagem da Bíblia denominado de
“amigo de Deus” (Is 41.8; Tg 2.23). Vejamos o que a Bíblia diz sobre a sua
chamada:
2.1 A chamada de
Abraão e seus propósitos.
“A chamada de
Abraão, conforme a narrativa de Gênesis 12 dá início a um novo capitulo na
revelação do AT sobre o propósito divino de redimir e salvar a raça humana. A
intenção de Deus era que houvesse um homem que o conhecesse e guardasse os seus
caminhos. Dessa família surgiria uma nação escolhida, de pessoas que se separassem
das práticas ímpias doutras nações, para fazerem à vontade de Deus. Dessa nação
viria Jesus Cristo, o Salvador do mundo, o prometido descendente da mulher (Gn
3.15; Gl 3.8,16,18). Vários princípios importantes podem ser deduzidos da
chamada de Abraão” (STAMPS, 1995, p 50). Analisemos abaixo:
ü A chamada de
Abraão levou-o a separar-se da sua pátria, do seu povo e dos seus familiares
(Gn 12.1,2), para tornar-se estrangeiro e peregrino na terra (Hb 11.13);
ü Deus prometeu a
Abraão uma terra, uma grande nação através dos seus descendentes e uma bênção
que alcançariam todas as nações da terra (Gn 12.2,3);
ü A chamada de
Abraão envolvia, não somente uma pátria terrestre, mas, também, uma celestial
(Hb 11.9-16);
ü A chamada de
Abraão continha não somente promessas, como também compromissos. Deus requeria
de Abraão obediência para receber aquilo que lhe fora prometido (Gn 15.1-6;
18.10-14);
ü A promessa de
Deus a Abraão estende-se, não somente aos seus descendentes físicos (os
judeus), pois, todos os que são da fé como Abraão, são "filhos de
Abraão" (Gl 3.7) e são abençoados juntamente com ele (Gl 3.9);
ü Por Abraão
possuir uma fé em Deus, expressa pela obediência, dele se diz que é o principal
exemplo da verdadeira fé salvífica (Gn 15.6; Rm 4.1-5,16-24; Gl 3.6-9; Hb 11.8-19;
Tg 2.21-23).
III. O ENCONTRO DE
ABRAÃO COM MELQUISEDEQUE
O capítulo 14 de
Gênesis registra uma guerra envolvendo nove reis (Gn 14.1-17). Nessa batalha,
Ló, sobrinho de Abraão, foi levado cativo (Gn 14.12). Ao saber disso, Abraão,
então, armou seus criados e entrou na peleja para libertar seu sobrinho. Ao
retornar da batalha, ele encontrou-se com Melquisedeque.
3.1
Melquisedeque trouxe pão e vinho (Gn 14.18).
Ao retornar da
batalha, o patriarca Abraão recebeu do rei de Salém pão e vinho. Sem dúvida,
este alimento serviu não só como uma refeição para o patriarca, mas, também,
uma figura da Santa Ceia, que foi instituída por Cristo, milênios depois (Mt
26.26-30; Mc 14.22-26; Lc 22.16-20). “Melquisedeque traz pão e vinho a Abraão
na qualidade de sacerdote, e não como rei de Salém. Era, pois, uma refeição
sacramental, não um banquete oficial” (ANDRADE, 2015, p. 118,119).
3.2
Melquisedeque abençoou Abraão (Gn 14.19).
Quando
Melquisedeque abençoou Abraão demonstrou ocupar uma posição superior ao
patriarca (Hb 7.6,7). “A bênção aqui referida não é a simples expressão de um
desejo relativo a outrem, o que pode ser feito de um inferior para um superior.
Mas, é a ação de uma pessoa ‘autorizada’ a declarar intenções de Deus, conferindo
boas dádivas de prosperidade a outrem. E, tal ação somente tem validade quando
é feita por alguém que é superior” (SILVA, 2002, pp. 122,123). Nesta ocasião,
Melquisedeque, que também adorava ao Deus de Abraão, declarou que o Deus
Altíssimo é o possuidor dos céus e da terra, e que foi Ele quem entregou os
adversários nas mãos de Abraão (Gn 14.19).
3.3 Abraão dá os
dízimos a Melquisedeque (Gn 14.20).
O patriarca
Abraão deu os dízimos ao sacerdote Melquisedeque dos despojos da guerra. “Os
despojos eram repartidos entre os guerreiros vitoriosos, e em ocasiões
especiais repartia-se também com aqueles cuja autoridade era considerada
superior. Em alguns casos, estes eram compostos não só de bens materiais, mas
também de pessoas (Is 42.24). Mas, neste episódio, somente está em foco os
despojos dos bens materiais” (SILVA, 2002, p. 120). Esta é a primeira menção de
dízimo na Bíblia, o que nos leva a crer que já existia esta prática entre os
servos de Deus (Gn 28.22), antes mesmo da instituição e formalização da Lei (Lv
27.32; Nm 18.21,24,26,28; Dt 12.6,11,17; 14.22,23,28).
IV. O SIGNIFICADO
PROFÉTICO DE MELQUISEDEQUE
O escritor da
epístola aos Hebreus declara que o sacerdócio de Melquisedeque era uma figura
do sacerdócio eterno de Cristo, como veremos a seguir:
üJesus é
sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.6,10; 6.20). O que significa
que Cristo é anterior e superior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes do Antigo
Pacto (Jo 8.56-58);
ü Melquisedeque,
como protótipo de Cristo, estava revestido de grande dignidade. Por isso,
abençoou Abraão e recebeu dele o dízimo (Hb 7.1,2). Melquisedeque é superior a
Abraão, pois recebeu dízimo até mesmo de Levi, representado figuradamente pelo
patriarca (Hb 7.4-10);
ü Melquisedeque é
descrito como não tendo genealogia, não que ele não tivesse, mas sim, que ele
não foi registrado nas Escrituras (Hb 7.6). Serve como um
tipo de Cristo, que é eterno (Jo 1.1; Hb 13.8);
ü Melquisedeque
era mais importante que Levi e seus descendentes, cujo sacerdócio era
temporário (Hb 7.4-10). Mas, o sacerdócio de Cristo é eterno (Hb 7.3,17);
ü A superioridade
de Melquisedeque é vista no fato que ele apresenta uma ordem sumo sacerdotal
mais elevada que a do sacerdócio levítico, que era imperfeito (Hb 7.11-14);
ü Cristo,
tipificado no AT por Melquisedeque é o nosso sumo sacerdote santo, inocente,
imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime que os céus não precisou
oferecer sacrifícios por si mesmo (Hb 7.26-28).
CONCLUSÃO
O encontro de
Abraão com Melquisedeque não foi um fato comum, e sim, um evento de um profundo
significado profético, pois demonstra que já existiam homens que desempenhavam
o ofício sacerdotal antes mesmo da instituição da Lei e da escolha de Arão e
seus filhos para exercerem o ministério sacerdotal, prefigurando o sacerdócio
eterno de Cristo.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor de. O Começo de Todas as Coisas. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø _______________.
O AT Interpretado Versículo por Versículo. HAGNOS.
Ø HOFF
Paul. O Pentateuco. VIDA.
Ø OLSON,
Laurence. O Plano Divino Através dos Séculos. CPAD.
Ø SILVA,
Severino Pedro da. Epístola aos Hebreus. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.