Lc 15.3-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos duas das parábolas mais conhecidas registradas no Evangelho escrito
por Lucas; pontuaremos também algumas de suas principais características, para
melhor compreensão de sua mensagem; e por fim, veremos qual a devida aplicação
dessa mensagem para a igreja atual.
I. A PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA
Nenhum outro
capítulo do Novo Testamento é tão conhecido e tão querido como o décimo quinto
de Lucas, de modo a ser chamado de: “o evangelho no evangelho” (BARCLAY,
sd, p. 174). A história da ovelha perdida que nesse capítulo está registrada
tem um paralelo em Mateus 18.10-14, cujo contexto focaliza no desejo do Pai
celestial de que: “Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um
destes pequeninos se perca” (Mt 18.14). Em Lucas, o foco está na ação
graciosa de Deus que vai em busca do perdido, no arrependimento como o caminho
de volta do pecador ao pai e a sua respectiva aceitação (Lc 15.7,10,18,19,21).
Vejamos ainda algumas considerações sobre esta parábola:
1. A motivação do anúncio da parábola.
O fato de Cristo
ser procurado pelos publicanos e pecadores (Lc 15.1), bem como a Sua atitude de
em recebê-los comendo com eles (Lc 15.2), resultou na murmuração dos fariseus e
escribas. O ódio desses religiosos pelos publicanos e pecadores é bem conhecido
nas Escrituras (Mt 9.10,11; Mc 2.15,16; Mt 18.9-11). Eles sentiam que qualquer
um que se associasse com estas pessoas desprezadas, o fazia por ter o mesmo
caráter. Diante disso, o Senhor Jesus passa a ilustrar e consequentemente
justificar o porquê de sua atitude amorosa, e qual o sentimento que deveria
existir nos fariseus e escribas em relação a estas pessoas.
2. O objetivo da parábola.
Os fariseus e
escribas reputavam aos publicanos e pecadores como pessoas indignas do amor de
Deus. Os publicanos (cobradores de impostos) não eram tidos em alta estima,
porque não somente auxiliavam os romanos que subjugava os judeus, mas também
enriqueciam ilicitamente as custas de seus patrícios (Lc 19.2,8). Já os
pecadores eram assim chamados porque não interpretavam a Lei como os escribas e
fariseus ou exerciam profissões pouco honrosas. Para corrigir a visão
distorcida daqueles em relação aos pecadores, Jesus conta neste capítulo três
parábolas (ovelha e moeda perdida e do filho pródigo) que expressam o grande
amor de Deus pelos perdidos, mostrando que estes são amados e podem ser aceitos
pelo Senhor mediante o arrependimento (Lc 15.7,10,32).
3. Personagens da parábola.
A figura usada
por Jesus nessa parábola é algo muito comum para seus ouvintes, é provável que
enquanto ele a contava, era possível ver naquela região de forma muito familiar
os pastores cuidando de suas ovelhas. A ovelha da história perdeu-se por
irracionalidade. Esses animais têm a tendência de se desencaminhar, por isso
precisam de um pastor (Is 53.6; 1 Pe 2.25). A imagem do pastor e as ovelhas é
muito comum desde o AT para ilustrar o cuidado de Deus para com os seres
humanos (Sl 23.1; Jr 23.1-4; Is 40.11; Ez 34.11-16; 37.24).
II. A PARÁBOLA DA
DRACMA PERDIDA
As narrativas
desse capítulo podem também ser chamadas de: “As Parábolas dos Quatro Verbos –
Perder, Procurar, Encontrar, Regozijar-se”. Esses quatro verbos
certamente resumem a dinâmica do texto. A mensagem central desta parábola é a
mesma da ovelha perdida, e a respeito da parábola da dracma perdida, pontuamos
duas informações adicionais:
1. Estrutura da parábola.
As duas
parábolas iniciais desse capítulo possuem uma estrutura semelhante: a) uma breve indicação dos personagens:
“Que
homem dentre vós […]” (Lc 15.4a), “Ou qual a mulher […]”
(Lc 15.8a); b) uma declaração da
perda: “[…] perdendo uma delas [ovelha]” (Lc 15.4b), “[…]
se
perder uma dracma” (Lc 15.8b); c)
uma pergunta retórica: “[…] e não vai após a perdida
até que venha a achá-la?” (Lc 15.4c), “[…] e busca com diligência até
a achar?” (Lc 15.8c); d)
uma reação: “E achando-a [ovelha], a põe sobre os seus ombros, cheio
de júbilo […]” (Lc 15.5), “E achando-a, […] alegrai-vos
comigo, porque já achei a dracma perdida” (Lc 15.9); e, e) uma afirmação conclusiva: “[…] assim
haverá alegria no céu por um pecador que se
arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de
arrependimento” (Lc 15.7), “Assim vos digo que há alegria diante
dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10).
2. Propósito da parábola.
Esta parábola da
dracma perdida repete o significado da primeira, no entanto, com uma ilustração
diferente. A ovelha perdeu-se por não ter racionalidade, mas a moeda foi
perdida por causa do descuido de alguém. A moeda perdida deveria estar com as
outras nove, a intensa busca da mulher em procurar a dracma, expressa a
intensidade da preocupação de Deus para recuperar os perdidos (Lc 19.10: Jo
10.16). Logo, há mais alegria no céu por um pecador encontrado: “Digo-vos
que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que
por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc
15.7), isso não quer dizer, no entanto, que os justos não sejam amados, pois
estes estão seguros condicionalmente no aprisco (Lc 15.4; Jo 10.28,29); mas,
que a alegria nesse contexto está reservada para aqueles que são encontrados
depois que estiveram perdidos, e é isso que é peculiar sobre esta apresentação
do Reino de Deus nessa parábola (NEALE, 2015, pp. 168,169 – acréscimo nosso).
