sábado, 7 de julho de 2018

LIÇÃO 02 - A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO (SUBSÍDIO)






Lv 9.15-24




INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição etimológica e exegética da palavra “culto”; analisaremos os princípios de adoração no AT; pontuaremos a tipologia do culto levítico com a pessoa de Jesus; e, por fim, estudaremos as verdades espirituais das cinco ofertas do livro de Levítico na vida da Igreja.


I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA CULTO
1. Definição etimológica.
Segundo Houaiss (2001, p. 887), a palavra “culto” deriva do Latim, “cultu”, e significa: “adoração ou homenagem a Deus”. Etimologicamente, o termo latino envolve em sua raiz a expressão “colo, colere”, que indica: “honrar, cultivar, reverenciar respeitosamente […], é o conjunto de atitudes e ritos pelos quais se adora uma divindade […] veneração, reverência, admiração, paixão externa para com alguém”. Os reformadores ortodoxos definiram culto como: “a maneira correta de honrar a Deus”. Ou seja, é: “uma tributação voluntária de louvores e honra ao Criador” (CLAUDIONOR, 2006, p. 127).

2. Definição exegética.
Os principais termos que descrevem o ato de “culto” na Bíblia são “shachah” no hebraico significando: “inclinar-se, prostrar-se” (Is 66.22), e no grego existem duas expressões que são respectivamente “latréia” e “proskyneo” significando “baixar-se para beijar, prostrar-se para adorar; reverenciar, prestar obediência, render homenagem” (Jo 4.24; Ap. 4.3-11). O culto é o momento da adoração que tributamos a Deus o melhor que temos e marca o encontro do Senhor com os seus adoradores (Êx 25.8). Na prática cristã, o culto é o encontro do homem com Deus, que pode ser praticado individualmente ou de forma coletiva (Mt 6.6; 16.25; At 2.46; 5.42).


II. PRINCÍPIOS DE ADORAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Os sacrifícios no Antigo Testamento eram um ato indispensável do culto, devido à tamanha importância que tinham. Geralmente quando falamos em sacrifício no AT, logo, consideramos a imolação de um animal em oferta a Deus pelos pecados do povo. Porém, para os hebreus, essa era apenas uma das muitas maneiras possíveis do sacrifício. Podemos perceber que também eram feitas ofertas de alimentos e incenso. Além disso, nem todos os sacrifícios eram de expiação pelos pecados. Havia sacrifícios de gratidão (ação de graças), de reconciliação com Deus ou purificação, mas a tudo subjaz alguns princípios atemporais que queremos observar. Notemos:

1. A adoração deve ser verdadeira.
No AT Deus devia ser adorado do mais profundo do coração (Abel e sua fé), e não religiosamente apenas (Caim e seus frutos). Os profetas condenavam veementemente o formalismo religioso (1Sm 15.22). A aparência vazia é recusada (Dt 6.5; Is 1.10-17; 58; Ml 1.7,8), e a retidão do povo é exigida (Am 5. 24-27). O culto no AT era centralizado em Deus, que reivindica e espera isso de seu povo (Gn 8.20; 35.11, 14; Êx 3.18; 5.1; 2Cr 7.3; Ne 8.6).

2. A Adoração deve ser só a Deus.
O texto áureo do povo de Israel, os Dez Mandamentos, começa com a ordem expressa: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). A idolatria, o ato de colocar qualquer coisa no lugar, ou ao lado de Deus é expressamente condenada (Êx 20.4-6; 1Rs 13.1; 14.7;18; Am 4.1-5; Os 8.1; Mq 5.13).

3. A adoração deve ser sacrificial.
O princípio do sacrifício: substituição pelo pecado, ou oferta pacifica está estabelecido no culto do AT. Ninguém se aproximava de Deus a seu bel prazer, o sacerdote era o intermediário para oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, bem como ofertas de adoração (Lv 1-6). O grande cume da adoração nacional era o Dia da Expiação nacional (Lv 16), onde o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, oferecendo um sacrifício por ele, e depois no Propiciatório (a tampa da Arca da Aliança), oferecia um sacrifício pelo pecado nacional. O caminho entre o altar do holocausto e o altar do incenso (adoração) era salpicado com o sangue do sacrifício. Sem o sangue do holocausto ninguém chegaria ao altar do incenso. Este belo símbolo mostra que a adoração tem que ser sacrificial. Deus só aceita adoração de quem já foi lavado (Hb 10.22).

