Mt 14.7-14
INTRODUÇÃO
Na última lição
deste trimestre, abordaremos pelo menos duas parábolas contadas por Jesus
durante uma refeição; inicialmente destacaremos distinções destas parábolas, o
que motivou o Mestre a contá-las e quais os seus objetivos; por fim,
concluiremos trazendo lições práticas sobre a humildade e o amor, virtudes
destacadas nestas narrativas.
I. A PARÁBOLA DOS
PRIMEIROS ASSENTOS: LUCAS 14.7-11
Em Lucas 14
encontramos o registro de uma sequência de quatro parábolas, destas
destacaremos duas. Alguns detalhes interessantes merecem ser destacados sobre
elas, a saber: a) estas parábolas
constam apenas no evangelho conforme Lucas; e, b) diferente das outras, elas não foram contadas para responder
algum questionamento, mas para combater alguns comportamentos, dos religiosos
da sua época.
1. O contexto.
Lucas inicia o
capítulo catorze dizendo que “num sábado”, Jesus, foi convidado a
comparecer na casa de um dos “principais dos fariseus” (Lc 14.1a),
para uma refeição: “para comer pão” (Lc 14.1b). Beacon (2006, p. 445) acrescenta
que: “esta é uma das muitas ocasiões em que os fariseus agiam como hipócritas,
sempre fingindo ser amigos de Jesus para alcançar os seus objetivos malignos. A
aceitação de um convite como este por parte de Jesus demonstrou coragem e amor.
Ele sabia por experiência o perigo que correria, mas seu amor por todos os
homens - incluindo os fariseus, não deixaria que Ele abrisse mão desta
oportunidade”. Nessa ocasião, Jesus curou um homem que se fez presente e que
tinha uma doença chamada “hidropisia” (Lc 14.2), que é uma
inchação do corpo produzida pela retenção excessiva de líquido nos tecidos
(MOODY, sd, p. 66). Mas, antes ele fez um questionamento se era lícito curar
alguém no sábado? Como todos eles calaram-se (Lc 14.4-a), Jesus curou o homem
(Lc 14.4b). E, fez uma outra pergunta dizendo: “Qual será de vós o que,
caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?”
(Lc 14.5-b). Novamente eles calaram-se, porque entendiam que não podiam dar
mais valor a vida animal que a vida humana (Lc 14.6).
2. O que motivou
a parábola.
Diferente da
maioria das parábolas, estas não foram contadas pelo Mestre para responder
algum questionamento, na verdade, o comportamento dos convidados no banquete,
deu a Jesus a oportunidade para dar uma lição. Embora durante a refeição a que
fora convidado, Jesus estivesse sendo observado: “eles o estavam observando”
(Lc 14.1b) claramente estavam esperando que o apanhassem fazendo alguma coisa
pela qual pudessem fazer acusações formais contra Ele. O que eles não
imaginavam é que Jesus também os estava observando e que tinha várias acusações
a fazer contra eles: “[Jesus] reparando como escolhiam os
primeiros assentos” (Lc 14.7-b). Moddy (sd, p. 66) diz que: “a posição
social era coisa importante na sociedade daquele tempo, e cada convidado queria
ocupar o mais alto lugar de honra que conseguisse pegar”. Capítulos antes deste
acontecimento, descobrimos que os fariseus tinham sido denunciados por Jesus de
amarem os primeiros assentos, literalmente, “lugares de honra” (Mt
23.6; Lc 11.43).
