Mt 24.45-51
INTRODUÇÃO
A presente lição
tratará da parábola dos “dois servos” registrada em dois
evangelhos sinóticos: o de Mateus e o de Lucas; destacaremos desta narrativa o
seu contexto e objetivo; veremos quais os personagens que a compõe e o que eles
significam; pontuaremos a palavra-chave desta parábola que é a vigilância; e,
concluiremos pontuando pelo menos três motivos pelos quais devemos vigiar para
aguardar a vinda do Senhor.
I. A PARÁBOLA DE MATEUS 24.45-51
Sobre esta
parábola é interessante destacar que ela: a)
consta no evangelho conforme Mateus 24.45-51 e Lucas 12.42-46; b) foi intitulada de parábola dos “dois
servos” o “fiel e o infiel”; c)
é uma parábola de cunho escatológico; d)
é extremamente exortativa quanto a necessidade da vigilância para o retorno de
Cristo. Vejamos mais algumas informações a respeito desta parábola:
1. Contexto.
O contexto que
levou a Jesus a contar esta parábola, foi quando saindo do templo profetizou a
queda deste (Mt 24.1,2); e, quando interrogado pelos discípulos acerca dos
acontecimentos futuros, o Mestre lhes falou da Sua segunda vinda a terra (Mt
24.3-44).
2. Objetivo.
Quando contou
esta parábola aos seus discípulos, Jesus tinha como propósito exortá-los a
aguardar o Seu retorno a terra em vigilância, visto que será em um dia e em uma
hora em que eles não imaginam (Mt 24.36,42). Daí porque contou uma parábola
enfatizando a importância da fidelidade e da vigilância.
II. OS PERSONAGENS
DA PARÁBOLA
Abaixo
destacaremos algumas informações sobre os personagens desta parábola. Vejamos:
1. O senhor (Mt 24.45).
Este senhor da
parábola trata-se provavelmente de um fazendeiro ou de um grande empresário que
tinha servos a sua disposição (Mt 24.45-47). Para termos uma noção, ele pode
ser comparado
a Potifar, o superintendente de Faraó, que tinha servos sob o seu domínio (Gn
39.4,5). Este senhor precisou ausentar-se um pouco de sua casa, para uma
viagem. Quanto ao dia e a hora do seu retorno são incertos (Mt 24.50; Lc
12.46).
2. O servo (Mt 24.42,45).
Mateus usa da
palavra “servo” no grego “doulos” que quer dizer: “escravo”
para falar do funcionário do senhor desta parábola. Já Lucas usa a palavra “mordomo”
no grego “oikonomos” que significa: “pessoa que administra os assuntos domésticos
de uma família” (VINE, 2001, p. 447). Existe a possibilidade nesta
parábola de Jesus estar falando de apenas um servo e não de dois, pois a
administração geral das posses estava nas mãos de um funcionário especial”
(VAUX, 2003, p. 155). Via de regra, havia apenas um mordomo na casa (Gn 15.2;
41.40; 45.8; 1 Rs 18.3; Lc 16.1; At 8.27). O texto diz que o senhor nomeou “um
servo” para ser “mordomo” dos outros servos, que
foram chamados de “conservos” (Mt 24.49). O registro de Lucas também dá margem a
essa interpretação quando diz que este servo poderia ser “fiel e prudente” (Lc
12.42) ou infiel: “Mas, se aquele servo” uma referência hipotética ao mesmo servo
do início da parábola (Lc 12.45). Diante disto, fica mais claro no texto, a
possibilidade de que a narrativa esteja falando apenas de um servo, que poderá
ter uma atitude positiva ou negativa. No entanto, a maioria dos intérpretes
prefere a ideia de se tratarem de dois servos. Sob esta perspectiva,
analisaremos abaixo o comportamento de ambos. Notemos:
a) O servo fiel (Mt 24.45).
É dito que, se
este servo ou mordomo foi fiel e prudente no exercício da função que lhe foi
confiada até ao retorno do seu patrão. A fidelidade e a prudência são virtudes
destacadas na Bíblia (Pv 12.22; 14.33; 14.35; 28.20; Mt 7.24; 25.23; 1 Co 4.2;
Ef 5.15). O servo que agir assim será tido por “bem-aventurado” e, como
recompensa, receberá privilégios e responsabilidades aumentados: “Em
verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens” (Mt 24.47).
b) O servo infiel (Mt 24.48).
Com a partida de
seu senhor, este servo, em seu coração, imaginou que, porque o seu patrão
estava ausente e ia demorar a voltar, decidiu comportar-se de forma violenta e
pecaminosa. Sua deficiência se mostrou tanto doutrinária “o meu senhor tarde virá”
(Mt 24.48-b); quanto moral, pois começou a “espancar os seus conservos, e a
comer e a beber com ébrios” (Mt 24.49). Tal atitude revela-o como um “mau
servo” (Mt 24.48). Quando da volta do seu senhor, este servo infiel
será punido severamente: “e separá-lo-á, e destinará a sua parte com
os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 24.51).
III. EXPLICANDO A
PARÁBOLA
1. O senhor da
parábola.
O senhor desta
parábola é uma figura utilizada por Jesus para referir a si mesmo. A ausência
deste senhor e seu retorno repentino para seus servos (Mt 24.50), ilustra
perfeitamente o retorno imprevisível de Cristo para buscar o seu povo: “porque
o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24.44). Na
linguagem bíblica, a surpresa da volta de Cristo é ilustrada como o ataque de
um ladrão (Mt 24.43,44; 1 Ts 5.2,4; 2 Pd 3.10; Ap 3.3; 16.15). O Senhor espera
encontrar os seus servos aptos para recebê-lo, como consideração por Sua pessoa
(Lc 21.36).
