Mt 25.14-30
INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos a parábola dos talentos onde
veremos a motivação, a natureza e o propósito que levou Jesus a contá-la;
pontuaremos os principais elementos desta parábola e seus significados; bem
como, estudaremos algumas lições para a vida da igreja.
I. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PARÁBOLA
DOS TALENTOS
Num sentido mais
profundo e espiritual, para a Igreja, os talentos representam os Dons de Deus,
de Cristo e do Espírito Santo, que são capacitações ou manifestações especiais
do Espírito Santo agindo no crente para o progresso da obra de Deus na Terra (1
Co 12.6; 28; Rm 12.6-8; Ef 4.11). Vejamos a motivação, a natureza e o propósito
desta parábola:
1. Motivação da
parábola.
A Parábola dos
Talentos está localizada na narrativa bíblica logo após a Parábola das Dez
Virgens. Ela pertence a uma série de exortações de Jesus em relação a Sua
segunda vinda. Esse discurso de Jesus ficou conhecido como sermão escatológico.
2. A natureza da
parábola.
Esta foi a
última parábola proferida por Jesus e juntamente com a parábola das dez virgens
fazem parte do sermão escatológico de Jesus, iniciado em Mateus 24 e proferido
no monte das Oliveiras (Mt 24.3). Ela é semelhante à parábola das minas, que
foi apresentada alguns dias antes em Jericó (Lc 19.11-27). A parábola anterior
das virgens destacou a necessidade de se estar alerta e preparado
(Mt 25.1-13), já a dos talentos enfatizam a necessidade do serviço
fiel durante a sua ausência.
3. Propósito da
parábola.
Esta parábola é
semelhante à parábola das minas (Lc 19.11-28). Em ambas, algum dinheiro é confiado
aos servos. Foi narrado o que aconteceu a três deles: os dois primeiros são
elogiados e o terceiro é condenado. Mas as diferenças superam as semelhanças,
de modo que as duas devem ser consideradas como parábolas diferentes,
proferidas em diferentes ocasiões. No texto de Mateus, o Senhor dá a um servo
cinco talentos, a outro dois e ao terceiro um (Mt 25.15), ao passo que no texto
de Lucas ele dá uma mina a cada um dos dez servos (Lc 19.13). As quantias são
diferentes, e assim também as recompensas. Ainda assim as duas parábolas
transmitem o mesmo ensino, que é o da importância de ser fiel no serviço (BEACON,
2010, p. 171).
II. PRINCIPAIS ELEMENTOS DA
PARÁBOLA E SEUS SIGNIFICADOS
1. O homem que
partiu para fora da terra.
Na parábola dos
talentos, o homem rico representa Jesus que é o dono e proprietário absoluto de
todas as pessoas e coisas, e de uma maneira especial, da Sua igreja; nas Suas
mãos, Ele tem todas as coisas. Jesus aqui se retrata como sendo “um homem
que, partindo para fora da terra” (Mt 25.14) prevendo a sua ascensão
aos céus. Quando o senhor voltou, ele ajustou contas com eles (Mt 25.19). O
texto grego diz, literalmente, “ele se reuniu com eles para fazer as
contas”, isto é, ele “ajustou as contas” com eles. A
mesma expressão é usada em Mateus 18.23, onde é traduzida como “fazer
contas”. Provavelmente o passado contábil de Mateus, como coletor de
impostos, se reflete em seu uso desta expressão de negócios “synairo
logon” (BEACON, 2010, p. 171).
2. Os servos
fiéis.
Os dois
primeiros homens contaram que tinham dobrado os talentos que lhes haviam sido
dados (Mt 25.20,22). Em resposta, o senhor disse exatamente as mesmas palavras
de elogio aos dois servos. A recompensa que ele tinha prometido se baseava em fidelidade,
não em habilidade. É extremamente significativo que os dois
servos tenham sido elogiados por serem bons e fiéis (Mt
25.21,23), e não por serem capazes e inteligentes.
Aqui estão duas virtudes honestas e sólidas que todos nós podemos ter. Estas
são as duas únicas coisas que Deus requer de qualquer pessoa, que ela seja boa
de caráter e fiel no serviço (BEACON, 2010, p. 171).
