Êx 40.34-38; Nm
9.15,16
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos a definição exegética e etimológica das palavras “glória” e
“shekhinah” de Deus; pontuaremos a glória de Deus revelada plenamente na pessoa
de Jesus Cristo; e por fim, falaremos da glória do Senhor revelada na vida do
crente fiel.
I. DEFINIÇÃO O
TERMO GLÓRIA
1. Definição exegética do termo.
O vocábulo mais
comum para glória é “kavôd” que significa: “glória,
peso, esplendor, copiosidade, majestade, riqueza” dando a ideia de
alguma coisa muito importante (Êx 33.18; Sl 72.19; Is 3.8; Ez 1.28). A glória
de Deus é a revelação de Seu próprio ser, da natureza e da Sua presença para a
humanidade e leva o homem a reconhecer a grandeza de Deus e a sua pequenez e
indignidade (Is 42.8; 48.9-11; 60.2). A palavra “glória” é uma das mais
ricas e diversas no contexto linguístico do AT e são encontrados pelo menos
oito termos para designá-la no AT (Êx 40.35; 1 Sm 4.22; 1 Sm 6.5; 1 Rs 3.13;
8.11; 1 Cr 16.28; 29.12; Is 11.10; 24.23; 42.12; Dn 2.37; 1 Cr 29.11,13). Na
Bíblia, a glória de Deus está muitas vezes associada a brilho, esplendor e a
majestade do Todo-Poderoso (Ez 1.28; Lc 2.9; Mt 17.5). Ela descreve a presença
visível de Deus como uma nuvem escura, trovões, relâmpagos (Êx 19.9,16,18;
20.18). A manifestação física de que a presença de Deus estava chegando (a
glória de Deus) poderia ser a aparência de um fogo consumidor (Êx 24.17; Dt
4.24; Hb 12.29), no caso de Sua autoridade e Seu poder serem vistos. Em outros
casos, quando Seu propósito era outro e Ele desejava mostrar outro aspecto do
Seu caráter, ao invés de fogo (Êx 13.21; Nm 9.15-16) aparecia nuvem, fumaça,
vento ou, então, o cicio suave (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS CHAVES: HEBRAICO E
GREGO, 2011, p. 1700).
2. Definição etimológica do termo.
A nuvem que
aparecia durante o dia sobre o Tabernáculo era uma forma da “glória
visível de Deus” sobre o Santuário. Moisés viu parcialmente esta “glória”
na coluna de nuvem e de fogo (Êx 13.21). Em Êxodo 29.43 ela é chamada “minha
glória” (Is 60.2). A majestade da glória de Deus é tão grandiosa que
nenhum ser humano pode vê-la de maneira plena e continuar vivo (Êx 33.18-23).
Quando muito, pode-se ver apenas um “aparecimento parcial da glória do Senhor”
(Ez 1.26-28). Neste sentido, a glória de Deus designa Sua singularidade, Sua
santidade e sua transcendência (Is 6.1-3; Rm 11.36; Hb 13.21). Ela cobriu o
Sinai quando Deus outorgou a Lei (Êx 24.16,17), encheu o Tabernáculo (Êx
40.34), guiou Israel no deserto (Êx 40.36-38) e posteriormente encheu o templo
de Salomão (2 Cr 7.1; 1 Rs 8.11-13). Mais precisamente, Deus habitava entre os
querubins no Lugar Santíssimo do templo (1 Sm 4.4; 2 Sm 6.2; Sl 80.1). Ezequiel
a sua glória levantar-se e afastar-se do templo por causa da idolatria presente
ali (Ez 10.4,18,19) (STAMPS, 1995, p. 1183).
II. DEFINIÇÃO O
TERMO SHEKHINAH
1. Definição exegética do termo.
O termo “shekhinah”
significa: “avizinhar, habitar, residir, morar, armar tenda” (Êx 24.16;
25.8; 29.45; 40.34,35; Dt 12.11; Sl 37.3; 85.9; Jr 33.16; Is 8.18; Zc 8.3).
Para alguns teólogos a tradução que mais se aproxima da palavra “shekhinah”
é: “a
presença de Deus vista entre o seu povo” (Dt 12.11; 14.23; 16.2,6,11;
26.2). De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do AT (1998, p.
