Lv
9.15-24
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos a definição etimológica e exegética da palavra “culto”; analisaremos os
princípios de adoração no AT; pontuaremos a tipologia do culto levítico com a
pessoa de Jesus; e, por fim, estudaremos as verdades espirituais das cinco ofertas
do livro de Levítico na vida da Igreja.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA CULTO
1. Definição
etimológica.
Segundo Houaiss
(2001, p. 887), a palavra “culto” deriva do Latim, “cultu”, e
significa: “adoração ou homenagem a Deus”. Etimologicamente, o termo latino
envolve em sua raiz a expressão “colo, colere”, que indica: “honrar,
cultivar, reverenciar respeitosamente […], é o conjunto de atitudes e ritos
pelos quais se adora uma divindade […] veneração, reverência, admiração, paixão
externa para com alguém”. Os reformadores ortodoxos definiram culto como: “a
maneira correta de honrar a Deus”. Ou seja, é: “uma tributação
voluntária de louvores e honra ao Criador” (CLAUDIONOR, 2006, p. 127).
2. Definição
exegética.
Os principais
termos que descrevem o ato de “culto” na Bíblia são “shachah” no
hebraico significando: “inclinar-se, prostrar-se” (Is 66.22), e no grego
existem duas expressões que são respectivamente “latréia” e “proskyneo”
significando “baixar-se para beijar, prostrar-se para adorar;
reverenciar, prestar obediência, render homenagem” (Jo 4.24; Ap. 4.3-11). O
culto é o momento da adoração que tributamos a Deus o melhor que temos e marca
o encontro do Senhor com os seus adoradores (Êx 25.8). Na prática cristã, o
culto é o encontro do homem com Deus, que pode ser praticado individualmente ou
de forma coletiva (Mt 6.6; 16.25; At 2.46; 5.42).
II.
PRINCÍPIOS DE ADORAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Os sacrifícios
no Antigo Testamento eram um ato indispensável do culto, devido à tamanha
importância que tinham. Geralmente quando falamos em sacrifício no AT, logo,
consideramos a imolação de um animal em oferta a Deus pelos pecados do povo.
Porém, para os hebreus, essa era apenas uma das muitas maneiras possíveis do
sacrifício. Podemos perceber que também eram feitas ofertas de alimentos e
incenso. Além disso, nem todos os sacrifícios eram de expiação pelos pecados.
Havia sacrifícios de gratidão (ação de graças), de reconciliação com Deus ou
purificação, mas a tudo subjaz alguns princípios atemporais que queremos
observar. Notemos:
1. A adoração
deve ser verdadeira.
No AT Deus devia
ser adorado do mais profundo do coração (Abel e sua fé), e não religiosamente
apenas (Caim e seus frutos). Os profetas condenavam veementemente o formalismo
religioso (1Sm 15.22). A aparência vazia é recusada (Dt 6.5; Is 1.10-17; 58; Ml
1.7,8), e a retidão do povo é exigida (Am 5. 24-27). O culto no AT era centralizado
em Deus, que reivindica e espera isso de seu povo (Gn 8.20; 35.11, 14; Êx 3.18;
5.1; 2Cr 7.3; Ne 8.6).
2. A Adoração
deve ser só a Deus.
O texto áureo do
povo de Israel, os Dez Mandamentos, começa com a ordem expressa: “Não
terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). A idolatria, o ato de
colocar qualquer coisa no lugar, ou ao lado de Deus é expressamente condenada
(Êx 20.4-6; 1Rs 13.1; 14.7;18; Am 4.1-5; Os 8.1; Mq 5.13).
3. A adoração
deve ser sacrificial.
O princípio do
sacrifício: substituição pelo pecado, ou oferta pacifica está estabelecido no culto
do AT. Ninguém se aproximava de Deus a seu bel prazer, o sacerdote era o
intermediário para oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, bem como ofertas
de adoração (Lv 1-6). O grande cume da adoração nacional era o Dia da Expiação
nacional (Lv 16), onde o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, oferecendo
um sacrifício por ele, e depois no Propiciatório (a tampa da Arca da Aliança),
oferecia um sacrifício pelo pecado nacional. O caminho entre o altar do
holocausto e o altar do incenso (adoração) era salpicado com o sangue do
sacrifício. Sem o sangue do holocausto ninguém chegaria ao altar do incenso. Este belo
símbolo mostra que a adoração tem que ser sacrificial. Deus só aceita adoração
de quem já foi lavado (Hb 10.22).