4. A adoração deve ser reverente.
Moisés quando teve uma visão de Deus na sarça foi advertido que até as sandálias tirasse (Êx 3.1-5). No Sinai, o povo na presença de Deus não podia se aproximar do monte, e o temor tomou conta de todos (Êx 19. 16-25; 20.18-19). No Tabernáculo e no Templo só os sacerdotes oficiavam e o manuseio dos objetos era para ser feito com omáximo de cuidado. A presença de Deus sempre resulta em temor e prostração (1Rs 18. 38-39; 2Cr 7.1-3; Sl 95. 6; Is 6. 1-5). O adorador ao aproximar-se da Majestade divina deve fazer sabendo onde está pisando, ali é lugar sagrado (Ec 5. 1-20).

5. A adoração deve ser alegre.
A reverência não exclui alegria. Não se pode confundir reverência com morte, formalismo, frieza. O culto no Antigo Testamento tinha muita movimentação, festa. O povo tocava, cantava, e se alegrava na presença de Deus (2Sm 6; Sl 95. 1-7; 100; 150). Os Levitas eram encarregados da execução do canto e de tocar os instrumentos (1Cr 15.16; 16.4-6; 2Cr 5. 12-14). O culto deve ser celebrativo, e exultante.

6. A adoração deve ser respeitada.
Todo povo tinha o dever de atender as “santas convocações” de Deus para coletivamente se unirem em adoração (Lv 23). Do mesmo jeito que a adoração particular tinha importância na vida deles, a adoração coletiva, no Tabernáculo ou Templo, não poderia ser descuidada. Uma não eliminava a outra. Quanto mais contrito com sua família o homem fosse, mais deveria se unir aos outros na adoração.


III. A TIPOLOGIA DO CULTO LEVÍTICO COM A PESSOA DE JESUS
A tipologia de Jesus no livro de Levítico está nas cinco ofertas que aparecem neste livro: a) holocausto (Lv 1.1-17; 6.8-13); b) oferta de manjares (oblação) (Lv 2.1-16 e 6.14-23), c) oferta pacífica (oferta da paz) (Lv 3.1-17; 7.11-34), d) oferta pelo pecado (oferta de restituição) (Lv 4.1-35), e, e) oferta pela culpa (oferta de substituição) (Lv 5.14-19). Ali, Deus, deu as instruções sobre o cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra de Jesus Cristo na cruz. Há quem diga que não existe nenhum livro do AT que nos faça melhor compreender o NT que o de Levítico. Não há em toda a Bíblia nenhum livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de Levítico. Ele é chamado por alguns de o “Evangelho do Antigo Testamento”. Vejamos a tipologia com o sacrifício de Cristo:

1. A oferta de holocausto tipificava o sacrifício de Cristo.
A primeira oferta descrita em Levítico é o holocausto (Lv 1.3-5). O termo hebraico é “Olah”, que significa “fazer subir”. O sentido geral da oferta é que ela subia para Deus como cheiro suave e era totalmente queimada. Em Levítico 1.3-5 observa-se: “sacrifício queimado e voluntário” para que fosse aceito. As exigências de Deus quanto aos animais que eram aceitos para os sacrifícios estão reiteradas em Levítico 22.18-20-25 e indicam que estes sacrifícios deveriam ser “fisicamente perfeitos” apontando para perfeição de Cristo. Em Levítico 1.8-9, fala das ofertas queimadas de aroma agradável e tipificam Cristo em Suas próprias perfeições e devoção afetuosa para com a vontade do Pai.

2. A oferta de animais tipificava a obediência perfeita de Cristo.
O novilho que é um “tipo” de Cristo como servo paciente e sofredor (Hb 12.2,3), obediente até a morte (Is 53.1-7; At 8.32-35), as aves são naturalmente símbolos da inocência (Is 38.14, 59.11, Mt 23.37, Hb 7.26), e estão associados com a pobreza (Lv 5.7; 12.8), pois Ele por amor a nós se tornou pobre (Lc 9.58). Esse caminho voluntário para a pobreza começou quando se esvaziou de Sua glória (2Co 8.9; Fp 2.6-8, Jo 17.5).

