Mt
13.10-17
Neste último trimestre de 2018, estudaremos sobre “As parábolas de Jesus – as verdades e princípios divinos para uma vida abundante”. Introduziremos o assunto definindo a palavra parábola; veremos que das figuras de linguagem que são usadas na Bíblia esta é a mais abundante; pontuaremos quais os dois princípios que devemos utilizar na interpretação das parábolas; e, por fim, finalizaremos destacando quais os propósitos de Jesus ao transmitir os Seus ensinos por meio de parábolas.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA PARÁBOLA
O dicionário
Houaiss (2001, p. 2126) define “parábola” como: “narrativa
alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou
analogia”. No AT a palavra hebraica traduzida por parábola é “mashal”,
que significa “provérbio”, “analogia” e “parábola”.
A ideia central de mashal é “ser como” e muitas vezes refere-se a
“frases constituídas em forma de parábola”, característica da
poesia hebraica (LOCKYER, 2006, p. 09 – acréscimo nosso). A palavra parábola é
composta de dois vocábulos gregos: o prefixo “para” e o sufixo “ballein”
ou “bailo”, que significa 'lançar ou colocar ao
lado de'. Portanto, podemos entender que parábola é algo que se coloca
ao lado de outra coisa para fins de comparação, ou para demonstrar a semelhança
entre dois elementos” (CABRAL, 2005, p. 08). A parábola é uma comparação
extraída da natureza ou da vida diária destinada a esclarecer verdades da
esfera espiritual (Mc 4.11,12; Lc 8.10). Em resumo ela tem sido definida como: “uma
história terrena com um significado celestial”.
II. O USO DE PARÁBOLAS NAS
ESCRITURAS
São várias as
figuras de linguagem que a Bíblia emprega, e todas são necessárias para
ilustrar verdades divinas e profundas dentre elas está a parábola. Segundo
Lockyer (2006, p. 07), “em todo o âmbito literário não há livro mais rico
em material alegórico e em parábolas do que a Bíblia”. Vejamos:
1. No Antigo
Testamento.
As parábolas são
utilizadas desde a antiguidade. Isso se confirma pelo fato de figurar no AT em
larga medida e sob diferentes formas (Jz 9.7-16; 2 Sm 12.1-4; 2 Sm 14.6; 1 Rs
20.39; 2 Rs 14.9; Is 5.1-6; Ez 17.3-10; 19.2-9; 24.3-5; 24.10-14).
Principalmente os profetas eram usados por Deus para transmitir mensagens por
meio de parábolas, como o próprio Deus afirmou: “Falei aos profetas, e
multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus símiles” (Os
12.10).
2. No Novo
Testamento.
Quando o Senhor
Jesus apareceu entre os homens, como Mestre, tomou a parábola e honrou-a, usando-a
como veículo para a mais sublime de todas as verdades, como acerca dEle estava
profetizado (Sl 78.2; Mt 13.35). Sabedor de que os mestres judeus ilustravam
suas doutrinas com o auxílio de parábolas e comparações, Cristo adotou essas antigas
formas de ensino e deu-lhes renovação de espírito, com a qual proclamou a
transcendente glória e excelência de seu ensino (Mt 13.34; Mc 4.2,33,34; Jo
16.25). Cerca de um terço do ensino de Jesus nos Evangelhos
sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) se apresenta em forma de parábolas.
III. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
DAS PARÁBOLAS
Durante algum
tempo na história da igreja, alguns teólogos começaram a interpretar as
Escrituras de forma alegórica, inclusive as parábolas de Jesus. Esta atitude
resultou na substituição da simplicidade das Escrituras pela especulação sutil.
Na interpretação das parábolas não podemos esquecer a “lição principal”,
sem entrar em maiores detalhes, que servem somente para preencher uma história
aceitável, mas que nem sempre se revestem de qualquer sentido especial. Por
exemplo: na parábola do semeador (Mt 13.18-30), os quatro tipos de solos
significam tipos diferentes de receptividade ao evangelho, o semeador se refere
a Jesus e a semente, ao evangelho. Aqui, a maioria dos detalhes é alegorizada.
Já na parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32), porém, os personagens possuem um
significado (o pai = Deus, o filho pródigo = os cobradores de impostos e
pecadores, o filho mais velho = os escribas e fariseus; Lc 15.1), mas os detalhes
(como a fome, os porcos e as alfarrobas) acrescentam vivacidade, não um
significado espiritual. Pastor Elienai Cabral em seu livro “Parábolas de
Jesus” (2005, pp. 11,12) pontua pelo menos dois princípios que auxiliam
na interpretação das parábolas. Vejamos:
1. O princípio
do contexto.
Todas as
parábolas foram precedidas de situações históricas que induziram Jesus a usar
esse método para aclarar verdades morais e espirituais. Uma das leis que regem
a interpretação de um texto, seja ele sagrado ou secular, é o seu contexto.
O contexto cultural e histórico pode facilitar a compreensão do ensino
principal da parábola. Nesta, o seu contexto pode ser aquela situação histórica
que obrigou o Mestre a contar uma parábola para esclarecer uma verdade
discutida. O contexto imediato, antes e depois, oferece ao intérprete a luz
sobre o que se queria ensinar.
2. O princípio
teológico.