4. A adoração
deve ser reverente.
Moisés quando
teve uma visão de Deus na sarça foi advertido que até as sandálias tirasse (Êx
3.1-5). No Sinai, o povo na presença de Deus não podia se aproximar do monte, e
o temor tomou conta de todos (Êx 19. 16-25; 20.18-19). No Tabernáculo e no
Templo só os sacerdotes oficiavam e o manuseio dos objetos era para ser feito
com omáximo de cuidado. A presença de Deus sempre resulta em temor e prostração
(1Rs 18. 38-39; 2Cr 7.1-3; Sl 95. 6; Is 6. 1-5). O adorador ao aproximar-se da
Majestade divina deve fazer sabendo onde está pisando, ali é lugar sagrado (Ec
5. 1-20).
5. A adoração
deve ser alegre.
A reverência não
exclui alegria. Não se pode confundir reverência com morte, formalismo, frieza.
O culto no Antigo Testamento tinha muita movimentação, festa. O povo tocava,
cantava, e se alegrava na presença de Deus (2Sm 6; Sl 95. 1-7; 100; 150). Os
Levitas eram encarregados da execução do canto e de tocar os instrumentos (1Cr
15.16; 16.4-6; 2Cr 5. 12-14). O culto deve ser celebrativo, e exultante.
6. A adoração
deve ser respeitada.
Todo povo tinha
o dever de atender as “santas convocações” de Deus para
coletivamente se unirem em adoração (Lv 23). Do mesmo jeito que a adoração
particular tinha importância na vida deles, a adoração coletiva, no Tabernáculo
ou Templo, não poderia ser descuidada. Uma não eliminava a outra. Quanto mais
contrito com sua família o homem fosse, mais deveria se unir aos outros na
adoração.
III.
A TIPOLOGIA DO CULTO LEVÍTICO COM A PESSOA DE JESUS
A tipologia
de Jesus no livro de Levítico está nas cinco ofertas que aparecem neste
livro: a) holocausto (Lv 1.1-17; 6.8-13); b) oferta
de manjares (oblação) (Lv 2.1-16 e 6.14-23), c) oferta pacífica
(oferta da paz) (Lv 3.1-17; 7.11-34), d) oferta pelo pecado
(oferta de restituição) (Lv 4.1-35), e, e) oferta pela culpa
(oferta de substituição) (Lv 5.14-19). Ali, Deus, deu as instruções sobre o
cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra
de Jesus Cristo na cruz. Há quem diga que não existe nenhum livro do AT que nos
faça melhor compreender o NT que o de Levítico. Não há em toda a Bíblia nenhum
livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de Levítico. Ele é chamado
por alguns de o “Evangelho do Antigo Testamento”. Vejamos a
tipologia com o sacrifício de Cristo:
1. A oferta de
holocausto tipificava o sacrifício de Cristo.
A primeira
oferta descrita em Levítico é o holocausto (Lv 1.3-5). O termo hebraico é “Olah”,
que significa “fazer subir”. O sentido geral da oferta é que ela
subia para Deus como cheiro suave e era totalmente queimada. Em Levítico 1.3-5
observa-se: “sacrifício queimado e voluntário” para que fosse
aceito. As exigências de Deus quanto aos animais que eram aceitos para os
sacrifícios estão reiteradas em Levítico 22.18-20-25 e indicam que estes sacrifícios
deveriam ser “fisicamente perfeitos” apontando para perfeição de
Cristo. Em Levítico 1.8-9, fala das ofertas queimadas de aroma agradável e
tipificam Cristo em Suas próprias perfeições e devoção afetuosa para com a
vontade do Pai.
2. A oferta de animais
tipificava a obediência perfeita de Cristo.
O novilho que é
um “tipo” de Cristo como servo paciente e sofredor (Hb 12.2,3), obediente até a
morte (Is 53.1-7; At 8.32-35), as aves são naturalmente símbolos da inocência
(Is 38.14, 59.11, Mt 23.37, Hb 7.26), e estão associados com a pobreza (Lv 5.7;
12.8), pois Ele por amor a nós se tornou pobre (Lc 9.58). Esse caminho
voluntário para a pobreza começou quando se esvaziou de Sua glória (2Co 8.9; Fp
2.6-8, Jo 17.5).
3. A oferta de
manjares tipificava o sofrimento perfeito de Cristo.