3. A parábola.
Jesus aproveitou
o comportamento reprovável dos convidados, durante a refeição, para lhes trazer
um ensinamento: “E disse aos convidados uma parábola […]” (Lc 14.7a). Na
parábola, Jesus falou a respeito de um casamento, onde várias pessoas são
convidadas. Sabendo que todos convidados para uma celebração desta são
importantes, o Mestre destacou que, existem alguns que pelo grau de parentesco,
intimidade ou consideração ocupam lugares de destaque na festa. Ciente disto,
Jesus falou que os convidados devem ter o cuidado de não preferirem lugar de
honra ou primeiro lugar (Lc 14.8a), pois na festa, o lugar nas cadeiras não
ficava sob a preferência dos convidados senão dos celebrantes (Lc 14.9). Logo,
se alguém sentasse nalgum lugar indevido, poderia sofrer a vergonha de ser
substituído por outra pessoa que fosse mais digna de honra: “não
te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais
digno do que tu” (Lc 14.8). Era preferível procurar o derradeiro lugar
e ter a honra de ser chamado porque aquele que convidou para um lugar superior
(Lc 14.10).
4. O objetivo da
parábola.
O principal
ensinamento transmitido por Jesus aqui é uma lição sobre a humildade, e não
simplesmente regras para serem observadas em encontros sociais. Segundo o
dicionarista Houaiss (2001, p. 1555), “humildade” significa: “virtude
caracterizada
pela consciência das próprias limitações; simplicidade; ausência completa de
orgulho; rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito”. A Bíblia
destaca a humildade como virtude necessária em todos os aspectos da vida humana
(Pv 15.33; 18.12; 22.4; Ef 4.1,2; Fp 2.3; Cl 3.12; 1 Pd 5.5). Beacon (2006, p.
447), pontua duas coisas que devem nos motivar a sermos humildades, a saber:
(a) a atitude humilde não apenas evita o risco da humilhação, mas é sempre o
caminho da exaltação (Sl 147.6; Lc 1.52); e, (b) a atitude humilde deveria ser
tomada, não porque funciona, traz honra, mas porque é a certa (Pv 14.21; Mq
6.8). Jesus encerrou a parábola com uma séria advertência dizendo: “Porquanto
qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se
humilhar será exaltado” (Lc 14.11). Acerca da humildade Morris (2007,
p. 219) diz: “a maneira de chegar ao alto é começar em baixo. Se alguém
escolher o lugar mais baixo, a única direção em que pode ir é para cima”.
II. A PARÁBOLA DO
JANTAR: LUCAS 14.12-14
Nesta mesma
ocasião em que contou uma parábola destacando a importância da humildade para
os convidados, Jesus viu que alguma coisa precisava ser dita também ao
anfitrião: “E dizia também ao que o tinha convidado” (Lc 14.12a). Vejamos:
1. O que motivou
a parábola.
O fariseu havia
convidado Jesus para uma refeição, prática comum dessas classes de religiosos
para com o Mestre (Lc 7.36; 11.37); e também convidou outras pessoas dentre
elas: “vizinhos ricos” (Lc 14.1,7). Pelo menos, para este fariseu
oferecer uma refeição a alguém de importância, pessoas ricas, era garantir
também o recebimento de um futuro convite. Sabedor disto, Jesus contou uma
parábola (Lc 14.12).
2. A parábola.
Já vimos que o
fariseu não convidou Jesus para uma refeição apenas por hospitalidade, mas
porque queria observar o Mestre e quem sabe encontrar nele algum comportamento
reprovável (Lc 14.1). Boyer (2011, p. 126) afirmou que: “a hospitalidade
manifesta neste lar deu ocasião a hostilidade escondida”. Apesar disso, foi
Jesus quem viu nesse homem um comportamento que precisava ser corrigido, e o
Mestre o fez, contando uma parábola, dizendo: “Quando deres um jantar, ou uma
ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem
vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te
seja isso recompensado” (Lc 14.12).
3. O objetivo da
parábola.
Esta parábola
tem como principal objetivo destacar a virtude do “amor desinteressado”.
Jesus ensinou ao fariseu que em vez de convidar para o jantar pessoas que
podiam retribuir seu feito, ele deveria fazer o contrário: “Mas,
quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, e serás
bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te
será na ressurreição dos justos” (Lc 14.13.14).
III.