3. A oferta de manjares tipificava o sofrimento perfeito de Cristo.
Muitas são as características dessas ofertas (Lv 2.1-16; 6.14,23). Para se obter uma farinha de qualidade, era necessário um esmagamento do trigo. Isto faz lembrar o sofrimento de Jesus na cruz. O fogo usado nesta oferta descreve a prova de seu sofrimento até a morte (Mt 27.45,46, Hb 2.18) e o incenso aponta para a fragrância de sua vida diante de Deus. A ausência de fermento neste sacrifício tem a ver com sua atitude para com a verdade (Jo 14.6). O azeite que era colocado por cima aponta para unção do Espírito Santo (Jo 1.1-32, 6.27), e o sal explicita a pungência da verdade de Deus àquilo que impede a ação do fermento e simboliza a eterna e incorrupta aliança com Deus.

4. A oferta pacíficas tipificava a paz de Cristo.
O termo “pacífico” traduzido é “shelami” do verbo “shalom” e significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Por outro lado, podia reafirmar a comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a própria paz do cristão (Ef 2.14).

5. A oferta pelo pecado tipificava a substituição de Cristo.
A oferta pelo pecado simboliza Cristo levando o pecado do homem (Lv 4.1-35), isto é, Cristo ocupando absolutamente o lugar do pecador (Is 53; Sl 22, Mt 26.28, 1Pe 2.24), Ele foi “feito pecado pelo pecador”. As ofertas pelo pecado são expiatórias, substitutivas e eficazes (Lv 4.12,29,35). A oferta pelo pecado é queimada fora do arraial e tipifica o aspecto da morte de Cristo fora da cidade.


IV. AS CINCO OFERTAS DE LEVÍTICO E A APLICAÇÃO COM A IGREJA
Para entendermos melhor os sacrifícios no Antigo Testamento sob o sistema levítico, podemos separar os sacrifícios por tipos, sendo eles: consagração (holocausto e manjares), comunhão (pacífico) e expiação (oferta pelo pecado e pela culpa). Vejamos:

4.1 A oferta queimada: holocausto (Lv 1.1-17).
Esta representa a consagração total, pois o adorador voluntariamente oferecia esta oferta e todo o animal que ele sacrificasse era consumido no altar. Tudo pertence a Deus, e devemos estar dispostos a dar tudo a ele. Paulo se refere a isso como um “sacrifício vivo” (Rm 12.1).

4.2 A oferta de alimentos: manjares (Lv 2.1-16).
Esta oferta era oferecida a Deus em gratidão por suas bênçãos. Esta deveria ser das primícias. Esta oferta ilustra a importância de retribuir a Deus com um coração de gratidão pela vida que Ele nos deu.

4.3 A oferta de sacrifício pacífico: comunhão (Lv 3.1-17).
Esta deveria ser colocada sobre as cinzas do holocausto. Ela repousava sobre o trabalho do sacrifício feito anteriormente. Podemos ter paz com Deus somente porque Jesus voluntariamente se entregou a Deus na cruz (Rm 5.1 comparar Is 53.7).

4.4 A oferta pelo pecado: expiação (Lv 4.1 - 5.13).
Este era para o pecado que foi cometido na ignorância. Era para cobrir o pecado não intencional. Quando nos aproximamos de Deus, precisamos ser lembrados de que na melhor das hipóteses somos pecadores diante de Deus e que a nossa única base para a aproximação com ele é através do sacrifício de Jesus (Hb 10.19,20).

4.5 A oferta pela culpa: expiação (Lv 5.14 - 6.7). 
Esta oferta era para pecados específicos que foram cometidos intencionalmente. A diferença entre esta e a oferta pelo pecado é que essa exigia a restituição. Não se pode, com razão, adorar se abrigamos pecado em nossa vida, ou mesmo pecado confessado que não foi feito corretamente.


CONCLUSÃO
O Antigo Testamento mostra o povo de Deus adorando a Deus por um reconhecimento de seu pecado, uma confiança em Sua graça, e uma apreciação por Sua bondade, e isso retrata como a nossa adoração deve ser hoje.




REFERÊNCIAS
ü  ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
ü  HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
ü  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
ü  KESSLER, N. O culto e suas formas. CPAD.



Por Rede Brasil de Comunicação.




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