Lc 18.1-8
INTRODUÇÃO
A presente lição
comentará uma das mais conhecidas parábolas de Jesus: “a parábola do juiz
iníquo”, que fala sobre a importância da perseverança na oração;
trataremos desta parábola, destacando o seu propósito, personagens, narrativa e
a devida aplicação para a nossa vida devocional.
I. ENTENDENDO A PARÁBOLA
A narrativa
parabólica do capítulo 18 de Lucas, tem algumas coisas interessantes que
merecem ser destacadas. Vejamos: a) consta somente no evangelho conforme
Lucas (Lc 18.1-9); b) tem como epígrafe “o juiz iníquo” e
não a “viúva perseverante” o que deveria ser, pois trata da
perseverança desta; e, c) junto com a parábola do amigo persistente (Lc
11.5-8), pretendem “ensinar a respeito da oração”. Abaixo
destacaremos algumas outras importantes informações sobre esta narrativa.
Notemos:
1. O propósito
da parábola (Lc 18.1).
Assim como toda
parábola contada por Jesus tinha um propósito específico, esta do capítulo 18
de Lucas segue a mesma regra. O versículo primeiro mostra o que motivou Jesus a
contar esta parábola: “E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de
orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18.1). Deus certamente responderá,
mesmo que pareça, por algum tempo, que Ele não nos ouve quando pedimos.
2. Os
personagens da parábola (Lc 18.2-5).
Dois personagens
embora reais na cultura judaica são utilizados hipoteticamente nesta parábola.
Vejamos cada um detalhadamente:
a) O juiz.
O primeiro
personagem que aparece na parábola é “o juiz” (Lc 18.2). Estes
eram os indivíduos que tomavam decisões sobre questões civis e religiosas, as
palavras envolvidas falam sobre a tentativa de determinar causas (Êx 18.13) (CHAMPLIN,
2004, p. 636). Nos tempos de Moisés, conforme os registros bíblicos, eles
assumiam uma grande responsabilidade na aplicação da lei (Êx 18.20; Dt 1.13,15;
Dt 16.19). Deus determinou que em cada cidade deveria ter um juiz (Dt 16.18).
Exigia-se deles que fossem leais no julgamento das causas do povo (Êx 18.21,22;
Dt 1.16,17). No entanto, há registros bíblicos de corrupção nesta função. A
exemplo disto temos os dois filhos de Samuel, que foram nomeados por ele como
juízes, em Berseba, mas eles perverteram o ofício e aceitavam suborno (1 Sm
8.3). Por isso, quando na parábola Jesus diz que este juiz “nem a Deus
temia, nem respeitava o homem” (Lc 18.2-b), podia estar fazendo alusão
a corrupção que havia em sua época com esta classe de pessoas. Definitivamente
de uma pessoa mau caráter como esta, não se podia esperar justiça nem
compaixão.
b) A viúva.
O segundo
personagem que aparece na parábola é “a viúva” (Lc 18.2). A viúva
aparece aqui como símbolo daqueles que precisam ser defendidos contra a
exploração alheia, alguém relativamente sem defesa, verdadeiramente dependente
da bondade de terceiros para a sua sobrevivência. A viúva, assim como órfão, o
pobre e o deficiente estavam entre a classe de pessoas das quais Deus concedia
uma atenção especial (Êx 23.6; Lv 19.14; Dt 24.17; 27.18). Com frequência, a
viúva era tratada pelo povo de Israel com deslealdade, por isso na lei de
Moisés encontramos diversas recomendações quanto ao cuidado que se deveria ter
com elas (Êx 22.22; Dt 24.19-21). Deus inclusive orientou que não se deveria
perverter o direito da viúva (Dt 24.17), e o que não cumprisse isto seria
passivo de maldição (Dt 27.19). Os profetas protestaram contra o povo de Israel
quando desconsideravam o direito da viúva (Is 1.17; 1.23; Is 10.2; Jr 7.6;
22.3; Zc 7.10; Ml 3.5). Por isso, na parábola de Lucas 18.1-8, Jesus
utilizou-se da figura da viúva que embora hipotética, era um fato comum que
viúvas sofressem por injustiças. Alguém poderia ter tirado o pouco que ela
possuía. Ou, talvez, a tivesse impedido de receber o que lhe correspondia, o
que a levou a clamar ao juiz, pedindo: “Faze-me justiça contra o meu adversário”
(Lc 18.3-b).
