Êx
20.16; Dt 19.15-20
INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos o Nono
Mandamento “Não dirás falso testemunho[...]”. Veremos que a
obediência a esta orientação bíblica está relacionada diretamente com o uso da língua.
Analisaremos ainda, o que a Bíblia tanto no AT como no NT nos diz sobre este
assunto, bem como, quais os pecados que estão relacionados com a quebra deste Mandamento
e ainda verificaremos diversos ensinamentos sobre como evitar a desobediência desta
instrução divina.
I
– O NONO MANDAMENTO: DEFINIÇÃO EXEGÉTICA E INTERPRETAÇÃO
1.1 Definição exegética. O verbo “dizer” em “Não DIRÁS falso
testemunho contra teu próximo” (Êx 20.16; Dt 5.20) no AT hebraico é “anah”
que significa “responder, testemunhar, falar”, usado também em um
processo jurídico, tanto nos tribunais humanos (Dt 19.16) como no tribunal
divino (Is 3.9; 59.12; Jr 14.7). O termo hebraico “ed shaqer” significa
“falso testemunho, falsa acusação” (Sl 27.12; Pv 6.19; 14.5; 19.5, 9; 25.18). A
palavra “ed” “declaração, testemunho” indica alguém com
conhecimento de primeira mão acerca de uma acontecimento ou que pode
testemunhar com base num relato que ouviu... Já a palavra hebraica “sheqer”
significa “mentira, falsidade, engano”, diz respeito a qualquer
atividade falsa, tudo aquilo que não se baseia em fatos ou realidades... A
expressão “shaw” quer dizer “fraude, engano, falsidade, desonestidade (HARRIS
et al, 1998, p. 1083 apud SOARES, 2015, p. 123 – acréscimo nosso).
1.2 Interpretação. O Nono Mandamento: “Não
Darás Falso Testemunho...” (Êx 20.16), nos mostra que a conduta da falsa
testemunha nos rouba a boa reputação. Seja no tribunal ou em outro lugar, nossa
palavra sempre deve ser verdadeira. A repetição da fofoca é imoral. Quando
falarmos, até onde sabemos, sempre devemos dizer a verdade. Esse mandamento também
proíbe a maledicência (Êx 23.1; Pv 10.18; 12.17; 19.9; 24.28; Tt 3.1,2; Tg
4.11; 1Pe 2.1) (BEACON, 2012, vol. 1, p. 192). A língua é um órgão do corpo
humano, cuja função principal está relacionada a fala. É em face dessa
atribuição que esse membro do corpo aparece na Bíblia como uma poderosa força.
Afirma-se que a morte e a vida estão no seu poder (Pv 18.21). Tiago compara a
língua como uma fera indomável e um mal incontido, cheio de veneno mortal (Tg
3.8) e como fogo, um mundo de iniquidade (Tg 3.6). Paulo, por sua vez,
refere-se à língua como um instrumento de engano (Rm 3.13), caracterizando o
homem não regenerado. Jesus ensinou que os homens terão de prestar contas de
sua vida na terra, incluindo “toda palavra frívola que proferirem” (Mt.
12.36). (MERRILL, sd, vol. 3. p. 933).
II
– A BÍBLIA E O USO DA LÍNGUA
A Bíblia nos mostra que a língua
pode ser um instrumento de bênção ou de destruição. Salomão, em Provérbios 6.16-19,
elenca seis pecados que Deus aborrece e um que abomina. Dos sete pecados, três
estão ligados ao pecado da língua: “a língua mentirosa, a testemunha
falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”. Devemos
ter muito cuidado com isso, pois as palavras podem dar vida ou matar: “A
morte e a vida estão no poder da língua...” (Pv 18.21); "A
língua deles é uma flecha mortal" (Jr 9.8). Jesus disse que é a
língua que revela tudo que há no coração (Mt 12.34-37), e ainda ensinou que o
que sai da boca contamina o homem (Mt 15.11), e reflete o conteúdo do coração
(Mt 15.18-19). Nas páginas do AT encontramos sérias advertências quanto a
pecados que podem ser cometidos através da língua (Êx 20.16; Lv 19.11,16; Pv
6.16-19; 15.1,2,23; 16.21,24; 12.19; 17.20; 18.21; 21.23). O apóstolo Tiago em
sua epístola trata de forma severa esse tema (Tg 3.1-12), bem como Pedro e João
(I Pe 3.10; I Jo 3.18).
