1 Sm 3.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição
traremos uma definição da palavra profeta, uma das expressões principais desta
aula; pontuaremos também, alguns aspectos importantes sobre o chamado profético
de Samuel; destacaremos algumas das diferenças entre o profeta no Antigo
Testamento e a figura do profeta no Novo Testamento; e por fim, veremos o que a
Bíblia ensina sobre profeta como um dom ministerial e o dom de profecia.
I.
DEFINIÇÃO DA PALAVRA PROFETA
1.1 No Antigo Testamento.
A palavra
hebraica para profeta é: “nabí” (leia-se: naví porque no
original hebraico aparece a letra “veth” e não a letra “beth”),
que vem da raiz verbal “nabá” (leia-se: navá). Essa palavra
significa: “anunciador”, e por extensão, “aquele que anuncia as mensagens
de Deus, frequentemente recebidas por revelação ou discernimento intuitivo”.
Os termos hebraicos “ra’ah” e “hôzeh” também são usados
e significam “aquele que vê”, ou seja, “vidente”. Todas as três palavras
aparecem em 1Cr 29.29. “Nabí” é termo usado por mais de
trezentas vezes no Antigo Testamento, alguns poucos exemplos são (Gn 20.7; Êx
7.1; Nm 12.6; Dt 13.1; Jz 6.8; 1Sm 3.20; 2Sm 7.2; 1Rs 1.8; 2Rs 3.11; Ed 5.1; Sl
74.9; Jr 1.5; Ez 2.5; Mq 2.11) (CHAMPLIN, 2004, p. 423).
1.2 No Novo Testamento.
A palavra
comumente usada é: “prophétes”, que aparece por cento e quarenta e nove vezes, que
exemplificamos com (Mt 1.22; 2.5,16; Mc 8.28; Lc 1.70,76; 7.16; Jo 1.21,23;
3.18,21; Rm 1.2; 11.3; 1Co 12.28,29; 14.29,32,37; Ef 2.20; Tg 5.10; 1Pd 1.10;
2Pe 2.16; 3.2; Ap 10.7; 11.10). O substantivo “propheteía”, “profecia”,
é usado por dezenove vezes no NT (Mt 13.14; Rm 12.6; 1Co 12.10; 13.2,8;
14.6,22; 1Ts 5.20; 1Tm 1.18; 4.14; 2Pe 1.20,21; Ap 1.3; 11.6; 19.10;
22.7,10,18,19). Essas palavras derivam do grego: “pro”, “antes”,
“em
favor de”; e, “phemi”, “falar”, ou seja, “alguém
que fala por outrem”, e por extensão, “intérprete”,
especialmente da vontade de Deus (CHAMPLIN, 2004, p. 424).
II.
O CHAMADO PROFÉTICO DE SAMUEL
O registro de
Atos 3.24 está escrito: “E todos os profetas, desde Samuel, todos
quantos depois falaram, também anunciaram estes dias”, indicando que
Samuel foi o primeiro de uma nova ordem ou linhagem de profetas. Vejamos
algumas considerações sobre seu chamado:
2.1 O tempo do chamado.
Assim como o
profeta Jeremias foi chamado para exercer o ministério profético ainda muito
jovem (Jr 1.1-6), a convocação de Deus para a vida de Samuel se dá no momento
de sua tenra idade (1Sm 3.4). Por essa época, provavelmente Samuel já era um
adolescente; mas o texto sagrado nada revela sobre a idade dele por ocasião da
visita divina. O termo hebraico “na’ar” empregado aqui (1Sm 3.1),
pode falar de uma criança de qualquer idade, desde um infante recém nascido
(1Sm 4.21) até um homem de 40 anos (ver 2Cr 13.7). Fávio Josefo disse que
Samuel, por essa época, tinha 12 anos de idade (CHAMPLIN, 2001, p. 1136). Era
aos 12 anos que um menino israelita se tornava filho da lei, passando a ser
considerado pessoalmente responsável por obedecer e seguir aquele documento (Lc
2.39). Fica portanto claro no chamado de Samuel, que as escolhas de Deus para o
serviço sagrado são baseadas em sua soberania, e não estão restritas a status,
capacidade ou mesmo idade (1Sm 16.11-13; Am 7.14,15; Mc 3.13).