2. Os servos da
parábola.
Todos aqueles
que aceitaram a Cristo como Salvador são chamados de servos (Rm 1.1; 6.22; 1 Co
7.22; 1 Pd 2.16). A estes o Senhor chamou, justificou, regenerou e santificou
(1 Co 6.11). Portanto, se exige dos tais que aguardem o Seu retorno em
fidelidade e vigilância (Mt 25.21; 1 Tm 4.10). Aos que procederem impiamente
ainda que professem-no como Senhor (Mt 7.21,22), ouvirão dEle, naquele dia, a
seguinte frase: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”
(Mt 7.23); e serão condenados por sua rebeldia, ao castigo eterno (Mt 8.12;
13.42,50; 22.13; 25.30; Lc 13.28). No entanto, será bem-aventurado aquele que
for achado fiel e vigilante: “Bem-aventurado aquele servo que o seu
senhor, quando vier, achar servindo assim” (Mt 24.46). Segue o alerta
para todos nós que “se cremos em Sua vinda, devemos nos portar de acordo com o
que acreditamos. Essa esperança deve governar a nossa vida no lar e impedir-nos
de viver uma vida sem moderação e sem disciplina. Se nos conscientizarmos da
volta do Mestre, e deixarmos que essa conscientização impere em todos os aspectos
da nossa vida, então viveremos” (LOCKYER, 2006, p. 300).
IV. VIGILÂNCIA: A
PALAVRA CHAVE DA PARÁBOLA
A palavra-chave
desta parábola é “vigiar”. Maclaren (apud Beacon, 2008, p. 169) observa que: a) A ordem de vigiar, é reforçada pela
nossa ignorância da ocasião da Sua vinda (Mt 24.42-44); b) a imagem e a recompensa de vigiar (Mt 24.45-47); e, c) a imagem e a condenação do servo que
não vigiou (Mt 24.48-51). O verbo “vigiar” quer dizer: “observar
com atenção; estar atento a; velar” (HOUAISS, 2001, p. 2860). No
hebraico o verbo é “shamar” que significa: “vigiar, guardar”. No grego o termo é
“gregoreo”
que significa literalmente “vigiar” e é encontrado em 1 Ts
5.6,10 e em mais 21 outros lugares nos quais ocorre no Novo Testamento (por
exemplo, em 1 Pe 5.8). É usado acerca de: a)
“manter-se
acordado” (Mt 24.43; 26.38.40.41): b)
“vigilância
espiritual” (At 20.31; 1 Co 16.13; Cl 4.2; 1 Ts 5.6.10; 1 Pe 5.8; Ap
3.2.3; 16.15) (VINE, 2002, p. 323 – acréscimo nosso). A palavra “vigiar”
tem conotação exortativa, visando chamar a atenção dos ouvintes a estarem
prontos para o retorno do Messias (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33-35; Lc 21.36; 1 Pe
4.7).
V. QUAIS AS CAUSAS
DA EXORTAÇÃO A VIGILÂNCIA PARA A VOLTA DE JESUS
A Bíblia nos
exorta a prática da vigilância por, pelo menos, três motivos. Vejamos:
1. A fragilidade
humana.
Sabendo da
fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos a estarem vigilantes, para
vencerem as tentações (Mt 26.41; Mc 14.38). Fomos perdoados e libertos dos
nossos pecados (1 Jo 2.12; Rm 6.22), todavia, ainda não estamos livres da
presença do pecado na nossa natureza humana. Isto somente se dará quando nosso
corpo for glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja (1 Co 15.51-54).
Até este acontecimento, precisamos viver vigilantes, a fim de não sermos
vencidos pelo pecado (Rm 6.11,12; 1 Co 15.34). “Quem quiser ter um discipulado
produtivo, precisa disciplinar o corpo para não ceder às paixões” (ADEYEMO,
2010, p. 1192).
2. A astúcia do
Diabo.
Além da
fragilidade humana, o crente precisa vigiar também porque “[...] o diabo, vosso adversário,
anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1
Pe 5.8). Toda tentação é proveniente da própria natureza humana (1 Co 10.13; Tg
1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1
Ts 3.5; Tg 4.7). Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor a fim
de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18). Jesus
exortou os crentes de Esmirna a serem fiéis até a morte, mesmo diante das
tentações do diabo (Ap 2.10). Da mesma forma, falou aos crentes de Filadélfia,
dizendo: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a
tua coroa” (Ap 3.11).
3. A vinda do
Senhor será repentina.
A necessidade da
vigilância para o retorno de Cristo se dá também pelo fato de ser um evento
repentino. Diversas vezes, Jesus exortou os seus discípulos sobre isso (Mt
24.36,42,44; 25.13; Mc 13.33; Lc 12.46). Infelizmente, não são poucos aqueles
que têm a promessa do Senhor como tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2 Pe
3.4). Todavia, Jesus nos assegurou que viria sem demora (Ap 3.11; 22.12,20).
Estejamos vigilantes para não sermos pegos de surpresa e sermos achados
dormindo naquele dia (Mc 13.36; Lc 21.34).
CONCLUSÃO
A vinda do
Senhor é certa. Devemos, portanto, aguardá-la vigiando em todo tempo,
demonstrando a nossa fé em obediência e prudência, afastando-nos do pecado que
antes praticávamos, a fim de não mancharmos as nossas vestes espirituais.
Vigiemos pois aquele dia e hora ninguém sabe.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.
Ø LOCKYER,
John. Todas as Parábolas da Bíblia.
VIDA.
Ø TOKUMBOH,
Adeyemo. Comentário Bíblico Africano.
MUNDO CRISTÃO.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø VINE,
W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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