3. A narrativa
da parábola (Lc 18.2-5).
Certa viúva que
tinha uma causa para ser julgada, foi a um juiz da cidade e lhe pediu socorro.
Este juiz que “nem a Deus temia, nem respeitava o homem” (Lc
18.2-b), recusou-se ajudá-la: “E por algum tempo não quis atendê-la” (Lc
18.4). No entanto, a mulher propôs-se a buscar o que desejava até conseguir, e
o juiz não suportando a sua insistência a atendeu “[…] hei de fazer-lhe
justiça, para que enfim não volte […]” (Lc 18.5). Duas virtudes desta
viúva são destacadas por Jesus, que são extremamente necessárias para a vida
daquele que ora. Vejamos:
a) A
perseverança (Lc 18.5).
As palavras do
juiz a respeito desta mulher mostram o quanto ela era perseverante: “como
esta viúva me molesta, […] e me importune muito” (Lc 18.5). Estes dois
verbos “molestar” e “importunar” mostram que “o
juiz estava farto dela”. Essa mulher era persistente a tal ponto que,
mesmo o magistrado não temendo a Deus e nem aos homens ia conceder-lhe o que
queria, pois estava convencido de que ela nunca pararia de importuná-lo até que
seu pedido fosse atendido. A arma dela foi a insistência.
b) A fé (Lc
18.8).
A mulher
destaca-se nesta parábola não somente por sua perseverança, mas também por sua
fé. Essa fé é evidenciada por meio da sua atitude resoluta de insistir em seu
pedido ainda que a um homem sem temor, pois cria que mais cedo ou mais tarde, o
juiz lhe atenderia. Uma das características da fé verdadeira é que ela não
desiste em hipótese alguma. No encerramento desta parábola, Jesus fala
profeticamente que os últimos dias que antecedem a Sua vinda, serão dias
marcados pela incredulidade: “Quando porém vier o Filho do homem,
porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8b).
4. A aplicação
da parábola (Lc 18.6-8).
O juiz desta
parábola não atendeu a mulher porque sentiu compaixão por ela, senão porque foi
vencido pelo cansaço (Lc 18.5). Diante disso, Jesus faz a seguinte ponderação: “Ouvi
o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que
clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?” (Lc
18.6,7). Ao contrário do juiz iníquo, Deus é apresentado nas Escrituras como o
Juiz justo (Gn 18.25; Sl 7.11; 9.8; 19.9; 37.28; 50.6; 75.7; 94.2; 103.6); e,
especificamente “Juiz das viúvas” (Sl 68.5). O salmista afirmou
que o Senhor é o que “faz justiça aos oprimidos” (Sl 146.7); que
por causa da opressão do pobre e do gemido do necessitado, Ele se levanta, para
os pôr a salvo (Sl 12.5). Deus é aquele que galardoa aqueles que o buscam (Hb
11.6); Ele “trabalha para aquele que nEle espera” (Is 64.4); pois
está atendo ao clamor dos seus filhos (Gn 30.6; Êx 3.7; Sl 12.5; 18.6; 66.19).
No entanto, Deus age dentro de um tempo por Ele determinado (Gn 18.14; 21.2; 2
Rs 4.16,17; Gl 4.4; Hb 4.16).
II. A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA
NA ORAÇÃO
Em relação à
oração ela deve ser feita com perseverança, que é uma atitude que Deus requer
do homem a fim de que obtenha resposta daquilo que se está buscando (Rm 12.12;
Ef 6.18; Cl 4.2; 1 Ts 5.17). O verbo “perseverar” significa: “ser
constante, permanecer, conservar-se” (HOUAISS, 2001, p. 2196). No
grego, “hupomoné”, “perseverança”, “resistência”,
“constância”. Esse vocábulo grego denota a resistência paciente,
sob circunstâncias adversas, com base na ideia de alguém que leva aos ombros
uma carga pesada, mas da qual não desiste (CHAMPLIN, 2004, p. 246). Acerca da perseverança
na oração é bom destacar que:
1. Não devemos
desfalecer.