3. O servo
infiel.
Os três servos
são divididos em duas categorias: os fiéis e o infiel. Os servos fiéis
colocaram os talentos a serviço de seu senhor. O servo infiel escondeu seu
talento na terra. Em vez de usar a oportunidade, ele a enterrou (Mt 25.18). O senhor
condenou o servo egoísta, que não tinha feito nada, dizendo que ele “era
mau e negligente” (Mt 25.26). A última palavra significa: “ineficiente,
preguiçoso, indolente”. O homem que utiliza os seus muitos talentos
sempre ganha mais. Aquele que não os utiliza os perde (Mt 25.29).
4. O talento.
Nesta parábola,
os talentos têm um sentido figurado que representam valores pessoais, aptidões
naturais, oportunidades que Deus nos dá para fazermos a sua obra, como
autênticos mordomos. O talento era uma medida de valor comparativamente
bastante alto e tem seu nome proveniente do fato de que é um peso de forma
circular. Era a maior das unidades e era
conhecido pelos babilônicos como “biltu” e pesava cerca de 30 kg.
A palavra “talento” vem do grego “talanton” que significa: um
peso, alguma coisa pesada (Ap 16.21) (MERRIL, p. 962). Na Palestina
também o talento não era uma moeda, mas sim, uma medida de peso; de maneira que
o valor do talento dependia se ele era de ouro (Êx 25.39), prata
(Êx 38.27) ou cobre (Êx 38.29) cada um com seu próprio
valor equivalente (BARCLAY, 2010, p. 743). Um talento era o valor relativo a seis
mil denários, o que equivalia a seis mil dias úteis de trabalho ou vinte a
trinta anos de serviço dependendo do material do talento. (ROBERTSON, 2011, p.
209). Um único talento era quase a renda de uma vida inteira e nos dias de
hoje, um talento de prata valeria algo em torno de seiscentos mil reais
(CARSON, 2010, p. 597).
III. LIÇÕES DA PARÁBOLA DOS
TALENTOS
Podemos aplicar
em nossas vidas várias lições presentes na Parábola dos Talentos. Notemos:
1. Deus não é
injusto.
Nosso Deus nos
concede talentos de maneira igual: “[…] chamou os seus servos, e
entregou-lhes os seus talentos” (Mt 24.14). Ele seria injusto se
confiasse a nós algo que não pudéssemos administrar (Rm 12.6-8). É possível que
o homem que recebeu menos achasse que esse único talento não era muito
importante. O talento fala de fidelidade e diligência no
uso das aptidões e capacitações ou manifestações
espirituais especiais doadas a nós por Deus para a execução de Sua obra
na Terra (1Pe 4.10-11). A verdadeira fé expressa-se pelas boas obras (Tg
2.22,23).
2. Deus nos dá
talentos conforme a nossa capacidade.
Na parábola, os
três homens ganham quantidades diferentes de talentos segundo as suas
capacidades: “A um deu cinco talentos, a outro, dois e a
outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade […]” (Mt
25.15). Apesar de talentos diferentes, todos receberam talentos. Mesmo o que
recebeu apenas um talento, recebeu algo precioso e de muito valor e podia fazer
esse talento frutificar. A fidelidade no uso dos talentos é indispensável (1 Co
4.2; 2Tm 2.2; 1Tm 3.2; Tt 1.9).
3. Deus deseja
que multipliquemos os talentos que nos dá.
No acerto de
contas vemos que aquele senhor se alegra com os servos que multiplicaram o
talento que receberam, sem distinção. O que recebeu menos foi honrado do mesmo
jeito que o que recebeu mais. O que o senhor viu foi a fidelidade no uso
daqueles talentos: “Então, aproximando-se [..] Disse-lhe o senhor: Muito
bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra
no gozo do teu senhor” (Mt 25.20-21). Ao recebermos os talentos, em
gratidão a Deus por ter depositado em nós tamanha confiança, devemos
aperfeiçoá-los a fim de que sejam uteis para a expansão do reino (2Co 9.10; 1Tm
4.14; 2Tm 1.6; Cl 2.19; Fp 1.9; 2Pe 1.5). O resultado dos talentos que recebemos
deve glorificar unicamente ao nosso Senhor. Os dois homens que investiram o
dinheiro receberam o mesmo elogio (Mt 25.21,23). O que fez a diferença não foi
a porção, mas sim a proporção. Por isso o senhor
lhes confiou muito mais e a sua fidelidade deu-lhes uma capacidade ainda maior
de servir e de receber responsabilidades: “[…] Bem está, servo bom e
fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei […]” (Mt
25.21).