1743), os verbos hebraico “shakhan” e “shekhen” possuem a mesma
raiz da palavra “shekhinah”. Por isso, que quando a glória “kavôd” de Deus era
manifestada em forma visível entre o povo de Israel, os rabinos posteriormente
através de sua tradição literária (Talmude e Targuns) a chamaram de “shekhinah”
porque o Senhor estava “vizinho” dos homens (Êx 13.21;
16.10; 19,9.16; 24.16; 33.18-20; 40.34,35). Deus prometeu habitar entre
(no meio) o povo de Israel (Êx
13.20-22; 19.17-19; 40.34-35; 1R 8.10-12). A glória de Deus também se refere a
Sua presença
visível entre o seu povo, ou seja, “shekhinah”, na verdade, é
a habitação da glória “kavod” de Deus entre nós (Sl 85.9).
Há muitas pessoas que fazem confusão com o termo; umas usam-no sem a noção;
outras pessoas têm uma visão radical de que o termo não deveria ser usado
porque “ele não existe na Bíblia” […]. Há palavras na cultura judaica
que, por causa de sua sacralidade, ou perda dos fonemas
hebraicos, foram reformulados […]. Portanto, não há nada que proíba usar o
termo “shekhinah” (CABRAL, 2019, pp. 85, 86 151 – grifo nosso).
2. Definição etimológica do termo.
A palavra “shekhinah”
não apareça na Bíblia judaica (Tanakh – Lei, Profetas e Escritos) nem no NT. O
termo é uma expressão extrabíblica, mas não antibíblica,
pois, seu princípio é encontrado em toda Escritura Sagrada. Apesar de não
aparecer na Bíblia, podemos dizer que é bíblico por aquilo que significa: “a
presença de Deus visível”. Esta palavra normalmente está associada aos
casos quando Deus se apresentou de forma perceptível ao seu povo. O vocábulo
ainda aponta para “residir ao lado” (Êx 25.8; 1 Rs 8.10-11; 2 Cr 6.1,2; Sl 74.2),
e, é empregado para designar a presença de Deus (Êx 24.16,17; 29.43; 60.2).
Quando o Senhor mandou que Moisés construísse a Arca da Aliança, Ele disse que
a Sua presença iria com o povo. Então a Arca do Senhor representava a
“presença
do Senhor no meio do povo” (STAMPS, 1995, p. 1183). De acordo com a
compreensão dos exegetas do judaísmo a “shekhinah” era uma forma de teofania
(aparição ou revelação da manifestação de Deus) muito frequente no
relacionamento entre Deus e Israel. Querer atribuir o termo “shekhinah”
unicamente a Cabala (parte mística do judaísmo) é esquecer que este termo já era
usado pelos rabinos muito antes do cabalismo surgir na história judaica.
III.
A GLÓRIA DE DEUS REVELADA EM JESUS CRISTO
1. A glória de Deus revelada na pessoa de Jesus.
Em linguagem
metafórica, a “shekhinah” no NT representa a presença majestosa de Deus e sua
decisão de “habitar” (shakhan)
entre os homens (Jo 1.14). O verbo shakhan, que deu origem ao termo shekhinah,
ressalta a ideia de vizinhança e também proximidade de Deus com os homens. O
equivalente da glória de Deus, ou seja, a presença Dele no NT é a pessoa de
Jesus Cristo como a “glória de Deus em carne humana” (Cl
1.15,19), que veio habitar entre nós (Mt 1.23). Ele é a maior manifestação
visível da presença de Deus entre nós (Mt 1.22-23). O apóstolo Pedro emprega a
expressão “a magnífica glória” como um nome de Deus (2 Pe 1.17). Os
pastores de Belém viram a glória do Senhor no nascimento de Cristo (Lc 2.9), os
discípulos a viram na transfiguração de Cristo (Mt 17.2; 2 Pe 1.16-18). Cristo
como o Logos e Filho de Deus, sempre existiu em glória antes de sua encarnação
(Jo 17.5,22,24). Ele é o mistério glorioso de Deus (Cl 1.27). O resplendor de
Cristo é a sua g1ória divina (Hb 1.3). Ele é glorioso por ser a própria imagem
de Deus (Jo 1.14). Jesus manifestou a sua glória no princípio de seu ministério
(Jo 2.11) (STAMPS, 1995, p. 1183 – grifo nosso).