ALGUMAS LIÇÕES SOBRE A VIRTUDE DO AMOR
O dicionário
teológico define a palavra “amor” como: “sentimento que nos constrange a
buscar, desinteressada e sacrificialmente o bem de outrem” (ANDRADE,
2006, p. 42). Sobre o amor a Bíblia diz que:
1. O amor deve
ser dirigido a todos indistintamente.
Assim como Deus
não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; 2 Cr 19.7; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11;
Ef 6.9; 1 Pe 1.17), mas ama a todos indistintamente: “Deus amou o mundo […]”
(Jo 3.16). Logo, Ele espera que assim façamos (Dt 16.19; Jó 13.10; Ml 2.9; Tg
2.1,9). Na parábola do bom samaritano, vemos Jesus relatando o samaritano
ajudando o judeu, exercendo misericórdia apesar das diferenças que havia entre
eles (Lc 10.33-35). A Bíblia nos diz que devemos amar: a) a Deus (Dt 6.5; 11.1; Mc 12.30); b) a família (Ef 5.25; 1 Tm 5.8; Tt 2.4); c) ao próximo (Lv 19.18; Lc 10.27; Gl 5.14); d) aos inimigos (Mt 5.44); e, e)
aos santos (Rm 12.10; 1 Pe 1.22).
2. O amor não
busca os seus próprios interesses.
Se existe uma
virtude que é altruísta é o amor (1 Co 13.5). Segundo o dicionário (2001, p.
171) a palavra altruísta, quer dizer: “sentimento de quem põe o interesse alheio
acima do próprio”, ou seja, uma pessoa altruísta está mais preocupada
com o interesse do próximo do que com o seu. Acerca desta declaração Lopes
(2008, pp. 247,248 – acréscimo nosso) afirmou que: “o amor é a própria antítese
do egoísmo. Ele não é egocentralizado, mas outrocentralizado.
Ele não vive para si mesmo, mas para servir ao outro”. Não podemos como
cristãos vivermos como o mundo numa guerra desenfreada pela satisfação pessoal.
Paulo ensinou aos coríntios que ninguém deveria buscar o proveito próprio “antes
cada um o que é de outrem” (1 Co 10.24).
3. O amor não
faz por obrigação.
Até mesmo as
coisas mais nobres se feitas sem amor perdem o seu sentido: “E
ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria” (1 Co 13.3). Barclay (sd, p. 167), “a única forma de dar
verdadeiramente, é quando nossa dádiva provém do influxo incontrolável do
amor”. Paulo ensinou que: “Todas as vossas coisas sejam feitas com amor”
(1 Co 16.14).
4. O amor não
faz por ostentação.
O verbo “ostentar”
significa: “mostra-se; exibir-se com aparato; alardear” (HOUAISS, 2001, p.
2089). Os fariseus eram peritos em fazer coisas para serem apresentados, e
Jesus reprovou esta atitude (Mt 6.2,5,18). Lucas nos mostra que, Barnabé vendeu
sua propriedade para depositar aos pés dos apóstolos, para assistir aos
necessitados da igreja (At 4.36,37); Ananias e Safira, também venderam sua
herdade e depositaram aos pés dos apóstolos (At 5.1-11). A obra era
praticamente a mesma. No entanto, a diferença entre eles era a motivação.
Enquanto Barnabé foi inspirado pelo amor; Ananias e Safira, pela ostentação e
por isso foram severamente punidos (At 5.9,10).
CONCLUSÃO
A humildade e o
amor são virtudes que devem fazer parte do caráter daquele que segue a Cristo,
pois Ele as tem e espera que os seus seguidores imitem o Seu exemplo (Mt 11.28;
Jo 15.12).
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø BARCLAY,
William. Comentário de Lucas. PDF.
Ø BOYER,
Orlando. Espada Cortante 2. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø LOPES,
Hernandes Dias. 1 Coríntios: como resolver conflitos na igreja. HAGNOS.
Ø MOODY,
D.L. Comentário
Bíblico de Lucas. IBR.
Ø MORRIS,
Leon L. Lucas introdução e comentário. VIDA NOVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.