4. Deus nos
cobrará pelo que fizermos com os talentos.
Todos os três
homens que receberam talentos foram cobrados pelo que fizeram com eles: “E
muito tempo depois, veio o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles”
(Mt 25.19). Receber talentos é também receber responsabilidades (Rm
14.10; 1 Co 3.10-15). O último, apesar de ter apenas conservado o seu talento, recebeu
dura cobrança por não tê-lo multiplicado: “Respondeu-lhe, porém, o
senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e
ajunto onde não espalhei? […] Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem
dez” (Mt 25.26,28). Todos compareceremos ante o tribunal de Cristo para
dar contas dos nossos feitos, e para receber a recompensa de acordo com o uso que
fizermos dos nossos talentos (Rm 14.10; 2 Co 5.10; Ap 22.12).
5. Nada do que
temos é de fato nosso.
Somos apenas
depositários, não somos donos dos talentos que recebemos (Jo 5.5; 2 Co 3.5; Fp
2.13). Nossa função é administrar e zelar por aquilo que Deus nos dá: “[…]
e entregou-lhes os seus talentos” (Mt 25.14). Ele é o dono dos
talentos e continuará sendo, pois é Ele quem nos dá tudo que temos (At 17.24,
25, 28; 1 Co 15.10; 2 Co 3.5). O que Jesus quis ensinar nesta parábola é que
Deus jamais exige do homem habilidades que este não possui, mas exige que empregue
a fundo as habilidades que tem (1 Co 12.5-11). Os homens não são iguais quanto
a seus talentos, mas podem ser iguais em seu esforço e trabalho: “e a um
deu cinco talentos, e a outro, dois e a outro, um […]” (Mt
25.15). A parábola nos ensinaque qualquer que seja o talento que possuamos
devemos entregá-lo para servir a Deus (1 Tm 4.14).
6. Receber
talentos não significa ser aprovado por Deus.
Algumas pessoas confundem os talentos
com a graça salvadora de Deus, ou pior, identificam a administração dos
talentos como sendo uma obra que pode conduzir alguém à salvação. Definitivamente
esse não é o princípio ensinado nesta Parábola. Os talentos jamais servirão
para absolver alguém no juízo vindouro: “devias, então, ter dado o meu
dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o que é meu com os
juros” (Mt 7.27). Ninguém poderá apresentar a multiplicação dos
talentos que recebeu como um resultado meritório para a salvação eterna (Ef
2.8,9).
7. Fomos
comissionados pelo Senhor Jesus.
Diz-nos que a
recompensa do trabalho bem-feito é mais trabalho. Aos dois servos que tinham
atuado bem não se lhes diz que se sentem a descansar sobre os louros. São dadas
tarefas maiores e responsabilidades mais sérias na obra do senhor (Jo
17.18,19). A recompensa do trabalho não é o descanso e sim mais trabalho. A
recompensa do Senhor (Sl 58.11; Lm 3.64; Os 4.9; 1 Co 15.58)
CONCLUSÃO
A ênfase da
parábola está centrada na ideia de que os servos do Senhor precisam trabalhar
de forma diligente com os dons a eles confiados, pois serão considerados
responsáveis pelo Senhor quando Ele retornar: “Ora, além disso, o que se
requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1 Co
4.2).
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado –
Gênesis a Números. HAGNOS.
Ø CARSON, D. A. O comentário de Mateus. SHEDD.
Ø HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø MOODY, D. L. Comentário Bíblico de Levítico. PDF.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Vol. 4. VIDA NOVA.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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