2. A glória de Deus revelada no ministério de Jesus.
Todo o
ministério de Cristo na terra redundou em glória ao nosso Deus (Jo 14.13;
17.1,4,5). Quando Isaías falou da vinda de Jesus Cristo, profetizou que nEle
seria “revelada a glória de Deus” para que toda a raça humana a visse
(Is 40.5). Tanto João (Jo 1.14) como o escritor aos Hebreus (Hb 1.3) testificam
que Jesus Cristo cumpriu essa profecia. A glória de Cristo era a mesma glória
que Ele tinha com seu Pai antes que houvesse mundo (Jo 1.14; 17.5). A glória do
seu ministério ultrapassou em muito a glória do ministério dos profetas do AT
(2 Co 3.7-11). Paulo chama Jesus de “o Senhor da glória” (1 Co 2.8), e
Tiago o chama de “nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória” (Tg 2.1).
Repetidas vezes, o NT refere-se ao vínculo entre Jesus Cristo e a glória de
Deus. Seus milagres revelavam a sua glória (Jo 2.11; 11.40-44). Cristo
transfigurou-se em meio a “uma nuvem luminosa” (Mt 17.5), onde
Ele recebeu glória (2 Pe 1.16-19) (STAMPS, 1995, p. 1183 – grifo nosso).
3. A glória de Deus revelada na morte e ressurreição
de Jesus.
Estêvão a viu na
ocasião do seu martírio a glória de Jesus (At 7.55). A hora da morte de Jesus
foi o momento da sua glorificação (Jo 12.23,24; 17.4,5). Ele subiu ao céu em
glória (At 1.9; 1 Tm 3.16), agora está exaltado nos céus em glória (Ap
5.12,13), e um dia voltará “sobre as nuvens do céu, com poder e grande
glória” (Mt 24.30; 25.31; Mc 14.62; 1Ts 4.17) (STAMPS, 1995, p. 1183).
IV. A GLÓRIA DE
DEUS REVELADA NA VIDA DO CRENTE
Como a glória de
Deus relaciona-se ao crente pessoalmente?
1. Deus revela Sua glória mediante a habitação do
Espírito Santo.
Deus nos
escolheu para sermos sua habitação ambulante aqui na terra, e através de nós
manifestar a sua glória “kavôd” ao mundo. O apóstolo João
registrou as palavras de Jesus sobre a manifestação da glória de Deus quando
disse: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste […] para que o mundo reconheça que tu
me enviaste e que os amaste, como amaste a mim” (Jo 17.22,23). Através
do Espírito Santo repousa sobre o verdadeiro crente a glória de Deus (Jo
14.16-17; 1 Pe 4.14). Paulo também nos revela que a glória de Deus habita em
nós pelo seu Espírito Santo (2 Co 3.18; Ef 3.16-19), e Pedro também afirma esta
mesma verdade (1 Pe 4.14). Concernente que à glória celestial e majestosa de
Deus de maneira plena ninguém pode contemplar (Jo 1.18a); mas, sabemos que ela
existe. O apóstolo Paulo afirma que Deus habita em “uma luz [glória] inacessíveis”,
que nenhum ser humano pode ver (1 Tm 6.16). O Espírito Santo nos aproxima da
presença de Deus e de Jesus (2 Co 3.16,17; 1 Pe 4.14).
2. Deus revelará Sua glória mediante consumação da
salvação.
A experiência da
glória de Deus é algo que todos os crentes terão na consumação da salvação: “[…]
com
a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Seremos levados à
presença gloriosa de Deus (Hb 2.10; 1 Pe 5.10; Jd 24), compartilharemos da
glória de Cristo: “[…] para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8.17). Paulo
ainda disse que: “[…] somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo
Espírito Santo” (2 Co 3.18c) e receberemos uma coroa de glória (1 Pe
5.4). Até mesmo o nosso corpo ressurreto terá a glória do Cristo ressuscitado:
“que
transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso
[...]”
(Fp 3.21 ver ainda 1 Co 15.42,43).
CONCLUSÃO
Concluímos que a
glória de Deus transcende a qualquer coisa que o ser humano venha a produzir. A
glória do Senhor esteve com Israel, no Antigo Testamento, com a Igreja
Primitiva, em Atos, e também está em nossa vida através do seu Espírito Santo.
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. 1 ed. RJ: OBJETIVA, 2001.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1 ed. RJ: CPAD, 1995.
Ø MERRIL,
E. H. História de Israel no Antigo Testamento. 6 ed., RJ: CPAD, 2007.
Ø COLE,
Alan. Êxodo, Introdução e Comentário. 1 ed. SP: Vida Nova, 1963.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. 1 ed. SP: HAGNOS,
2004.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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