2.2 O contexto espiritual do chamado.
Este era um
período de declínio espiritual na nação de Israel (Jz 21.25). Além do exemplo
negativo dos filhos do sacerdote Eli (1Sm 2.17,22-24) naqueles dias a revelação
de Deus era algo raríssimo: “[…] E a palavra do SENHOR era de
muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta” (1Sm 3.1) de modo
que, assim como suas reiteradas manifestações eram consideradas um sinal de
favor e aprovação (Os 12.10), pouca frequência destas revelações era um sinal
de desaprovação por parte do Senhor (Sl 74.9; Lm 2.9; Ez 7.26; Am 8.11). É em
meio a esta realidade que: a) Samuel
ouve a voz de Deus: “o SENHOR chamou a Samuel [...]”
(1Sm 3.4), b) a presença de Deus é
revelada: “Então, veio o SENHOR e ali esteve [...]” (1Sm 3.10) e, c) Samuel recebe a mensagem de Deus: “E disse
o SENHOR a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel”
(1Sm 3.11). O jovem profeta é levantado por Deus em tempos de crises, para
mudar aquele ambiente hostil (1Sm 3.21).
2.3 O reconhecimento do chamado.
O crescente
reconhecimento, entre o povo de Israel, de que o Senhor estava com Samuel e
fazia dele o Seu porta-voz, está indicado no seguinte texto: “E
crescia Samuel, e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras
deixou cair em terra”. “E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu
que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR” (1Sm 3.19,20).
Desde Dã até Berseba é a típica maneira de descrever “a extensão e a amplitude
da terra” (cf. Jz 20.1). Dã estava no extremo norte, Berseba era o ponto mais
ao sul. Tradicionalmente, Dã marcava a fronteira do extremo norte de Israel, ao
mesmo tempo que Berseba assinalava o extremo sul. Isto posto, a expressão
“desde Dã até Berseba” tornou-se proverbial, indicando toda a extensão do
território de Israel. Todos quantos são chamados por Deus, têm o atesto da
escolha Divina (Êx 3.12; 4.1-9; 15-17; 2Rs 2.12-15; Js 1.5,17; 3.7; Jr 1.17-19;
Ag 2.23; Mc 16.20; At 5.12; 14.3; Hb 2.4).
III.
DIFERENÇA ENTRE O PROFETA DO AT E DO NT
Tanto no Antigo
quanto no Novo Testamento, o profeta era um “porta-voz oficial da divindade,
sua missão era preservar o conhecimento divino e manifestar a vontade do Único
e Verdadeiro Deus” (ANDRADE, 2006, p. 305). Todavia, eles eram diferentes um do
outro, como veremos abaixo:
3.1 O profeta no Antigo Testamento.
Os profetas
foram homens que Deus suscitou durante os tempos sombrios da história de Israel
(2Rs 17.13). “No Antigo Testamento, este ofício era de âmbito nacional. Quando
Deus levantava um profeta, conferia-lhe a missão de falar em seu Nome para toda
a nação e até para povos estranhos” (RENOVATO, 2014, p. 84). Na Teologia, o
período do surgimento dos profetas é nomeado de “profetismo” aludindo ao
“movimento que, surgido no Século VIII a.C., em Israel, tinha por objetivo
restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar injustiças
sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo
que já não podia esperar contra a esperança. Tendo sido iniciado por Amós, foi
encerrado por Malaquias. João Batista também é visto como o último
representante deste movimento (Mt 11.13)” (ANDRADE, 2006, p. 305 – acréscimo
nosso). O profeta do AT era um homem que, além de transmitir a mensagem de Deus
tinha outras atribuições, tais como: 1)
ungir
reis (1Sm 9.16; 16.12- 13; 1Rs 19.16); 2) aconselhar reis (1Sm 10.8; 21.18; 2Sm 12; 2Rs 6.9-12); 3) ser consultado pelas pessoas (1Sm
9.8- 10; 1Rs 14.5; 22.7; 22.18; Jr 37.7). Os oráculos dos santos profetas que
estão no cânon sagrado não estão a mercê de julgamento humano (2Pd 1.21).
