Tg 5.7-11
INTRODUÇÃO
Nesta lição refletiremos sobre a paciência como
virtude do fruto do Espírito, notaremos sua importância à vida do
autêntico servo de Deus nas mas diversas áreas, e por fim, veremos algumas
exortações bíblicas sobre a motivação que temos, em cultivar a longanimidade.
I. A
PACIÊNCIA E O SEU SIGNIFICADO
1.1 Definição do termo. Do grego “makrothumia”
também traduzido por “longanimidade”. É a junção de
“makros” que significa “grande ou longo” e “thumos” que quer dizer “ânimo ou
disposição” (BARCLAY, 1988 p. 88). Essa palavra grega aponta para a grande paciência, para a grande tolerância, para a persistência
em não se deixar arrebatar pelas emoções fortes. De acordo com Champlin (2004,
p. 904), há catorze ocorrências dessa palavra grega no Novo Testamento (Rm.
2.4; 9.22; 2 Co 6.6; Gl. 5.22; Ef 4.2; Cl 1.11; 3.12; 1Tm 1.16; 2 Tm. 3.10;
4.2; Hb. 6.12; Tg. 5.10; 1 Pe 3.20; 2 Pe 3.15).
1.2 Como atributo Divino.
A longanimidade ou paciência como atributo de Deus,
refere-se ao Seu autocontrole com relação a Sua justa ira diante da rebelião e
do pecado (Êx 34.6; Nm 14.18; SI 85.3; 86.15; 103.8; 145.8; Jn 4.2; Rm 2.4; 1
Tm 1.16; 1 Pe 3.20; 2 Pe 3.9). “Um Deus que é santo deve punir o pecado, no
entanto, sua natureza amorosa retarda essa punição para dar tempo ao pecador de
se arrepender e abandonar o pecado” (1Tm 1.16; 1Pe 3.20). Devemos observar,
porém, que, embora a paciência de Deus não conheça limites com relação à Sua
profundidade (Rm 5.20), Seu comprimento e largura são limitados (Gn 6.3; Rm
11.22-a) (TYNDALE, 2015, p.1101).
1.3 Como fruto do Espírito.
A paciência como fruto do Espírito, trata-se da
virtude gerada por Ele no crente, proporcionando a habilidade de suportar, de
forma graciosa, uma situação insuportável e resistir, com paciência, o
irresistível (2 Co 6.6). Segundo Gilberto (2004, p. 46) “A paciência como fruto
do Espírito, capacita o crente a exercer o autodomínio (conter-se ou
refrear-se) diante da prova. Não é precipitado em acertar as contas ou punir
[…] Todos estes aspectos da longanimidade são parte do processo que nos
conforma à imagem de Cristo” (2 Co 3.18; Cl 3.10; 2 Pe 1.5-8). Por meio dessa
virtude, o cristão tem condições de manter o equilíbrio em meios as provações e
diante das afrontas, sem alimentar o sentimento de vingança, antes entregando
tudo nas mãos do Senhor (Rm 12.19). “[...] Longanimidade é o amor sofrendo ou
suportando” (OLIVEIRA, 1987, p. 140).
II. A
IMPORTÂNCIA DA PACIÊNCIA NA VIDA CRISTÃ
O que tem longanimidade é longânimo, do hebraico
“erek appayim”, que quer dizer “lento em irar-se”, e literalmente, essa
expressão significa “comprido de nariz ou comprido de rosto”, e veio a ser
associada à idéia de irar-se com dificuldade (talvez devido ao fato de que é no
rosto que a pessoa mostra suas emoções fortes, pelo que, a fisionomia seria
indicadora dessas emoções) ou então, como outros têm sugerido, o nariz é um
indicador da ira, visto que a pessoa respira forte ou mesmo resfolega, quando
excitada pela ira (CHAMPLIN, 2004, p. 904). Vejamos a importância de possuir a
paciência:
2.1 No relacionamento interpessoal.
As primeiras qualidades do fruto do Espírito –
amor, alegria e paz – são ingredientes essenciais de nossa vida espiritual
interior, de nossa relação pessoal com Deus; os três seguintes começando com a
paciência ou longanimidade são manifestações exteriores do amor, da alegria e
da paz em nossas relações com as pessoas à nossa volta (GILBERTO, 2004, p. 76).
Sobre a importância da longanimidade destacamos: a) O apóstolo Paulo expressa aos Colossenses o desejo de que eles
tenham essa qualidade (Cl 1.9-11); b)
uma das características do autêntico cristão (Cl 3.12); c) deve ser exercitada com todos (1 Ts 5.14); d) virtude imprescindível para o ministério do ensino (2 Tm 4.2); e) pacifica as intrigas (Pv 15.18).
2.2 Prevenindo contra a dissenção.
Sobre a dissenção, já temos visto ser uma das obras
da carne listadas pelo apóstolo Paulo aos gálatas. Do grego “dichostasia”,
significa “sedição, rebelião”, e também “posicionar-se uns contra os
outros”; trata-se daquele sentimento que só pensa no que é seu, e não
também no que é dos outros (LOPES, 2011, p. 245). Na igreja que estava em
Corinto, Paulo faz uma incisiva advertência sobre esse sentimento presente
entre os irmãos; apesar de ser uma igreja fervorosa onde havia manifestações
diversas dos dons espirituais (1 Co 1.7) contudo, o apóstolo os chama de
crentes carnais e não de espirituais (1 Co 3.1). “A rivalidade, motivada por egoísmo, só pode resultar em divisões que
destroem a unidade da igreja. Aqui, Paulo não está falando de diferenças
fundamentadas em crenças sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas
por motivos errados, cuja procedência é determinada pela natureza pecaminosa”.