III. A PARÁBOLA DA
OVELHA E DA DRACMA PERDIDA E SUA APLICAÇÃO PARA A IGREJA
Um notável traço
das parábolas é o fato de retratarem a realidade espiritual do ser humano, como
também o caráter e a obra de Cristo, e por inferência o papel da igreja no
Reino de Deus. Notemos algumas dessas verdades:
1. A necessidade do homem perdido.
Tudo o que Deus
criou, o fez perfeitamente (Gn 1.31; Ec 7.29). Contudo, por causa do mau uso do
livre-arbítrio, o pecado teve o seu lugar na humanidade, manchando (não
destruindo) a imagem de Deus (imago Dei) no homem. Em Efésios 2.3 diz o
apóstolo Paulo que os efésios eram: “por natureza filhos da ira, como
também os demais”. Nesta passagem a expressão “por natureza” indica uma
coisa inata e original, em distinção daquilo que é adquirido (Is 53.6). Então,
o pecado é uma coisa da própria natureza humana, da qual participam todos os
homens e que os fazem culpados diante de Deus (Is 59.16; Rm 5.12-14), por isso,
que todos os homens se acham sob condenação e necessitam da redenção (BERKHOF,
2000, p. 235).
2. O amor de Deus pelos perdidos.
As parábolas
deste capítulo ilustram a consideração de Deus pelos perdidos. Essa narrativa
nos dá um quadro impressionante da própria missão de Jesus na terra. Ele veio
em busca das ovelhas perdidas, este foi o seu objetivo por todos os lugares
onde passou (Mt 9.36; 14.14; Lc 19.10: Jo 4.4). Em cada caso aquele que estava
perdido era considerado precioso, valia a pena buscá-los, e também valia a pena
se alegrar quando eram encontrados. Jesus estava dizendo que Deus procura os
pecadores perdidos! Não é de se admirar que os escribas e fariseus tivessem
ficado ofendidos, pois em sua teologia legalista não havia lugar para um Deus
desse tipo. Haviam esquecido que Deus procurou Adão e Eva quando pecaram e se
esconderam dele (Gn 3.8,9). Apesar de seu suposto conhecimento das Escrituras,
os escribas e fariseus se esqueceram que Deus é como um Pai que se compadece de
seus filhos rebeldes (Sl 103.8-14).
3. A ação de Deus pelos perdidos.
Devido à
pecaminosidade do homem, este estava destinado a condenação eterna (Jo 3.18; Rm
3.23; Ef 2.3). Mas, apesar dessa condição, Deus por Sua graça e misericórdia
(Ef 2.4,5) estabeleceu um projeto salvífico para resgatar o homem (Gn 3.15; Jo
3.16; Ap 13.8). O projeto de restauração do homem, tem como fonte a pessoa de
Deus (Is 45.22; Tt 2.11). Na condição de pecador, o homem jamais por si só
produziria a sua salvação (Rm 3.10,11; Tt 3.5), por essa razão vemos partindo sempre
de Deus a iniciativa de resgatar o homem (Gn 3.9;15,21). A Bíblia diz que: “Deus
amou”; “Deus deu”; “Deus enviou” (Jo 3.16,17). Paulo diz
ainda que: “[…] a graça de Deus se manifestou […] (Tt 2.11); e que: “tudo
isto provém de Deus” (2 Co 5.18a). Deus, por Sua maravilhosa graça
decidiu soberanamente salvar o homem caído em pecado, por meio de Jesus Cristo:
“Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo […]” (2 Co 5.19), esperando
do homem em resposta a essa graça, arrependimento e fé (Mc 1.15; At
2.38; 3.19; 2 Co 7.10; Mc 16.16; Rm 10.9; Ef 2.8).
4. A igreja e a busca pelos perdidos.
Segundo Horton
(2006, pp. 299,300), “a Igreja é uma comunidade formada por Cristo em benefício
do mundo. Cristo entregou-se em favor da Igreja, e então a revestiu com o poder
do dom do Espírito Santo a fim de que ela pudesse cumprir o plano e propósito
de Deus”. Uma igreja que não tem a sensibilidade de ir em busca dos perdidos,
está perdida em si mesma, visto que um dos motivos pelos quais a igreja
existe, é para evangelizar afirmou o apóstolo Pedro: “Mas vós sois a geração eleita, o
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”
(1Pe 2.9). A Igreja tem diversas atribuições, no entanto, a mais excelente
delas é a que justifica a sua presença aqui na terra: a sublime tarefa da
evangelização (Mt 28.16-20; Mc 16.15).
CONCLUSÃO
Fica claro por
meio dessas duas parábolas o amor de Deus pelos pecadores. Como também uma
mensagem bem definida para a igreja atual, que como corpo de Cristo, devemos
buscar os que estão perdidos e lhes anunciar a boas novas de salvação. O fervor
que Jesus demonstrou deve arder em cada um de nós, e nos alegrarmos com os
anjos de Deus pelo pecador que se arrepende.
REFERÊNCIAS
BARCLAY, William.
Comentário do Novo Testamento. PDF
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. CULTURA CRISTÃ.
HOWARD, R.E, et
al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. CPAD.
NEALE, David. A. Novo Comentário Bíblico Beacon. CENTRAL
GOSPEL.
STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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