As parábolas não
têm a finalidade de estabelecer doutrina ou teologia, mas visam a confirmar algum
elemento teológico contido numa parábola. O princípio teológico que rege
qualquer parábola bíblica é aquele que se insere nos conceitos e verdades espirituais
ensinadas. Uma das regras simples de hermenêutica é “o ensino geral da Bíblia”
sobre determinado assunto ou doutrina. Por isso, os ensinos das
parábolas de Cristo devem ser interpretados sob o princípio do “ensino
geral das Escrituras”.
IV. JESUS E AS PARÁBOLAS
Jesus foi um
exímio contador de parábolas. Ele aproveitava algum evento do cotidiano de sua
época e explorava aspectos especiais daquele acontecimento para ensinar alguma
verdade espiritual. Mateus disse que “nada lhes falava sem parábolas” (Mt
13.34). Marcos acrescenta que Ele: “[...] ensinava-lhes muitas coisas por
parábolas [...]” (Mc 4.2). E, acrescentou ainda: “E sem parábolas
nunca lhes falava” (Mc 4.34b). Mas, porque Jesus ensinava por meio de
parábolas? Vejamos:
1. Esclarecer as
verdades do Reino para os que queriam ouvi-lo.
Os discípulos
estavam curiosos sobre a razão pela qual Jesus ensinava as multidões por
parábolas. Quando eles lhe perguntaram, Ele respondeu que, embora fosse um privilégio
deles conhecer os mistérios do Reino dos céus “Porque a vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13.11). A palavra “mistério”
no grego “musterion” significa: “aquilo que, estando fora
do âmbito da apreensão natural sem auxílio, só pode ser conhecido pela revelação
divina, e é conhecido do modo e no tempo designado por Deus e só àqueles que
são iluminados pelo Seu Espirito” (VINE, 2002, p. 795). A palavra mistério é
frequentemente usada na Bíblia para indicar alguma coisa que, parcialmente
revelada no Antigo Testamento, é plenamente mostrada no Novo (Cl 1.26,27; 2.2)
(HORTON, p. 109). Paulo, que recebeu o evangelho por revelação, foi o apóstolo
que mais falou a respeito dos mistérios de Deus (1 Co 11.23; Gl 1.12). Aos
efésios ele disse: “Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão
do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos
dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos
apóstolos e profetas” (Ef 3.5). Vejamos algumas coisas que a Paulo
denomina de mistério e que foram revelados pelo Espírito Santo, por meio dos
apóstolos:
Ø O mistério do
arrebatamento (1
Co 15.51-54);
Ø O mistério da
iniquidade (2
Ts 2.7);
Ø O mistério da
cegueira de Israel (Rm 11.25);
Ø O mistério da fé
(1
Tm 3.9);
Ø O mistério da
piedade (1
Tm 3.16).
2. Ocultar as
verdades do Reino para os resistentes.
Algumas
parábolas também foram utilizadas por Jesus com o intuito de ocultar verdades
aos que não tinham predisposição para ouvir, aprender e se converter (Mt
13.11,13). Nesse texto Jesus fez referência ao profeta Isaías que foi avisado
da resistência do povo de Israel ao seu clamor profético (Is 6.9,10) que
prefigurou o intenso endurecimento que este mesmo povo teria contra o Seu
Messias (Mt 13.13-15). Perceba que Jesus disse que: “[…] o coração
deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos,
e fecharam seus olhos” (Mt 13.15a). Alguns até entendiam o que o
Mestre ensinava, mas a reação não era positiva (Mc 12.12). O escritor da
epístola aos Hebreus disse que aos hebreus da época de Moisés foram pregadas as
boas novas como a nós “[…] mas a palavra da pregação nada lhes
aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé […]” (Hb 4.2). Portanto,
não existe nenhuma possibilidade em Deus agir de forma arbitrária selecionando
alguns para salvação e outros não. Ele “amou o mundo” (Jo 3.16); “quer
que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm
2.4); e, por meio da Sua graça concede “salvação a todos os homens” (Tt
2.11), no entanto, como este homem reage ao convite divino é uma questão
pessoal, pois uma coisa é “conceder” (parte de Deus) outra coisa
é “receber” (parte do homem). Isto Jesus deixou isso claro quando
falou da Parábola do Semeador (Mt 13.1-9). A semente é a Palavra de Deus que
foi semeada em quatro tipos terrenos (Lc 8.11), no entanto, a forma como cada
terreno se comportou ao receber a semente, ilustra a forma individual com que
cada pessoa reage a pregação do evangelho (Mt 13.19-23). “Portanto, inferir alguma
espécie de fatalismo ou determinismo dessa história seria como desviar-se das
Escrituras como um todo, pois elas assumem em toda parte uma responsabilidade
individual” (BEACON, 2006, p. 102 – acréscimo nosso).
CONCLUSÃO
As parábolas
estão recheadas de ensinamentos acerca das coisas espirituais que Deus deseja
transmitir ao Seu povo. Portanto, devemos nos debruçar diante da Bíblia com a
finalidade de aprofundar nosso conhecimento acerca dos mistérios do Reino dos
céus.
REFERÊNCIAS
ü CABRAL,
Elienai. Parábolas de Jesus: advertências para os dias atuais. CPAD.
ü EARLE,
Ralph et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
ü HORTON,
Stanley M. Apocalipse: as coisas que brevemente devem acontecer. CPAD.
ü HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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