3.2 O profeta no Novo Testamento.
Sobre a figura
do profeta no NT, Donald Stamps (2012, p. 1814) afirma: “Os profetas eram
homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja motivação e
interesse principais eram a vida espiritual e pureza da Igreja. Sob o novo
concerto, foram levantados pelo Espírito e revestidos pelo seu poder para
trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo”. Portanto, os profetas são
ministros pregadores cuja prédica pode ser uma mensagem de edificação,
exortação e consolação dos crentes como também acontece com o dom de profecia
(1Co 14.3). Na igreja em Antioquia havia homens que exerciam este ministério
(At 13.1). “Em Atos 15.22-29, temos o profeta consolando, fortalecendo
e aconselhando.
É certo também que o título de profeta poderia ser usado para designar o
ministério de alguns obreiros, em virtude da sua natureza sobrenatural, pela
abundância da inspiração com que proclamam os oráculos de Deus” (SOUZA, 2013,
pp. 33,34). Eis algumas características do profeta no NT: (a) Proclamava e
interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina
(At 2.14-36; 3.12-26); (b) Exercia o dom de profecia (1Co 12.10; 14.3); e, (c)
Às vezes predizia o futuro (At 11.28; 21.10,11).
IV.
DIFERENÇAS ENTRE O DOM DE PROFETA E O DOM DE PROFECIA
4.1 Dom ministerial de profeta (Ef 4.11).
A palavra
“ministro” de acordo com alguns textos (1Co 3.5; 4.2; 2Co 3.6; 6.4) diz
respeito a um servo de Deus que ocupa um “ministério ou serviço” (1Co 4.1,2;
2Co 6.3), ou seja, um encargo constituído por Deus, que, da parte de Cristo
(2Co 5.20), funciona na “Igreja do Deus vivo” (1Tm 3.15). Segundo Atos 13.1 e
15.32, os profetas constituíam o ministério da Palavra de Deus, impulsionado
por inspiração profética. Por meio dessa inspiração, esse ministério é
acompanhado de “edificação, exortação e consolação”, que são evidências da
operação do verdadeiro espírito da profecia (1Co 14.3). Observamos, assim, que
o simples uso do dom de profecia não faz de ninguém um profeta nos moldes do
AT, pois profeta no NT, é um ministro da Palavra ( Ef 2.20; 4.11) (BERGSTÉN,
2007, pp. 115,116 – acréscimo nosso).
4.2 Dom de profecia (1Co 12.10)
“Profecia é uma
mensagem de Deus dada a pessoa a quem o Espírito manifesta este dom. Tal pessoa
deve transmiti-la exatamente como a recebeu (Jr 23.28). A atitude de quem
profetiza deve ser “A palavra que Deus puser na minha boca essa falarei” (Nm 22.38b).
A mensagem recebida por inspiração do Espírito Santo não é transmitida
mecanicamente, mas fiel e conscientemente (1Co 14.32). No momento em que a
profecia é transmitida, não é Deus quem está falando, mas é o homem quem está
transmitindo o que de Deus recebeu (1Co 14.29). Se fosse o próprio Deus
falando, não haveria necessidade de se julgar a mensagem como a Palavra nos
orienta que faça” (1Co 14.29; 1Ts 5.21) (BERGSTÉN, 2007, p. 113 – grifo nosso).
CONCLUSÃO
Aprendemos com o
chamado profético de Samuel que existe um tempo certo para a concretização da
chamada de Deus na vida do homem. Entendemos também a diferença entre o profeta
do Antigo e do Novo Testamento; bem como a distinção entre o dom de profeta no
período veterotestamentário e o dom de profecia nos dia de hoje.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø BERGSTÉN,
E. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø RENOVATO,
Elinaldo. Dons Espirituais & Ministeriais. CPAD.
Ø SOARES,
Esequias. O Ministério Profético na Bíblia. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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