III
– PECADOS RELACIONADOS AO NONO MANDAMENTO
A lei condenava o falso
testemunho através de punição como a pena capital (Êx 23.1; Dt 19.16-21). A
fala e os fatos devem concordar entre si. (Dt 13.14; 17.4,5; 22.20,21; Jr 9,5;
Pv 12.19; 14.25; 22.21) (CHAMPLIN, 2001, vol. 1, p.393). Em toda a Escritura
encontramos a reprovação de Deus quanto ao mal uso da língua. Vejamos:
EXEMPLOS DE:
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DEFINIÇÃO
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REPROVAÇÃO
BÍBLICA
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MENTIRA
(Ananias e
Safira)
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“Ato de mentir;
engano, impostura, fraude, falsidade”.
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Lv 19.11; Sl 5.6; Sl 101.7; Pv 6.16-19; 19.5,9; Jo 8.44; Ef 4.25; Ap 21.27; 22.15
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MALEDICÊNCIA
(Israel no
deserto)
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“Detratação, difamação,
murmuração”
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Sl 62.4; Sl 139.20; Pv 24.2; I Co 5.11; 6.10; Cl 3.8; Tg 4.11
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MEXERICO
(A mulher de
Potifar)
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“Enredo, intriga,
fofoca, bisbilhotice”
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Lv 19.16; Pv 11.13; Pv 18.8; II Co 12.20; I Tm 5.13
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CALÚNIA
(Jezabel a
mulher de Acabe)
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“Difamação por meio
de acusações conscientemente falsas”
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Êx 20.16; Dt 5.20; Pv 25.18; II Tm 3.1-3; Tt 2.3
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IV – O NONO MANDAMENTO E O USO DA
VERDADE
4.1 O Nono Mandamento ressalta
que as relações humanas devem ser baseadas na honestidade e verdade. Aqui, Deus pede honestidade com
respeito à reputação de nosso próximo. O falso testemunho (Êx 20.16) ocorre
sempre que difamamos ou mentimos sobre alguém. Esse tipo de discurso é
moralmente errado, pois abala a integridade do mentiroso como também a
reputação do indivíduo que é alvo da mentira. As palavras mentirosas têm
consequências sérias; além de destruir relacionamentos. Mais adiante, Deus
expande esse mandamento: “Não espalharás notícias falsas, nem darás mão
ao ímpio [...] nem deporás, numa demanda, inclinando-te para a maioria, para
torcer o direito” (Êx 23.1-2). Devemos nos lembrar de que testemunhas
falsas foram usadas até no julgamento injusto de nosso Senhor (Mt 26.59-62; Jo 19.12)
(ADEYEMO, 2010, p. 114).
4.2 O Nono Mandamento tem uma
íntima conexão com o terceiro visto que ambos enfocam o falar a verdade. Em linhas gerais, temos aqui a
defesa da honra (SOARES, 2015, p. 121). Os dez mandamentos terminam com uma
ênfase no bom relacionamento com nosso próximo, pois o segundo maior mandamento
é amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22.34-40; Lv 19.18). Se amamos nosso
próximo, não cobiçamos o que ele tem, não roubamos o que é dele, não mentimos sobre
ele nem fazemos qualquer uma das coisas que Deus proíbe em sua Palavra (WALTON,
2003, p. 96).