Muitas são as
características dessas ofertas (Lv 2.1-16; 6.14,23). Para se obter uma farinha
de qualidade, era necessário um esmagamento do trigo. Isto faz lembrar o
sofrimento de Jesus na cruz. O fogo usado nesta oferta descreve a prova de seu
sofrimento até a morte (Mt 27.45,46, Hb 2.18) e o incenso aponta para a
fragrância de sua vida diante de Deus. A ausência de fermento neste sacrifício
tem a ver com sua atitude para com a verdade (Jo 14.6). O azeite que era
colocado por cima aponta para unção do Espírito Santo (Jo 1.1-32, 6.27), e o
sal explicita a pungência da verdade de Deus àquilo que impede a ação do
fermento e simboliza a eterna e incorrupta aliança com Deus.
4. A oferta
pacíficas tipificava a paz de Cristo.
O termo “pacífico”
traduzido é “shelami” do verbo “shalom” e significa
“ser completo, estar em paz, fazer paz”. Por outro lado, podia reafirmar a
comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em harmonia com
o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se encontram em paz.
Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui tipificada (Lv
3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com Deus, pois Cristo
trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a própria paz do
cristão (Ef 2.14).
5. A oferta pelo
pecado tipificava a substituição de Cristo.
A oferta pelo
pecado simboliza Cristo levando o pecado do homem (Lv 4.1-35), isto é, Cristo
ocupando absolutamente o lugar do pecador (Is 53; Sl 22, Mt 26.28, 1Pe 2.24),
Ele foi “feito pecado pelo pecador”. As ofertas pelo pecado são expiatórias,
substitutivas e eficazes (Lv 4.12,29,35). A oferta pelo pecado é queimada fora
do arraial e tipifica o aspecto da morte de Cristo fora da cidade.
IV.
AS CINCO OFERTAS DE LEVÍTICO E A APLICAÇÃO COM A IGREJA
Para entendermos
melhor os sacrifícios no Antigo Testamento sob o sistema levítico, podemos
separar os sacrifícios por tipos, sendo eles: consagração (holocausto e
manjares), comunhão (pacífico) e expiação (oferta
pelo pecado e pela culpa). Vejamos:
4.1 A oferta
queimada: holocausto (Lv
1.1-17).
Esta representa
a consagração total, pois o adorador voluntariamente oferecia esta oferta e
todo o animal que ele sacrificasse era consumido no altar. Tudo pertence a
Deus, e devemos estar dispostos a dar tudo a ele. Paulo se refere a isso como
um “sacrifício vivo” (Rm 12.1).
4.2 A oferta de
alimentos: manjares (Lv
2.1-16).
Esta oferta era
oferecida a Deus em gratidão por suas bênçãos. Esta deveria ser das primícias.
Esta oferta ilustra a importância de retribuir a Deus com um coração de
gratidão pela vida que Ele nos deu.
4.3 A oferta de
sacrifício pacífico: comunhão (Lv 3.1-17).
Esta deveria ser
colocada sobre as cinzas do holocausto. Ela repousava sobre o trabalho do
sacrifício feito anteriormente. Podemos ter paz com Deus somente porque Jesus
voluntariamente se entregou a Deus na cruz (Rm 5.1 comparar Is 53.7).
4.4 A oferta
pelo pecado: expiação (Lv 4.1 - 5.13).
Este era para o
pecado que foi cometido na ignorância. Era para cobrir o pecado não
intencional. Quando nos aproximamos de Deus, precisamos ser lembrados de que na
melhor das hipóteses somos pecadores diante de Deus e que a nossa única base
para a aproximação com ele é através do sacrifício de Jesus (Hb 10.19,20).
4.5 A oferta
pela culpa: expiação (Lv
5.14 - 6.7).
Esta oferta era para pecados específicos que foram cometidos intencionalmente.
A diferença entre esta e a oferta pelo pecado é que essa exigia a restituição.
Não se pode, com razão, adorar se abrigamos pecado em nossa vida, ou mesmo
pecado confessado que não foi feito corretamente.
CONCLUSÃO
O Antigo
Testamento mostra o povo de Deus adorando a Deus por um reconhecimento de seu
pecado, uma confiança em Sua graça, e uma apreciação por Sua bondade, e isso
retrata como a nossa adoração deve ser hoje.
REFERÊNCIAS
ü ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
ü HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
ü STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
ü KESSLER,
N. O culto e suas formas. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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