(BEACON, 2006, p.72). Uma vez que havia dissensões no seio da igreja trazendo
partidarismo (1 Co 1.10-12; 3.1-4) como também prejuízo à liturgia do culto
(1Co 11.17-21); para corrigir esses e outros erros, o apóstolo reafirma a
necessidade de possuir o “fruto do Espírito” caracterizado pela sua principal
virtude o amor (1 Co 13.1-7).
2.3 Um remédio contra ansiedade.
De acordo com Andrade (2006, p.49) a ansiedade é: “Aflição,
inquietação, preocupação. Estado de angústia que induz o ser humano a projetar,
no futuro, perigos irreais, nascidos, via de regra, das interrogações do
dia-a-dia”. A ansiedade tem sido responsável por grande parte dos
problemas espirituais e emocionais de muitos crentes. Segundo Lopes (2007, p.
229): “A ansiedade é a maior doença do
século. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 50% das pessoas
que passam pelos hospitais são vítimas da ansiedade”. Em função disso, o
Senhor Jesus adverte: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de
amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”
(Mt 6.34). O ansioso geralmente antecipa os problemas. A ansiedade produz o
sofrimento antecipadamente; a ansiedade esgota as forças antes do problema
chegar; por essa e outras razões precisamos da paciência como remédio para a
alma (Fp 4.6; 1 Pe 5.7).
III. EXORTAÇÕES
À PACIÊNCIA
No último capítulo da sua epístola, o apóstolo
Tiago pontua ricas recomendações e exortações a respeito de diversos assuntos,
entre eles está a paciência necessária ao cristão. Destaquemos algumas delas:
3.1 A segunda vinda de Cristo, uma motivação à paciência
(Tg 5.7-9).
É importante destacar que a segunda vinda de Cristo
é mencionada três vezes nessa passagem, por certo, com o objetivo de animar os
irmãos a cultivarem a longanimidade ao terem em vista a bendita esperança da
volta de Jesus (Tt 2.13). Ao ter essa esperança gloriosa em vista, somos
fortalecidos para continuarmos sendo pacientes (Tg 5.8); não menos importante,
Tiago lembra que a atitude inversa à vontade de Deus, ou seja, o crente não ser
longânimo, será julgada (Tg 5.9).
3.2 Exemplos de paciência, uma referência a ser
seguida (Tg 5.10,11).
Para encorajar os seus leitores ao exercício da
paciência, o apóstolo faz alusão a figuras e personagens que servem de modelo a
serem seguidos. Vejamos:
3.2.1 O lavrador.
Uma das atividades que mais exige paciência, com
certeza, é de agricultor, isso se dá por razões conhecidas, pois, nenhuma
planta cresce da noite pra o dia, pelo fato de o lavrador não controla as
condições climáticas, etc. Na Palestina, o grão é plantado no outono e recebe a
chuva temporã no final de outubro. Ele recebe a chuva [...] serôdia em março e
abril, pouco antes de estar maduro. Durante todo esse tempo, o agricultor
espera pacientemente pela colheita (BEACON, 2006, p.191). Por essa razão Tiago
retrata o cristão como um “agricultor espiritual” à espera da colheita
espiritual. A razão da sua paciência é sua esperança confiante na colheita, a
ceifa faz a espera valer a pena (Tg 5.7). “Porque a seu tempo ceifaremos, se não
desfalecermos” (Gl 6.9). “Sede vós também pacientes e fortalecei o
vosso coração” (Tg 5.8). Nesse exemplo a paciência é sinônimo de
perseverança em aguardar pelos resultados (Hb 10.36-38).
3.2.2 Os profetas.
Chamados para serem porta-voz de Deus, geralmente
em períodos marcados por crises diversas, foram perseguidos e alguns mortos por
sua fidelidade; perseguição essa, denunciada por Estevão diante do Sinédrio: “A
qual dos profetas não perseguiram vossos pais? até mataram os que anteriormente
anunciaram a vinda do Justo [...]” (At 7.52). Os profetas são exemplos
de pessoas que suportaram as mais diferentes dificuldades de forma resoluta,
para proclamar a verdade de Deus, servindo de referência conforme ensinou o
Senhor Jesus: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e
alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11,12).
3.2.3 O patriarca Jó.
Lembrado como exemplo de piedade (Ez 14.14,20),
cuja integridade foi atestada pelo próprio Deus (Jó 1.1; 2.3). O patriarca por
meio das aflições que enfrentou e venceu, tornou-se também um exemplo daqueles
que por meio da perseverança e paciência, alcançam as bençãos do Senhor (Jó
42.10-17). Por meio desses exemplos Tiago deseja estimular os leitores a serem
pacientes em momentos de aflições. Como um lavrador, esperamos a colheita
espiritual, pois os frutos glorificarão a Deus; à semelhança dos profetas,
testemunhamos apesar das perseguições; e como Jó, esperemos o Senhor cumprir
seu propósito amoroso, sabendo que jamais causará qualquer sofrimento
desnecessário na vida de seus filhos (Rm 8.28).
CONCLUSÃO
Concluímos que ter paciência é uma necessidade de
todo cristão, diante das diversas situações a que estão submetidos, como
também nos tornar capazes de suportar e saber agir pacientemente, para
conservação da unidade cristã evitando as divisões.
REFERÊNCIAS
BARCLAY, William. As obras da carne e o fruto do Espírito. VIDA NOVA.
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
LOPES, Hernades dias. Comentário Expositivo Gálatas. HAGNOS.
OLIVEIRA, Raimundo de. As Grandes Doutrinas da Bíblia. CPAD.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
TYNDALE, Dicionário
Bíblico. GEOGRÁFICA.
Por Rede Brasil de Comunicação.