4.3 O Nono Mandamento não é
somente válido nas cortes de justiça, mas em qualquer situação. Se bem que inclui perjúrio (jurar
falsamente), também estão implícitas todas as formas de escândalos e
maledicência, toda a conversação ociosa e charlatanice, todas as mentiras e os
exageros deliberados que distorcem a verdade. Estamos proferindo falso testemunho
quando aceitamos certos rumores maliciosos e logo os transmitimos, ou quando os
usamos para outra pessoa para a prejudicar criando impressões falsas, tanto no
nosso silêncio como por nosso discurso” (STOTT, 2002, p. 69 apud SOARES, 2015,
p. 122).
4.4 O Nono Mandamento diz
respeito ao nosso próprio bom nome, e ao do nosso próximo. Este Mandamento proíbe: (a)
Falar falsamente sobre qualquer assunto, com mentiras, com equívocos
intencionais, e de qualquer maneira planejada para enganar o nosso próximo. (b)
Falar injustamente contra o nosso próximo, para o prejuízo da sua reputação.
(c) Dar falsos testemunhos contra o próximo, acusando-o de coisas de que ele
não tem conhecimento, seja judicialmente, sob juramento (com o que são
infringidos o terceiro e o sexto mandamento, além deste). Ou
extrajudicialmente, em conversação comum, caluniando, difamando, inventando
estórias, piorando o que é feito erroneamente e tornando-o pior do que já é, e
de alguma maneira empenhando-se em aumentar a sua própria reputação sobre a
ruína da do seu próximo (HENRY, 2010, vol. 1, p. 296).
V - A PERSPECTIVA DE TIAGO A
RESPEITO DO USO DA LÍNGUA
A epístola de Tiago, irmão do
Senhor, apresenta a sua mensagem seguindo o modelo do Senhor Jesus, recheada de
ilustrações. Suas exortações e repreensões se tornam mais claras, a partir da
linguagem que faz das comparações. Eis abaixo algumas figuras de linguagem que
o apóstolo faz em (Tg 3.1-12) para falar da língua:
COMPARAÇÃO
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INTERPRETAÇÃO
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LEME
“um bem
pequeno leme”
(Tg 3.4)
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Um pequeno leme de um grande
navio ajuda a dirigir o curso da navegação. A língua é apenas um pequeno
membro, mas muitas vezes se orgulha do que pode fazer. A língua tanto dirige
o navio (nosso corpo) no curso certo, como pode levá-lo ao desastre (Tg 3.4).
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FOGO
“A língua
também é um fogo...”
(Tg 3.6)
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Uma pequena faísca pode incendiar
uma floresta inteira, o que resulta num grande estrago. Era justamente isso
que Tiago tinha em mente quando comparou a língua com um fogo “vede
quão grande bosque um pequeno fogo incendeia” (Tg 3.5).
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MANANCIAL
“...alguma
fonte...”
(Tg 3.9-12)
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O mesmo manancial não pode
jorrar água doce e amarga. Terá de ser um ou outro tipo. Assim é com a
língua. Dela vem o mal ou o bem, veneno ou bálsamo curador, maldição ou
benção, frutas bravas ou figos, água salobra ou potável (Tg 3.10-12).
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CONCLUSÃO
Nessa lição aprendemos sobre o
cuidado que devemos ter com o ouvir e o falar. Por causa dessa tendência da
natureza humana de pecar com a língua, a Bíblia exorta a “todo o homem
seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tg 1.19). Antes de
abrirmos a boca, precisamos avaliar se a nossa palavra é verdadeira, amorosa,
boa e edificante “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a
que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef
4.29).
ATENÇÃO! Para essa lição sugiro o Texto de Reflexão: Penas ao Vento. Boa Aula!!
REFERÊNCIAS
Ø
HENRY,
Matthew. Comentário bíbl ico Antigo: Testamento Gênesis a Deuteronômio.
CPAD
Ø
WALTON,
John H. Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento. ATOS
Ø
ADEYEMO,
Tokunboh. Comentário bíblico africano. Mundo Cristão
Ø
SOARES,
Esequias. Os Dez Mandamentos. CPAD.
Ø STAMPS, Donald
C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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