Quando Jesus
contou esta parábola tinha o intuito de ensinar “[…] sobre o dever de
orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18.1-b). A expressão “desfalecer”
segundo o Houaiss (2001, p. 991) significa: “esmorecer,
enfraquecer, fraquejar”. É verdade que às vezes por não recebermos a
resposta imediata das nossas petições, somos tentados a esmorecer, tal como
aconteceu com alguns personagens bíblicos (Sl 42.5-a; 69.3; Pv 13.12). No
entanto, a fé verdadeira sobrepõe as emoções e confia no Senhor e na Sua
providência cedo ou tarde (Sl 42.5-b; 73.26; 119.81,123). Champlin (2004, p.
173 – acréscimo nosso) pontua alguns motivos pelos quais Deus “tarda” em
responder. Vejamos:
a) O motivo
dessa demora não é que Deus deixe de entender-nos, ou que relute em
responder-nos. A demora não visa ao benefício de Deus, e, sim, o nosso;
b) A oração é,
por si só, um ótimo edificador do caráter cristão, que nos ensina a buscar as
coisas lá do alto;
c) Deus adia as
respostas às nossas orações a fim de que nossos motivos e alvos sejam
purificados;
d) Deus demora
em responder-nos a fim de que o nosso desejo seja intensificado.
2. Não devemos
ser imediatistas.
Nem sempre a
nossa oração tem resposta imediata. A exemplo disto temos Davi (Sl 13.1-4;
69.3); Zacarias orava por um filho e só depois de muito tempo veio a resposta
(Lc 1.13). Enquanto a oração autêntica não é respondida, ela fica em memória
perante Deus (At 10.4). Perseveremos, pois, na oração. Muitos crentes param de
orar por não receberem logo a resposta daquilo que pedem a Deus, falta-lhes
perseverança (Rm 12.12). É preciso continuar diante do altar de Deus até
receber a resposta (Lc 24.49). Abaixo destacaremos alguns exemplos de servos de
Deus que buscaram com perseverança até conseguir resposta:
Ø O exemplo de
Isaque: “E
Isaque orou insistentemente ao SENHOR por sua mulher, porquanto era estéril; e
o SENHOR ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu” (Gn 25.21).
Ø O exemplo de
Ana: “E
sucedeu que, perseverando ela em orar perante o SENHOR […]” (1 Sm 1.12);
Ø O exemplo de
Elias: “E
disse ao seu servo: Sobe agora, e olha para o lado do mar. E subiu, e olhou, e
disse: Não há nada. Então disse ele: Volta lá sete vezes” (1 Re 18.43).
Ø O exemplo dos
apóstolos: “Todos
estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas […]” (At 2.42-a). Veja
ainda: (At 2.42; 6.4).
3. Não devemos
impor nossos limites.
Há pessoas que
agem precipitadamente, demarcando tempo para o seu período de oração, achando
que “pressionando” Deus vão obter dEle a resposta mais rápido.
Tal atitude revela uma tamanha imaturidade, pois Deus só responde quando quer e
jamais será forçado ou coagido por alguém, pois “faz tudo o que lhe apraz”
(Sl 115.3). É bom lembrar também que o fato de a Bíblia nos exortar a
orar com perseverança até obter resposta, não significa dizer que está resposta
será sempre um “sim” (Gn 17.20; Êx 33.17). Deus também responde
com um “espere” (Jo 2.4); ou com um “não” (Dt
3.25,26; 2 Co 12.8-9), pois segundo a Sua vontade Ele nos ouve (1 Jo 5.14).
CONCLUSÃO
Vivemos em dias
onde as pessoas não somente tem diminuído a prática da oração, como tem deixado
de orar com perseverança. Esta parábola visa alertar-nos de que Deus está
pronto a nos ouvir e responder no tempo certo.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD
Por Rede
Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário